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Predição de estatura adulta 

em escolares praticantes de voleibol

 

*Licenciada em Educação Física do Centro Universitário Metodista Bennett – RJ

**Docente do curso de Licenciatura em Educação Física do

Centro Universitário Metodista Bennett – RJ

Doutorando em Nutrição Humana – PPGN\INUFRJ

Julysis Sales Lima*

Luciano Alonso**

julysis9@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          Introdução: Nos dias atuais a determinação do nível de maturidade relaciona-se com a herança biológica, não ocorrendo necessariamente junto à idade cronológica. Objetivo: deste estudo foi estimar de forma não invasiva o estado maturacional através da relação percentual da estatura atual pela estatura prevista em escolares na faixa etária dos 15 aos 17 anos, praticantes do voleibol. Material e método: a amostra foi composta por 24 escolares dos dois sexos (12 meninas e 12 meninos), da cidade do Rio de Janeiro-RJ. Foram utilizados os seguintes procedimentos massa corporal (Kg) e estatura (cm) (GAYA e ADROALDO, 2007). Para cálculo de alvo genético, foi utilizada a fórmula de Tanner (1986). A estratégia estatística utilizada foi à proporção da estatura atual pela prevista. Resultados: O grupo feminino apresentou a idade média de 15,69 anos; a estatura própria média de 160,87cm, desvio padrão de 5,99cm; o alvo genético apresentando percentis: 25=156,94cm, 50=160,03cm e 75=163,57cm; o percentual de maturação com percentis: 25=98,05%, 50=100,50% e 75=103,00%. No grupo masculino a idade média foi de 16,01 anos; estatura própria média de 174,91cm; desvio padrão de 5,534cm; o alvo genético apresentou percentis: 25=173,47cm, 50=176,04cm e 75=181,71cm; o percentual de maturação com percentis: 25=94,82%, 50=99,00% e 75=101,72%. Conclusão: De acordo com a estimativa encontrada, todos os escolares avaliados estão a mais de 90% do alvo genético, ou seja, estão com a maturação de estatura acelerada, porém sua estatura atual está inferior as necessidades do vôlei moderno.

          Unitermos: Maturação. Estatura. Escolares. Voleibol. Predição de estatura.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 131 - Abril de 2009

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Introdução

    O profissional de Educação Física que atua na sala de aula, no ginásio ou no campo de esportes, deve estar ciente dos processos de desenvolvimento e comportamento humano dentro da educação, para que possa aplicar as técnicas educacionais e procedimentos apropriados (GALLAHUE & OZMUN; 2005). Para isso é necessário o conhecimento das mudanças fisiológicas e morfológicas típicas do período puberal, pois diferentes sistemas biológicos alcançam o estado de maturidade em variados momentos, podendo ser encontrados níveis divergentes de maturação sexual em um mesmo grupo etário ou série escolar (FARIAS et al., 2006).

    Crianças que têm um crescimento mais acentuado que as demais, são as chamadas “grandonas”, não podem ser consideradas amadurecidas, já que a idade cronológica não é um bom critério de permissão ou não da sua participação em competições esportivas, pois apesar da mesma idade, as estaturas podem ser diferentes (EDUARDO MARCONDES, 1985).

    O voleibol tem como objetivo fundamental desenvolver técnicas e táticas motoras básicas, como: velocidade, força, agilidade, percepção de jogo, principalmente ao iniciante na modalidade, que estará se adequando aos novos movimentos (BENETTI; SCHNEIDER; MEYER, 2005). A incitação ao aumento da força é uma das principais características do desporto (SCHNEIDER; BENETTI; MEYER, 2004). Por isso, para detectar um talento esportivo, devemos notar que algumas variáveis estarão extremamente relacionadas às características individuais dos escolares e outras serão passíveis de treinamento, sendo necessário o conhecimento das características específicas (físicas, técnicas, psicológicas, entre outras) nos diferentes períodos do treinamento. Desta forma, poderemos predizer quais atletas após o crescimento, desenvolvimento, maturação e treinamento sistemático apresentarão tais características (MASSA et al., 2000).

    A partir da década de 70, foram feitos estudos e debates que levaram a inclusão de experiências relacionadas à maturação, era colocado inicialmente que o desenvolvimento motor abarcaria mudanças no comportamento, resultantes de modificações internas geradas pela maturação (TANI, 2005). Sabe-se nos dias atuais que a determinação do nível de maturidade relaciona-se com a herança biológica, não ocorrendo necessariamente junto à idade cronológica (BERNHOEFT, 2000), é possível identificar diferenças de desenvolvimento nos comportamentos motores causada por fatores biológicos e ambientais, através de mudanças na forma e no desempenho. Em outras palavras, a entrada para o processo desse desenvolvimento é proporcionada através do comportamento motor real das crianças, característico de cada uma em idade ou fase específica (GALLAHUE & OZMUN 2005).

