efdeportes.com

Análise da qualidade de vida e consumo de bebida alcoólica em

adolescentes da rede pública de ensino da cidade de Fortaleza

Analysis of quality of life and drink consumption of alcohol in 

adolescent network of public education of the city of Fortaleza

Análisis de la calidad de vida y consumo de bebida alcohólica en 

adolescentes de las escuelas públicas de la ciudad de Fortaleza

 

*Programa de Pós Graduação em Educação Física – Universidade de Brasília - UNB

**Projeto de Extensão Atividade Física na Infância: Um Inicio para Vida Saudável

***Programa de Pós Graduação em Atividade Física, Desempenho Motor e Saúde 

da Universidade Federal de Santa Maria - UFSF

****Chefe do Departamento da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará

(Brasil)

Valter Cordeiro Barbosa Filho**

Evanice Avelino de Souza* **

Luiz Fernando Cuozzo Lemos* ***

Nicolino Trompieri Filho** ****

valtercbf@yahoo.com

 

 

 

Resumo

          O presente estudo teve como objetivo analisar a qualidade de vida (QV) e o consumo de bebida alcoólica em adolescentes do ensino médio da rede pública de ensino da cidade de Fortaleza. Foi realizado um estudo de caráter transversal com base populacional dos adolescentes matriculados nas escolas estaduais localizadas na cidade de Fortaleza, Ceará, constando de 383 adolescentes, de ambos os sexos, com idade entre 13 e 20 anos. Para avaliar a QV e o consumo de bebida alcoólica utilizou-se dois questionários da Organização Mundial de Saúde (WHOQOL-Bref e AUDIT). Para análise dos dados recorreu-se a estatística descritiva, e aos testes de Kolmogorov Sminorv e Mann-Whitney. Os resultados gerais da QV foram similares para os adolescentes, sendo que os melhores valores foram observados para o Domínio Físico e o pior resultado para o Domínio Meio Ambiente. Quanto ao consumo de álcool, a maior parte dos adolescentes apresentou baixo consumo de bebida alcoólica. Entretanto, 15,7% apresentaram consumo nocivo de álcool sendo significativamente maior entre os rapazes (p = 0,03). O baixo consumo de bebida alcoólica e uma QV vulnerável ao fator meio ambiente podem ocasionar em futuro próximo, maior número de adolescentes que apresentem consumo nocivo de álcool. Pesquisas prospectivas são de estrema importância para o mapeamento da QV e consumo de bebida alcoólica entre adolescentes de escolas públicas e particulares, em diferentes turnos, facilitando programas educacionais e preventivos.

          Unitermos: Adolescente. Qualidade de vida. Consumo de bebida alcoólica.

 

Abstract

          This study aimed to examine the quality of life (QOL) and consumption of alcohol among high school students in the public school system of the city of Fortaleza. A study of population based cross-sectional nature of adolescents enrolled in state schools located in the city of Fortaleza, Ceará, consisting of 383 adolescents of both sexes, aged between 13 and 20 years. To evaluate the QOL and consumption of alcohol was used two questionnaires of the World Health Organization (WHOQOL-Bref and AUDIT). For analysis of the data used to descriptive statistics, and tests of Kolmogorov Sminorv and Mann-Whitney. The overall results of QOL were similar for adolescents, and the best values were observed for the physical domain and the worst result for the Field Environment. As the consumption of alcohol, most adolescents had low consumption of alcohol. However, 15.7% were harmful consumption of alcohol was significantly higher among boys (p = 0.03). The low consumption of alcohol and a QOL vulnerable to environmental factors can cause in the near future, greater numbers of adolescents who have harmful consumption of alcohol. Prospective research is of extreme importance for the mapping of QOL and consumption of alcohol among adolescents in public and private schools, in different shifts, facilitating educational and preventive programs.

