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Ingestão protéica de praticantes de musculação 

de uma academia do município de Santo André

 

* Nutricionista graduada pelo Centro Universitário São Camilo

** Nutricionista doutora em Nutrição e Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública (USP)

Docente e supervisora de Estágio do Centro Universitário São Camilo

*** Nutricionista da Vianutri Consultoria

Pós-graduanda em Nutrição Desportiva e Qualidade de Vida, FEFISA
**** Nutricionista, diretora e proprietária da Vianutri Consultoria

Especialista em fisiologia do exercício pela UNIFESP

Docente do curso de especialização em nutrição clínica da Universidade Gama Filho
(Brasil)

Daniele Ramos Caparros*

Tamara Eugênia Stulbach**

Daniela Cristina Nunes*

Caroline Perrone Del Dottore*

Viviane Cacioli Jaime Rodrigues***

Andrea Zaccaro de Barros****

danielecaparros@hotmail.com

 

 

 

Resumo

          Introdução. A Associação Brasileira de Academias estima que atualmente no país existam 7.000 academias, onde a musculação destaca-se. Praticantes de atividade física devem ter alimentação adequada para manter a saúde, aprimorar o rendimento e alcançar resultados positivos. Há um mito de que para um aumento na musculatura, deve-se consumir proteína em grande quantidade, porém a ingestão excessiva, pode não trazer resultados desejados. Para melhorar a performance e obter resultados rápidos, praticantes de musculação utilizam recursos ergogênicos, suplementos alimentares, e muitas vezes fazem o uso de produtos ilegais. Objetivo. Avaliar quantitativamente a ingestão protéica de praticantes de musculação de uma academia no município de Santo André. Metodologia. Participaram do estudo 30 praticantes de musculação, de uma academia do município de Santo André – SP. Aplicou-se uma anamnese e um recordatório habitual a cada indivíduo. Foram analisados os valores de proteínas, comparando-os com a recomendação de proteínas da OMS (2003) e SBME (2003). Foram coletados peso e estatura de todos os indivíduos, para posterior avaliação do estado nutricional pelo IMC (segundo OMS - 1997). Resultados e Discussão. A grande maioria (64,0%) encontrava-se eutrófica e 36,0% eram pré-obesos ou obesos, porém sabe-se que para desportistas e atletas um IMC elevado pode estar associado a uma alta porcentagem de massa magra. O consumo de proteínas encontrado na amostra foi elevado, quando comparado com a SBME 73,3% dos estudados consumiram quantidades acima do recomendado, e comparando com a OMS, 90,0%. Os suplementos mais utilizados foram os do grupo alimentos protéicos. Aos praticantes que consumiam ou já haviam consumido suplementos anteriormente, constatou-se que a indicação na maioria das vezes foi realizada pelo instrutor da academia e estes eram na maioria das vezes consumidos para ganho de massa muscular. Conclusão. Foi confirmada a alta ingestão de proteína pelos praticantes associada ao alto consumo de suplementos protéicos sendo na maioria, indicado pelo instrutor. Dessa forma os educadores físicos precisam ser mais esclarecidos para orientar melhor os praticantes e trabalhar em equipe com nutricionistas.

          Unitermos: Proteínas, Academia, Suplementação.

 

Abstract

          Introduction. The Brazilian Association of Academies esteem that at the present in the country exists 7.000 academies, where the weight-training stands out. Practitioners of physical activities must have adequate feeding to mantain the health, to improve the profit and to reach positive results. There is a myth of which for a increase in the musculature, it is necessary to consume protein in great quantity, but excessive ingestion, cannot bring wanted results. To improve the performance and obtain fast results, practicing of weight-training use aids ergogenics, nutritional supplements, and very often they do the use of illegal products. Objective. To evaluate quantitatively the proteinic ingestion in wheigh-training practicing of a academy in the city of Santo André. Methodology. The study had the participation of 30 students that practices wheigh-training in a academy in the city of Santo André – SP. It was applied anamnese and habitual remembership to each individual. The values of proteins were analysed, comparing them with the recommendation of proteins of OMS (2003) and SBME (2003). There were collected weight and stature of all the individuals, for further evaluation of the nutricional state of the BMI (by OMS-1997). Results and Discussion. Most had been eutrophic (64,0%) and 36,0% were pre-obese or obese, however it knows that for sportsmen and athlete raised one BMI it can be associated to one high percentage of lean mass. The protein consumption found in the sample was raised, compared with the SBME 73,3% of studied consumed above the recommended amounts, and compared with the WHO, 90,0%. The most used supplements were those of the group proteinic foods. To the practitioners who consumed or already they had consumed supplements previously it was noticed that the indication often was carried throught the instructor of the academy and these most of the time were consumed for profit of muscular mass. Conclusion. Was confirmed the high protein ingestion for the practitioners associated to the high consumption of proteinic supplements being in the majority, indicated by the instructor. In these form the physical educators need to be clarified to guide the practitioners better and to work in team with nutritionists.

