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Qualidade de vida no trabalho: o papel da ginástica laboral

Calidad de vida en el trabajo: la función de la gimnasia laboral

 

Graduandos em Educação Física

Universidade Federal de Viçosa

(Brasil)

Márcia de Ávila e Lara

avilaelara@yahoo.com.br

Felipe Alves Soares

felipeefi_ufv@hotmail.com

 

 

 

Resumo

          A ergonomia é uma ciência multidisciplinar que estuda a relação do homem com o seu trabalho, e seu objetivo principal é proporcionar conforto, segurança e eficácia ao trabalhador (Wisner, 1987). Para tanto, procura fornecer meios para a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores, adaptando o trabalho às características anatômicas, fisiológicas e psicológicas destes. A ginástica laboral (GL) é uma estratégia eficaz e, quando bem orientada, pode contribuir com a ergonomia reduzindo as dores, fadiga, monotonia, estresse, acidentes e doenças ocupacionais dos trabalhadores. Através da GL é possível estimular a diminuição do sedentarismo e levar trabalhadores cada vez mais à prática de atividades físicas, uma vez que a mesma se insere no ambiente de trabalho. Para a realização desse trabalho, realizou-se uma revisão literária sobre a temática, através de livros e artigos recentes sobre a GL e ergonomia. Tem se notado que as empresas têm observado a importância na aplicação de Programas de Qualidade de Vida com a prática da ginástica laboral, a fim de intensificar a ligação do trabalhador com a empresa, ao valorizar o significado do seu trabalho e transmitindo grande importância no que diz respeito à produtividade. Esses aspectos remetem a esse estudo uma abordagem real e atual, e fazem com que o mesmo tenha relevância para a análise das condições de trabalho nos dias de hoje.

          Unitermos: Ginástica laboral. Qualidade de vida. Trabalho

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 132 - Mayo de 2009

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I.     Introdução

    De acordo com a IEA – International Ergonomics Association –, a Ergonomia estuda as interações entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas, e à aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos a fim de otimizar o bem-estar humano e o desempenho global do sistema. Seu papel é adaptar a máquina/trabalho ao homem, e fazer com que o trabalho torne-se uma tarefa prazerosa.

    A ginástica laboral é uma ferramenta para a instalação do bem-estar laboral, e pode ser entendida por exercícios de curta duração, aproximadamente sete a quinze minutos de forma voluntária e coletiva, na hora do expediente, sem levar o trabalhador ao cansaço, enfatizando o alongamento e a compensação das estruturas musculares envolvidas nas tarefas ocupacionais diárias.

    São exercícios diários ou pelo menos três vezes por semana, que visam normalizar capacidades e funções corporais para o desenvolvimento do trabalho, diminuindo a possibilidade de comprometimento da integridade do corpo. Entende-se essa atividade como a criação de um espaço onde as pessoas possam por livre e espontânea vontade exercer várias atividades e exercícios que estimulam o auto-conhecimento e levam a ampliação da auto-estima. Isto consequentemente, proporcionará um melhor relacionamento consigo, com os outros e com o meio (apud POLITO & BERGAMASCHI, 2003, p. 28).

    A ginástica laboral é também um repouso ativo, que pode aproveitar as pausas regulares durante a jornada de trabalho, para exercitar os músculos correspondentes e relaxar os grupos musculares que estão em contração durante o trabalho, prevenindo assim a fadiga muscular.

    Torna-se como um objetivo nesse estudo verificar a contribuição da ginástica laboral para o aprimoramento e rendimento dos trabalhadores, como também a manutenção da saúde e prevenção das doenças ocupacionais (diminuição das tensões acumuladas durante o dia).

II.     O papel da Ginástica Laboral

    A ginástica laboral (GL) pode ser dividida em três tipos:

  1. Ginástica Preparatória ou de aquecimento: realizada no início da jornada de trabalho, a qual prepara o trabalhador para iniciar suas necessidades laborais;

  2. Ginástica de Compensação: a qual é realizada no meio do expediente, causando uma pausa ativa, compensando os esforços exigidos pela função operacional e impedindo a instalação dos vícios de postura durante suas atividades habituais;

  3. Ginástica de Relaxamento: a qual é realizada após o expediente, na tentativa de recuperar o trabalhador do desgaste sofrido.

