Educação Física, cultura corporal de movimento e mídia Educación Física, cultura corporal de movimiento y medios de comunicación Physical Education, body culture movement and media |
|||
*Bacharel em Educação Física, aluna do curso de pós- graduação lato sensu em Educação Física da Universidade Franca – UNIFRAN **Docente do Programa de Mestrado em Promoção de Saúde UNIFRAN Coordenadora do curso Educação Física Escolar UNIFRAN Docente do Ceuclar, Docente do curso de Educação Física UNIFRAN *** Docente do curso de Educação Física UNIFRAN |
Profa. Daysiane Freitas Lopes* Profa. Dra. Maria Georgina Marques Tonello** Prof. Ms. Rodrigo Romero Faria Santos*** dayseranna@hotmail.com |
|
|
Resumo A preocupação básica deste artigo é refletir intensamente sobre a influência exercida pela mídia, através dos meios de comunicação de massa, especialmente a televisão, na cultura corporal de movimento, analisando como a educação física escolar pode se posicionar diante desta situação contribuindo para a formação do sujeito que recebe este volume de informações. A sociedade contemporânea é marcada pelo progresso tecnológico e pela rápida disseminação da informação. Crianças, jovens e adultos estão constantemente expostos a anúncios publicitários que veiculam nos mais diversos meios de comunicação, contendo muitas vezes mais informações do que podem absorver. Este estudo parte do princípio de que a tecnologia da informação, especificamente a comunicação de massa, é capaz de transmitir informação para um grande público, influenciando e modificando comportamentos e interferindo na apropriação de conhecimentos. Esta pesquisa visa, pois, apresentar algumas considerações sobre o poder de influência crescente que a mídia exerce sobre a cultura corporal de movimento, objetivando estabelecer relações entre educação física- mídia-cultura corporal de movimento, e averiguar quais as possibilidades de articulação entre a educação física escolar e a cultura midiática nesta problemática. Unitermos: Educação Física. Cultural corporal. Influência. Mídia.
Abstract The basic concern of this article is to reflect intensely on the influence exerted for the media, through the medias of mass, especially the television, in the corporal culture of movement, analyzing as the pertaining to school physical education can be located ahead of this situation contributing for the formation of the citizen that receives this volume from information. The society contemporary is marked by the technological progress and the fast dissemination of the information. Children, young and adults constantly are displayed the announcements advertising executives who propagate in the most diverse medias, contend many times more information of what they can absorb. This study she has left of the beginning of that the technology of the information, specifically the mass communication, is capable to transmit information for a great public, influencing and modifying behaviors and intervening with the appropriation of knowledge. This research aims at, therefore, to present some considerações on the power of increasing influence that the media exerts on the corporal culture of movement, objectifying to establish relations between physical education corporal media-culture of movement, and to inquire which the possibilities of joint between the pertaining to school physical education and the midiática culture in this problematic one. Keywords: Physical Education. Body culture movement. Influence. Media. |
|||
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 132 - Mayo de 2009 |
1 / 1
Introdução
O desenvolvimento tecnológico e científico causou uma grande mudança na base da sociedade e por conseqüência na educação. Vivemos hoje na era do conhecimento, que se caracteriza pela rapidez de informações e por transformações que se processam com imensa velocidade.
As informações chegam dos mais variados lugares, através de diferentes veículos, recursos e técnicas, com as mais diversas linguagens como: jornal, rádio, televisão, cinema, outdoor, propaganda, anúncio em site da Internet, e outros. O conhecimento é transitório. O que é verdade agora já não é mais daqui a pouco.
Nesse contexto os meios de comunicação de massa configuram uma nova opção cultural, e garantem fácil acesso às informações permitindo encontros prematuros com diversas culturas inclusive com a cultura corporal de movimento, objeto de interesse deste estudo.
Dentre os meios de comunicação existentes a televisão geralmente é aquele o primeiro contato entre crianças, adolescentes e a prática esportiva. “A televisão associando cores e sons, é um instrumento capaz de ensinar gostos e tendências” (ECO, 2004, p. 330).