          Keywords: Proteins, Fitness Center, Supplementation.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 132 - Mayo de 2009

1 / 1

Introdução

    A valorização do corpo pela sociedade cresce a cada dia, e com esta aumenta a procura por exercícios físicos oferecidos pelas academias de ginástica1.

    A Associação Brasileira de Academias estima atualmente que em todo o país existam 7.000 academias, onde 2,8 milhões de brasileiros realizam suas atividades físicas2.

    Uma das atividades físicas que vêm se destacando é a musculação. Dentre seus diversos objetivos um que se destaca é a hipertrofia muscular1. A hipertrofia muscular é um treino voltado para a estética corporal. Para atingir resultados mais rápidos, nesse caso o aumento dos músculos, os praticantes de atividade física utilizam alguns recursos1.

    O treinamento de força é uma modalidade de exercícios resistidos em que são realizados movimentos musculares contra uma força de oposição, é o caso dos exercícios com pesos3.

    Durante a realização do exercício físico, várias vias metabólicas podem ser ativadas e diversos substratos utilizados para o fornecimento de energia4.

    O predomínio do uso de um sistema energético irá variar conforme intensidade e duração do treino3.

    Na produção de ATP, no fornecimento de energia, simultaneamente atuam os sistemas energéticos ATP-CP, oxidativo e glicolítico, porém no treinamento de hipertrofia há predomínio dos sistema ATP-CP e glicolítico3. O sistema oxidativo atua nos períodos de recuperação entre as séries3.

    Com relação ao substrato utilizado, o treinamento de força, assim como o aeróbio, visando a hipertrofia, utiliza o glicogênio muscular como fonte energética3.

    A depleção da concentração de glicogênio muscular pode ocorrer durante um treinamento concomitante, devido à intensidade característica do treinamento. Assim, a gliconeogênese hepática pode se fazer presente. Ocorreria estimulação da proteólise e esta levaria a degradação de proteínas contráteis musculares3.

    Um indivíduo que pratica exercícios intensos e regulares necessita de alimentação adequada antes, durante e após o treino para que tenha um bom desempenho e menor probabilidade de sofrer lesões ou doenças, assim a atividade física e a nutrição se tornaram dependentes uma da outra5.

    Praticantes de atividade física devem ter uma escolha correta dos alimentos, pois esta é determinante para manter a saúde, aprimorar o rendimento nos treinos, controlar o peso e a composição corporal e ainda alcançar resultados positivos em competições6.

    A necessidade calórica dietética é influenciada por fatores como sexo, idade, hereditariedade, peso corporal, condicionamento físico, composição corporal e fase de treinamento. Freqüência, intensidade e duração de exercícios físicos7.

    As necessidades calóricas correspondem em geral entre 37 à 41 kcal/kg de peso/dia7. Dependendo dos objetivos pode variar de 30-50 kcal/kg/dia7.

    Segundo a Organização Mundial da Saúde (2003) a ingestão de carboidratos deve estar entre 55 – 75% do valor energético total8. Para otimização da recuperação muscular recomenda-se 5 a 8 g/kg de peso/dia de carboidratos7.

    Com relação à proteína há o mito de que para um aumento significativo na musculatura, deve-se consumi-la em grande quantidade, porém se a ingestão for excessiva (ou seja, maior que a necessidade do organismo), os aminoácidos extras podem ser convertidos em gorduras e carboidratos para armazenamento5.

    Indivíduos ativos podem ter sua demanda de proteínas atingida com a ingestão de 1,2 à 1,4 g/kg/dia7. Essas necessidades a não ser em casos especiais podem ser atingidas através de uma alimentação adequada7.

    A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a ingestão de proteínas seja de 10 a 15% do valor energético total8.

