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Futebol no Paraíso: esporte confraternização

na comunidade viçosense

 

*Bacharel e Licenciado em Educação Física pela Universidade Federal de Viçosa- UFV

**Professora Adjunta do Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Viçosa

***Professora orientadora, Universidade Federal de Viçosa

(Brasil)

Luiz Flávio Evangelista Cardoso

Marizabel Kowalski

Alynne Andaki

alynneandaki@yahoo.com.br

 

 

 

Resumo

          A grande influência social e cultural do esporte com função unificadora e no exercício da atividade física de lazer despertou-nos interesse em analisar como se deu a organização da equipe de futebol de várzea da comunidade viçosense do Paraíso. Trata-se da equipe do Futebol Clube do Paraíso da cidade de Viçosa (MG), que realiza amistosos todos os fins de semana no campo de sua comunidade na zona rural às margens da rodovia MG-280. A equipe é composta por 15 jogadores, sendo seus encontros esportivos realizados no campo da própria comunidade, aos domingos pela manhã envolvendo jogadores, familiares, amigos e comunidade em geral. O jogo de futebol é a grande espera da semana, a reunião e união onde pessoas se encontram com objetivos determinantes torcer, passear, conversar, namorar, passar o tempo, e. como não poderia deixar de existir “tomar cerveja” e “jogar futebol”. Os jogos realizados nesta comunidade possuem características amistosas sendo que a cada domingo a Equipe do Paraíso realiza partidas com equipes diferentes já que existe um número expressivo de pequenos times que praticam a modalidade em Viçosa, que fazem uso de outros locais esportivos localizados em diversos bairros e comunidades rurais da cidade e, cujo tempo disponível e democrático é o domingo pela manhã, após o culto religioso.

          Unitermos: Futebol. Várzea. Equipe do Paraíso. Comunidade.


Este artigo originou-se de um trabalho de conclusão de curso em Educação Física

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 132 - Mayo de 2009

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Introdução

    O futebol faz parte do dia a dia do brasileiro. A paixão por este esporte está em cada canto do país. Não temos outro esporte que mobilize as multidões como o futebol, está presente no cotidiano do brasileiro de maneira que podemos afirmar que o brasileiro “respira futebol”. A mídia concede espaço de destaque a qualquer hora, instante e tamanho quer seja na televisão, jornais, revistas, etc. esta dimensão espacial irradiada pelo e com o futebol inventou a “paixão futebolística”, este sentimento inexplicável pelo clube, seleção nacional - a atenção dada pelo aficionado (torcedor) é algo que foge do tratamento científico. O futebol é um esporte que desperta simultaneamente a ansiedade, alegria, angústia, euforia e outros sentimentos que são impossíveis de ser explicado, ele mexe com as emoções dos seres humanos.

Foto 1. Esta foto mostra a formação da equipe do paraíso do ano de 1968, sendo esta foto sido tirada 

no campo do União de Paula Cândido em uma partida amistosa realizada contra a equipe da casa.

    O futebol para o brasileiro é essencial em seu cotidiano, faz parte das conversas dentro e fora do trabalho e a principal opção de lazer. Afirmamos que nesta dimensão, que ainda existe amadorismo, passatempo e ócio, no qual se joga pelo prazer de jogar, onde o que vale é a diversão, o prazer de estar com os amigos para uma tradicional “pelada de fim de semana”. Este seria o futebol com o objetivo de qualidade de vida, diversão, socialização, entre vários outros aspectos confraternização, pois o que menos importa aqui é a vitória e o dinheiro.

    O “futebol de várzea” é para muitos brasileiros a única opção de lazer, pois em muitas cidades o que existe é o campo de futebol e para praticar o jogo não é preciso muitos materiais.

    Desta maneira, o futebol tornou-se, para milhões de pessoas, a principal opção de lazer. O futebol é a paixão popular cuja facilidade prática pode ser um espaço estruturado ou em um terreno baldio ou de várzea e, acima de tudo, todas as pessoas podem usufruir de seu fator integrador, pois é possível incorporar pessoas de classes sociais diferentes em um mesmo espaço, rompendo barreiras sexista, econômica, social e cultural que separa cor de pele, credos, pobres e ricos, homens e mulheres em outros setores da sociedade.

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Foto 2. Foto da equipe do Paraíso de 1978.

