Desafios para a melhora da qualidade de vida frente ao processo de envelhecimento humano Desafíos para el mejoramiento de la calidad de vida frente al proceso de envejecimiento humano |
|||
Mestre em Educação (UPF), Licenciada em Educação Física (UPF) Especialista em Atividade Física e Qualidade de Vida (UPF) Professora do curso de Educação Física da ULBRA Carazinho. |
Patricia Carlesso Marcelino Siqueira patriciasiqueira@wavetec.com.br (Brasil) |
|
|
Resumo O presente artigo nos remete a uma reflexão sobre a necessidade de repensarmos a problemática do processo de envelhecimento humano em nível mundial e o papel do profissional de educação e saúde como fomentador de ações, atitudes de enfrentamento e intervenções mais vigorosas vislumbrando a melhora da qualidade de vida da população. Unitermos: Qualidade de vida. Saúde. Envelhecimento.
Resumen |
|||
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 131 - Abril de 2009 |
1 / 1
Introdução
A população mundial está ficando cada vez mais velha, tanto que, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (2007), por volta de 2025 pela primeira vez na história haverá mais idosos do que crianças no planeta. Os dados indicam também o período de 1975 a 2075 como a Era do Envelhecimento.
O crescimento da população de idosos, em números absolutos e relativos, é um fenômeno mundial e está ocorrendo a um nível sem precedentes. Em 1950, eram cerca de 204 milhões de idosos no mundo e, já em 1998, quase cinco décadas depois, este contingente alcançava 579 milhões de pessoas, um crescimento de quase 8 milhões de pessoas idosas por ano. As projeções indicam que, em 2050, a população idosa será de 1.900 milhões de pessoas, montante equivalente à população infantil de 0 a 14 anos de idade. Uma das explicações para esse fenômeno é o aumento, verificado desde 1950, de 19 anos na esperança de vida ao nascer em todo o mundo. (IBGE, 2007).
Os números mostram que, atualmente, de acordo com dados do IBGE (2007), uma em cada dez pessoas tem sessenta anos de idade ou mais e, para 2050, estima-se que a relação será de uma para cinco em todo o mundo e de uma para três nos países desenvolvidos. No mundo, em 2050, um quinto da população será de idosos.
Ainda segundo as projeções do IBGE (2007), o número de pessoas com cem anos de idade ou mais aumentará 15 vezes, passando de 145000 em 1999 para 2,2 milhões em 2050. Os centenários, no Brasil, somavam 13.865 em 1991 e, em 2000, chegaram a 24.576, ou seja, houve um aumento de 77%. São Paulo tem o maior número de pessoas com cem anos ou mais (4.457), seguido pela Bahia (2 808), Minas Gerais (2.765) e Rio de Janeiro (2 029).
O processo de envelhecimento demográfico é um fato que repercute nas diferentes esferas da estrutura social, econômica, política e cultural da sociedade, uma vez que os idosos, da mesma forma que os demais segmentos etários (crianças, jovens e adultos), possuem demandas específicas para a obtenção de adequadas condições de vida. Tais demandas fizeram da velhice tema privilegiado de investigação nas distintas áreas de conhecimento, elevando substancialmente o volume de obras publicadas nos últimos tempos.
O aumento da população idosa e da expectativa de vida tem gerado importantíssimas repercussões nos campos sociais e econômicos, provocando uma intensificação do interesse por estudos empíricos e teóricos sobre a velhice e envelhecimento, bem como a criação de alternativas de promoção do envelhecimento saudável e da preocupação com o atendimento da população idosa nas áreas social, médica e educacional.
Segundo Paschoal (2002), a longevidade cada vez maior do ser humano acarreta uma situação ambígua, vivenciada por muitas pessoas, mesmo pelas ainda não idosas: “O desejo de viver cada vez mais e, ao mesmo tempo, o temor de viver em meio a incapacidades e a dependência.”
Numa sociedade ativa e competitiva como aquela em que vivemos, o esperado é que o idoso fique afastado do meio social ativo, por se apresentar fora do ritmo dos acontecimentos e improdutivo aos olhos do dinamismo social. Essa falta de utilidade, juntamente com a perda do papel social, desencadeia na sociedade o preconceito relacionado à idade.
O desafio que se propõe aos indivíduos e às sociedades hoje é obter uma sobrevida cada vez maior, com uma qualidade de vida cada vez melhor.
O fenômeno qualidade de vida tem múltiplas dimensões, como por exemplo, a física, a psicológica e a social, cada uma comportando vários aspectos. Entre eles a saúde percebida e a capacidade funcional são variáveis importantes que devem ser avaliadas, assim como o bem estar subjetivo, indicadas por satisfação. (PASCHOAL, 2002, p. 80).