    Antes do início da atividade física é importante evitar o consumo de alimentos protéicos, pois estes possuem digestão mais demorada9.

    Após o exercício a proteína também não é recomendada, devido à prioridade que o organismo tem de sintetizar glicogênio a proteína poderá ser desviada para essa síntese ao invés de atuar na síntese de massa muscular9.

    Se combinada com a ingestão de carboidratos, a proteína logo após o treinamento de hipertrofia,favorece o aumento de massa muscular, reduzindo a degradação protéica7.

    Um adulto necessita de 1 g/kg peso/dia de lipídeos, ou seja, 30% do valor calórico total7.

    Ainda, para melhoria da performance e resultados rápidos, os praticantes de musculação submetem-se ao uso de recursos ergogênicos, suplementos alimentares, e na maioria das vezes, devido à falta de informação ou mesmo consciência, fazem o uso de produtos ilegais, por exemplo os esteróides anabolizantes1,2.

Objetivo geral

    O objetivo do presente estudo foi avaliar quantitativamente a ingestão protéica de praticantes de musculação de uma academia localizada no município de Santo André.

Objetivos específicos

  • Verificar a ingestão protéica e o estado nutricional de praticantes de musculação;

  • Detectar o uso de suplementos nutricionais, motivos e indicações.

Metodologia

    O presente estudo teve caráter transversal e foi realizado em uma academia localizada no município de Santo André – SP, de fevereiro a março de 2008.

    Participaram do estudo 30 praticantes de musculação (16 do sexo masculino e 14 do sexo feminino), após autorizarem a participação através do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

    O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário São Camilo nº 047/06.

    Para descrever as características, cada participante respondeu a uma anamnese e um recordatório alimentar habitual. A anamnese contemplou antecedentes patológicos pessoais, hábitos intestinais e questões quanto ao consumo de bebidas alcoólicas, ao acompanhamento ou não por nutricionista, quanto ao hábito de fumar, tipo de treino (objetivo, freqüência semanal, duração, tempo de prática) e uso de suplementos (seus respectivos nomes, indicação e motivo do uso dos mesmos).

    O consumo alimentar foi avaliado quantitativamente por medidas caseiras e foi analisado os valores de proteínas.

    A ingestão de proteínas foi comparada com 2 recomendações atuais, OMS e Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte (SBME).

    Segundo a OMS (2003), considera-se ingestão adequada quando as proteínas correspondem a 10 – 15% do valor energético total (VET), acima da adequada quando a ingestão está entre 15 – 25% do VET e muito acima da adequada quando a ingestão ultrapassa 25% do VET.

    Segundo a SBME (2003), a ingestão protéica é de 1,2 a 1,4 g/kg/dia. Para análise, o presente estudo considerou adequada a ingestão que seguia a recomendação da SBME, abaixo da adequada ingestão inferior à 1,2 g/kg/dia e acima da adequada ingestão acima de 1,4 g/kg/dia.

    Os suplementos utilizados pelos praticantes de musculação foram inclusos juntamente no cálculo nutricional do recordatório alimentar.

    Os suplementos consumidos foram agrupados de acordo com a Portaria nº 222 de 24 de março de 2008 (Secretaria de Vigilância Sanitária – Ministério da Saúde) em repositores hidroeletrolíticos, repositores energéticos, alimentos protéicos, alimentos compensadores, aminoácidos de cadeia ramificada e outros alimentos com fins específicos para praticantes de atividade física. 

    O peso (kg) foi tomado uma única vez, com o indivíduo descalço, utilizando uma balança, marca Arja®, com capacidade máxima de 150 kg e variação de 0,1 kg.

    A estatura (cm) foi aferida uma única vez, com o auxílio de uma fita métrica inelástica e com precisão de 0,1 cm, fixada na parede. Os indivíduos foram colocados descalços, em posição ereta, braços estendidos ao longo do corpo, calcanhares unidos e cabeça erguida olhando para um ponto fixo na altura dos olhos.

    Para avaliação do estado nutricional foi calculado o Índice de Massa Corpórea (IMC) e este classificado segundo a OMS (1997), sendo considerado baixo peso o indivíduo abaixo de 18,5kg/m2, eutrófico o indivíduo entre 18,5 e 24,99 kg/m2, pré-obeso entre 25,0 e 29,99 kg/m2 e obeso indivíduos acima de 30,0kg/m2.