          Keywords: Adolescents. Quality of life. Drink consumption of alcohol.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 131 - Abril de 2009

1 / 1

Introdução

    A adolescência é um período de desenvolvimento em todos os aspectos - físico, emocional, psicológico, social e espiritual. Essa é, de fato, a fase de mais rápido desenvolvimento humano, fora o período pré e neonatal. São os adolescentes os mais vulneráveis a algumas das maiores ameaças a Qualidade de Vida (QV) - DSTs, HIV/AIDS, exploração sexual, uso e abuso de drogas, exploração do trabalho, violência. Além disso, sofrem com as incertezas do mercado do trabalho e sentem falta da oferta de serviços acessíveis de cultura, esporte e lazer (LEPRE, 2007).

    É nesse agitado momento que o adolescente intensifica suas dúvidas sobre si mesmo, sobre o outro e os diferentes encaminhamentos que deve dar às suas decisões. É, também, sua oportunidade para apoiar-se no grupo de mesma faixa etária, de modo à auto afirmar-se e identificar-se com seu papel na sociedade. No entanto, muitas vezes, não encontrado aceitação em determinado grupo ou na própria família, faz com que o adolescente busque nas drogas um conforto para seus problemas, principalmente abusando de bebidas alcoólicas (LEMOS & ZALESKY, 2004).

    O uso indevido de bebidas alcoólicas é considerado um grave problema de saúde pública. Além da sua prevalência na população adulta, esse comportamento está presente igualmente entre adolescentes, repercutindo na sua saúde física e mental. O consumo de álcool pode ser advindo do estilo de vida atual, dos elevados níveis de estresse, de ansiedade, de baixa auto-estima, sentimentos depressivos, susceptibilidade à pressão dos pais e problemas relacionados à escola (SOUZA, ARECO & FILHO, 2005).

    Alguma pesquisa tem objetivado investigar os fatores relacionados a QV em adolescentes, com o objetivo inicial de realizar um levantamento diagnóstico dos fatores interferentes na QV para desenvolver estratégias de prevenção (GORDIA, 2008). Nestas perspectivas o presente estudo buscou analisar a QV e consumo de bebida alcoólica em adolescentes de escolas públicas da cidade de Fortaleza, CE.

Material e métodos

Planejamento da pesquisa

    Estudo transversal, utilizando como amostra adolescentes na faixa de idade de 14 a 20 anos, matriculados nas escolas da rede de ensino público do município de Fortaleza, Ceará, Brasil, realizado no período de Setembro a Outubro de 2007.

População e amostra

    Segundo a Prefeitura Municipal de Fortaleza e Secretaria Municipal (SEDAS) foram matriculados 81.791 adolescentes da faixa etária já citada nas escolas estaduais da cidade de Fortaleza.

    Para este estudo foi feita uma amostra estratificada proporcional da população, na qual, a mesma é dividida em estratos e em seguida é selecionada uma amostra aleatória de cada estrato. O processo de seleção da amostra estratificada ocorreu aleatoriamente, segundo o número de estudantes em cada regional, com o intuito de que realmente represente a população para o estudo referente. O cálculo do tamanho da amostra levou em consideração a menor prevalência entre as variáveis do estudo (qualidade de vida e consumo de bebida alcoólica) por este ter sido o primeiro estudo registrando tal investigação, nível de confiança em 95% e precisão de 2%%. Então, baseado na população já citada de alunos chegou-se ao resultado de uma amostra de 383 estudantes a serem pesquisados.