Os jogos, os esportes, as danças, as lutas e as diversas formas de ginástica estão presentes nas programações diárias dos meios de comunicação de massa, influenciando o comportamento, transmitindo valores, fazendo parte do dia-a-dia das pessoas. Aproveitando-se dessa situação, o ensino da educação física pode e deve incluir a vivência dessas modalidades, ampliando as possibilidades de os alunos compreenderem, experimentarem praticarem essas modalidades e outras formas de cultura corporal de movimento.
A televisão desponta como companheira constante de crianças e jovens e é responsável pela transmissão de uma série de informações nem sempre confiáveis e verdadeiras que estes interiorizam e levam para a escola.
A partir daí pode-se de imediato perceber que a relação mídia-cultura corporal de movimento coloca um problema pedagógico imediato para a escola e para a educação física, afinal, a educação é um processo contínuo que gera mudanças nos indivíduos, mas que também sofre modificações de fatores externos.
É evidente a interferência da mídia no âmbito da cultura corporal de movimento, sugerindo diversas práticas corporais, reproduzindo-as, mas também as transformando e constituindo novos modelos de consumo, daí sua influência no campo pedagógico. (BETTI, 2003).
Diante disto, o trabalho pedagógico realizado no campo de ação da educação física precisa considerar, da mesma forma que todo o fazer escolar, aquilo que a criança traz como conhecimento produzido no seu cotidiano com as mais diversas experiências, dentre as quais assistir televisão parece ser algo bastante significativo.
Partindo destes pressupostos, este trabalho propõe-se a refletir sobre algumas questões fundamentais que poderão contribuir direta e indiretamente na atuação do profissional ligado á educação física, permitindo que ele se conscientize da importância de seu papel enquanto mediador do processo de formação de seus alunos, agindo de forma intencional e não intuitiva.
Nesta perspectiva, construíram-se as questões que nortearam este trabalho: “Como a mídia, através dos meios de comunicação de massa influenciam na formação humana da cultura corporal de movimento? Quais as possibilidades de articulação entre a educação física escolar e a cultura midiática possibilitando novas propostas pedagógicas?
Este artigo, através de reflexões embasadas em fundamentação teórica e em dados coletados em pesquisas, objetivos:
Constatar como os meios de comunicação influenciam os telespectadores em aspectos relacionados à saúde, esporte e hábitos saudáveis, ou seja, em relação a cultura corporal de movimento;
Averiguar como os professores de educação física podem fazer uso das informações ligadas à cultura corporal veiculadas na mídia e absorvidas pelos alunos em seu trabalho didático;
Detectar qual o meio de comunicação mais comum entre crianças e adolescentes;
Apontar propostas de intervenções do professor de educação física frente à influência da mídia e da televisão quanto à cultura corporal de movimento.
Revisão de literatura
Vivemos num mundo onde as informações são de fácil acesso, rápidas e ao mesmo tempo efêmeras. Somos bombardeados diariamente por milhares de imagens, palavras e sons produzidos pelas mídias.
Entende-se por mídia o conjunto composto pelos meios de comunicação e que abrange diferentes veículos, recursos e técnicas, como por exemplo, jornal, rádio, cinema, outdoor, revistas, propaganda, televisão aberta e por assinatura, mala-direta, balão inflável, anúncio em site da Internet e outros.
A mídia está em toda parte e transmite informações as mais diversas usando a linguagem audiovisual, que é aquela que combina sons, imagens e palavras. As informações transmitidas pela mídia alimentam a imaginação do telespectador e têm o poder de inculcar no mesmo algumas interpretações da realidade que muitas vezes são absorvidas como verdades únicas. Muitas dessas informações têm apenas o objetivo de influenciar na formação de opinião a respeito de algo ou de entretenimento, não existindo nenhuma preocupação educativa. Atualmente, muitas destas mensagens informativas alusivas à cultura corporal de movimento são encontradas em lugares inusitados como, por exemplo, nas embalagens de produtos alimentícios e geralmente versam sobre regras, táticas e técnicas de modalidades esportivas, relação exercício-emagrecimento-nutrição e outros.
A mídia está presente no cotidiano dos alunos, transmitindo informações, alimentando a fantasia e contribuindo diretamente no entendimento de mundo. Os bordões dos programas humorísticos, por exemplo, passam facilmente a fazer parte do nosso vocabulário; através deles nos comunicamos, nos entendemos, nos identificamos. Os alunos permanecem muitas horas diante do aparelho de televisão, que hoje divide com a escola e com a família a responsabilidade na formação de valores e atitudes.