    O presente estudo objetivou identificar o perfil dos praticantes de futebol da comunidade da zona rural de Viçosa, denominada Paraíso, no que diz respeito ao aspecto sócio-econômico e cultural, além de identificar a organização da equipe do qual o estudo é proposto.

História e Estórias do Futebol

    Muitos são os que afirmam que as origens do futebol se perdem no tempo. Tais origens estariam situadas entre os maias que, praticavam um jogo com a cabeça dos adversários derrotados, ou entres os egípcios que se divertiam com uma brincadeira na qual tinham que chutar uma bola; e talvez até mesmo na China, onde existiram indícios de um jogo muito parecido com o futebol moderno. Também levantam a possibilidade de ele ter sido praticado na antiga Roma, quando assumiu uma forma muito violenta, da qual freqüentemente os praticantes saíam feridos (MELO 2000).

    Ainda podemos notar jogos em que se chuta uma bola em diferentes povos de civilizações nativas das Américas, como também na Idade Média em diferentes localidades da Europa, mas o futebol propriamente dito com regras e com associação esportiva que representavam os interesses das equipes só surgiu no século XIX na Inglaterra (PRONI, 2000)

    Os fatos acima nos mostram que essa teria sido a origem do futebol, mas segundo Melo (2000) não podemos afirmar que essas práticas antigas seriam o “berço do futebol”, embora não podemos negar que alguma coisa que lembrasse o futebol era praticado naquela época. Contudo, é de se acreditar que até existiram jogos bem parecidos com futebol na antiguidade, mas a história mostra que o futebol foi sistematizado na Inglaterra.

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Foto 3. Equipe do Paraíso campeã do campeonato realizado nos campos do Paraíso e Rua nova no ano de 1980.

    De acordo com Reis (2005), as diversas formas de jogo de bola, com regras diferenciadas, vinham ocorrendo, até que, em 29 de outubro de 1863, onze representantes de clubes e universidades inglesas se reuniram na Old Freemanson´s Taveorn, localizada na Great Queen´s Street, em Londres com o propósito de unificar as regras do jogo. Foi fundada na Inglaterra a partir dessa reunião a Football Association. A fundação dessa associação é que fez com que começasse a se organizar um campo relativamente autônomo, com uma lógica interna específica, um calendário próprio, um corpo de técnicos especializados, gerando um mercado de consumo completamente diferentes das práticas anteriores.

    O futebol começou nas escolas das camadas mais ricas da população, sendo primeiramente utilizado para controlar os impulsos dos jovens burgueses da época, mas rapidamente se difundiu por todas as classes sociais.

    No que diz respeito ao futebol no Brasil é quase uma unanimidade entre o grande público e entre os pesquisadores, que Charles Miller teria sido o introdutor do futebol no Brasil, quando em 1894, trouxe da Inglaterra, duas bolas de futebol em sua bagagem, organizando os primeiros jogos entre os sócios do São Paulo Atletic Club. Não devemos negar a importância de Charles Miller para organizar e difundir o futebol entendido como campo esportivo, mas temos clarezas que quando ele chegou ao Brasil, já se exercitava, em vários locais (MELO, 2000).

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Foto 4. Entrega do troféu a equipe Campeã em 1980.

    Assim como na Inglaterra, existem indícios que o futebol começou a ser praticado no Brasil por volta de 1880, através das escolas, mais precisamente nos colégios jesuítas, sendo também utilizado para controlar e propagar valores da sociedade para os jovens. Não é difícil imaginar tal coisa, ainda mais quando tomamos conhecimento de que os colégios religiosos estiveram no Brasil entre os primeiros a valorizar os exercícios físicos.

    Além dos colégios, encontramos registro de que existiu outra via de possível entrada do futebol no Brasil, que foi por meio de funcionários ingleses que aqui moravam, trabalhando em empresas de seu país de origem. (Saldanha, 1971).

    O futebol no Brasil já nasceu na várzea (locais dos primeiros campos, às margens do Rio Tietê, em São Paulo) e logo, muitas pessoas, mesmo não ligadas aos clubes aristocráticos, estariam assistindo ao espetáculo. Talvez isso explique a popularidade do esporte. O futebol é um esporte que ao contrário dos esportes anteriores, podia ser praticado em qualquer lugar em que se colocassem pedaços de paus como traves, com improvisos de bolas, que poderiam ser feitas de material barato (como bexigas de boi). Um aspecto que provavelmente facilitou a expansão do futebol foi o conjunto de regras de fácil entendimento, o que não ocorria nos demais esportes.

