Relação entre índice de massa corporal e a percepção da imagem corporal de mulheres de 18 a 45 anos freqüentadoras do programa esporte e lazer da cidade de Feliz, RS Relación entre el índice de masa corporal y la percepción de la imagen corporal de mujeres de 18 a 45 años que frecuentan el programa de deporte y tiempo libre de la ciudad de Feliz, RS |
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*Profissional de Educação Física pelo Centro Universitário Feevale, Novo Hamburgo, RS **Professor Ph.D. Titular do Curso de Educação Física e do Mestrado Profissional em Inclusão Social e Acessibilidade do Centro Universitário Feevale, Novo Hamburgo, RS Professor adjunto do Curso de Educação Física da ULBRA, Canoas, RS (Brasil) |
Ana Paula Pires dos Reis Bender* João Carlos Jaccottet Piccoli** |
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Resumo A presente investigação teve como objetivo investigar a relação entre o índice de massa corporal e a percepção da imagem corporal em mulheres de 18 a 45 anos, praticantes de atividade física que freqüentam o Programa Esporte e Lazer da Cidade de Feliz- RS. Estudo descritivo de corte transversal que utilizou uma 90 mulheres, praticantes de exercícios físicos, entre 18 e 45 anos, selecionadas de forma consecutiva, no Programa Esporte e Lazer da Cidade de Feliz, RS, no período de 1º de setembro de 2006 a 31 de janeiro de 2007. Para se dimensionar a prevalência de distorção da imagem corporal, foi utilizado o BSQ (Body Shape Questionary) de Cooper et al. (1987), auto-aplicável, validado para o português e adaptado para uma amostra de sujeitos normais por Pietro(2002) apud Assunção (2003). Utilizou-se na análise dos dados o Qui-quadrado (p ≤ 0,05) e o pacote estatístico Le Sphinx Plus (versão 4.5) para execução dos testes estatísticos descritos. Ao se comparar a classificação do BSQ com a do IMC, observou-se uma diferença estatisticamente significativa entre as distribuições da classificação BSQ pela classificação IMC (p < 0,05). No BSQ, classificação leve e IMC com sobrepeso observou-se a existência de 37,5% de prevalência contra os 15,6% total, no BSQ, classificação leve e IMC obeso há 100,0% de prevalência contra os 15,6% total e, também no BSQ, classificação leve e IMC com Sobrepeso há 12,5% de prevalência contra os 3,3% total geral. Pode-se concluir com os resultados encontrados que os corpos extremamente magros que referem o modelo a ser seguido pela sociedade, colaboram para a insatisfação da imagem corporal das mulheres e, em especial para o grupo com sobrepeso ou obesidade. Unitermos: Imagem corporal. Exercício físico. Mulher.
Abstract This study had the purpose to investigate the relation between body mass and women’s body image perception. The study subjects participated of physical activities and attended to the Sport and Leisure Program in the city of Feliz, RS, Brazil. It was a cross-sectional descriptive study with a sample of 90 women whose age ranged from 18 to 45 years, selected in a consecutive way in the Sport and Leisure Program, within the period from September 1, 2006 to January 31, 2007. To measure the body image distortion prevalence, the Cooper´s BQS (Body Shape Questionnaire) was utilized, a self-applicable instrument, validated into Portuguese and adapted to a sample of normal subjects by Pietro (2002) apud Assunção (2003). To compare the results between the variables, the Qui-square (x²) was utilized (p≤ 0,05). When the BSQ and Body Mass Index - BMI classification were compared, a really meaningful statistical difference between the distributions of the BSQ classification by the IMC classification (p < 0,05.) was noticed. When it was compared the slightly worried classification about body shape, and the subjects that were classified as overweight, it was observed a prevalence of 37,5% in relation to a 15,6% of the general total score of the slightly worried category. In the BSQ (slightly worried classification) and IMC (obese)a prevalence of 100,0% in relation to the 15,6% of the general total was noticed; in the BSQ (slightly worried classification) and IMC (overweight) a prevalence of 12,5% in relation to the 3,3% of the general total score was noticed. This study pointed out that the bodies which are extremely thin and that represent the patterns to be followed by the society contribute for the women’s body image dissatisfaction, and in special, for the overweight and obesity groups of subjects. Keywords: Body image. Physical exercise. Woman. |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 132 - Mayo de 2009 |
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Introdução
Este trabalho tem como foco principal, abordar a imagem corporal de mulheres, visto que elas parecem estar vivendo um momento de grande insatisfação com o próprio corpo, devido ao culto pela magreza incentivado pela sociedade e associado a imagem de beleza, poder e sensualidade. A visualização diária de corpos magros ou bastante musculosos, veiculados pela mídia, torna cada vez mais difícil, para a sociedade, e em especial para as mulheres, reconhecer a beleza em sua singularidade e diversidade, sem se prender a padrões estéticos inatingíveis.
