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Dermatoglifos como preditores da coordenação motora 

em atletas da seleção brasileira feminina de futebol sub-17

Dermatoglifos como predictores de la coordinación motora en 

jugadoras de la selección brasileña femenina de fútbol sub-17

 

*Licenciado em Educação Física do Centro Universitário Metodista Bennett, RJ

**Docente do curso de Licenciatura e Bacharelado em Educação Física

do Centro Universitário Metodista Bennett / RJ

Doutorando em Nutrição Humana – PPGN/INUFRJ

***Papiloscopista da Policial Civil / PA

****Professora de Educação Física/RJ

Marina Assef*

Andressa Scardua Oliveira****

Elizabeth Santos Teixeira****

Luciano Alonso**

marinaassef@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          Introdução: A predisposição das qualidades físicas básicas em diferentes níveis de qualificação esportiva pode ser observada precocemente, isto é, toda pessoa nasce com certa predisposição à força, resistência, flexibilidade, coordenação motora, por exemplo, mas é o meio externo e o treinamento, que irá oportunizar o desenvolvimento dessas habilidades (DANTAS; ALONSO; FERNANDES FILHO, 2005. p.101; TAVARES, 2008). Objetivo: Comparar a classificação dermatoglífica com os resultados do teste de coordenação motora realizado nas atletas da Seleção Brasileira Feminina de Futebol Sub-17. Metodologia: Os protocolos utilizados foram: Cummins & Midlo (1942) (dermatoglifia), e o Teste de Mor-Cristian de habilidades e destrezas gerais no futebol (Drible), citado em Tritschler (2003). Para realizar a comparação entre a Classificação Dermatoglífica e as categorias dos resultados do teste coordenativo, respeitando o pressuposto destas variáveis (não-paramétricas), foi utilizada a Anova Kruskal Wallis. Resultados: Foi encontrada diferença significativa entre os três níveis de predisposição dermatoglífica quando relacionado aos resultados das variáveis D10 (p 0,042), SQTL (p<0,001) e Coordenação motora (p<0,001). Discussão: Após análise múltipla das variáveis foram encontrados 23 atletas com elevada predisposição Dermatoglífica e que este grupo alcançou os melhores resultados no teste de coordenação motora. Conclusão: Podemos constatar que a utilização da Classificação Dermatoglífica associada ao tratamento estatístico apropriado, comprovou neste estudo, a diferença significativa entre os níveis de Classificação Dermatoglífica e os resultados dos testes de coordenação motora, além disto, foi observado que quanto mais elevada os valores de D10 e SQTL melhores foram os resultados dos testes de coordenação motora, indicando assim uma nova abordagem para o tratamento estatístico da variável dermatoglífica.

          Unitermos: Futebol. Dermatoglifia. Coordenação motora

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 132 - Mayo de 2009

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Introdução

    A dermatoglifia é a ciência que estuda o relevo das cristas cutâneas e desenhos das pontas dos dedos, palmas das mãos e das plantas dos pés. Os padrões dermatoglíficos são estabelecidos ainda na vida intra-uterina e iniciam sua formação a partir do terceiro mês de vida fetal e permanecem estáveis com a idade, fazendo com que o envolvimento pós-natal não tenha qualquer papel na variabilidade dermatoglífica, exceto em algumas condições patológicas.

    Segundo Dantas, Alonso e Fernandes Filho (2004) e Fernandes e Fernandes Filho (2005), a dermatoglifia é um marcador genético de amplo espectro, para utilização em associação com as qualidades físicas básicas. Ela já foi utilizada em diversas modalidades esportivas, como a canoagem, motocross, dança contemporânea, ciclismo, judô, o futsal, handebol, em escolas da cidade de Naberezhnye Chelny (Rússia), como forma de estudar a previsão de sucesso em diferentes desportos, etc (FERREIRA, 2008; LINHARES, 2008; NISHIOKA; DANTAS; FERNANDES FILHO, 2007; TUCHE et al. 2005; LORENZETT, 2005; DANTAS, ALONSO, FERNANDES FILHO, 2004; CUNHA; FERNANDES FILHO 2005; BALSEVICH 2007).