    Os participantes foram selecionados através da técnica de amostragem sistemática, a partir de uma lista onde os alunos encontravam-se ordenados por série e, dentro de cada série, por ordem alfabética. Sempre que havia recusa em participar, chamava-se o aluno seguinte da lista, garantindo a aleatoriedade da amostra. Na ausência de determinado estudante ou recusa, selecionava-se o próximo da lista

Instrumentos e procedimentos

    Para análise da QV utilizou-se o questionário WHOQOL-Bref é composto por 26 questões e considera os últimos quinze dias vividos pelos respondentes. Duas questões referem-se à percepção individual a respeito da qualidade de vida e as demais 24 estão subdivididas em 4 domínios, e representam cada uma das 24 facetas que compõem o instrumento original (WHOQOL-100), tais como: Domínio I - Físico, com ênfase nas seguintes facetas: dor e desconforto, energia e fadiga, sono e repouso, mobilidade, atividades da vida cotidiana, dependência de medicação ou de tratamentos e capacidade de trabalho; Domínio II – Psicológico, focalizando as seguintes facetas: sentimentos positivos, pensar, aprender, memória e concentração, auto-estima, imagem corporal e aparência, sentimentos negativos, espiritualidade, religião e crenças pessoais; Domínio III – Relações sociais, abordando a facetas: relações pessoais, suporte (apoio) social, atividade sexual; Domínio IV – Meio ambiente, com as facetas: segurança física e proteção, ambiente no lar, recursos financeiros, cuidados de saúde e sociais: disponibilidade e qualidade, oportunidade de adquirir novas informações e habilidades, oportunidades de recreação/lazer, ambiente físico: poluição, ruído, trânsito, clima e transporte (FLECK et al., 2000).

    O consumo de álcool foi mensurado através do AUDIT, instrumento desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Este questionário é composto por dez questões, contendo perguntas com respostas fechadas de múltipla escolha, abordando o consumo de bebidas alcoólicas e suas consequ6encias nos últimos doze meses.

Análise estatística

    Para a análise do questionário sobre QV utilizaram-se os critérios propostos pela equipe australiana do WHOQOL pela clareza e praticidade com que são demonstradas todas as fases de análise e interpretação dos resultados obtidos. A consistência interna das respostas foi analisada através do coeficiente de fidedignidade de Cronbach, com α=0,74 entre as seis regionais estudadas. O instrumento AUDIT foi analisado através da estatística descritiva.

    Foi realizado o teste de Kolmogorov-Smirnov para verificação da normalidade dos dados. Tendo em vista que os dados não apresentaram normalidade, utilizou-se o teste não paramétrico de Mann-Whitney para verificar diferenças especificas entre as regionais, QV geral e domínios do WHOQOL-Bref. O nível de significância foi fixado em p<0,05.

Resultados e discussão

    Na presente pesquisa optou-se pelo questionário WHOQOL-Bref, desenvolvido pela OMS, que se mostrou um instrumento eficiente para a avaliação da QV dos indivíduos estudados. A versão abreviada do WHOQOL-100 preserva a abrangência do construto “qualidade de vida” incluindo itens não só referentes a aspectos físicos e psicológicos, mas também relativos ao meio ambiente e relações sociais.

    Dos 383 escolares investigados 49,6% são do gênero masculino e 50,4% do gênero feminino com média de 16 anos (±1,4). A média geral da QV foi 66,83%, sendo as melhores médias identificadas nas Regionais IV e II (Tabela 1). Analisando a QV de acordo com o gênero, os rapazes apresentaram uma média de 67,07% e as moças 66,60%.

Tabela 1. Resultados por domínios do WHOQOL-Bref com valores expressos em média e desvio padrão

 

Físico

Psicológico

Relações Sociais

Meio Ambiente

Regional I

73,6 ±14,8

71,9 ±14,4

72,1 ±22,0

55,3 ±14,6

Regional II

73,7 ±10,9

70,5 ±13,8

75,5 ±20,0

55,3 ±14,6

Regional III

70,4 ±13,0

70,3 ±14,9

71,5 ±16,5

53,5 ±14,0

Regional IV

71,9 ±13,7

73,3 ±9,6

73,9 ±21,0

57,3 ±15,3

Regional V

70,5 ±12,8

71,1 ±13,9

69,7 ±15,9

50,4 ±11,9

Regional VI

73,2 ±10,6

71,6 ±13,6

75,5 ±15,4

48,8 ±12,5

Total

71,7 ±12,9

70,9±13,6

72,6±18,7

52,0±13,9

    O Domínio III – Relações Sociais apresentou os maiores resultados médios (72,6%), indicando que o construto relações sociais foi satisfatório nesta população, demonstrando ser um ponto favorável para a QV geral. Os menores valores percentuais foram encontrados para o Domínio IV – Meio ambiente (52,0%), sendo este o aspecto mais vulnerável e mais interferente na diminuição da QV da amostra estudada.