    Para análise do consumo habitual e dos dados restantes utilizou-se respectivamente, o software de avaliação nutricional Avanutri® versão 3.0.9 e o software Microsoft Excel®.

Resultados e discussão

    A amostra foi composta por 30 indivíduos, sendo 16 homens (53,0%) e 14 mulheres (47,0%), com idade entre 20 e 63 anos (média de 32). A média do peso foi de 73,0 kg com valor mínimo de 48,7 kg e máximo de 153,0 kg. A altura média foi de 1,69 m, sendo o valor mínimo de 1,49 m e o valor máximo de 1,86 m (Tabela 1).

    A freqüência semanal e a duração do treino (horas) foram coletados, gerando ao estudo o Tempo despendido de exercício (horas/semana).

    O tempo de prática de exercício (meses) apesar de coletado não foi utilizado no presente estudo, já que grande parte dos indivíduos não excluía períodos em que deixavam de praticar a musculação.

Tabela 1. Idade, peso, altura, IMC e tempo despendido de exercício dos 30 praticantes de musculação. Santo André, 2008

Indivíduos

Idade (anos)

Peso (kg)

Altura(m)

IMC(kg/m2)

Tempo despendido (horas/semana)

1

25

79,0

1,85

23,09

7,5

2

63

55,0

1,65

20,22

3,0

3

47

60,1

1,62

22,94

6,7

4

24

86,6

1,80

26,73

5,0

5

47

60,5

1,66

21,92

4,0

6

32

90,0

1,86

26,01

7,0

7

26

94,3

1,75

30,82

7,5

8

32

69,7

1,78

21,99

5,0

9

30

70,0

1,74

23,10

6,0

10

34

153,0

1,82

46,22

5,0

11

24

76,8

1,75

25,09

7,5

12

32

62,0

1,62

23,66

4,0

13

28

50,5

1,62

19,28

3,0

14

40

60,0

1,61

23,43

4,5

15

33

49,6

1,60

19,38

2,0

16

36

82,5

1,78

26,03

7,5

17

52

58,2

1,54

24,56

4,0

18

29

106,0

1,85

30,99

7,5

19

22

80,0

1,66

28,99

4,0

20

23

70,0

1,71

23,97

7,5

21

20

50,0

1,51

21,93

6,0

22

27

80,4

1,77

25,69

7,5

23

24

74,5

1,75

24,35

10,0

24

49

61,0

1,59

24,11

5,0

25

27

98,1

1,76

31,74

*

26

38

83,6

1,73

27,96

8,0

27

26

70,9

1,70

24,53

7,5

28

24

58,8

1,67

21,08

3,0

29

26

48,7

1,56

20,04

6,0

30

20

50,0

1,49

22,52

10,0

* não há dado do indivíduo por ele não ter respondido a questão relacionada.

    Os indivíduos foram interrogados quanto aos objetivos do treino, não sendo estes detalhados no presente estudo, pois notou-se que os objetivos relatados se referiam ao treinamento como um todo (tanto treinamento aeróbio quanto anaeróbio, já que muitos dos indivíduos além de musculação realizavam caminhada em esteira, aulas de ginástica e outros).

    Dos praticantes de academia estudados 17,9% (n=5) eram fumantes e 82,1% (n= 23) não fumantes. Quando questionados sobre o consumo de bebida alcoólica 46,4% (n=13) responderam consumir esporadicamente, já 53,6% (n=15) relataram não consumir. Em ambas as questões, a amostra foi reduzida a 28 indivíduos, devido a 2 não terem respondido as questões.

    Quanto ao trânsito intestinal, 80,0% (n=24) dos praticantes de musculação relataram ter o intestino regulado, 20,0% (n=6) obstipado e nenhum indivíduo relatou ter o intestino solto.

    Com relação ao IMC, 64,0% (n=19) dos indivíduos encontrava-se na eutrofia, 23,0% (n=7) foram classificados como pré-obesos, 13,0% (n=4) como obesos e nenhum indivíduo encontrava-se com baixo peso (Figura 1). Segundo Duran et al o IMC pode ser elevado em praticantes de atividade física, devido a uma alta porcentagem de massa magra e não necessariamente de gordura corporal10. Assim outros métodos antropométricos devem ser utilizados em conjunto para estimar as quantidades de massa corporal livre de gordura10.