A qualidade de vida é um fator diretamente ligado a esse contexto, sendo um dos responsáveis pelo aumento ou pelo decréscimo na longevidade da população (MATSUDO, 2001). A preocupação em manter hábitos que garantam uma velhice saudável, marca uma nova etapa de conscientização. Para Acosta (2004, p. 140), "muito das 'perdas' e 'efeitos do envelhecimento' apresentados são decorrentes do estilo de vida que leva o idoso".
A Organização Mundial da Saúde (2007) fundamenta o conceito de qualidade de vida em três aspectos fundamentais, identificados por um grupo de experts de diferentes culturas: subjetividade, multidimensionalidade e presença de dimensões positivas (exemplo: mobilidade) e negativas (exemplo: dor). Esses aspectos devem ser capazes de medir a qualidade de vida em qualquer lugar do planeta. A definição de qualidade de vida seguindo esses aspectos pode ser enunciada como “a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações".
O reconhecimento da multidimensionalidade da qualidade de vida refletiu-se na estrutura do instrumento, baseada em seis domínios: físico, domínio psicológico, nível de independência, relações sociais, com o meio ambiente e de espiritualidade / religião / crenças pessoais. A qualidade de vida, contudo, é uma questão que envolve valores e, como tal, está cheia de subjetividade, de reflexões pessoais e juízos familiares. A população em geral tem consciência do que é melhor para sua saúde, mas nem sempre o que é melhor para a sua saúde se reflete no que é melhor para a pessoa. Como a forma de mensuração, pelo que podemos notar, depende muito da interpretação de cada pessoa, que identifica o grau de melhora, piora ou, até mesmo, a manutenção da qualidade de vida dos indivíduos; esta se torna uma avaliação que atua no campo perceptivo sobre os níveis do "envelhecimento bem-sucedido".
Becker Júnior., Gonçalves e Pol (2006) afirmam que as condições de saúde certamente influenciam a qualidade de vida, mas não são as únicas determinantes. Segundo esses autores, a sugestão é que, então, quando for abordado o tema qualidade de vida, seja utilizada a expressão como ligada à saúde – “qualidade de vida ligada à saúde” (QVLS).
Teixeira et al. (2006) afirmam que a expressão “qualidade de vida” envolve múltiplos significados (conhecimentos, experiências, valores individuais e coletivos). As definições “restritas ou específicas”, tais como as utilizadas nas áreas econômicas e de saúde, são limitadas, por envolverem somente a aquisição de bens materiais e capacidade funcional pós-doenças. Os autores destacam ainda que a qualidade de vida é uma construção social que abrange referências históricas, culturais e de estratificações ou classes sociais.
As atividades físicas são importantes para que se atinja o padrão desejado
em certos aspectos da qualidade de vida. É claro que um estilo de vida ativa
tem papel fundamental na promoção da saúde e da qualidade de vida durante o
processo de envelhecimento, não importando quando, quanto e como o indivíduo
seja fisicamente ativo (MATSUDO, 2001,
p. 166).
A reestruturação de um autoconceito positivo propicia uma conscientização do papel social a partir de uma ênfase no eu, estimulada pelo envolvimento com as atividades de movimento. Este autoconceito positivo é fortemente relacionado com a sensação de auto-eficiência (possibilitada pelas atividades). Assim, as pessoas, apoiadas na sua auto-estima, combatem o estigma negativo do envelhecimento.
A qualidade de vida não é uma questão emocional, epistemológica, mas ética; ela não se constrói sobre conhecimentos, mas sobre valores e decisões, e a avaliação da qualidade de vida passa pela experiência de vida dos sujeitos, não só como um ato racional, mas que também envolve os sentimentos. Por isso, valores não materiais, tais como amor, liberdade, solidariedade, inserção social, realização pessoal e felicidade, também deveriam ser avaliados, pois compõem sua concepção (MINAYO; HARTZ; BUSS, 2000).
Néri (2000) enfatiza que a avaliação de qualidade de vida deve envolver vários critérios, comparando as condições disponíveis com as desejáveis, cujos resultados são expressos por índices de desenvolvimento, bem-estar, satisfação, desejabilidade ou prazer.
De acordo com Teixeira et al. (2006), os instrumentos de qualidade de vida utilizados podem ser agrupados em genéricos ou específicos. Os primeiros propõem-se a avaliar os aspectos amplos de qualidade de vida, utilizando questionários de base populacional, ao passo que os específicos geralmente são direcionados a grupos de indivíduos que sofrem ou sofreram algum tipo de patologia aguda ou crônica. Acreditamos, portanto, que o conceito de qualidade de vida é inerente a cada pessoa e varia ao longo do ciclo da vida, envolvendo múltiplos fatores, como registra Paschoal:
Duas outras características podem ser acrescentadas: complexidade e mutabilidade. Por ser multidimensional, bipolar e subjetivo, o conceito torna-se complexo e difícil de avaliar. Pr outro lado, a avaliação da qualidade de vida muda com o tempo, pessoa, lugar e contexto cultural; para uma mesma pessoa, muda conforme o seu estado de humor, o que muitas vezes dificulta a avaliação. (2002, p. 81).