    A predisposição das qualidades físicas básicas em diferentes níveis de qualificação esportiva pode ser observada precocemente, isto é, toda pessoa nasce com certa predisposição a força, resistência, flexibilidade e coordenação motora, por exemplo, mas é o meio externo, o treinamento, que irá oportunizar o desenvolvimento dessas habilidades (TAVARES, 2008; DANTAS; ALONSO; FERNANDES FILHO, 2005. p. 101). Caso não haja esse ambiente favorável, a predisposição não irá se desenvolver de forma plena.

    Na tabela 1, pode-se notar a relação entre o estado e predisposição genética, do conjunto dos índices dermatoglíficos e somato-funcionais. As impressões digitais compõem-se de 5 clãs principais, que se distinguem pelas dominantes funcionais (DANTAS; ALONSO; FERNANDES FILHO, 2005. p.84).

Tabela 1. Classificação do conjunto dos índices dermatoglíficos e dos índices, somato-funcionais de jogadores no futsal em níveis de qualificação (n=51)

CLASSES

D10

SQTL

MÍNIMO

MÁXIMO

I

6,0

22,0

COORDENAÇÃO

RESISTÊNCIA E VELOCIDADE

AGILIDADE E RESISTÊNCIA

FORÇA

II

9,1

86,2

COORDENAÇÃO

RESISTÊNCIA DE VELOCIDADE E RESISTÊNCIA

VELOCIDADE E FORÇA

III

11,1

119,1

COORDENAÇÃO, RESISTÊNCIA

VELOCIDADE

FORÇA EXPLOSIVA

IV

14,1

139,6

VELOCIDADE E FORÇA

COORDENAÇÃO

RESISTÊNCIA DE VELOCIDADE

AGILIDADE

V

16,1

150,1

FORÇA

COORDENAÇÃO

RESISTÊNCIA DE VELOCIDADE

AGILIDADE E RESISTÊNCIA

Fonte: Dantas, Roquetti Fernandes e Fernandes Filho (2004)

    A coordenação motora é uma qualidade física que possui uma inter-relação com a força, velocidade, resistência e a flexibilidade. Esta qualidade propicia a realização de uma série de movimentos de forma ótima, com o máximo de eficácia e de economia de esforços, favorecendo ao homem ação dos diversos grupos musculares, na realização de uma seqüência de movimentos com um máximo de eficiência e economia (DANTAS; ALONSO; FERNANDES FILHO, 2005. p. 86).

    Sendo a coordenação motora uma importante qualidade física (DANTAS; ALONSO; FERNANDES FILHO, 2005; FERNANDES e FERNANDES FILHO, 2005), e a dermatoglifia um indicador genético das predisposições coordenativas e das qualidades físicas básicas (NISHIOKA; DANTAS; FERNANDES FILHO, 2007; KNACKFUSS; FERNANDES FILHO, 2005; DANTAS; ALONSO; FERNANDES FILHO, 2005), a associação de ambos os resultados, poderá indicar se a coordenação motora está desenvolvida de acordo com a predisposição, indicando uma possível intervenção no desenvolvimento dessa qualidade física básica.

    Foram encontrados estudos como o de Nassau et al. (2006) e Ferreira e Fernandes Filho (2008), uma correlação negativa entre os resultados da dermatoglifia com os resultados dos testes realizados nos respectivos estudos. Esta controvérsia gerou a necessidade de mais estudos e pesquisas sobre a associação da dermatoglifia com as qualidades físicas. Em parte estes resultados contraditórios podem estar atribuídos ao tratamento estatístico equivocado e a amostras de baixa qualificação física e técnica. Dermatoglifos são variáveis discretas, portanto não atendem os pressupostos da estatística paramétrica.

    De acordo com Dantas, Alonso e Fernandes Filho (2005), as Impressões Digitais, como marcas genéticas, funcionam tal qual indicador dos principais parâmetros de dotes motores e funcionais; elas diferenciam, não só a predominância motora e funcional para os atributos necessários à modalidade esportiva, mas também a justa especialização, nesta modalidade.