A tecnologia abriu uma porta para que as pessoas possam estar em contato permanente uma com as outras e para que tenham acesso ininterrupto à informação. Ainda é cedo para conhecer os efeitos a longo prazo da cultura da comunicação. O modelo é espetacular e seus benefícios para difusão do conhecimento são evidentes. Em contrapartida a conexão permanente parece esta reduzindo o tempo disponível para simplesmente sentar e pensar.[...] Mas seria realista tentar se desconectar num mundo em que tudo que é interessante parece estar ocorrendo on-line? (CHAVES; 2007, p. 16).
Desse modo os meios de comunicação têm a capacidade de incentivar o estabelecimento de padrões culturais específicos, agindo de maneira a proporcionar uma satisfação das carências humanas. De acordo com Gonçalves (1990), o rádio, os jornais e em especial a televisão são unanimemente reconhecidos, como fatores de influência determinante no campo social. A televisão em especial, combina palavras, imagens e música que interferem na própria linguagem usada por crianças e jovens que adotam o uso de gestos corporais, onomatopéias, gírias, palavras e expressões. Instalada na intimidade dos lares, muitas vezes com uma “sala” especialmente dedicada pra ela, a televisão molda comportamentos, sugere modismos, divulga produtos, incentiva o consumo e inculca valores.
Segundo Rezende (1989), os telespectadores são influenciados pelas imagens da televisão, uma vez que esta domina elementos como som, foco de luz, imagens móveis que despertam a atenção de adultos e crianças, prevalecendo o enfoque nos desenhos animados e programas infantis.
A televisão pode exercer uma influência poderosa no desenvolvimento de princípios éticos e morais e na formação do comportamento da criança e também do adolescente. Ela anuncia todos os tipos de valores e objetos além de direcionar idéias, sentimentos e comportamentos.
No que se refere especificamente à televisão, Thompson (1995) fala que este veículo de comunicação se tornou o mais significativo na sociedade, de modo que muito do que as pessoas sabem sobre o mundo passou a ser transmitido pela a linguagem televisiva. Mas, há que se considerar que as informações aí veiculadas têm interesses ideológicos e podem tanto transmitir informações como colaborar para que as informações sejam deturpadas.
Analisando todos estes dados, pode-se deduzir que a televisão pode divulgar ideologias com interesse de influenciar e ou dominar a população, desde as crianças até os adultos, e para isso utiliza as várias técnicas que ocultam a realidade e fazem com que o telespectador acredite que a verdade é o que ele está vendo.
Alguns autores (Gonçalves 1990; Betti, 1999; entre outros) apontam a mídia como fator fortemente influente na cultura em geral e por conseqüência na prática esportiva.
Também no campo da cultura corporal de movimento a atuação da mídia se faz presente e é decisiva na construção de novos significados e modalidades de entretenimento e consumo. O esporte, as ginásticas, as danças e as lutas tornam-se, cada vez mais, produtos de consumo e objetos de conhecimento e informações amplamente divulgados ao grande público. Jornais, revistas, videogames, rádio e televisão difundem idéias sobre a cultura corporal de movimento, e muitas dessas produções são dirigidas especificamente ao público adolescente e infantil. Pela televisão, as crianças tomam contato precocemente com as manifestações corporais e esportivas do mundo adulto.
Se as mídias, em especial a televisão, exercem papel cada vez mais importante na construção de novos significados e modalidades de entretenimento e consumo no âmbito da cultura corporal, também constituem a mais importante fonte de informações sobre a cultura corporal de movimento para o público telespectador.
No caso do esporte, a televisão produz verdadeiros espetáculos que se apóiam na sofisticação de modernos recursos tecnológicos: câmeras, microfones de alta precisão, repetição de imagens que possibilitam ao telespectador uma verdadeira emoção. Desde cedo os alunos tomam contato com as práticas corporais e esportivas através da mídia. São transmissões esportivas, aulas de ginástica, entrevistas, análise de regras e táticas esportivas, sugestões de novos exercícios e de equipamentos (BETTI, 1998).
Betti (2005) lembra que as práticas corporais, especialmente o esporte, são uma constante nos programas televisivos (eventos, noticiários, novelas, desenhos animados, filmes...), e que desta forma colaboram para a formação de valores a respeito do esporte e das demais práticas corporais, interferindo na forma como as crianças as encaram ou vivenciam.