    Dentro dessas divisões, pode-se realizar um trabalho de alongamento com ou sem a utilização de materiais como: bastão, bolinhas, elásticos, cordas, colchonetes e assim compensar as estruturas musculares envolvidas nas tarefas ocupacionais diárias, sem levar o trabalhador ao cansaço, como também realizar o relaxamento. Podendo assim verificar o objetivo da GL.

    MILITÃO (2001) relata que os principais benefícios que a GL traz para as empresas são:

  • Aumento da produtividade;

  • Diminuição de incidência de doenças ocupacionais;

  • Menores gastos com despesas médicas;

  • Marketing social;

  • Redução do índice de absenteísmo e rotatividade dos funcionários;

  • Redução dos números de erros e falhas, pois os funcionários ficam mais espertos e motivados.

    Uma empresa que adota o programa de ginástica laboral será extremamente beneficiada, pode ser subdivididos em três grupos: benefícios fisiológicos, psicológicos e sociais. No geral, terão trabalhadores com maior disposição, motivados, uma maior integração com o grupo, harmonização no ambiente de trabalho, liberação de movimentos bloqueados por tensões emocionais, melhoria da coordenação motora, aumento da flexibilidade, ativação do aparelho circulatório, desenvolvimento da consciência corporal, proporcionando o bem estar físico e mental, com menores riscos de serem acometidos de doenças ocupacionais ou de estresse, melhorando a condição do estado de saúde geral.

    A partir do momento que os trabalhadores passam a participar das aulas, eles percebem que este é talvez o único momento do dia em que eles podem ser eles mesmos, abrindo mão do autocontrole, livre dos riscos de acidentes e erros. Podem conversar com os colegas, saindo de uma postura automatizada.

    Analisando a eficácia de programas de ginástica laboral, sua execução deve ser prezada pela liberdade de expressão e iniciativa própria do trabalhador, e não ser imposta como mais uma tarefa a ser realizada nas jornadas de trabalho.

    Como constata Silva (1997), a instituição de um Programa de Promoção da Saúde no Trabalho com a prática da GL se afigura, então, como algo capaz de atender às duas pontas da questão: por um lado, ao motivar os funcionários, tende a aumentar a produtividade e, portanto, a taxa média de lucratividade. Por outro, reduz os custos com assistência médica.

    Assim, pode-se considerar que a ginástica laboral é uma medida preventiva coadjuvante de uma abordagem que considere o trabalhador e quem trabalha, podendo contribuir para que se alcance a redução dos índices de doenças ocupacionais; e promovendo a saúde do trabalhador e aumento do rendimento da empresa.

    Baseando nisto, a GL oferece sua contribuição para a qualidade de vida -QV- dos funcionários, criando um espaço de quebra no ritmo, na rigidez e na monotonia do trabalho.

    Juntamente a isso é necessário dar atenção ao tipo de profissional que a oriente, visto que muitas empresas têm experimentado resultados significativamente frustrantes, porque em muitos casos, os orientadores do programa não estavam preparados para conduzir e administrar adequadamente seus programas de exercícios; ou em algumas vezes, o conteúdo não estava diretamente relacionado à atividade laboral.

    Diante deste contexto, parte do pressuposto que o contato direto com o professor de educação física com o trabalhador é de fundamental importância para motivar, corrigir e estimular os exercícios; e em outros casos, em que distúrbios mioesqueléticos já estão instalados, faz necessária a presença do fisioterapeuta. A atuação desses profissionais torna-se um instrumento de alto valor educativo, promovendo a saúde do trabalhador.

III.     Qualidade de vida no trabalho – QVT

    Falar de programas de qualidade de vida no meio empresarial era algo utópico nos últimos vinte anos. Hoje, o grau de interesse aumentou muito, e as empresas começaram a perceber que a qualidade de vida de seus trabalhadores está diretamente relacionada à produtividade.

    A ciência e a tecnologia cresceram rapidamente e, com essas inúmeras inovações, houve também um aumento no fluxo de informações e da produtividade. Devido a esses fatores, ocorreu nos últimos anos um número elevado de Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho – D.O.R.T. Essas lesões de natureza ocupacional têm sido responsáveis por afastamentos temporários e aposentadorias precoces, prejudicando a saúde do trabalhador e, consequentemente a empresa onde trabalha.

    A função exercida pelo trabalhador muitas vezes não permite uma movimentação livre e adequada, ou exige uma série de movimentos repetitivos que não têm como ser alterados.

    Os Centros para Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) e o Colégio Americano de Medicina do Esporte relataram que aproximadamente, 250.000 vidas são perdidas por ano devido a um estilo de vida sedentário. (apud MILITÃO, PATE et al, 1995, p. 21). Sharkey (1998) complementa afirmando que a falta de atividade física é considerada um fator de risco determinante para a saúde das pessoas.