    A maioria dos estudos que utilizaram o WHOQOL no Brasil tem demonstrado que o Domínio Meio Ambiente tem a pior faceta da QV de nossa população. Gordia (2008) analisando a QV de adolescentes da cidade da Lapa, encontrou uma média de 55,6% para o Domínio meio ambiente, sendo a mais baixa entre as outras facetas. Mesmo sendo utilizado em população de idade adulta, como foi no caso de um estudo realizado com militares do corpo de bombeiro da cidade Fortaleza, também detectou-se menor média (57,6%) para o Domínio meio ambiente quando comparado aos outros domínios (SOUZA et al., 2007).

    Outros estudos também reportam uma preocupação com a faceta Meio Ambiente (PENTEADO & PEREIRA, 2007; GORDIA, et al., 2007; CASTRO et al., 2007; GORDIA et al., 2006). Esta tendência a baixos valores para o domínio ambiental é preocupante, pois está diretamente vinculada a falta de investimento em políticas públicas municipais, estaduais e federais.

    Recentemente, alguns municípios brasileiros (por exemplo, Curitiba-PR), preocupados com a melhoria das condições de vida da população, estão implementando programas intervencionistas para melhoria de diversos fatores, tais como: saneamento básico, educação, assistência médica, ambientes de trabalho e lazer saudáveis (VILARTA, 2004).

    No entanto, a QV é composta por parâmetros individuais e sócio-ambientais, e por mais que os indivíduos almejem a melhoria da QV, é igualmente importante que haja investimento governamental em projetos de políticas públicas que viabilizem a melhoria da saúde e QV da população. A avaliação da QV gera conhecimento para sustentar e aprimorar processos e isto requer que se engaje o maior número de participantes locais (e não, apenas, pesquisadores) num processo abrangente de reflexão sobre a natureza da organização social e sobre os determinantes de saúde (AKERMAN et al., 2002).

    Paralelamente à análise da QV foi analisado o consumo de álcool e diagnosticou-se que a maioria (82,8%) dos adolescentes investigados apresentam baixo consumo de bebida alcoólica. Entretanto, o consumo nocivo de álcool apresenta um resultado razoavelmente alto (15,7%), sendo maior na regional II (35,1%). Um Fator que se destaca é o baixo de índice (1,6%) de adolescentes que sejam considerados dependentes da bebida alcoólica (Tabela 2).

Tabela 2. Nível do consumo de álcool entre os escolares de acordo com as regionais

Consumo de álcool

Regionais

Baixo Consumo

n %

Consumo Nocivo

n %

Dependência

n %

Regional I

62 87,3

8 11,3

1 1,4

Regional II

24 64,9

13 35,1

0 0

Regional III

45 80,4

11 19,6

0 0

Regional IV

44 80,0

9 16,4

2 3,6

Regional V

75 83,3

12 13,3

3 3,3

Regional VI

67 90,5

7 9,5

0 0

Total

317 82,8

60 15,7

6 1,6

    O uso problemático de álcool por adolescentes está associado a uma série de prejuízos no desenvolvimento da própria adolescência e em seus resultados posteriores. Os prejuízos decorrentes do uso de álcool em um adolescente são diferentes dos prejuízos evidenciados em um adulto, seja por especificidades existenciais desta etapa da vida, seja por questões neuroquímicas deste momento do amadurecimento cerebral (Pechansky, Szobot & SCIVOLETTO, 2004).