Os meios de comunicação de massa destacam-se pela influência negativa que exercem, ao apresentarem padrões de beleza cada vez mais rigorosos de magreza, que estão sendo incorporados pela sociedade, como ideais de beleza e imagem corporal. Modelos, manequins e atrizes extremamente magras, são apresentadas como constante “sinônimo de beleza”, despertando a insatisfação de mulheres em geral, com o próprio corpo e provocando o culto exagerado pelo corpo perfeito.
A busca pelo corpo perfeito, que vem sendo considerada uma epidemia, se intensificou a partir da década de 1970, conduzindo as mulheres a adoção de comportamentos alimentares anormais e práticas inadequadas de controle de peso, para manterem-se dentro dos padrões estéticos de beleza. Incentivadas pela sociedade e por revistas femininas que reforçam meios de se obter um corpo perfeito, através de dietas e exercícios excessivos muitas vezes sem o acompanhamento de um educador físico, elas buscam a forma perfeita, expondo-se às neuroses, decorrentes da obsessão exagerada quanto a forma física, anemias decorrentes de dietas mal feitas, ou a outras doenças como anorexia e bulimia. Estes fatos, possivelmente gerados pelos padrões propostos pela sociedade, tornam-se prejudiciais as mulheres que geralmente fazem disso, uma forma de se sentirem realizadas como pessoas.
Durante o século XX, a mulher foi se despindo em público, incentivada pela mídia e pelos modismos, banalizando-se sexualmente. A indústria estética voltada para o culto do corpo, que tudo alisa, tonifica, desenruga ou conserta, expandiu-se rapidamente, prometendo livrar todos os corpos do tormento da balança e do espelho. A escravidão da perfeição física empurrou a mulher não para a busca da identidade, mas para a busca de uma identificação. Os valores de juventude e progresso na sociedade atual passaram a negar a ordem natural da vida, onde o envelhecimento tornou-se motivo de muitas tensões (PRIORE, 2000).
Segundo Bosi et al. (2003), diante desta problematização, acredita-se que o atual momento histórico fomenta na imaginação feminina a fantasia de que só basta querer para ter o corpo idealizado. Os avanços tecnológicos no setor da beleza, através do apelo midiático, impulsiona o crescente mercado da indústria da magreza, e seduz o público feminino para o alcance do corpo perfeito. Para tanto, apresenta modelos de beleza que tendem a ocupar o limite extremo dessa busca obsessiva, causando uma interpretação errônea da imagem saudável do corpo.
O padrão de beleza evidencia-se desde a infância dos indivíduos, como exemplo pode-se citar o fato de boa parte das meninas possuírem entre seus brinquedos a boneca Barbie, desenvolvida como uma referência de ideal de beleza. Além disso, não se pode desconsiderar a imposição de beleza presentes nas propagandas, revistas, televisão, desfiles de moda entre tantos outros meios onde a magreza é valorizada e indicada como padrão ideal de beleza. Estes ideais de beleza, muitas vezes impossíveis de serem alcançados, levam as pessoas a usarem recursos extremos para chegar a este padrão, o que pode acarretar na distorção da imagem corporal, por parte dessas pessoas e distúrbios alimentares como a bulimia e a anorexia (PAIM; STREY, 2004).