    Outra possibilidade para explicar sua popularidade é a adequação ao gosto popular, pois, o futebol e sua necessidade do coletivo, bem como por permitir uma violência controlada, estava simbolicamente mais próxima das manifestações populares da época. (MELO, 2000).

    Segundo Mascarenhas (1998) é fato que o futebol no Brasil teve como pioneira a cidade de São Paulo, foi lá que o futebol foi introduzido no final do século passado, ele era praticado em clubes, empresas e estabelecimentos escolares, e em 1902 a cidade organizou o primeiro campeonato no país.

    É inegável a influência que o futebol teve a partir do início deste século na vida das pessoas independente de sexo, cor, raça ou religião. Mesmo considerando, no início, como um esporte de elite, pois nos seus primeiros anos de existência o futebol era basicamente praticado pela classe rica, mas isso foi mudando a partir da década de 1920, ele se popularizou com tal grandeza que ele atinge, direta ou indiretamente toda população brasileira. Podemos notar isso em uma copa do mundo em que o país inteiro pára para acompanhar a seleção nacional, outro exemplo seria as enormes multidões que se dirigem semanalmente aos estádios para torcer pelo seu time (DAOLIO, 1997).

Futebol de Várzea

    Inicialmente, o futebol varzeano era tomado como desordem, encontro de vadios a ser disciplinado ou mesmo perseguido pela polícia. A imprensa de época estabelecia uma clara distinção entre o futebol das elites, elegante e bem organizado, e o futebol varzeano, como se fossem modalidades e práticas sociais completamente diferentes e até mesmo opostas. Por volta de 1920, entretanto, a atividade já havia se disseminado a tal ponto que não havia como reprimi-la, pois já se espalhava por todo o Brasil entre todas as classes sociais (DIAS, 1980).

    A difusão do futebol enquanto prática popular de entretenimento se insere na própria formação da classe operária paulistana, como elemento de sua cultura. Certamente, o grande número de imigrantes e operários contribuiu para a rápida popularização do futebol em São Paulo.

    Nas palavras de Fátima Antunes:

    “Da Várzea do Carmo, os campos se alastraram por toda a cidade, sobre tudo nos bairros operários, situados ao longo das estradas de ferro (...) A cidade vivia intensamente a experiência do trabalho fabril e passava a conhecer a necessidade imperativa de sociabilidade e lazer, sobretudo aos domingos. Os clubes de várzea mantinham equipes de futebol e promoviam atividades sociais (...) Além destes, tornavam-se comuns os clubes formados a partir de empresas, fábricas e grupos profissionais” (ANTUNES, 1998, apud. MASCARENHAS).

    Para a maioria das pessoas falar em futebol é falar sobre o futebol profissional, ou seja, dos grandes clubes, grandes espetáculos, milhões de dólares envolvidos, mas outras formas de futebol se sobressai como o futebol amador, que tem sua representatividade na várzea que seria um lugar no qual se torna um espaço que transcende o futebol, embora ele seja o principal combustível. Na várzea foge-se do preconceito, constituindo-se de um importante lugar no qual acontece a sociabilidade e o do lazer das camadas populares, ou seja, ela chega a ser talvez a única opção de lazer de muitas pessoas, sendo para muitos brasileiros o momento de esquecer um pouco dos problemas do dia a dia. (DORNELLES, 2004).

    Podemos caracterizar o futebol de várzea como uma prática de futebol no qual, o jogador não espera nenhum retorno financeiro, porém já existem casos de algumas equipes de futebol de várzea em que jogadores recebem um auxílio financeiro, uma ajuda de custo, mas isso somente em casos de torneios e campeonatos onde há equipe precisa ser reforçada, geralmente em amistosos essa prática não existe, todo mundo contribui para a manutenção da equipe.

    Os espaços para prática de futebol geralmente não são os ideais, os jogos são realizados em campos nos quais as condições são ruins para a prática esportiva, como também muitas equipes não tem seu próprio campo. Necessitam sair da sua comunidade para irem jogar em outros lugares. O futebol praticado é em virtude do prazer de jogar e o retorno financeiro é trocado pela confraternização – estar junto – estar com o outro – do lado do outro.