A programação televisiva, referente à cultura corporal, engloba aulas de ginástica; entrevistas com médicos, esportistas famosos e profissionais da especializados que expõem os pontos positivos e negativos do exercício físico, e as conquistas sócio-econômicas advindas dos momentos de glória; canais de televisão focam e transmitem jogos esportivos das mais diversas modalidades, ensinando sobre regras e táticas específicas de cada um: voleibol, futebol, basquete, boxe, fórmula um.
Mauro Betti afirma que:
O esporte, as ginásticas, as danças, as artes marciais e as práticas de aptidão física tornam-se, cada vez mais, produtos de consumo (mesmo que apenas como imagens) e objetos de conhecimento e informações amplamente divulgados para o grande público. Jornais, revistas, videogames, rádio e televisão difundem idéias sobre a cultura corporal de movimento. Há muitas produções dirigidas ao público adolescente. Crianças tomam contato precocemente com práticas corporais e esportivas do mundo adulto. (...) A Educação Física deve assumir a responsabilidade de formar o cidadão capaz de posicionar-se criticamente diante das novas formas da cultura corporal. (BETTI, 1988, p. 17)
Ferrés (1996), discorrendo sobre a televisão, propõe que a escola eduque para a reflexão crítica, criando oportunidades para que o aluno possa compreender o sentido explícito e implícito das informações veiculadas e estabeleça relações coerentes e críticas entre o que o que é divulgado e a realidade do mundo. Ele propõe que a escola ofereça orientação e recursos para a análise crítica dos programas exibidos, e ao mesmo tempo incorpore os recursos audiovisuais às aulas procurando tornar o processo ensino-aprendizagem mais atrativo e estimulante.
O professor deve contribuir para formação de um receptor ativo, seletivo e autônomo, capaz de perceber as intenções e os interesses camuflados nas mensagens midiáticas. Para Pires (2003, p.19), cada vez mais a mídia ganha importante espaço na "construção dos saberes/fazeres da cultura de movimento e, intervindo no campo da educação Física escolar, tendo o esporte como forte aliado”. Ele coloca que a educação física deve, através de um programa de educação voltado para a mídia, esclarecer para as pessoas, no caso, os alunos, os conceitos estabelecidos pela mídia, principalmente os que se referem aos seus conteúdos, que vão desde exercícios físicos, e saúde, até o esporte espetáculo e a criação de estereótipos corporais e suas conseqüências.
Belloni (2001) vem destacando a importância da apropriação dos “meios” (mídias) pelos professores, no intuito de propor uma educação com autonomia e esclarecedora. Ou seja, que a mídia passe a ser mais um instrumento que provoque a reflexão e o “espanto” dos alunos, construindo e reconstruindo suas realidades.
A televisão pode ser um instrumento didático pedagógico quando o educador propõe e permite o debate sobre o conteúdo televisivo. Assim o telespectador terá capacidade de fazer uma leitura crítica, decodificando mensagens, refletindo sobre elas e construindo suas próprias conclusões.
Para Naganini (1998), as mensagens veiculadas pela televisão devem ser entendidas e analisadas, o conteúdo da televisão deve ser trabalhado dentro das escolas, transformando um observador passivo em receptor ativo, com espírito crítico, capaz de compreender e discernir sobre aquilo a que assiste e ouve na televisão, um sujeito perfeitamente capaz de pensar por si mesmo ao mesmo tempo em que usa a televisão como meio de se divertir.
A Educação Física, segundo Betti (1998), é uma área relacionada à cultura corporal de movimento, que além de sistematizar, também deve criticar seus conhecimentos, interferindo assim na sua prática científica e filosófica, e também sendo influenciado por estas. É, portanto, um campo de pesquisa, prática e reflexão. Para este autor, a principal tarefa da Educação Física é introduzir e integrar o aluno na cultura corporal, formando um cidadão crítico para produzi-la, reproduzi-la e transformá-la. O autor ainda diz que a escola, deve utilizar-se da TV e de sua programação para ensinar, permitindo que o aluno veja sentido no que lhe está sendo transmitido (BETTI,1998). Em um outro trabalho salienta a importância de a Educação Física trabalhar em suas aulas mais do que a execução de movimentos, incluindo em seu programa questões relacionadas à cultura corporal de movimento, a história das práticas corporais, construção e discussão de regras, resgate da cultura lúdica, atitudes de participação e cooperação, discussão de valores como: doping; estética e beleza, moda, propaganda e patrocínio esportivo, alimentação, estereótipos etc. (BETTI, 2005).