Andrade et al. (2003), afirma que o ideal de corpo incentivado pela sociedade e apresentado pela mídia leva as mulheres, a uma crônica insatisfação com seus corpos, ora se culpando pelos quilos a mais, ora se sujeitando as dietas extremamente restritivas, ou realizando exercícios exageradamente para compensar as calorias ingeridas, para corresponder aos modelos socialmente aceitos.
Segundo Cordás (1998) apud Andrade et al. (2003), a mídia dissemina duas falsas crenças que acompanham a busca do corpo ideal. A primeira é a de que o corpo é plenamente maleável, podendo alcançar as medidas e peso idealizados com exercícios e dietas, ignorando as determinações biológicas e genéticas. A segunda é a de que ao conseguir o corpo idealizado, a mulher alcançará o sucesso profissional, social e amoroso.
Assim, verifica-se que à medida que a beleza assume tal importância para a mulher, exerce impacto negativo sobre sua auto-estima, configurando fator de risco para o quadro de transtorno alimentar, devido ao julgamento indevido de si, baseado apenas na forma física.
A imagem corporal é uma expressão muito empregada pelos profissionais que têm como foco de trabalho o corpo humano, entre os quais profissionais de educação física, psicólogos e fisiologistas. O corpo possui identidade única e é um corpo humano existindo ao mesmo tempo em seus aspectos fisiológico, afetivo e social. A apropriação do conhecimento sobre a imagem corporal pelos profissionais da área da saúde, permite compreender melhor os significados para cada indivíduo de sua aparência e produção (TAVARES, 2003).
Van Kolck (1987) apud Santiago et al. (2005) entende a percepção individual como imagem corporal. Para a mesma, a imagem corporal é a elaboração individual do próprio corpo, modificando ou acentuando as partes do corpo em função de sua personalidade ou de vivências do passado ou presente. A imagem corporal muitas vezes não é consciente, pois se constrói a partir de referências de corpo de outras pessoas, geralmente elementos visuais. No entanto, a imagem dos outros não está apenas relacionada à aparência física, mas principalmente a qualidade do relacionamento do indivíduo com o outro. Portanto percebe-se que a imagem corporal é construída a partir da relação consigo mesmo e com os outros.
Barros et al. (2005), afirma que a construção da imagem corporal de cada pessoa é um processo que se deve à incorporação de diversas partes das imagens dos outros que mais chama a atenção do indivíduo e a doação das próprias imagens a outros. O fator emocional é um aspecto importante neste processo, pois permite a interação das pessoas de quem se gosta e as experiências vivenciadas são mais intensas, adquirindo um significado emocional em relação às diversas partes do corpo. A imagem corporal, portanto não é estática, pelo contrário, muda a cada novo sentido, a cada envolvimento com diferentes pessoas, sejam elas próximas ou não da convivência social do indivíduo.
Cordás et al. (2005), define a distorção da imagem corporal como um distúrbio da percepção do formato corporal. O indivíduo desenvolve um pensamento dicotômico, pensa em extremos com relação a sua aparência ou é muito crítico em relação a ela; compara-se injustamente com padrões extremos, o indivíduo acredita que os outros pensam como ele em relação a sua aparência.
Barros et al. (2005), considera o julgamento interior muito importante. Ao se olhar para alguém que se acredita ser belo, pode-se imediatamente estar excluindo pontos igualmente belos no próprio indivíduo. A mudança imediata da imagem corporal neste caso gera uma necessidade de se igualar ao corpo observado. Não gostar do corpo relata a influência que os modelos sociais exercem na vida cotidiana do indivíduo. O desconforto com a própria imagem corporal mostra-se em pequenos detalhes, dentre eles na elegância em andar, na forma de falar, no modo de vestir e de comer. Ser baixa ou alta, magra ou gorda, feia ou bonita reflete a necessidade de não se deixar a deriva, mas se incluir na movimentação desenfreada da beleza a qualquer custo.
