Leucocitose pós-prova de Ironman Leucocitosis post-prueba de Ironman |
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Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC Núcleo de Cardiologia e Medicina do Esporte – NCME (Brasil) |
Kelly Cattelan Bonorino | Aline Huber da Silva Fernanda Guidarini Monte | Tales de Carvalho |
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Resumo Objetivo: Descrever as alterações na contagem leucocitária pós - prova em atletas de Ironman. Métodos: O trabalho caracterizou-se por ser um estudo descritivo do tipo exploratório. As coletas de sangue foram realizadas antes e imediatamente após o fim da prova. Os dados foram organizados e analisados no programa estatístico SPSS versão 15.0. Resultados: Foram avaliados 18 atletas do sexo masculino participantes do Triathlon Ironman Brasil, realizado em Florianópolis (SC). A única variável que não apresentou diferença estatisticamente significativa entre as coletas pré e pós - prova foram os linfócitos (p=346). Todas as outras variáveis apresentaram diferenças significativas entre a primeira e segunda coleta, sendo os leucócitos (p<0,001), bastões (p=0,036), neutrófilos (p<0,001), eosinófilos (p=0,001), basófilos (p=0,006) e monócitos (p=0,007).Conclusão: Conclui-se que a prática do Ironman alterou o número total de leucócitos circulantes imediatamente após a prova, sendo essa alteração decorrente principalmente pelo acréscimo da população de neutrófilos. Unitermos: Exercício físico. Ironman. Leucócitos.
Abstract
Objective: To examine changes in
blood leucocyte counting pre and post - proof athletes participating in
the Ironman. Methods: The work was characterised by being a
descriptive study of exploratory type. The data were organized and
analyzed the statistical program SPSS version 15.0. Results: 18
male athletes participating in the Triathlon Ironman 2004 in
Florianopolis (SC) were evaluated. The only variable that presented no
statistically significant difference between the pre and post collections
- were proof the lymphocytes (p = 346). All other variables showed
significant differences between the first and second collection,
leukocytes (p <0001), poles (p = 0036), neutrophils (p <0001),
eosinophils (p = 0001), basophils (p = 0006) and monocytes (p = 0007). Conclusion:
It was concluded that the Ironman practice changed the total number of
white blood cells circulating immediately after the race, and this change
caused mainly by the increase in neutrophils population. |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 132 - Mayo de 2009 |
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Introdução
O estudo da relação entre o exercício e a resposta imunológica tem motivado interesse há vários anos. Há pouco mais de 100 anos, em 1893, foi publicado o primeiro trabalho relatando alterações encontradas nas células sanguíneas após a prática de exercício (NIEMAN, 1994).
Estudos recentes indicam que a realização de exercícios de intensidade moderada pode estimular a eficiência do sistema imunológico, enquanto que o estresse gerado pelo treinamento de alta intensidade e/ou longa duração de atletas pode alterar sua função (CORDOVA,1994; ROSA e VAISBERG, 2002).
Nieman e Pedersan (1997) relatam que é possível dividir a resposta do organismo ao exercício físico em função da intensidade duração do exercício, em resposta aguda, considerada transitória, e em reposta de adaptação crônica para praticantes mais regulares, embora nem sempre estejam bem definidos os limites para estas duas situações,
Diversos estudos realizados sobre a influência do exercício sobre o sistema imunológico mostram um aumento do número de leucócitos circulantes (leucocitose). O grau de leucocitose parece estar relacionado com diversas variáveis entre as quais se encontra o grau de “estresse” sofrido pelo individuo (MARTINEZ e MON, 1999).
Numerosos trabalhos têm reportado alterações de variáveis fisiológicas e bioquímicas, e imunológicas imediatamente após uma prova competitiva. Dentre esses, alguns estudos têm investigado alterações no número e tipo de leucócitos circulantes em resposta a vários tipos e intervalos de exercício, mas poucos utilizam provas de longa duração como maratonas e triathlon como modelo de investigação (CLEAVE et al., 2001; GLEESON et al., 2002; WU et al, 2004).
Dessa forma, este estudo teve como objetivo descrever as alterações leucocitárias pós-prova em atletas de triathlon - Ironman.
Métodos
O trabalho caracterizou-se por ser um estudo descritivo do tipo exploratório. O projeto foi avaliado e aceito pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Centro de Ciências da Saúde e Esporte (CEFID) da UDESC (Universidade do Estado de Santa Catarina) e pelo comitê de ética do Ironman (2004) – Florianópolis (SC).
A pesquisa foi realizada em Florianópolis durante a prova de Ironman (2004) constituído de 3,8 km de natação, 180 km de ciclismo de estrada e uma maratona (42 km) a serem realizadas em um único dia, continuamente.
A amostra foi composta de forma intencional não - probabilística . Foram incluídos indivíduos masculinos, sendo condição obrigatória estar inscrito na prova e completá-la.
As coletas de sangue (10 ml) foram realizadas antes e imediatamente após o fim da prova, pelo processo manual por meio do sistema de coleta à vácuo na fossa cubital utilizando-se os seguintes materiais: Tubos de coleta Sarstedt com anticoagulante EDTA K2.