Figura 1. Classificação do estado nutricional de acordo com o IMC (OMS, 1997). Santo André, 2008

    De acordo com os antecedentes patológicos pessoais, 3,3% (n=1) relataram ter diabetes, 6,7% (n=2) hipertensão arterial e 10% (n=3) gastrite/úlcera.

    Quando questionados sobre o acompanhamento nutricional, 87,0% (n=26) dos praticantes de musculação relataram nunca ter realizado, 13,0% (n=4) relataram já ter realizado e nenhum indivíduo relatou realizar acompanhamento nutricional durante o período da coleta de dados (Figura 2).

Figura 2. Distribuição em porcentagem da realização de acompanhamento nutricional. Santo André, 2008

    Com relação à ingestão de carboidratos, foi visto que apenas 23,3% (n=7) dos freqüentadores da academia tinham uma ingestão adequada (55 – 75% do VET).

    Quando comparados os dados de proteína com a recomendação da OMS (2003), o presente estudo mostrou (com base nos recordatórios), que apenas 10,0% (n=3) dos praticantes de musculação consumiam quantidade adequada de proteína (10 - 15% do VET). Dos 90,0% (n=27) restantes, 48,1% (n=13) estavam com a ingestão de proteína acima da adequada e 51,9% (n=14) muito acima da adequada. Já quando comparados os dados de proteína com a recomendação da SBME (2003) foi visto que 13,3% (n=4) dos indivíduos consomem quantidade abaixo da adequada, 13,3% (n=4) consomem quantidade adequada e 73,3% (n=22) estão com a ingestão acima da adequada (Tabela 2). Assim, nota-se que independente da recomendação há um consumo protéico elevado na amostra.

Tabela 2. Quantidade de caloria (kcal) total, caloria por kg de peso, proteína total, proteína por kg de peso, carboidrato total e carboidrato por kg de peso, dos 30 praticantes de musculação. Santo André, 2008.

Indivíduos

Kcal

Kcal/Kg

Proteína (g)

PTN/Kg

Carboidrato (g)

CHO/Kg

1

6642,38

84,08

188,24

2,38

1001,61

12,68

2

5644,75

102,63

270,05

4,90

407,55

7,41

3

1649,80

27,45

99,17

1,70

195,93

3,26

4

2721,73

31,43

256,34

3,00

271,92

3,14

5

1224,47

20,24

94,99

1,60

168,80

2,79

6

1698,92

18,88

46,80

0,50

298,80

3,32

7

3218,84

34,13

231,04

2,50

360,23

3,82

8

4272,62

61,30

170,07

2,40

502,58

7,21

9

1491,56

21,31

65,80

0,90

247,10

3,53

10

3994,40

26,11

384,03

2,50

319,77

2,09

11

3681,54

47,94

139,01

1,80

510,72

6,65

12

4205,74

67,83

257,30

4,20

660,30

10,65

13

508,13

10,06

29,80

0,60

52,52

1,04

14

3349,86

55,83

235,20

3,90

255,00

4,25

15

1384,76

27,92

92,26

1,90

159,22

3,21

16

2858,83

34,65

174,08

2,10

292,88

3,55

17

1829,42

31,43

123,38

2,10

201,95

3,47

18

2067,91

19,51

152,64

1,40

237,44

2,24

19

1544,49

19,31

101,60

1,30

174,40

2,18

20

2320,11

33,14

128,80

1,80

260,40

3,72

21

1878,51

37,57

94,50

1,90

217,50

4,35

22

3849,64

47,88

232,36

2,90

312,76

3,89

23

1960,42

26,31

165,39

2,20

187,00

2,51

24

477,97

7,84

34,16

0,60

75,03

1,23

25

2286,48

23,31

150,09

1,50

227,59

2,32

26

1789,62

21,41

112,86

1,40

196,46

2,35

27

5323,37

75,08

578,67

8,16

522,83

7,37

28

1594,35

27,11

70,56

1,20

161,11

2,74

29

2635,30

54,11

120,78

2,50

347,72

7,14

30

2202,33

44,05

80,50

1,60

300,00

6,00

 

    Segundo Duran et al alguns estudos mostraram que freqüentadores de academia costumam ter uma alimentação hiperprotéica, devido ao modismo e falta de informações e orientações adequadas10.