Pires (2002) comunga das idéias de Betti e coloca que a Educação Física deve, através de um programa voltada para a educação para a mídia, esclarecer para as pessoas, sobre os conceitos estabelecidos pela mídia, principalmente os que se referem aos seus conteúdos, que vão desde exercícios físicos, e saúde, até o esporte espetáculo e a criação de estereótipos corporais e suas conseqüências.
Não se pode negar que a televisão faz parte da vida das pessoas, principalmente do telespectador infanto-juvenil e nem impedir que assistam aos programas para adultos, contudo, é possível formar o telespectador crítico, ativo, frente às mensagens que recebe, refletindo, formando seus próprios conceitos, através das atividades programadas pelo professor em sala de aula. (BRASIL, 1998).
Material e métodos
Este estudo assume, essencialmente, um caráter descritivo e comparativo, baseado numa pesquisa bibliográfica que se deu a partir de leitura de livros e textos diversos e consultas a sites, que tratem do assunto, servindo como base de discussão e comparação de resultados.
Foi utilizada também, uma pesquisa de qualitativa com a realização de um questionário com perguntas objetivas sobre o assunto, sendo aplicado a um grupo de alunos matriculados em escolas do município de Franca – S.P., que foram convidados a preencher um questionário (anexo I) referente à influência da mídia na vida de cada indivíduo. Os dados foram coletados, organizados e ajudaram na análise das questões selecionadas para estudo. Lakatos e Marconi (1991) definem as entrevistas como uma investigação social sobre fatos, opiniões, comportamentos.
A investigação foi constituída por uma amostra composta por 40 crianças/adolescentes com faixa etária entre 7 e 10 anos, de ambos os sexos, oriundos de escolas distintas, inseridas em regiões diferentemente favorecidas. Desta amostra, 20 alunos estavam matriculados em uma escola particular, município de Franca – S.P., localizada no bairro Parque Universitário e 20 alunos eram provenientes de 3 escolas públicas localizadas nos bairros Elimar e Flórida, município de Franca – S.P., participantes de um projeto mantido pela Faculdade de Franca – “Despertando para o amanhã”. Determinou-se que os alunos seriam selecionados por sorteio. Todos os alunos sorteados foram convidados a responderem o questionário.
O questionário foi aplicado pela própria pesquisadora mediante consentimento da equipe gestora das escolas. Os dados coletados foram tabulados e organizados e os resultados foram interpretados.
Resultado e discussão
Após aplicação dos questionários no público alvo, as respostas foram lidas e organizadas, calculou-se o percentual, organizou-se gráficos e a partir destes procedimentos foram construídas as categorias de análise dentre as quais trazemos à discussão.
Para efeito de análise e comparação, os dados obtidos através dos questionários aplicados na escola particular e na escola pública foram tabulados separadamente. Dessa forma os resultados se tornarão mais representativos e fidedignos, propiciando uma melhor análise da situação em questão.
Mediante a aplicação do questionário entre os adolescentes selecionados, constatou-se que 100% dos entrevistados, ou seja, 40 crianças, têm aparelho de televisão em casa.
Verifica-se na figura 01 que das crianças entrevistadas 15 têm pelo menos 1 aparelho de televisão em casa, 6 crianças têm 2 aparelhos de televisão e 19 crianças têm 3 aparelhos ou mais de televisão disponíveis em casa.
Figura 01. Número de aparelhos de televisão disponíveis em casa
Fonte: Pesquisa de campo
Na figura 02, observa-se que das crianças entrevistadas 23 têm computadores em casa enquanto 17 afirmaram não possuir computador.
Figura 02. Acesso ao computador em casa
Fonte: Pesquisa de campo
Na figura 03 os dados referem-se ao tempo diário que as crianças dedicam aos programas televisivos. Grande maioria dos entrevistados, 28 crianças admitiram dedicar mais de 2 horas do seu dia para ver televisão, enquanto somente 12 crianças disseram ver televisão em tempo inferior a 2 horas.