Os dados foram organizados no programa estatístico SPSS versão 15.0. Usou-se estatística descritiva, teste de normalidade de Shapiro-Wilk e, teste específico para verificar se houve diferença entre a primeira coleta e a segunda. Adotou-se significância de 0,05.
Resultados
Foram avaliados 18 atletas do sexo masculino, a normalidade dos dados foi testada através de teste de Shapiro-Wilk, somente os linfócitos e os monócitos apresentaram distribuição normal (p>0,05), portanto, foi adotada a mediana (md) para medida de tendência central da amostra (que não é influenciada pelos valores extremos), visto que a maioria das variáveis apresentou distribuição não-normal dos dados.
Os atletas apresentaram mediana de idade de 36 anos. A seguir, serão apresentadas as medianas (md) e, entre parênteses, os valores mínimos e máximos encontrados para cada variável.
Para os leucócitos pré-prova, encontrou-se md = 6350 (4300-12000) e, pós-prova md = 16850 (12800-27500). Os bastões apresentaram md = 0 (0-308) para a coleta pré-prova e md = 0 (0-1100) na pós-prova. Para os neutrófilos, md = 3797,25 (2485-9264) e md = 14274,70 (10585,60-24062,50) pré e pós-prova, respectivamente. Os eosinófilos foram md = 98,15 (38-236) pré-prova e md = 41 (0-165) pós-prova. Nos basófilos, encontrou-se md = 23,50 (0-79,90) na pré-prova e md = 73 (0-336,60) na pós-prova. Os linfócitos pré-prova foram md = 1690 (1062,60-2205) e pós-prova foram md = 1621,40 (672,40-2641,20). Finalmente, para os monócitos encontrou-se md = 472 (259-585) e md = 356 (118,30-604,50) nas coletas pré e pós-prova, respectivamente.
A fim de testar se houveram diferenças entre a primeira e a segunda coleta, usou-se estatística não paramétrica para as variáveis em que os dados não apresentaram distribuição normal (teste de Wilcoxon) e, a estatística paramétrica para as variáveis em que os dados tiveram normalidade (teste t pareado).
A única variável que não apresentou diferença estatisticamente significativa entre as coletas pré e pós - prova foram os linfócitos (p=346). Todas as outras variáveis apresentaram diferenças significativas entre a primeira e segunda coleta, sendo os leucócitos (p<0,001), bastões (p=0,036), neutrófilos (p<0,001), eosinófilos (p=0,001), basófilos (p=0,006) e monócitos (p=0,007).
Ao analisar os dados apresentados acima, com exceção dos linfócitos que não apresentaram diferenças entre as coletas, percebe-se que houve aumento do valor de quase todas as variáveis (leucócitos, bastões, neutrófilos, basófilos e monócitos), menos os eosinófilos, que diminuíram da coleta pré para a pós-prova.
Discussão
De acordo com Glesson (2007), muitos estudos têm relatado que várias células imunes são temporariamente alteradas devido a sessões de exercícios prolongados e/ ou competições exaustivas (como maratonas, ultramaratonas, triathlons), podendo causar uma alteração temporária de determinadas células (como por exemplo, leucócitos, linfócitos, monócitos) que usualmente dura de 3 à 24 horas após o exercício, dependendo da intensidade e duração deste.
Conforme Maglischo (1999), um valor normal de leucócitos no sangue gira em torno de 7000 leucócitos por ml3 de sangue podendo variar entre 4000 a 9000 células por ml3. No entanto, observa-se uma possível leucocitose após um exercício de endurance de longa duração.
Em um estudo de Rhode et al (1996), após um prova de triathlon, foi demonstrada uma elevação dos valores das concentrações de leucócitos logo após o ciclismo, a corrida e até 2h após a prova.
No estudo de Wu et al (2004) foi mostrado que a contagem de células brancas aumentava imediatamente após a ultramaratona e permanecia alta até por 9 dias. O número de neutrófilos também tinha um aumento imediato, mas após 2 dias já havia retornado à seu estado pré-competitivo.
Reid et al (2004), analisou as alterações hematológicas em maratonistas que completaram uma prova com 42.2 km de distância com média de 9 horas de duração, foi observado elevação dos leucócitos (acima de 11.000) em 95% dos atletas. A leucocitose ocorreu predominantemente devido ao aumento de neutrófilos. Já a contagem de linfócitos e monócitos após a prova, não se alterou.
Tais resultados coincidem com os achados deste estudo na qual alteração no número de leucócitos foi decorrente principalmente pelo acréscimo da população de neutrófilos. Porém os monócitos aumentaram de forma significativa, já os linfócitos não se alteraram.
Sugere-se que novos estudos sejam realizados nesse grupo de atletas, a fim de relatar o possível efeito da imunodeficiência após um exercício prolongado.
Conclusão
A partir da análise dos resultados pode-se concluir que a prática de exercício físico prolongado e de moderada intensidade, como o Ironman, alterou o número total de leucócitos circulantes imediatamente após a prova.
Referências bibliográficas
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