    Visto o exposto, esse estudo tem como objetivo comparar a classificação dermatoglífica com os resultados do teste de coordenação motora realizado nas atletas da Seleção Brasileira Feminina de Futebol Sub-17.

Metodologia

    O estudo é descritivo, com tipologia comparativa (THOMAS e NELSON, 2002). A população do presente estudo foi composta de 45 atletas com média de 16,16 ± 0,98 anos pertencentes à Seleção Brasileira Feminina de Futebol Sub-17, no ano de 2008.

    Foi utilizado na coleta de impressões digitais tinta especial preta em gotas, rolete em borracha maciça, na largura de 50mm e diâmetro de 25mm, placa em duratex revestida em folha de Frander medida 9x12cm. Para a análise das impressões dermatoglíficas, foi utilizado o protocolo de Cummins e Midlo (CUMMINS e MIDLO, 1942).

    A coleta das impressões digitais é realizada apoiando a falange, imediatamente (lado da ulna), no papel, e se roda, em seu eixo longitudinal, até o lado lateral (rádio), tendo o cuidado de não borrar a impressão; este processo é repetido, com cada um dos dedos, começando com o mínimo (5), e terminando com o polegar (1) (CUMMINS, H.;MIDLO, C.H., 1942. p. 257.).

    Na figura 1 são apresentados os quatro tipos universais de dermatoglífos: o Arco (A), desenho que se caracteriza pela ausência de trirrádios ou deltas; a Presilha (L), desenho representado por um delta (trata-se de um desenho meio fechado em que as cristas da pele começam de um extremo do dedo, encurvam-se distalmente em relação ao outro, mas sem se aproximar daquele onde se iniciam); o Verticilo (W), desenho representado por dois deltas (este último trata-se de uma figura fechada, em que as linhas centrais concentram-se em torno do núcleo do desenho); e o S-desenho, que é o desenho de dois deltas, que constitui duas presilhas ligadas, formando o desenho S.

    A quantidade de linhas (QL) das cristas de pele, dentro do desenho, é contada, segundo a linha que liga delta e o centro do desenho, sem levar-se em consideração a primeira e a última linha da crista. Neste momento, serão calculados os índices padronizados, fundamentais, das impressões digitais: A quantidade dos desenhos, de tipos diferentes, para 10 (dez) dedos das mãos; A quantidade de linhas (QL), em cada um dos dedos das mãos; A intensidade sumária dos desenhos, nos 10 (dez) dedos das mãos, ou o índice de delta, (D10); este se obtém, seguindo a soma de deltas, de todos os desenhos, de modo que a “avaliação” de Arco, (A) é sempre 0, e a ausência de delta; de cada Presilha, (L) - 1 (um delta); e cada Verticilo (W) e S desenho –2, (dois deltas), ou seja, (L + (2* W)); A somatória da quantidade total de linhas (SQTL) é equivalente à soma da quantidade de linhas, nos 10 (dez) dedos das mãos. Os tipos de fórmulas digitais indicam a representação nos indivíduos de diferentes tipos de desenhos. Identificaram-se, ao todo, 8 (oito) tipos de fórmulas digitais: 10A – dez arcos; AL - a presença de arco e presilha, em qualquer combinação; ALW - a presença de arco, presilha e verticilo, em qualquer combinação; 10L - dez presilhas; L>W – a presilha, em maior número de aparecimento que o verticilo; L=W – o mesmo número de presilha e verticilo; W>L – o verticilo, em maior número de aparecimento que a presilha; 10W – dez verticilos ou S-desenhos. (NISHIOKA et al., 2007; CUMMINS, H.; MIDLO, C.H., 1942. p. 257.).

Arco (A)

Presilha (L)

Verticilo (W)

S-desenho

   Figura 1. Quatro tipos fundamentais de desenhos dermatoglíficos – Arco, Presilha, Verticilo e S-desenho

    Para avaliação da coordenação motora foi utilizado o Teste de Mor-Cristian de habilidades e destrezas gerais no futebol (Drible), citado em Tritschler (2003).