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Foto 5. Entrega das faixas da equipe de 1980

    No que se diz respeito aos locais de prática, podemos caracterizar a várzea como sendo sua prática em terrenos, normalmente irregulares de terra e grama, campos não demarcados e com poucos materiais didáticos, ou seja, para os praticantes de futebol de várzea esses problemas encontrados não interferem no seu prazer em praticar futebol. Na várzea as competições são informais, as quantidades de sessões são variáveis, não existe um planejamento ou calendário a ser seguido como acontece nas equipes profissionais, o número de sessões depende da disponibilidade de cada jogador, e ela pode ocorrer com ou sem orientação, mas já existem casos na várzea de um futebol sistematizado com a presença de uma pessoa orientadora, que pode ser um profissional de Educação Física, como também ex-jogadores ou alguma pessoa da própria comunidade que visa prestar alguma orientação através de escolinhas montadas nesses campos de várzea, podendo ter algum ou nenhum retorno financeiro. (CAMPOS, 2004).

Comunidade do Paraíso

    A comunidade do Paraíso está localizada na zona rural da Cidade de Viçosa no interior do Estado de Minas Gerais. Situada às margens da rodovia MG- 280 entre os quilômetros 05 e 10. Possui como limites municipais as localidades vizinhas de Romão dos Reis, Rua Nova, Palmital, Córrego dos Barros, Córrego do Engenho e Marreco. Sua história foi narrada metodologicamente por relatos dos moradores perfazendo a “História Oral”.

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Foto 6. Equipe Vice-campeã do municipal de 1998, foto tirada 

no estádio Carlos Barbosa na cidade de Viçosa-MG.

    A origem do bairro se deu com a chegada da família Cardoso às margens da rodovia MG-280, atualmente seus descendentes compõe o roll da tradição do bairro. Os primeiros moradores aportaram por volta do ano de 1888, fixando residência Sr. Francisco Soares Cardoso, esposa e filhos. Fazendeiro e como tal apresentava as mesmas características dos outros sitiantes da época. Possuidores de muitos escravos, e por isso devido a ocupação de vasta quantidade de terras contribuiu para apostar na agropecuária e plantio em larga escala possivelmente nasceria uma fazenda. Entretanto, no período do ano em meio a construção das habitações e celeiros, plantações e transporte de animais e sementes a escravidão foi abolida. Francisco Cardoso não desistiu vindo a finalizar as construções com outros recursos e ao longo de alguns anos perpassando por volta de 1891. Embora com todos os empecilhos da política econômica ter mudado propriedade tornou-se o marco da comunidade – a Fazenda Paraíso.

    Com as dificuldades de manter a estrutura da fazenda e pagar trabalhadores, os herdeiros foram agregando as empregados em suas terras em troca de seus serviços. Estes foram ficando e permanecendo na propriedade e formalizando suas posses de pequenos lotes vindo, mais tarde, formalizar a comunidade, que ainda hoje tem a sobrevivência rural – hortas, pequenas roça e sítios – descentralizando a propriedade una fortalecendo os gregários e credenciando a comunidade “Paraíso”.

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Foto 7. Equipe campeã do campeonato do Paraíso do ano de 2002.

    Em 28 de janeiro de 1961, para dar mais sustentabilidade e diminuir a distância do centro urbano de Viçosa, foi criada pelo governo do estado o primeiro estabelecimento de Educação Infantil (pré-escolar) e Ensino Fundamental (séries iniciais). Mas a estruturação urbanística moderna somente aconteceu em 1975 quando se iniciou as construções das primeiras moradias no local denominado de Vila Novo Paraíso deslocando em direção do Km 10 da rodovia MG-280 que liga Viçosa a Paula Cândido.

    Por outro lado, Paraíso não escapou dos assentamentos de proprietários como a Sra. Elisa de Paula Ferreira, oriunda de Coimbra - Minas Gerais e seus nove filhos os quais tomaram posse de um terreno sem moradia. Acampada alguns dias, veio a construir moradia e, num piscar de olhos, chegou outro e, outro e assim por diante tornando uma vila, descaracterizando as novas construções. A característica mais contundente é que a maioria dos moradores desta região são pessoas da mesma família.