Comprovadamente a prática regular de exercícios físicos está relacionada a inúmeros benefícios para a saúde. Indivíduos que praticam exercício físico regularmente desenvolvem a resistência cardiorrespiratória, a aptidão músculo-esquelética e níveis ideais de gordura corporal, melhorando seus níveis energéticos básicos e se colocando no grupo com menor risco de apresentar doenças cardíacas, câncer, diabetes, osteoporose e outras doenças crônicas (NIEMAN, 1999).
No entanto, os diversos fatores socioculturais, conduzem homens e mulheres a se preocuparem e se sentirem insatisfeitos com a imagem corporal, levando-os a se exercitarem, cuidando do corpo e buscando hábitos e cuidados com a aparência visual do mesmo. Segundo Hart e Wichstrom apud Dantas (2005), é possível que a insatisfação com o corpo seja um dos principais fatores que levam as mulheres a iniciarem um programa de exercício físico, ou que também seja responsável pelos distúrbios alimentares e dismorfias musculares.
De acordo com Dantas (2005), as academias de ginástica são os principais locais escolhidos para cuidar do corpo e buscar os padrões estéticos idealizados pela sociedade. E ainda ressalta que os indivíduos praticantes de exercícios regulares, apesar de estarem dentro do IMC e percentual de gordura adequado, demonstram insatisfação com o corpo e buscam o corpo estético admirado e aceito pela sociedade.
Novaes (2001), afirma que a busca pela aparência física idealizada pelos praticantes de atividade física, torna-se um fenômeno sócio-cultural que muitas vezes é considerado mais importante que a satisfação profissional, afetiva ou econômica.
Sabe-se que cada pessoa possui um corpo estético diferente do outro, não podendo ser padronizado devido aos fatores: genéticos, biológicos e a estrutura física corporal. No entanto, esta informação não é veiculada com muita ênfase, condenando as mulheres a vivenciarem sobre o ponto de vista estético, a era da magreza globalizada. Assim, de acordo com Almeida e Kakeshita (2006), o ambiente sociocultural parece ser uma das condições determinantes para o desenvolvimento de distorções e distúrbios subjetivos da imagem corporal.
Considerando-se a relevância da temática em questão, o presente estudo então, investigou a relação entre o Índice de Massa Corporal - IMC e a percepção da imagem corporal de mulheres de 18 a 45 anos, praticantes de atividade física que freqüentam o Programa Esporte e Lazer da Cidade de Feliz, Rio Grande do Sul, Brasil.
Método
O presente estudo de característica descritiva de corte transversal utilizou uma amostra composta por 90 mulheres, praticantes de atividade física, com idades entre 18 e 45 anos, selecionadas de forma consecutiva, inscritas no Programa Esporte e Lazer da Cidade de Feliz, RS, no período de 1º de setembro de 2006 a 31 de janeiro de 2007.
Na realização da presente investigação foi utilizado como instrumento de coleta de dados, o questionário de imagem corporal (Body Shape Questionnarie –BSQ) de Cooper et al. (1987), auto-aplicável, validado para o português e adaptado para uma amostra de sujeitos normais por Pietro (2002) apud Assunção (2003). O instrumento constou de 34 itens, com seis opções de respostas:
nunca,
raramente,
às vezes,
freqüentemente,
muito freqüente,
sempre.
De acordo com a resposta marcada, o valor do número correspondente à opção feita era computado como ponto para a questão, assim, por exemplo, a opção nunca valia um ponto. O total de pontos obtidos no instrumento era somado e o valor, computado para cada avaliado. A pontuação máxima neste instrumento era de 204, assim, distribuídas: pontuação menor ou igual a 110 pontos não apresentavam distorção da imagem corporal, maior que 110 e menor ou igual a 138 apresentavam distorção leve, maior que 138 e menor ou igual a 167 apresentavam distorção moderada e maior que 167 apresentavam distorção grave de imagem corporal. Foram, também, coletadas outras informações como: idade, grau de escolaridade, duração e freqüência da prática de exercícios físicos, peso e estatura, através do questionário complementar.