A Organização Mundial da Saúde elaborou a definição de qualidade de vida que é atualmente uma das mais utilizadas e aceitas: “Qualidade de vida é a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e do sistema de valores em que vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”. (OMS, 2007)
Os eventos subjetivos mostram maior associação com qualidade de vida do que objetivos, tais como renda, arranjo de moradia e saúde física, havendo uma forte relação entre ter medo de ficar velho, solidão e isolamento, senso de desamparo e de incompetência comportamental, como depressão, baixa saúde percebida e insatisfação com a vida. Sabe-se também que as doenças e incapacidades que determinam restrições nas oportunidades de acesso à estimulação prazerosa e ao envolvimento social relacionam-se com a depressão e com afetos negativos. Os idosos têm vida emocional menos intensa do que a dos adultos, possivelmente como resposta adaptativa aos limites da velhice, ou como reflexo de um processo de seleção de interesses.
Algumas considerações
Conceituar e avaliar qualidade de vida não é tarefa das mais fáceis, dada à quantidade e a complexidade das variáveis envolvidas. Atualmente, muitas disciplinas e profissões têm se ocupado dessa tarefa.
O assunto começou a chamar a atenção, primeiro, de cientistas sociais e de políticos; depois, do pessoal do campo da saúde e, afinal e literalmente, de todas as áreas da atividade humana. Em virtude da importância do tema, tanto para a avaliação dos resultados, condutas, tratamentos e políticas, quanto para a avaliação de atendimento e serviços, há vários conceitos e instrumentos, alguns gerais e outros específicos, para sua avaliação; poucos, porém, foram desenvolvidos tendo como alvo a população idosa.
Portanto, acreditamos que o conceito de qualidade de vida é inerente a cada ser humano e varia ao longo de sua vida, envolvendo uma multiplicidade de fatores.
Os pesquisadores que desejam trabalhar com este tema, não podem deixar de considerar esse dado, pois os resultados das pesquisas irão refletir a fase e o momento da vida em que os indivíduos se encontram.
Além disso, não se pode deixar de enfatizar sobre sua característica dinâmica, em virtude das possibilidades de mudança ao longo da vida. A consciência de si, baseada no reconhecimento da própria imagem, incluindo seus aspectos fisiológicos, sociais e afetivos, pode ser um caminho para a transformação do corpo-objeto num corpo-sujeito no contexto de um envelhecer mais significativo e prazeroso.
Espera-se continuar a trilhar por novos caminhos na busca de mais qualidade de vida e saúde e educação para a população idosa, como também viabilizar ações de maior abrangência, no intuito de incentivar os profissionais das mais diversas áreas a buscar novas formas de adequação para o atendimento às pessoas idosas, frente às perspectivas e desafios que norteiam as estatísticas no que se referem aos elevados índices e parâmetros de crescimento da população idosa em nível mundial.
Atender com eficiência, qualidade, profissionalismo e segurança àqueles que chegaram antes de nós, e que criaram raízes , adubaram a terra e plantaram nossas sementes é um compromisso de todos nós!
Referências
ACOSTA M. A. F. Educação física, biogerontologia e a interface da qualidade de vida. Tese (Doutorado) - UFSM, Santa Maria, 2004.
GONÇALVES, C.; BECKER, Jr. B.; POL, D. Atividade física, a corporeidade e as ciências do esporte: uma trama epistemológica transdisciplinar. In: BECKER Jr., B; GONÇALVES, José dos Santos. Fronteiras em ciências da atividade física e do esporte. Porto Alegre: Nova Prova, 2006, p. 126-128.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo demográfico. Disponível em: http://www.ibge.com.br.Acesso em: 5 set. 2007.
MATSUDO, S. M. M. Envelhecimento & atividade física. Londrina: Midiograf, 2001.
MINAYO, M. C. S.; HARTZ, Z. M. A.; BUSS, P. M. Qualidade de vida e saúde: um debate necessário. Ciência e Saúde Coletiva, v. 5, n. 1, p. 23-46, 2000.
NERI, A. Qualidade de vida na idade madura. Campinas: Papirus, 2000.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Disponível em: http://www.opas.org.br> Acesso em: 15 ago. 2007.
PASCHOAL, S. Qualidade de vida na velhice. In: FREITAS, E. et al. (Org.). Tratado de geriatria e gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.
TEIXEIRA, A. et al. Qualidade de vida: uma visão geral. In: BECKER Jr. B.; GONÇALVES, J. S. Fronteiras em ciências da atividade física e do esporte. Porto Alegre: Nova Prova, 2006.
Outros artigos em Portugués
revista
digital · Año 14 · N° 131 | Buenos Aires,
Abril de 2009 |