    Um dos primeiros obstáculos relacionados ao tema do uso problemático de álcool entre adolescentes é a própria definição do que é o uso normal e seu instrumento para análise do quanto se é consumido (BRASIL, 2002). Na presente pesquisa encontrou-se um resultado onde 82,8 % dos adolescentes apresentavam um baixo consumo de álcool. Entretanto, o questionário AUDIT inclui em Baixo consumo de bebida alcoólica até mesmo os indivíduos que não bebem, podendo assim mostrar maiores índices para o baixo consumo. Mesmo assim, o AUDIT continua sendo o instrumento indicado para verificar o consumo de bebida alcoólica entre adolescentes.

    Os estudos epidemiológicos mostram que 19% dos adolescentes norte-americanos apresentam abuso de álcool. Os dados brasileiros são mais escassos e indicam haver características regionais quanto ao uso de álcool. Considerando-se o uso na vida, de acordo com o I Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil (2001), a prevalência é de 48,3% entre jovens de 12 a 17 anos, em 107 grandes cidades brasileiras. Neste estudo, ainda na análise das 107 cidades em conjunto e para esta mesma faixa etária, a prevalência de dependência de álcool foi 5,2%. Analisando-se os dados de acordo com a região brasileira, encontramos a maior prevalência de uso na vida de álcool na região Sul (54,5%) e maior prevalência de dependência de álcool nas regiões Norte e Nordeste (9,2% e 9,3%, respectivamente). Entretanto, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) (2002), a cidade de Porto Alegre, RS, lidera o ranking dos usuários regulares de drogas lícitas e ilícitas, com 14,4% de usuários de álcool. Apesar da relativa escassez de dados nacionais, estes estão de acordo com a literatura internacional, no sentido de a dependência química ser o problema de saúde mental mais prevalente entre adolescentes, com o álcool em primeiro lugar.

    O resultado aqui encontrado diagnosticou que 15,7% dos adolescentes apresentam um consumo nocivo de álcool, sendo maior do que os achados de um estudo realizado em Salvador, onde 5,5% da população com menos de 25 anos apresentava um consumo nocivo de álcool (FILHO et al., 2004). Ainda no mesmo estudo de Salvador, foi visto que fatores sociais e culturais determinam padrões locais do consumo de bebida alcoólica, corroborando com o presente estudo que encontrou uma dependência significativa (p=0,02) entre as regionais, ou seja, localização da escola e moradia do aluno, com o consumo de bebida alcoólica.

    Quando comparado o consumo nocivo de álcool entre rapazes e moças, verificou-se que os primeiros estão consumindo maior quantidade de álcool do que as garotas, existindo uma diferença significativa (p=0,03) entre os gêneros, apesar da Regional II mostrar um maior consumo nocivo de bebida alcoólica para as moças. (Gráfico 1).

Gráfico 1. Análise do consumo nocivo de álcool entre os gêneros de acordo com as regionais.

    Esta diferença significativa para o sexo masculino corrobora com outros estudos que vem apresentando que os homens estão bebendo mais do que as mulheres. Um estudo realizado na Suíça desde o ano de 1994 a 2002 com 3.792 adolescentes mostrou que no ano de 1994, 52,5% dos garotos tinham um alto consumo de álcool e em 2004 esse número aumentou para 54,1%. Já para as mulheres, no mesmo período verificou-se uma redução de 47,5% para 45,9% (KUNTSCHE & GMEL, 2006).

    Tanto no Brasil como em outros países, mostram que o álcool é a droga mais amplamente utilizada entre adolescentes escolares. Pesquisas indicam que esse uso tem início precoce, uma vez que quase metade dos estudantes entre 10 a 12 anos já fizeram uso de álcool. Embora as taxas de uso tenham sido crescentes com a idade, isto não acontece em relação ao uso nocivo de álcool que possa gerar dependência (TAVRES, BÉRIA, LIMA, 2001).