    Para a realização do teste, é marcado um percurso circular com um diâmetro de 18,5 m, no campo de futebol. A linha de início é uma linha de 91,5 cm, traçada de forma perpendicular ao círculo. São colocados cones de 46 cm de altura com intervalos de 4,5 m ao redor do círculo, conforme está apresentado na figura 2.

    Este teste requer uma quadra de futebol, uma bola de futebol, uma dúzia de cones de 46 cm, cronômetro, planilha para resultados e lápis. No teste, uma bola de futebol é colocada na linha de início. Ao sinal, “Pronto! Vai!”, o examinado dribla a bola ao redor do percurso, correndo sinuosamente pelos cones, até voltar à linha de início, tentando completar o percurso o mais rápido possível. São dadas três tentativas, registradas para o 0,1 s mais próximo. A tentativa final é realizada no sentido horário, a segunda, no sentido anti-horário, e a terceira, na direção da escolha do examinado. O resultado do teste é o resultado da combinação das duas melhores tentativas das três cronometradas.

 

Figura 2. Coordenação teste de Mor-Cristian de habilidades e destrezas gerais no futebol (drible)

    Foi utilizada como estratégia estatística a normalização das variáveis, que consiste em subtrair o resultado da média dos valores encontrados pelo menor valor – numerador, dividido pelo resultado da diferença entre os valores máximo e mínimo - denominador, resultando em um número de 0 a 1. Assim, foi possível comparar proporcionalmente as diferentes características genotípicas e fenotípicas do grupo, facilitando a interpretação dos resultados através da visualização de um gráfico de Barras.

    Após esta etapa as características dermatoglíficas foram criadas três categorias com base na classificação do conjunto dos índices dermatoglíficos e dos índices, somato-funcionais de jogadores no futsal em níveis de qualificação (tabela 1), assim, as categorias foram denominadas como: Baixa predisposição - D10 pertencente aos Clãs I e II e SQTL pertencente aos Clãs I e II; Moderada predisposição - D10 pertencente ao Clã III ; SQTL pertencente ao Clã III, Elevada predisposição - D10 pertencente aos Clãs IV e V ; SQTL pertencente aos Clãs IV e V. Este conjunto de categorias foi denominada como Classificação Dermatoglífica.

    A variável fenotípica – resultado do teste de coordenação motora - foi tratada de forma semelhante e dividida em três categorias, neste caso, o desvio padrão da média foi utilizado como referência para dividir as categorias: Acima da média - valores inferiores ao (– 1 desvio padrão); Média – valores compreendidos entre (+1 desvio padrão e -1 desvio padrão) e Abaixo da média – valores superiores ao (+1 desvio padrão).

    Para realizar a comparação entre a Classificação Dermatoglífica e as categorias dos resultados do teste coordenativo, respeitando o pressuposto destas variáveis (não-paramétricas) foi utilizada a Anova Kruskal Wallis, onde a variável independente foi a Classificação Dermatoglífica e a dependente o resultado do teste coordenativo.

    Os procedimentos empregados no estudo foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário Metodista Bennett e acompanham normas da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde sobre pesquisa envolvendo seres humanos.

Resultados

    A relação proporcional entre os maiores e os menores valores encontrados no presente estudo foi: para os tipos de desenho arco (A) @ 10%, presilha (L) @ 50%, e verticilo (W) @ 60%, o índice delta (D10) @ 35%, e o somatório da quantidade total de linhas (SQTL) @ 40%.

    Para a idade encontramos um resultado @ 30%, e para o Teste de Mor-Cristian de habilidades e destrezas gerais no futebol (Drible), encontramos um resultado @ 40%, como pode ser visto na figura 3.

Figura 3. Distribuição proporcional da dermatoglifia, da idade e do resultado do teste de 

coordenação motora da Seleção Brasileira Feminina de Futebol Sub-17, de 2008.