    Esta seria uma outra parte da comunidade “os posseiros” que vieram demarcar uma nova forma de área rural, ou seja, das casas construídas são geralmente afastadas umas das outras sem medição padrão dos terrenos ocupados.

    Apesar de todos estes acontecimentos, o tempo foi passando e as transformações cada vez mais lentas e penosas. Em 1990 houve a cessão de terreno para a fundação de uma Capela Religiosa por um senhor da comunidade, mesmo assim, precisou de outras doações e participação efetiva da comunidade para que fossem arrecadados recursos para sua construção.

    Em 12 de fevereiro de 1998 a escola do Paraíso foi municipalizada pela Resolução no 8801/98, da SEE/MG e passou a chamar “Escola Municipal Almiro Paraíso”. Comporta 6 (seis) turmas com um total de 107 alunos e 16 funcionários.

    Destacamos aqui, a peculiaridade da “história oral” quando relatamos o orgulho da comunidade em narrar que a conquista da escola que tem o nome de Escola Municipal Almiro Paraíso se fez em homenagem ao morador ilustre do bairro que contribui para a construção. Além disso, cantaram as suas influências civis como cidadão viçosense que ao longo de seus 81 anos sempre residiu no meio rural na região do Paraíso, assim a sua popularidade contribuiu para homenageá-lo. Ressalta-se que foi presidente do “Paraíso Futebol Clube” por longo período.

A Mata do Paraíso

    Por ser zona rural o bairro mantém vínculos fortíssimos com a conservação da natureza. A Mata do Paraíso se localizada aproximadamente a seis quilômetros da Universidade Federal de Viçosa possuidora de uma área expressiva de 194 hectares em excelente estado natural de conservação. A área abriga diversas espécies da fauna e flora ameaçadas de extinção em outros segmentos ecológicos do país. A densa vegetação virgem protege ainda as nascentes do Córrego Santa Catarina, importante afluente do Ribeirão São Bartolomeu. A área dispõe, ainda, de trilhas e um Centro de Educação Ambiental. O espaço recebe cerca de 3.000 visitantes por ano, entre pesquisadores, estudantes da educação infantil, ensinos fundamental, médio e superior além de famílias de Viçosa.

    Até 1966, a região conhecida como “Mata do Paraíso” pertencia a Prefeitura Municipal de Viçosa na utilização da fonte aqüífera do reservatório de água potável para o abastecimento do município e a vegetação explorada por sua madeira de lei. Neste mesmo ano, a área a ser protegida por Decreto da Lei de Proteção Ambiental do Governo Federal passando pertencer à Universidade Federal de Viçosa. Administrada pelo Departamento de Engenharia Florestal e através de outros Departamentos de Ensino, Pesquisa e Extensão, utiliza a Mata do Paraíso para a realização de aulas práticas e pesquisas científicas, usufruindo da riqueza ambiental como laboratório natural de grande valia para desenvolvimento do aprendizado in situ, bem como fonte de dados concretos das relações e inter-relações do ecossistema e os seres humanos contribuindo para a conservação ecológica e melhoramento da qualidade de vida, não somente dos moradores do Paraíso, mas dos viçosenses de maneira geral, perpetuando o patrimônio natural e relegando-o a posteridade futura para as novas gerações (SILVA, 2006).

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Foto 8. Equipe Vice-campeã Rural em 2004 em torneio promovido pela liga esportiva 

de Viçosa em parceira com o departamento de esportes da prefeitura.

    Em 2002 a fazenda de arquitetura centenária, que se tornou o marco da fundação da comunidade do Paraíso, foi demolida devida seu precário estado de conservação que estava colocando em risco pessoas que adentravam em seu recinto para visitação e /ou outras intenções sem autorização.

    Em julho de 2007 inaugurou-se a Associação de Moradores do Bairro Paraíso. Seu atual Presidente Rosvaldo Ferreira de Freitas relata que “(...) antes não existia nada que representasse a comunidade, por isso, a dificuldade de obter recursos perante a Prefeitura de Viçosa” para melhorias na comunidade.

    Assim, viabilidade de estrutura física para a comunidade do Paraíso ainda precisa de atenção - não há posto de saúde e somente um telefone público. Estas deficiências causam transtornos aos moradores, em sua maioria pequenos agricultores, na dificuldade de acesso a transporte e deslocamento para hospitais, escolas e supermercados.