Para a verificação do IMC, verificou-se o peso dos sujeitos utilizando-se uma balança marca Soehnle, com precisão de 100g e para a medição da estatura, uma fita métrica de marca Sanny, (Kirchnner e Wilhelm, Medizintechnik, Germany) com precisão 0,01mm, exposta na parede. De acordo com Bray (1992) apud Pitanga (2004), valores abaixo de 20 Kg/m² eram considerados abaixo do peso preconizado, entre 20 Kg/m² e 25 Kg/m² normais, acima de 25 Kg/m² até 30 Kg/m² indicavam sobrepeso e acima de 30 Kg/m², obesidade.
Para análise dos dados utilizou-se a estatística descritiva para o cálculo das freqüências absoluta e relativa. Para se comparar os resultados entre as variáveis utilizou-se o teste não-paramétrico Qui-quadrado (χ2). Utilizou-se o pacote estatístico Le Sphinx Plus (versão 4.5) para execução dos testes estatísticos a seguir descritos. Em todos os testes estatísticos adotou-se nível crítico em p ≤ 0,05.
Resultados
A faixa etária predominante foi a de 18 a 26 anos, correspondendo a 42,2% da amostra. Os níveis de escolaridade predominantes constatados foram: o ensino médio completo e a educação superior incompleto, correspondendo a 70% da amostra.
Na escala de determinação de possível distorção de imagem corporal (BSQ), a questão 34, estava relacionada à prática de exercícios físicos e a percepção da imagem corporal, e questionava o sujeito do estudo, se sua preocupação com o físico fazia com que ele acreditasse que devesse se exercitar. Verificou-se, então, que 45,6% optou pela alternativa “sempre” e 18,9%, pela “freqüentemente”
A freqüência da prática de exercícios físicos variava de duas a três vezes por semana, correspondendo a 60% da amostra, sendo que duração da prática variava de 60 a 74 minutos.
Dentre as participantes do estudo, 26,7% revelou que raramente fazia dieta, 24,4% a realizava às vezes, e 24,4 % “freqüentemente” e “sempre” respectivamente.
Em relação à classificação da distorção da imagem corporal, da amostra de 90 mulheres entre 18 e 45 anos de idade, freqüentadoras do Programa Esporte e Lazer da Cidade de Feliz- RS, 81,1% não possuía distorção da imagem corporal ou seja, 73 mulheres desta amostra não apresentava uma preocupação com o corpo de forma patológica, 15,6% da amostra (n=14) apresentava classificação leve e 3 (3,3%) obtiveram uma classificação moderada, isto é, apresentavam possibilidade de distorção da imagem corporal.
Tabela 1. Distribuição absoluta (n) e relativa (%) da Classificação BSQ, desagregado pelas Faixas Etárias (n=90)
Faixas Etárias |
Classificação BSQ |
Total Geral |
||||||||
Normal |
Leve |
Moderada |
Grave |
|||||||
n |
% |
n |
% |
n |
% |
n |
% |
n |
% |
|
18 a 26 anos |
33 |
86,8 |
5 |
13,2 |
0 |
0,0 |
0 |
0,0 |
38 |
100,0 |
27 a 35 anos |
20 |
69,0 |
7 |
24,1 |
2 |
6,9 |
0 |
0,0 |
29 |
100,0 |
36 a 45 anos |
20 |
87,0 |
2 |
8,7 |
1 |
4,3 |
0 |
0,0 |
23 |
100,0 |
Total geral |
73 |
81,1 |
14 |
15,6 |
3 |
3,3 |
0 |
0,0 |
90 |
100,0 |
x2 = 5,43; gl = 4; p = 0,246.
Na tabela 1, observa-se a distribuição da freqüência absoluta e relativa da classificação do BSQ em relação à faixa etária. Dentre os sujeitos investigados, 86,8%, na faixa etária de 18 a 26 anos, 69% na de 27 a 35 anos e 87% de 36 a 45 anos encontravam-se na classificação normal do BSQ, isto é, não apresentavam alteração da auto-imagem corporal. Observou-se, também que 24,1% (27 a 35 anos), 13,2% (18 a 26 anos) e 8,7% (36 a 45 anos) possuíam distorção leve e 6,9% (27 a 35 anos) e 4,3% (36 a 45 anos) apresentavam distorção moderada.
