Reabilitação física e psicossocial na paralisia cerebral através da arte-terapia: relato de caso Rehabilitación física y psicosocial en la parálisis cerebral a través de arte-terapia: relato de caso |
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*Mestre em Educação pela PUC-PR, Curitiba-PR. **Especialista em Atividade Física e Saúde pela UFPR, Curitiba-PR. ***Graduada em Educação Física pela UFPR, Curitiba-PR. Docentes da Rede Municipal de Ensino de Curitiba-PR. |
Loely Mára Gonçalves Chaves Leite* Sérgio Luis Peixoto Souza Junior** Anelise Bier*** (Brasil) |
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Resumo Objetivos: Observar e descrever a utilização da arte-terapia como forma terapêutica de reabilitação física e psicossocial em um indivíduo com paralisia cerebral. Métodos: Participou do estudo um sujeito de 39 anos do gênero masculino com quadro de paralisia cerebral do tipo espástica apresentando diparesia espástica moderada. Conclusão: Verificou-se que a arte-terapia é uma forma terapêutica alternativa que gerou benefícios na melhora da qualidade de vida de um indivíduo com quadro de paralisia cerebral, utilizando como parâmetro de análise a realização das atividades da vida diária, os exercícios propostos e a melhora da auto-estima observadas pela cuidadora e pela equipe multidisciplinar. Unitermos: Reabilitação física e psicossocial. Paralisia cerebral. Arte-terapia |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 132 - Mayo de 2009 |
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Introdução
A paralisia cerebral (PC) também conhecida como encefalopatia crônica não progressiva da infância, é resultado de uma lesão que ocorre no período pré, peri ou pós natal, que acomete o sistema nervoso central em fase de maturação estrutural e funcional, gerando distúrbios motores. As disfunções motoras são evidenciadas por alterações do tônus, postura e movimento, devido a lesões no cérebro em fase de desenvolvimento (WHO, 1999; BAX, 1964).
De acordo com pesquisas epidemiológicas referente a PC, a incidência em países desenvolvidos como os Estado Unidos variam de 1,5 a 5,9/1000 nascidos vivos (DIAMENT, 1996). Referindo-se ainda a incidência de PC Hagberg (1984) afirma que a prevalência de casos moderados e graves de PC são de 1,5 a 2,5/1.000 nascidos vivos.
Segundo Eldemuth (1992) surgem 17.000 casos de PC anualmente no Brasil.
A PC é uma patologia relacionada a várias causas e caracterizada principalmente por rigidez muscular, sendo uma doença de diferentes causas etiológicas (endógenas ou exógenas), porém com uma sintomatologia motora predominante (DIAMENT, 1996; ROBERTSON, SAUVE E CHRISTIANSON, 1994).
As alterações motoras constituem a principal característica clínica da doença, e apresentam-se em diferentes formas (espástica ou piramidal, coreoatetósicas ou extrapiramidal, atáxica e mistas), distribuição anatômicas nos membros inferiores e superiores e gravidade do comprometimento neuromuscular (hemiplegia ou diplegia, e tetraplegia), sendo que a forma espástica ou piramidal a mais comum. Na PC espástica ocorre aumento do tônus, tensão muscular principalmente nos membros inferiores, dificultando os movimentos articulares e a coordenação motora (espasticidade) (ROTTA et al,1983).
A cirurgia ortopédica, que consiste em alongamentos tendinosos e reequilíbrio das forças musculares, é necessária na maioria destas pessoas, e tem o objetivo de melhorar a marcha das que já conseguem caminhar ou estão prestes aandar. Nas pessoas mais gravemente afetadas, que não conseguem ficar em pé, o tratamento cirúrgico é mais limitado ao quadril, com o objetivo de abrir melhor as pernas, facilitando a higiene local e evitando o deslocamento desta articulação, que causaria dor no futuro. Se os músculos da fala forem atingidos, terá dificuldade para comunicar seus pensamentos ou necessidades. Quando tais fatos são observados, a pessoa portadora de paralisia cerebral pode ser erroneamente classificada como deficiente mental ou não inteligente. A paralisia cerebral pode gerar movimentos involuntários, alterações do equilíbrio, do caminhar, da fala, da visão, da audição, da expressão facial, em casos mais graves pode ainda haver comprometimento mental (ROTTA et al., 1983).