    Após a classificação Dermatoglífica da Seleção Brasileira foi dividido em 12 atletas de baixa predisposição; 10 atletas com moderada predisposição e 23 com elevada predisposição. Foi encontrada diferença significativa entre os três níveis de predisposição dermatoglífica quando relacionado aos resultados das variáveis D10 (p 0,042), SQTL(p<0,001) e Coordenação motora (p<0,001), vide tabela 3. Estas diferenças assumem tendências semelhantes entre os níveis de predisposição, ou seja, aumentam em função da elevação da Classificação Dermatoglífica. Fato este relaciona o aumento da predisposição Dermatoglífica com o aumento das variáveis D10 e SQTL e que a elevada predisposição dermatoglífica está relacionada com os menores valores no resultado do teste de Coordenação motora.

Tabela 3. Resultados da Anova Kruskal Wallis para a comparação entre os três níveis da Classificação Dermatoglífica 

e as variáveis Coordenação Motora, D10 e SQTL da Seleção Brasileira de Futebol Feminino Sub-17

 

Classificação Dermatoglífica

N

Média Rank

Coordenação*

Baixa predisposição

12

30,08

Moderada predisposição

10

23,00

Elevada predisposição

23

19,30

Total

45

 

D10**

Baixa predisposição

12

8,04

Moderada predisposição

10

20,65

Elevada predisposição

23

31,83

Total

45

 

SQTL***

Baixa predisposição

12

6,83

Moderada predisposição

10

19,05

Elevada predisposição

23

33,15

Total

45

 

Significância estatística da comparação entre Classificação Dermatoglífica e as 

variáveis Coordenação (*p 0,042), D10 (**p<0,001) e SQTL (***p<0,001)

 

Figura 4. Representação gráfica dos resultados da Anova Kruskal Wallis para a comparação entre os três níveis 

da Classificação Dermatoglífica e a variável Coordenação motora da Seleção Brasileira de Futebol Feminino Sub-17.

Discussão

    Conhecendo previamente as tendências genéticas de um determinado grupo, somado à contribuição do ambiente propício ao treinamento, são fatores que podem contribuir para o desenvolvimento do talento esportivo (NISHIOKA; DANTAS; FERNANDES FILHO, 2007). A baixa incidência ou ausência no número de arcos (A) é uma característica marcante do alto rendimento em qualquer modalidade e, principalmente, naquelas em que são necessários altos níveis de resistência e coordenação motora.

    Observou-se neste estudo que o índice do desenho verticilo (W @ 60%) se encontra um pouco acima da média, em seguida o desenho presilha (L @ 50%), e baixa incidência de desenho arco (A @ 10%) que é importante indicador da elevada predisposição alta qualificação.

    As modalidades de esporte de velocidade e de força inserem-se: no campo de valores baixos de D10 e do SQTL; em modalidades, com a propriocepção complexa, no campo de valores altos; em grupos de esportes de resistência, em que ocupam a posição intermediária. Os valores máximos de D10 e de SQTL referem-se à elevada predisposição a coordenação dos indivíduos (BALSEVICH, 2007; DANTAS; ALONSO; FERNANDES FILHO, 2004; SANTOS, 2003). O índice D10 e SQTL, no presente estudo classificou o grupo no 3º clã, indicando a equipe com menor predisposição a coordenação e resistência, e a maior predisposição a velocidade e força explosiva. Segundo Dantas, Alonso e Fernandes Filho (2005), o 4º clã para superior, é um indicativo de alta qualificação esportiva, o que não coincide com os resultados encontrados no presente estudo para o grupo. Após análise múltipla das variáveis foram encontrados 23 atletas com elevada predisposição Dermatoglífica e que este grupo alcançou os melhores resultados no teste de coordenação motora concordando com a referência acima mencionada.