    De acordo com Viebig e Nacif, com a finalidade de aumentar a massa muscular, muitos praticantes de atividade física aumentam substancialmente sua ingestão protéica, o que pode sobrecarregar o organismo, principalmente as funções hepáticas e renais, devido ao aumento das concentrações de uréia e de outros compostos6.

    No estudo de Pinto et al, com uma amostra de 15 indivíduos verificou-se que 40,0% deles faziam uso de algum tipo de suplemento1. No presente estudo o uso de suplementos foi constatado que metade da amostra, ou seja, 50,0% (n=15) dos praticantes consumiam algum tipo de suplemento no período da coleta de dados, 33,0% (n=10) relataram já ter consumido e apenas 17,0% (n=5) nunca haviam consumido qualquer tipo de suplemento.

    No período da coleta, alguns indivíduos faziam o uso de mais de um suplemento e destes indivíduos (n=15), nenhum relatou utilizar repositor hidroeletrolítico, 1 relatou o uso de repositor energético, 11 relataram consumir alimentos protéicos, 1 relatou consumir alimento compensador, 3 relataram o uso de aminoácidos de cadeia ramificada e 5 indivíduos relataram o uso de suplementos que pertenciam ao grupo outros alimentos com fins específicos para praticantes de atividade física. 

    Foi visto que todos os 11 indivíduos que utilizavam suplementos do grupo alimentos protéicos tinham a ingestão deste nutriente acima do que deveriam.

    Segundo Lapin et al o consumo de suplementos farmacológicos ou nutricionais, se realizado sem correta prescrição, pode ter efeitos prejudiciais à saúde do consumidor4.

    Aos praticantes que faziam uso ou já haviam usado suplementos anteriormente (n=25) foi investigado por quem foi realizada a indicação do produto e o motivo de uso dos mesmos. O presente estudo verificou que 60,0% (n=15) dos entrevistados haviam recebido indicação do instrutor da academia, 20,0% (n=5) indicação de amigos, 12,0% (n=3) relataram fazer uso por conta própria e apenas 8% da amostra (n=2) utilizava suplementos por indicação de um nutricionista (Figura 3). Da mesma forma em estudo realizado por Lollo e Tavares, com amostra de 292 indivíduos, verificou-se que 90,4% destes, utilizaram suplementos dietéticos sem orientação profissional prévia de um médico ou nutricionista12.

    Santos e Santos mostraram em seu estudo que o professor de educação física influenciava e prescrevia aos alunos suplemento alimentar, fato que demonstra uma atitude antiética, uma vez que não possui habilitação técnico-profissional para tal procedimento13.

Figura 3. Distribuição em porcentagem da indicação do uso de suplementos. Santo André, 2008

    Da mesma amostra (n=25), foi analisado o motivo para o uso de suplementos e notou-se que a maioria dos indivíduos, 60,0% (n=15) da amostra utilizava os suplementos com o motivo de ganho de massa muscular, 4,0% (n=1) utilizava suplementos para dar energia, 8,0% (n=2) esperavam melhora no rendimento e 28,0% (n=7) faziam o uso de suplementos por outros motivos como hidratação, substituir refeição, ajudar na alimentação, dentre outros. Indivíduos que não souberam responder a questão foram incluídos no grupo outros motivos (Figura 4).

Figura 4. Distribuição em número dos motivos relatados para o uso de suplementos. Santo André, 2008

    Foi observado que a academia estudada possuía uma loja de suplementos e por esse motivo acredita-se que tenha influenciado no uso dos mesmos pelos praticantes. Segundo Lapin et al, dentre os serviços disponíveis em uma academia, mais uma alternativa de receita é a comercialização de produtos ergorgênicos e suplementos alimentares4. Da mesma forma, no estudo de Lollo e Tavares, foi observada a presença de espaços reservados a venda de suplementos dietéticos nas academias estudadas. Os autores acreditam ser esta, uma influência ao consumo dos suplementos12.

Conclusão

    Como previsto, foi confirmada a alta ingestão de proteínas pela maioria dos praticantes de musculação, esta foi associada ao consumo de suplementos protéicos, sendo na maioria dos relatos utilizados por indicação do instrutor. O uso de suplementos foi citado pela maioria da amostra, com o objetivo de aumentar a massa muscular. Dessa forma, é necessário que os educadores físicos sejam mais esclarecidos com relação ao uso de suplementos, orientando melhor os praticantes e quando possível trabalhando em equipe com um nutricionista.

Referências bibliográficas

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