Futebol no Paraíso

    A prática de esporte na comunidade do Paraíso tem seu indício na formação de uma equipe de futebol por volta de 1965. Segundo relatos dos moradores do bairro, antes praticavam futebol no bairro, mas atuavam por equipes de cidades vizinhas. Estes acontecimentos levaram os moradores a se organizarem e formarem uma equipe dentro da própria comunidade. Nos dois primeiros anos não tinham local - um campo. A maior parte dos jogadores fazia amistosos em bairros de Viçosa e cidades vizinhas. O time basicamente era composto por moradores do bairro e outros que tinham algum vínculo com parentes ou amigos.

    O terreno do campo do Paraíso era uma plantação de milho e feijão. A sua posse e adequação foi em 1967, quando os próprios moradores retiraram as plantações com consentimento do dono do terreno que na época era o Sr. Sebastião da Silva Dantas, que mais tarde doou o terreno para que pudesse viabilizar um recinto de encontros esportivos. Em 1971, o prefeito de Viçosa o Sr. Carlos Raimundo Alves Torres providenciou máquinas para que se planasse o terreno. Levantadas as traves feitas as marcações, o campo foi inaugurado e ocupado e, logo estava registrado a equipe do Paraíso na Liga Esportiva de Viçosa.

    No ano de 1980, o Paraíso foi campeão do torneio realizado nos campos do Paraíso e da Rua Nova. Em 1983 a construção do vestiário foi realizada com a mão-de-obra dos moradores com verba doada pela Prefeitura Municipal de Viçosa. Dois anos depois a equipe do Paraíso tornou-se Bi-Campeã do Campeonato Rural de Viçosa - 1995 e 1996. A equipe também foi vice-campeã do Campeonato Municipal de Viçosa 1998 sendo todos estes eventos promovidos pela Liga Esportiva de Viçosa.

    Em 1998 como surgimento do “Campeonato de Pelada do Paraíso” - torneio de futebol de campo - onde todos os cidadãos que tenham vínculos com a comunidade podem participar. Este campeonato é aberto a pessoas das mais variadas idades, cuja divisão e montagem das equipes caracterizam-se pela habilidade e idade dos jogadores. Não demorou muito para tornar-se tradicional e acontecendo desde o ano de 1998 sem interrupção, criando expectativas durante o verão envolvendo totalmente a comunidade, pois os jogos são realizados de segunda a sexta-feira após as 18 horas. Este evento, não raramente, se tornou para os moradores do Paraíso uma ótima opção de lazer nos fins de tarde durante o mês de janeiro.

    O time do Paraíso é Tri-Campeão do campeonato do Paraíso, sendo os títulos conquistados nos anos de 2000, 2001 e 2002. Nestes anos os campeonatos são organizados por pessoas da própria comunidade e contou com a participação de equipes convidadas e vizinhas ao bairro. Atualmente, as equipes do Paraíso se resumem as que jogam aos domingos pela manhã, de caráter amistoso, no campo da própria comunidade.

Metodologia

    Partindo de uma longa trajetória no futebol de várzea, tento compreender este espaço, para além de afirmações e perguntas comuns a este contexto, as quais já parecem caracterizar um modelo/perfil de jogador. O que está em jogo é problematizar e discutir o que seria ser um jogador de futebol de várzea? Quais as suas representações? Não pretendemos aqui dar resposta fixa a estas perguntas, acreditamos que, questionar, ajuda a entender por isso as interrogações fazem parte deste trabalho.

    Trabalha-se com alguns relatos da vivência neste espaço cultural, e foi aplicado um questionário aos entrevistados da equipe do Paraíso através de perguntas diretamente relacionadas ao futebol de várzea. Realizaram-se também diversas anotações e observações durante os jogos de domingo pela manhã no campo da comunidade do Paraíso no mês de maio de 2008.

    Uma dificuldade encontrada neste contexto foi a ausência de documentos ligados a comunidade do Paraíso e a equipe devido a este trabalho ser de fonte primária, por isso contou-se com a colaboração de moradores para contar a história da comunidade e da equipe sobre qual o estudo é proposto.

Apresentação e discussão dos dados

    Primeiramente notamos que a idade avançada não é colocada como empecilho para não fazer parte da equipe, pois verificamos que há uma grande variação na idade dos jogadores, muitos criam vínculo com a equipe, pois a maioria dos jogadores estão a cinco anos ou mais como membros da equipe.