Ao se utilizar o teste qui-quadrado verifica-se que não houve diferença estatisticamente significativa, para um nível de significância convencionado de 0,05 entre as distribuições da classificação BSQ pelas faixas etárias (p > 0,05).
Tabela 2. Distribuição absoluta (n) e relativa (%) da Classificação BSQ, desagregado pela Classificação IMC (n=90).
Classificação IMC |
Classificação BSQ |
Total Geral |
||||||||
Normal |
Leve |
Moderada |
Grave |
|||||||
n |
% |
n |
% |
n |
% |
n |
% |
n |
% |
|
Baixo |
26 |
89,7 |
2 |
6,9 |
1 |
3,4 |
0 |
0,0 |
29 |
100,0 |
Normal |
43 |
82,7 |
8 |
15,4 |
1 |
1,9 |
0 |
0,0 |
52 |
100,0 |
Sobrepeso |
4 |
50,0 |
3 |
37,5 |
1 |
12,5 |
0 |
0,0 |
8 |
100,0 |
Obeso |
0 |
0,0 |
1 |
100,0 |
0 |
0,0 |
0 |
0,0 |
1 |
100,0 |
Total geral |
73 |
81,1 |
14 |
15,6 |
3 |
3,3 |
0 |
0,0 |
90 |
100,0 |
x2 = 12,86; gl = 6; p = 0,045.
Conforme a tabela 2 observa-se que 81,1% das participantes não apresentavam distorção da auto-imagem corporal, 15,6% possuíam uma distorção leve e 3,3%, uma distorção moderada. Ao se comparar a classificação dos sujeitos no BSQ com a do IMC, verifica-se que dentre as que não apresentavam distorção de auto-imagem, 26 participantes estavam com baixo peso, 43 eram eutróficas (normais) e quatro possuíam sobrepeso. Das participantes que apresentavam uma leve distorção da imagem corporal, duas estavam com baixo peso, oito eram eutróficas (normais), três estavam com sobrepeso e uma estava obesa. Dentre aquelas que estavam com uma distorção moderada de imagem corporal, uma apresentava baixo peso, uma se classificou como eutrófica (normal) e uma outra estava com sobrepeso.
Para se verificar a existência de associação entre os distúrbios de imagem corporal e as alterações de peso através do IMC utilizou-se o teste estatístico não paramétrico qui-quadrado e observou-se uma diferença estatisticamente significativa entre as distribuições da classificação BSQ pela classificação IMC (p ≤ 0,05).
No BSQ, classificação leve e IMC com sobrepeso observa-se a existência de 37,5% de prevalência comparando-se aos 15,6% total geral nesta classificação, em relação ao IMC obeso, nesta mesma classificação, observa-se uma prevalência de 100,0% de prevalência contra os 15,6% total e, também no BSQ, classificação moderada e IMC com Sobrepeso há 12,5% de prevalência contra os 3,3% total.
Discussão
Com base nos resultados apresentados, identificou-se que a preocupação com o físico faz com que 64,5% das mulheres pesquisadas acreditem que devam se exercitar, sendo que a alternativa “sempre” e “freqüentemente” (45,6% e 18,9%, respectivamente) foram as mais constatadas. Estes dados concordam com os obtidos por Assunção (2003), que relatou que a prática de exercícios físicos é um dos principais métodos para perda de peso, muitas vezes mais freqüente que dietas restritivas ou outros métodos.
A freqüência da prática de exercícios físicos varia de duas a três vezes por semana, correspondendo a 60% da amostra, sendo que a duração da prática varia de 60 a 74 minutos. Pitanga (2004), afirma que a duração de cada sessão de exercícios deve ser de aproximadamente sessenta minutos, e o ideal é que o indivíduo realize exercícios físicos entre três e cinco dias por semana. Tal afirmação é comprovada por estudos que afirmam que a prática de exercícios com freqüência semanal superior a cinco dias pode causar maior incidência de lesões ósteo-articulares, enquanto que a freqüência menor que três dias pode não ser suficiente para promover alterações significativas com relação a promoção de saúde.