Em pesquisas realizadas nos últimos anos a temática qualidade de vida tem apresentado grande relevância na adoção de estratégias terapêuticas para o tratamento de diversas doenças crônicas, verificando o impacto dessas doenças e das diversas abordagens clínicas na qualidade de vida, saúde e bem-estar geral dos pacientes (THE WHOQOL GROUP,1995).
O termo Arte-Terapia surge pela primeira vez, em 1945 no primeiro livro publicado por Adrian Hill, Art vs Illness (Arte versus Doença). Adrian Hill, artista inglês, esteve internado num sanatório para tratar uma tuberculose. Durante o longo período de evolução da sua doença e reabilitação, numa época em que os recursos para combater eram escassos, ele passou o tempo a pintar. Os médicos que o assistiam puderam observar uma aceleração na sua recuperação e um estado geral de bem-estar manifesto.
Após o seu restabelecimento, eles convidaram-no a regressar para fazer pintura com os pacientes do sanatório. Desde esses acontecimentos a arte-terapia evoluiu significativamente, tanto do ponto de vista dos modelos que a caracterizam, das formações existentes, como dos países em que é reconhecida. Basta dizer que a arte-terapia é um dos meios terapêuticos reconhecido e subvencionado pelo sistema de saúde britânico. Ela é, a título de exemplo, uma valência terapêutica reconhecida pela Associação Internacional para o tratamento de Esquizofrenia.
Na rotina hospitalar, metodizou as observações clínicas, os diagnósticos dos casos, o arquivo médico, as terapêuticas fisioquímicas, medicamentosas e pelo trabalho. Introduziu a terapêutica ocupacional laborativa nas diversas modalidades.
O objetivo do presente estudo foi observar e descrever a influência da arte-terapia no aspecto físico e psicossocial de um indivíduo com paralisia cerebral.
Metodologia
Amostra
Participou do estudo um sujeito de 39 anos do gênero masculino com quadro de paralisia cerebral do tipo espástica apresentando diplegia espástica moderada. A lesão atinge principalmente a porção do trato piramidal responsável pelos movimentos das pernas, localizada em uma área mais próxima dos ventrículos (cavidades do cérebro). Na qual o envolvimento dos membros inferiores é maior do que dos membros superiores. Ele tem mãos e pés semi-atrofiados, com uma predominância maior do lado esquerdo. Parte desta atrofia é devida a falta de exercícios motores. Quando pequeno apenas foram feitas cirurgias ortopédicas reparativas. Não teve contato com nenhum tipo de escola, por morar, na época, em região rural. Corresponde a uma idade mental de no máximo 14 anos e tem dificuldade na fala. Não se movimenta sozinho, necessitando assim do uso de fraldas. Tem grande rigidez nas articulações, pelo problema em si, e pela falta de exercício. Devida a rigidez, treme muito quando realiza algum movimento diferente.
Instrumentos e procedimentos
O sujeito foi encaminhado pelo médico responsável para a atividade fisioterápica, local onde foi sugerido o tratamento paralelo da arte-terapia. A cuidadora do paciente, com grau de parentesco materno, assinou o termo de consentimento livre e esclarecido de acordo com as normas da resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde sobre pesquisa envolvendo seres humanos. O tratamento teve 3 meses de duração e foi realizado no ano de 2004.
A terapêutica utilizada foi a técnica em argila que desponta no tratamento físico e psicológico, como um procedimento totalmente dinâmico, de fácil aplicação e inovador, que auxilia a atingir, de forma mais rápida (indiretamente), os conflitos do paciente/cliente e, como conseqüência, aliviá-lo das ansiedades que o aflige. De acordo como o andamento das sessões, foram sendo incluídos outros exercícios de manuseio.
Análise de dados
A pesquisa é de caráter observacional descritiva em que foi observado qualitativamente o aspecto psicossocial utilizando como parâmetro os padrões comportamentais e emocionais e a melhora nas atividades motoras que implicam diretamente nas atividades da vida diária. Os dados foram reportados pela cuidadora e observados nas tarefas propostas durante o tratamento fisioterápico.
Resultados
Com o decorrer da atividade arte-terapêutica, vê-se a dificuldade motora sendo amenizada. O sujeito apenas exercitava as pontas dos dedos, ao abrir e fechar embalagens vazias de desodorantes em spray, atualmente apresenta controle para abrir e fechar as mãos e pegar objetos com firmeza. O indivíduo tem conseguido se alimentar sozinho, sentar e posicionar os pés e mãos de forma uniforme e firme.