    Outro fator analisado na equipe seria que a maioria dos jogadores são casados, e possuem pelo menos um filho, mas também há um grande número de solteiros, o que me fez concluir que para ser membro da equipe o estado civil não é um fator predominante, ou seja, na equipe são aceitos jogadores casados ou solteiros. Notei que os jogadores têm o apoio da família para praticar o futebol, sendo que muitos são acompanhados por alguém nas partidas o que mostra que não se trata somente de uma partida de futebol, há uma grande integração social durante e principalmente após as partidas em que sempre há uma confraternização entre os jogadores da equipe e seus familiares.

    No que se diz respeito à escolaridade é fato que a maior porcentagem da equipe possui o ensino médio completo como escolaridade mínima, o que nos mostra que se trata de pessoas que tiveram acesso a educação e por isso possuem certo grau de conhecimento, o que reflete nos salários que eles recebem em suas profissões já que mais de 60% da equipe ganha entre dois a cinco salários mínimos, como renda mensal.

    A equipe do Paraíso possui dados interessantes que divergem sobre a manutenção da saúde, pois como apresentado em sua maioria não são fumantes, mas em contrapartida muitos afirmaram fazer uso de bebidas alcoólicas e que geralmente esse consumo é realizado após os jogos realizados aos domingos pela manhã.

    Outro dado importante seria que para muitos na equipe a prática de futebol teria como objetivo o lazer, mas isso diverge quando todos da equipe afirmam que o resultado das partidas tem importância para eles, o que me leva a pensar que a prática do futebol pode até ser por lazer, mas não seria somente este o seu objetivo, pois isto é mostrado quando afirmam unanimemente sobre a importância de ganhar a partida.

    A relação com a equipe é bem variada, para se fazer parte da mesma é necessário que se tenha algum vínculo com o bairro, ou seja, tem que ser morador do bairro, ter familiares no mesmo ou colegas que já atuam na equipe que possam indicá-los, sendo que qualquer pessoa que queira fazer parte da equipe tem que ser aprovada pela maioria dos membros, porque eles privilegiam moradores da comunidade ou pessoas que tenho algum vínculo com a comunidade, como por exemplo, familiares e amigos que residem no bairro.

    No que se diz respeito à partida a relação com os companheiros seria típica de um jogo de futebol em qualquer parte do planeta, onde o objetivo primordial seria a vitória, mas isso não é conseguido a qualquer custo, o resultado é importante, mas o que mais importa é a integração social que o futebol proporciona tanto com os membros da equipe como também com os adversários.

    Em relação à vida social afirmaram que costumam ir a bares, restaurantes, lanchonetes, shows, igreja, eventos familiares, clubes, etc. Isso mostra que eles possuem outras formas de lazer além do futebol.

    A equipe do Paraíso independente do resultado das partidas realizadas costuma ficar após os jogos para uma confraternização entre os membros da equipe e seus familiares, mostrando que apesar da vitória nos jogos ser importante isso não interfere no relacionamento da equipe.

Considerações finais

    A tradição do esporte no Brasil sempre foi marcada na ênfase na parte de preparação física e técnica dos praticantes. Quando falamos em futebol automaticamente surge a idéia de preparação de atletas para a competição.

    As transformações em nossa sociedade nos últimos tempos nos leva a considerar que caminhamos para um mundo cada vez mais materialista. Neste contexto acredito que seja de extrema importância lembrar que a espécie humana possui um passado histórico, marcado por relações sociais, culturais e até mesmo esportivas.

    Por isso torna-se importante que o esporte seja tratado de uma maneira mais ampla, levando em consideração sua compreensão enquanto fenômeno cultural e social.

    Acredito que o futebol profissional tenha sua importância, mas ele é reduzido a uma minoria de atletas, por isso é preciso dar ênfase ao futebol amador no qual se joga pelo simples prazer de jogar não ganhando nada em troca por isso.

    É neste sentido que vejo a equipe do Paraíso como sendo uma equipe que visa como maior objetivo a integração social, em que seria importante a amizade feita entre os membros da equipe, ou seja, a prática do futebol aqui seria uma forma de lazer para todos aos domingos pela manhã, pois para o futebol amador o que mais importa são as relações sociais que podem acontecer através de uma simples partida de futebol.

Referências

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