Conforme Becker (2000), o exercício de longa ou curta duração, causa bem-estar mental e melhora na área emocional. Um elemento essencial para a melhoria na auto-estima, é o gostar de seu próprio corpo. A percepção que a pessoa tem sobre o seu corpo repercute sobre a emoção e contribui para uma imagem corporal positiva.
Observou-se que as mulheres do estudo não sentiam extrema necessidade de fazer dieta, pois 26,7% revelaram que “raramente”, 24,4% somente “às vezes”, e 24,4 % para as opções “freqüentemente” e “sempre” a faziam. Bosi et al. (2006), relata que um estudo realizado com norueguesas apontou a imagem corporal, como principal fator para a prática de dietas, e estando intimamente relacionada ao aumento da idade. A prática freqüente de dietas corresponde a fator de risco para o desenvolvimento de transtornos alimentares.
Identificou-se através do BSQ (Body Shape Questionnaire) que 81,1% não possuíam distorção da imagem corporal, ou seja, 73 mulheres desta amostra não apresentavam uma preocupação com o corpo de forma patológica, 18,9% da amostra (n=14) com classificação leve e outras 3 (3,3%) classificadas como moderadas, apresentavam possibilidade de Distorção da Imagem Corporal. Este resultado é bastante animador, uma vez que o Programa Esporte e Lazer da Cidade de Feliz, RS, busca democratizar os espaços de lazer, melhorando a qualidade de vida e a auto-estima de seus participantes. Segundo Nieman (1999), estudos recentes demonstram que o exercício é eficaz tanto quanto a psicoterapia individual ou em grupo, para o alívio da depressão e da ansiedade melhorando significativamente a auto-estima e principalmente a interação social, melhorando a afetividade, os sentimentos de controle e auto confiança, refletindo em uma auto-imagem positiva.
Ao se comparar a classificação do BSQ com a do IMC, observou-se uma diferença estatisticamente significativa entre as distribuições da classificação BSQ pela classificação IMC (p ≤ 0,05). No BSQ, classificação leve e IMC com sobrepeso, observa-se a existência de 37,5% de prevalência comparando-se aos 15,6% do total geral nesta classificação do BSQ. Em relação ao IMC obeso, observa-se uma prevalência de 100,0% e em relação ao IMC com Sobrepeso há 12,5% de prevalência quando comparada aos 3,3% do total. Apesar dos ideais de beleza feminina variar, devido aos padrões estéticos adotados em cada época, muitos estudos têm mostrado que as mulheres buscam alterar o próprio corpo para seguir estes padrões, sendo assim, a medida que a sociedade passou a aceitar o corpo magro como um exemplo a ser seguido, as mulheres passaram a perseguir um corpo esbelto, demonstrando rejeição de sua imagem corporal real, não apenas na adolescência, mas também na fase adulta (HEINBERG, 1996 apud LEITE et al., 2002).
Conclusão
Estes resultados comprovam que existe relação entre o índice de massa corporal e percepção da imagem corporal, sendo que a exposição de corpos extremamente magros através da mídia, referem o modelo a ser seguido pela sociedade, e colabora para a insatisfação da imagem corporal das mulheres , em especial para o grupo com sobrepeso ou obesidade. Ser diferente dos padrões ditados pela sociedade, para muitas mulheres significa não ser bonita, atraente e com boa aceitação social. Ao profissional de Educação Física cabe a função de estruturar atividades para as pessoas, de forma que possam conhecer melhor o próprio corpo, percebendo suas reações e expressões, e compreendendo que os corpos tem tamanhos e formas diferentes, muitas vezes devido as determinações genéticas. Ao superar estas questões, o indivíduo terá uma imagem de si mais positiva, se afastando de comparações com imagens perfeitas e se reconhecendo como um ser único, importante e com o direito a felicidade.
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digital · Año 14 · N° 132 | Buenos Aires,
Mayo de 2009 |