    A dependência de álcool em Fortaleza, que corresponde a 1,6% mostra-se significativamente inferior à encontrada nos Estados Unidos (5% entre mulheres e 10% entre homens), Porto Alegre (9%7), Pelotas (4%) e no Rio de Janeiro (3%) e tendo proximidade com o Rio Grande do Sul que apresenta 2,5% de dependência do uso de álcool (PRIMO & STEIN, 2004).

    Os dados sobre consumo de bebidas alcoólicas, evidenciados entre os estudantes adolescentes de Fortaleza podem, em grande medida, estar apenas refletindo o status social e cultural do consumo recreacional do álcool. Mesmo assim, o beber excessivo, ainda que não se enquadre na concepção de alcoolismo, sobretudo se precoce, pode direcionar os jovens para esse problema.

    Embora o álcool seja uma droga legalizada na sociedade brasileira e seu consumo social seja aceito, não se pode esquecer da existência de leis vigentes, que proíbem a venda de álcool para menores. Essas leis não estão sendo cumpridas e direta ou indiretamente, tem havido estímulo ao consumo por parte das propagandas sobre bebidas alcoólicas. Há necessidade de revisão da legislação sobre a propaganda desses produtos (SOUZA, ARECO e FILHO, 2005).

    Outras pesquisas (SILVA et al., 2006) vêm indicando ações de saúde e educativa como forma de prevenção do consumo de bebida alcoólica e aqui na cidade de Fortaleza também seria de grande utilidade esse tipo de ações não só pela prevenção do uso de bebida alcoólica, mas como forma de melhorar o meio ambiente que vivem nossos adolescentes e apresentou-se insatisfatório entre nossos escolares de Ensino Médio.

Conclusão

    A média geral da QV foi de 66,83%, para o Domínio I – Físico e para o Domínio II – Psicológico (71,7% e 70,9%, respectivamente), e o Domínio III – Relações sociais apresentou os maiores resultados médios (72,6%), indicando que o construto relações sociais foi satisfatório nesta população, demonstrando ser um ponto favorável para a QV geral. Os menores valores percentuais foram encontrados para o Domínio IV – Meio ambiente (52,0%), sendo este o aspecto mais vulnerável e mais interferente na diminuição da QV. As regionais IV e II apresentaram as melhores médias para QV (68,3% e 60,9%%, respectivamente).

    Quanto ao consumo de álcool a maioria (83,7%) apresenta um baixo consumo, 15,7% têm consumo nocivo e 1,6% mostraram dependência pelo álcool. Sendo o consumo nocivo maior para o sexo masculino (p=0,03).

    Pesquisas prospectivas sobre a QV e consumo de bebida alcoólica com adolescentes que estudam no período noturno seria de extrema importância para o mapeamento da QV de uma forma mais abrangente, facilitando, desta forma, a intervenção em relação aos aspectos mais vulneráveis.

Referências

  • AKERMAN, M. et al.. Avaliação em promoção da saúde: foco no “município saudável”. Revista de Saúde Pública, v.36 n.5 p. 638-46, 2002.

  • BAUS, J.; KUPEK, E.; PIRES, M. Prevalência e fatores de risco relacionados ao uso de drogas entre escolares. Revista de Saúde Pública, v.36 n.5 p. 40-46, 2002.

  • BRASIL. Ministério da Saúde. Projeto de Promoção da Saúde. A construção de vidas mais saudáveis. Brasília, Ministério da Saúde, 2002.

  • FILHO, N.A.; LESSA, I.; MAGALHÃES, L.; ARAÚJO, M.J.; AQUINO, E.; KAWACHI, I.; JAMES, S.A. Alcohol drinking patterns by gender, ethnicity, and social class in Bahia, Brazil. Revista de Saúde Pública, v.38 n.1 p. 45-54, 2004.