O paciente tem colaborado com a cuidadora, para se levantar e se alimentar, refletindo positivamente na melhora da sua qualidade de vida. Foi observado também que o paciente apresentou redução nos espasmos musculares e seus movimentos estão gradativamente se tornando coordenados, aliviando à pressão tensionada dos dedos e das mãos atrofiadas e aumento da auto-estima do sujeito.
Considerações finais
O objetivo principal da arte-terapia em sujeitos com paralisia cerebral é promover o maior grau de independência possível. Lembrando-se que, o ritmo e a maneira própria de cada um devem ser respeitados. O ideal que se busca é que cada um alcance seu potencial de realização em diversas atividades e para que esta meta seja atingida é preciso que haja treinamento sistemático, auto-ajuda e uma boa integração entre paciente/cliente e arte-terapeuta.
Devido à espasticidade, a reabilitação pode amenizar as dificuldades deste sujeito, pois mesmo a paralisia cerebral não sendo progressiva, o quadro motor e funcional pode se modificar com o crescimento. Pela espasticidade, o desenvolvimento de deformidades articulares é comum devido ao encurtamento muscular, mas a correção de uma deformidade nem sempre implica em melhora funcional. Quanto mais grave a espasticidade, maior o encurtamento muscular e mais grave as deformidades.
Como na paralisia cerebral não se pode apenas tratar as alterações musculares, que são a conseqüência e não a causa da doença, deve-se curar estas pessoas tentando melhorar a sua qualidade de vida, pois para estas pessoas, alguma melhora é uma grande melhora. A técnica de arte-terapia com a manipulação da argila desponta no tratamento físico e psicológico, como um procedimento totalmente dinâmico, de fácil aplicação e inovador, que auxilia a atingir, de forma mais rápida (indiretamente), os conflitos do paciente/cliente e, como conseqüência, aliviá-lo das ansiedades que o aflige.
Futuros estudos são necessários com uma amostra maior e por um período de tempo mais prolongado para evidenciarmos com maior clareza o impacto da arte-terapia, como forma terapêutica alternativa na melhora de qualidade de vida no âmbito físico e psicossocial em indivíduos portadores de paralisia cerebral.
Referências
ARGILA, Valor curativo da. Disponível em www.amazonia.com.br/canais/esoterico/terapia.Arte, Acesso em 21 set 2002. ARTE-TERAPIA: REFLEXÕES. Ano I. Departamento de arte-terapia do Instituto Sedes Sapientae. n º 1. 1995.
ARTE E LOUCURA: limites do imprevisível: mostra dos pacientes do Hospital do Juqueri. Apresentação de Ana Mãe Barbosa. Textos de Maria Heloisa Corrêa de Toledo Ferraz e Osório César. São Paulo: MAC/USP, 1987.
World Health Organization. International classification of function and disability, Beta-2 Version. Geneva: WHO, 1999.
BAXTER, P. ICF: health vs disease. Developmental Medicine and Child Neurology, London, v.46, n.2, p.291, may 2004. Editorial.
Diament A. Encefalopatia crônica na infância (paralisia cerebral). In: Diament A & Cypel A, editores. Neurologia Infantil. 3ª ed.São Paulo: Atheneu; 1996. p.781-98.
Robertson C, Sauve RS, Christianson HE. Province-based study of neurologic disability among survivors weighing 500 through1249 grams at birth. Pediatrics 1994;93:636-40.
Rotta NT. Encefalopatia crônica da infância ou paralisia cerebral.In: Porto CC. Semiologia Médica. 4ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2001. p.1276-8.
Edelmuth CE. Pessoas portadoras de deficiência. A realidade brasileira. In: Integração, Departamento de Educação Especial da Secretaria de Educação Fundamental do MEC 1992;10:8-9.
Hagberg B, Hagberg G, Olow I. The changing panorama of cerebral palsy in Sweden. Acta Pediatr Scand 1984;73:433-40.
Rotta NT, Drachler ML, Vaitses VDC, Ohlweiler L, Lago IS. Paralisia cerebral: estudo de 100 casos. Rev HCPA 1983;3(2):113-6.
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