    Muitos trabalhadores passam horas em condições limitadas de movimento em pé de frente a bancada de trabalho ou sentados em cadeiras de escritórios. Da mesma forma que a maioria das vezes usam seu tempo livre de maneira passiva com a televisão, internet e jogos eletrônicos. Com esse comportamento sedentário, provocam uma série de manifestações no sistema cardiovascular, sistema vegetativo e nas glândulas endócrinas, provocando determinadas doenças. (NAHAS, 2001).

    Apesar de vários estudos terem demonstrado a importância da atividade física para a saúde e da divulgação através da mídia desses benefícios, muitas pessoas ainda adotam hábitos sedentários.

    Sharkey (1998) afirma que o estilo de vida ativo é um importante determinante para a saúde das pessoas uma vez que funciona como um imã atraindo comportamentos saudáveis e eliminando comportamentos negativos tais como: habito de fumar, álcool, alimentação desequilibrada, inatividade física influenciando sua qualidade de vida no trabalho.

    A Organização Mundial de Saúde estima índices de 30 % de transtornos mentais leves e de 5 a 10% de transtornos mentais graves na população trabalhadora ocupada; já em termos físicos, no trabalho, o homem torna-se cada vez mais sedentário, uma vez que, pela própria evolução técnica, a força muscular vem sendo substituída por máquinas modernas.

    Os distúrbios na saúde dos trabalhadores, principalmente as lesões musculoesqueléticas, são um dos problemas que mais tem afetado as empresas. Na maioria das vezes, ocasionados devido a uma organização do trabalho que envolve: tarefas repetitivas; pressão constante por produtividade; jornada prolongada; e tarefas fragmentadas e monótonas que reprime o funcionamento mental do trabalhador. Esses distúrbios trazem como conseqüências dores e sofrimento para os trabalhadores. Já para os empresários trazem onerosas despesas com assistência médica e pagamento de seguros.

    Figueiredo (2005) mostra que uma grande parte das empresas no Brasil tem procurado implantar Programas de Saúde e Qualidade de Vida, como a Ginástica Laboral e a Ergonomia em busca da diminuição de seus índices de absenteísmo e outros problemas.

    Ainda conforme Figueiredo (2005), o atendimento aos requisitos ergonômicos possibilita:

  • Maximizar o conforto, a satisfação e o bem-estar;

  • Garantir a segurança;

  • Minimizar constrangimentos, custos humanos e carga cognitiva, psíquica e física do operador e/ou usuário;

  • Evitar doenças profissionais, lesões e mutilações do trabalhador;

  • Otimizar o desempenho da tarefa, o rendimento de trabalho e a produtividade do sistema homem – máquina.

Referências bibliográficas

  • ANDERSON, Bob. Alongue-se no trabalho. São Paulo, SP: 4ª edição: Summus, 1998.

  • FIGUEIREDO, Fabiana. Ginástica Laboral e Ergonomia. Rio de Janeiro: Sprint, 2005.

  • INTERNATIONAL ERGONOMIC ASSOCIATION. Disponível no site: http://www.iea.cc. Acesso em 10 de agosto de 2008.

  • LIMA, Valquíria de. Ginástica Laboral – Atividade Física no ambiente de trabalho. São Paulo: Phorte, 2003.

  • MENDES, Ricardo Alves, LEITE, Neiva. Ginástica Laboral – Princípios e aplicações práticas. Barueri, SP: Manole, 2004.

  • MILITÃO, Angeliete Garcez. A influência da Ginástica Laboral para a Saúde dos trabalhadores e sua relação com os profissionais que a orientam. 2001. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção), Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.

  • OLIVEIRA, João Ricardo Gabriel de. A prática da Ginástica Laboral. Rio de Janeiro: 2º edição: Sprint, 2003.

  • POLITO, Eliane, BERGAMASHI, Elaine Cristina. Ginástica laboral: teoria e prática. 2003. 76 p. 2 edição, Sprint, Rio de Janeiro - RJ.

  • SILVA, Marco Aurélio Dias da; MARCHI, Ricardo de. Saúde e qualidade de vida no trabalho. São Paulo: Editora Best Seller, 1997.

  • WISNER, Alain. Por dentro do trabalho – ergonomia: método & técnica. São Paulo: FTD: Oboré, 1987.

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