  • FISBERG, M.; IVANKOVITCH, D.T.; MEDEIROS, E. Uso de álcool entre adolescentes se São Paulo: estudo dos fatores que motivam o consumo e repercussões na vida social e sexual. Revista Paulista de Pediatria, São Paulo. v.9 n.1, 2001.

  • GOMIDE, P. I. C.; PINSKY, I. A influência da mídia e o uso das drogas na adolescência. In: PINSKY, I.; BESSA, M. A. (Orgs.). Adolescência e drogas. São Paulo: Contexto, p. 54-67, 2004.

  • FLECK, M. P. A. et al.. Aplicação da Versão em Português do Instrumento Abreviado de Avaliação da Qualidade de Vida “WHOQOL-bref”. Revista de Saúde Pública, v.34 n.2 p. 178-183, 2000.

  • GORDIA, A. P.; QUADROS, T. M. B.; VILELA JUNIOR, G. B.; CAMPOS, W.; QUADROS JUNIOR, P. K.; PASSONI, J.; SANTOS, I. C.; CIESLAK, F. Qualidade de vida de soldados do exército brasileiro e estudantes universitários. Revista Científica JOPEF, v.1 n.5 p. 5-10, 2006.

  • GORDIA, A.P.; QUADROS, T.M.B de; VILELA JÚNIOR, G.B.; SOUZA, E.A. de; CABRAL, C.; MORAIS, T.B. de; CAMPOS, W. Comparação da Qualidade de Vida de mulheres idosas praticantes e não praticantes de exercício físico. Lecturas Educación Física y Deportes, v.106, p.1-8, 2007. http://www.efdeportes.com/efd106/mulheres-idosas-praticantes-de-exercicio-fisico.htm

  • GORDIA, A.P. Associação da atividade física, consumo de alcohol e índice de massa corporal com qualidade de vida de adolescentes. 181 f. Dissertação (Mestrado) – Curso Educação Física, Departamento de Educação Física, UFPR, Curitiba, 2008.

  • GUIMARÃES, J.L. et al. Psychoactive drug use in school age adolescents, Brazil. Revista de Saúde Pública, v.38 n.1 p. 130-132, 2004.

  • JUSTO, J.S. O "ficar" na adolescência e paradigmas de relacionamento amoroso da contemporaneidade. Rev. Dep. Psicol, Niterói, v.17 n.1 p. 124 –129, 2005.

  • KERR-CORRÊA, F. Prefácio. In: DIMEFF, L.A. et al. Alcoolismo entre estudantes universitários: uma abordagem de redução de danos. São Paulo: Editora Unesp, 2002.

  • KUNTSCHE, E.; GMEL, G. Changes in Adolescents’ Reasons for Drinking in Switzerland and Associations with Alcohol Use from 1994 to 2002. Journal of Adolescent Health, v. 39 p. 705-711, 2006.

  • LEMOS, T.; ZALESKY, M. As principais drogas: como elas agem e quais os seus efeitos. In: PINSKY, I.; BESSA, M. A. (Orgs.). Adolescência e drogas. São Paulo: Contexto, p.16-30, 2004.

  • LEPRE, R. M. A indisciplina na escola e os estágios de desenvolvimento moral na teoria de Jean Piaget. 2001. 182 p. Tese (Doutorado) – Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2007.

  • LIMA, C.D.; FREIRE, A.C.C.; SILVA, A.P.B.; TEIXEIRA, R.M.; FARRELL, M.; PRINCE, M. Concurrent and Construct Validity of the AUDIT in an urban Brazilian Sample. Oxford University Press on behalf of the Medical Council on Alcohol, 2005.

  • MARTINS, P.O.; TRINDADE, Z.A. ALMEIDA, A.M.O. O ter e o ser: representações sociais da adolescência entre adolescentes de inserção urbana e rural. Revista Psicologia: Reflexão e Critica, Porto Alegre, v.16 n.3 p. 215- 220, 2003.