Figura 03. Tempo diário dedicado à televisão
Fonte: Pesquisa de campo
Na figura 04 verifica-se a preferência esportiva das crianças. Questionadas sobre qual o esporte predileto, 22 apontaram o futebol como esporte preferido e 18 indicaram outro esporte.
Figura 04. Esporte preferido
Fonte: Pesquisa de campo
Através do exame dos dados colhidos na pesquisa, pôde-se confirmar que a maioria das crianças entrevistadas está exposta à mídia em geral, e conseqüentemente sofrem influência dos veículos de comunicação no seu dia-a-dia.
Observou-se que o uso do computador com internet ficou quase que restrito à escola particular, cujos alunos fazem parte de uma classe social mais favorecida. Fato este que faz com que o instrumento de comunicação mais usado seja a televisão.
Nota-se, a partir dos dados, que a televisão é o meio de comunicação amplamente utilizado, sendo que 100% dos alunos possuem o aparelho em suas respectivas casas. A maioria significativa das crianças questionadas, independente do contexto social do entorno da escola, dedicam mais de 2 horas do seu tempo diário para uso da televisão que ocupa lugar de destaque dentro da família, já que 25% das crianças, ou seja, 25 disseram ter 2 ou mais aparelhos de televisão em casa, sendo que deste subtotal 19 afirmaram possuir 3 ou mais aparelhos disponíveis. Comprovadamente as crianças formam um grupo com grande taxa de exposição aos anúncios e ao discurso midiático televisivo o que produz nelas inúmeras representações sociais sobre os mais diferentes assuntos, inclusive o esporte.
No que se refere cultura corporal de movimento, percebe-se que esporte pode ser considerado um dos maiores produtos culturais e midiáticos. A maioria das crianças indagadas revela sua preferência pelo futebol o que revela que esta prática esportiva é a mais popular entre os estudantes o que remete para outra conclusão: o futebol é o esporte mais transmitido pela televisão e ou o mais privilegiado pela mídia.
Os dados analisados revelam que os educadores, inclusive os atuantes na área de educação física devem dispensar um olhar de censura sobre os recursos midiáticos e oportunizar aos educandos uma apropriação crítica sobre o conteúdo veiculado na mídia.
Conclusão
Esta pesquisa buscava melhor compreender a influência da mídia nos comportamentos das crianças e adolescentes.
Confirmou-se que os meios de comunicação, essencialmente a televisão que é o instrumento de comunicação mais popular é um veículo poderoso, que influencia a todos, adultos e principalmente crianças, muitas vezes sem que se tenha a menor consciência disso. Esse estudo mostrou que o que veicula nos meios de comunicação de massa, predominantemente televisão tem, sim, influência sobre o comportamento humano.
A presença massiva dos meios de comunicação em nossas vidas vem alertando os educadores para sua importância na transmissão e construção de conhecimentos, valores, conceitos e culturas. Nossa discussão, não afirma que se deve lutar contra a mídia e a televisão, mas possibilitar uma apropriação crítica sobre ela e o que ela ensina.
Revistas, jornais, TV, internet, enfim, toda mídia, percebendo a importância da cultura corporal, despendem cada vez mais tempo com informações e notícias sobre esporte e atividade física. São canais só de esporte, coberturas recordes de olimpíadas e inúmeras revistas com matérias variadas sobre o corpo, oferecendo dicas sobre as diferentes práticas corporais.
A escola e no nosso caso específico, educação física escolar, não pode ignorar a mídia e a cultura corporal de movimento que ela retrata, bem como o imaginário, a opinião, a idéia que ela ajuda a criar. O profissional de educação física na escola deve trabalhar no sentido de integrar criticamente o aluno na esfera da cultura corporal. O professor de educação física deve proporcionar um diálogo crítico com a mídia, trazendo tais reflexões para o contexto escolar. O aluno deve ser capacitado para associar informações desconexas, analisá-las e aprofundá-las. Porque a escola deve ser um lugar de conexões, de comunicação entre os homens, enfim, lugar de reflexão crítica coletiva. Para tal, o professor, pela sua experiência e sabedoria, deve exercer um papel de mediador entre as mídias e os alunos.