    Para o grupo de alto rendimento do futsal brasileiro, o resultado médio do teste de coordenação motora foi de 12,0s ± 0,58 (DANTAS; ALONSO; FERNANDES FILHO, 2005, p.100). A Seleção avaliada no presente estudo obteve a média de 16,06s ± 0,97, encontrando-se classificada no grupo de rendimento intermediário para o teste de coordenação motora, que possui valor médio de 16,0s ± 1,36 (DANTAS; ALONSO; FERNANDES FILHO, 2005, p.100). Porém, foi encontrada diferença significativa no resultado do teste de coordenação motora quando comparada aos três níveis de Classificação Dermatoglífica e quanto maior a predisposição menor o resultado do teste de coordenação motora, concordando com os resultados encontrados em diversos estudos (FERREIRA, 2008; LINHARES, 2008; BALSEVICH 2007; NISHIOKA; DANTAS; FERNANDES FILHO, 2007; TUCHE et al. 2005; LORENZETT, 2005; CUNHA; FERNANDES FILHO, 2005; DANTAS, ALONSO, FERNANDES FILHO, 2004).

    Uma possível limitação do estudo foi a inesistência de uma tabela de referência de índices dermatoglíficos do futebol feminino nacional, assim as comparações foram realizadas com tabelas de referência do futsal masculino Brasileiro. Outra questão importante é a dificuldade de comparação entre os estudos, em função da inadequação do tratamento estatístico utilizado e das amostras selecionadas.

Conclusão

    Na análise da proporcionalidade foi observado um discreto aumento, em relação à média, do desenho verticilo (W @ 60%), o desenho presilha (L @ 50%) encontrou-se um pouco abaixo da média, e para o desenho arco (A @ 10%), sendo essa baixa incidência do desenho arco (A).

    De acordo com os resultados do D10 e do SQTL, foi possível classificar a equipe no 3º clã dos índices Dermatoglíficos e funcionais, caracterizando-o como um grupo que possui maior predisposição para atividades de velocidade e força explosiva e uma menor predisposição a coordenação e resistência.

    O resultado do teste de coordenação classificou a equipe no Clã de rendimento intermediário, indicando a necessidade de novas convocações, com o intuito de selecionar atletas com elevados níveis de predisposição coordenativa, aumentando assim a chance de sucesso condicionado à adequada prescrição de treinamento.

    Podemos constatar que a comparação da Classificação Dermatoglífica com o resultado do teste de coordenação motora, demonstrou neste estudo, a diferença significativa entre os níveis de Classificação Dermatoglífica e os resultados dos testes de coordenação motora, além disto, foi observado que quanto mais elevada a predisposição dermatoglífica (D10 e SQTL) melhores foram os resultados dos testes de coordenação motora, indicando assim uma nova abordagem para o tratamento da variável dermatoglífica.

    No presente estudo aproximadamente 50% das atletas foram classificadas com moderada e baixa predisposição Dermatoglífica, assim, a força explosiva e a velocidade que resultam em potência, são marcantes em sua predisposição, aumentando as chances de que através do treinamento específico do futebol, estas atletas fiquem mais fortes, porém a suposta menor predisposição a coordenação motora, tenderá a diminuir a eficiência técnica em longo prazo. A especialização precoce, neste caso, pode tornar jovens atletas com moderada e baixa predisposição em campeões, fato que não garante o sucesso na idade adulta.

    Além disto, cometer erros de avaliação em fase tão sensível pode qualificar e desqualificar adolescentes de forma precoce trazendo assim dificuldade extra no processo de desenvolvimento esportivo individual. A dermatoglifia trata, portanto da predisposição que é freqüente em atletas de alta qualificação, em diversas modalidades. A correta utilização desta metodologia visa o aumento da possibilidade de incluir jovens no processo de orientação esportiva, que respeite sua individualidade biológica e considere mais do que seu estado atual que pode estar comprometido por acelerações e desacelerações da maturação biológica.

    Recomenda-se o uso da dermatoglifia como mais uma estratégia de avaliação, que associada aos testes físicos e a observação de especialistas, podem, em conjunto, aumentar a possibilidade de sucesso da orientação esportiva de nossas atletas de futebol feminino. E ainda, estudos longitudinais associando o treinamento das qualidades físicas aos padrões dermatoglíficos.

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