  • MELONI, J. N.; LARANJEIRA, R. Custo social e de saúde do consumo do álcool. Revista Brasileira de Psiquiatria, v. 26 p. 7-10, 2004.

  • MOURA, F.C. Adolescência: Efeito do campo no sujeito. Revista Psicologia Clinica, Rio de janeiro, v.17 n.2 p. 112-117, 2005.

  • MUUSS, R. E. . Teorias da adolescência. Belo Horizonte: Interlivros, 1976

  • PASCHALL, M.J.; FLEWELLING, R.L.; RUSSEL, T. Why Is work intensity associated with heavy alcohol use among adolescents? Journal of Adolescent Health. v. 34 p.79–87, 2004.

  • PECHANSKY, F. SZOBOT, C.M. SCIVOLETTO, S. Uso de álcool entre adolescentes: conceitos, características epidemiológicas e fatores etiopatogênicos. Revista Brasileira de Psiquiatria, v.26(Supl I), p.14-17, 2004.

  • PRIMO, N.L.N.P.; STEIN, A.T. Prevalência do abuso e da dependência de álcool em Rio Grande (RS): um estudo transversal de base populacional. Revista de Psiquiatria, Rio Grande do Sul, v.26 n.3 p.280-286, 2004.

  • Ravens-Sieberer, U.; Gosch, A.; Abel, T.; Auquier, P.; Bellach, B.; Bruil, J.; Dur, W.; Rajmil, L.; European Kidscreen Group. Quality of life in children and adolescents: a European public health perspective. Soz. Praventivmed, v.46 p.294- 302, 2001.

  • RIBEIRO, Z. Estudo de caso com uso da terapia floral para crianças portadoras de doenças crônicas atendidas numa unidade básica de saúde. 104pg. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2003.

  • ROSA, M.D. Adolescência: Da cena familiar à cena social. Revista de Psicologia, São Paulo, v.13 n.2 p.121- 127, 2002.

  • SOLDERA, M.; DALGALARRONDO, P.; FILHO, H.R.C.; SILVA, C.A.M. Uso pesado de álcool por estudantes dos ensinos fundamental e médio de escolas centrais e periféricas de Campinas (SP): prevalência e fatores associados. Revista Brasileira de Psiquiatria, v.26 n.3 p.174-179, 2004.

  • SOUZA, D.P.O.; ARECO, K.N.; FILHO, D.X.S. Álcool e alcoolismo entre adolescentes da rede estadual de ensino de Cuiabá, Mato Grosso. Revista de Saúde Pública, v.39 n.4 p.585-592, 2005.

  • SOUZA, E.A.; MORAIS, T.B.; QUADROS, T.M.B.; GORDIA, A.P. CAMPOS, W.; CABRAL,C.; QUADROS,P.F.B.; VILELLA JÚNIOR,G.B. Análise da Qualidade de vida de militares do corpo de bombeiros da cidade de Fortaleza, Ceará. Revista de Educação Física v.18, p. 243-246, 2007.

  • The KIDSCREEN Group European. The KIDSCREEN Questionnaires: quality of life questionnaires for Children and Adolescents. Pabst Science Publishers, Germany, 2006.

  • VILARTA, R. (Org.). Qualidade de vida e políticas públicas: saúde, lazer e atividade física. Campinas: IPES Editorial, 2004.

  • WESTPHAL, M. F. O Movimento Cidades/Municípios Saudáveis: um compromisso com a qualidade de vida. Ciência & Saúde Coletiva, v. 5 n.1 p.39-51, 2000.

  • Wallander, J.L.; Schmitt, M. Quality of life measurement in children and adolescents: issues, instruments and applications. Journal of clinical psychology v.57 n.4 p. 571-585, 2001.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/

revista digital · Año 14 · N° 131 | Buenos Aires, Abril de 2009  
© 1997-2009 Derechos reservados