As reflexões desenvolvidas ao longo texto apontam que os meios de comunicação mostram muitas mensagens sobre a cultura corporal de movimento e a educação física como disciplina escolar deve aproveitar-se dessas informações absorvidas pelos educandos através dos meios de comunicação para ampliar e discutir a cultura midiática como prática pedagógica no âmbito da Educação Física escolar. Torna de suma importância para a Educação Física escolar dialogar rotineiramente com os alunos os sentidos implícitos e explícitos do discurso midiático, oferecendo maior relevância pedagógica no dia escolar.
Betti (1998) concorda com este pensamento, e diz que os educadores, por terem seu dia–a dia invadido pela TV e por seus programas e conteúdos, devem desenvolver sua prática pedagógica baseada nesta influência. Pacheco (1985) sugere o uso da ideologia presente nesse meio de comunicação para a formação da consciência de um indivíduo, considerando a ideologia como um instrumento essencial para a experiência, para a aquisição da consciência, e assim da relação entre estes dois itens: a experiência e a consciência.
Conclui-se, ao final destas análises, que o profissional de educação física deve elaborar um plano de intervenção que o auxilie em seu trabalho didático, reconhecendo o papel importante dos recurso midiáticos e principalmente das informações que podem ser trabalhadas e discutida com relação às mensagens que veiculam na mídia.
Referências
BELLONI, Maria Luiza. O que é Mídia-Educação. Campinas: Autores Associados, 2001.
BETTI, M.; BATISTA, S. R. A televisão e o ensino da Educação Física na escola. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v. 26, n. 02, jan. 2005.
BETTI, M. A janela de vidro: esporte, televisão e Educação Física. Campinas: Papirus, 1998.
BETTI, M.; BATISTA, S. R. A televisão e o ensino da Educação Física na escola. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v. 26, n. 02, jan. 2005.
_________. Imagem e ação: a televisão e a Educação Física escolar. In: BETTI, Mauro (org.). Educação Física e Mídia: novos olhares outras práticas. São Paulo: Hucitec, 2003.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais, terceiro e quarto ciclo, do ensino fundamental: língua portuguesa. Brasília, MEC/SEF, 1998.
CHAVES, Érica; LUZ, Lia. Civilização on-line. Veja. São Paulo: Abril,v. 40, n.33, p. 13-16, Agost. 2007. Edição especial.
ECO, Umberto. Apocalípticos e integrados. Traduzido por:Pérola de Carvalho 6.ed. São Paulo: Perspectiva, 2004.
FERRÉS, Joan. Televisão e educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
GONÇALVES, C. Espírito Desportivo: Questão de ética, questão de educação. In: BENTO, J.; MARQUES, A. (editores). Desporto, Ética e Sociedade. Porto: FCDEF-UP Actas: 1990, p. 87-105.
LAKATOS, E. M.; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia centífica. 3. ed. São Paulo: Atlas. 1991.
FERRÉS, J. (1996). Televisão e educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996
LAKATOS, E. M.; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 3. ed. São Paulo: Atlas. 1991.
NAGANINI, Eliana. Televisão, publicidade e escola. In: CHIAPPINI, Ligia. Aprender e ensinar com textos não escolares. São Paulo: Ed. Cortez, 1998.
OROZCO, Guillermo G. Professores e meios de comunicação: desafios, estereótipos. Comunicação e Educação, n10, p. 57-68, set.-dez.,1997.
PACHECO, E. D. O pica-pau: herói ou vilão?: representação social da criança e reprodução da ideologia dominante. São Paulo: Loyola. 1985.
PIRES, Giovani De Lorenzi. Educação Física e o discurso midiático: abordagem crítico-emancipatória. Rio Grande do Sul: Unijuí, 2002.
PIRES, Giovani De Lorenzi. Cultura esportiva e mídia: abordagem crítico-emancipatória no ensino de graduação em educação física. In: BETTI, Mauro. Educação Física e Mídia: novos olhares outras práticas. São Paulo: Hucitec, 2003.
THOMPSON, J. B. Ideologia e cultura moderna: teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1995.
REZENDE, Ana Lúcia & REZENDE, Nauro Borges. A tevê e a criança que te vê. São Paulo: Cortez, 1989.
Outros artigos em Portugués
revista
digital · Año 14 · N° 132 | Buenos Aires,
Mayo de 2009 |