    Fazendo uma análise dos aspectos maturacionais bem como a relação com a atividade física das crianças e dos adolescentes, podemos verificar os eventos que marcam a puberdade e aceitar a variabilidade individual em que eles ocorrem (TOURINHO FILHO; TOURINHO, 1998).

    Tudo indica que, ao atingir numa faixa etária especifica, um percentual de estatura de maturidade previsto parece ser um indicador de status de maturação, pois este método nos fornece um indicador potencialmente útil, apresentando um mínimo risco físico ou psicológico (MALINA et al., 2005).

    Podemos encontrar jovens dentro de um mesmo grupo de treinamento ou categoria competitiva em diferentes estágios maturacionais, situação que pode favorecer os mais adiantados no processo de desenvolvimento biológico, e levar a desmotivação de outros mais tardios, com possibilidades de tornarem-se excelentes atletas no futuro (RÉ et al., 2005).

    Desta forma o presente estudo visa estimar o estado de maturidade de participantes do time de voleibol de um colégio, com idade de 15 a 17 anos, aplicando a estatura atual expressa como percentual de maturidade de estatura prevista.

Material e métodos

    O delineamento do presente estudo foi descritivo, possuindo uma amostra composta por estudantes regularmente matriculados no Colégio Estadual André Maurois no Bairro Leblon na cidade do Rio de Janeiro, Brasil.

    A inclusão dos sujeitos na amostra do estudo ocorreu por desejo em participar do experimento. Para tanto, o universo de escolares matriculados nas três séries do ensino médio que freqüentam os treinos de vôlei, foram contatados e informados quanto à sua natureza e convidados a participar do estudo. Dessa forma, a amostra definitiva do estudo foi constituída por 24 escolares de ambos os sexos, com idades entre 15 e 17 anos. Para a análise do crescimento dos alunos, foram utilizadas a estatura (cm) e a massa corpora (kg). A determinação da estatura foi realizada por uma trena com precisão de 0,1 cm; a verificação da massa corporal através de uma balança digital, escalonada em quilos e intervalos de 100 gramas e de acordo com a padronização do PROESP-BR (GAYA, ADROALDO, 2007). As estaturas dos pais foram reportadas, ou seja, entregando-lhes um questionário para que seus pais preenchessem com suas estaturas. Para chegar ao percentual de maturidade de estatura prevista do escolar, utilizou-se uma fórmula de alvo parenteral: Meninas: altura da mãe + (altura do pai – 13,0cm) +ou– 9 / 2; Meninos: altura do pai + (altura da mãe + 13cm) +ou- 10 / 2 (TANNER JM, 1986) os dados foram inseridos numa planilha Excel para apresentação descritiva de média de desvio padrão.

    Para o tratamento estatístico das informações utilizou-se o percentual da estatura atual pela prevista.

    Os procedimentos empregados no estudo foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário Metodista Bennett que acompanham normas da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde sobre pesquisa envolvendo seres humanos.

Resultados

    Na amostra dos indivíduos composta por n=12 sexo feminino conforme tabela1, foram encontrados os seguintes dados: idade com média de 15,69 anos, com idade mínima de 15,08 anos e máxima de 16,93 anos; a estatura própria com média de 160,87cm com desvio padrão de 5,99cm; o alvo genético apresentando percentil 25=156,94cm, percentil 50=160,03cm e percentil 75=163,57cm; o percentual de maturação com percentis: 25=98,05%, 50=100,50% e 75=103,00%; a massa corporal com um mínimo 46,00kg e máximo de 75,80kg.

Tabela 1. Estatística descritiva feminina: Idade, massa corporal, alvo genético, percentual de maturação, desvio padrão, percentis e médias

    Os indivíduos do sexo masculino foram apresentados com a nomenclatura Ni=12 conforme tabela2. Foram encontrados os seguintes resultados: idade média de 16,01 anos; a estatura própria com média de 174,91cm e desvio padrão de 5,53cm; o alvo genético apresentou percentil 25=173,47cm, percentil 50=176,04cm e percentil 75=181,71cm; o percentual de maturação com percentis: 25=94,82%, 50=99,00% e 75=101,72%; a massa corporal, com mínimo de 50,00kg e máxima de 79,00kg.

Tabela 2. Estatística descritiva masculina: Idade, massa corporal, alvo genético, percentual de maturação, desvio padrão, percentis e médias.

 

    Tanto no grupo feminino, quanto no grupo masculino, a estimativa de estatura adulta apresentou percentuais de maturação próximos e superiores a de 100%, ou seja, estão com a estimativa de estatura praticamente finalizada, porém com estatura atual inferior as necessidades do vôlei moderno.

Discussão

    Nos parâmetros atuais, atletas de voleibol devem possuir uma estatura elevada, porém na amostra do presente estudo, os escolares já atingiram quase na totalidade o alvo genético de estatura e em comparação ao estudo realizado por Ferreira Filho (2004), relacionado à baixa estatura de ginastas, ficou evidente que existe relação entre a estatura e hereditariedade; e isso pode ser atribuído também ao voleibol. Para Manfredini (2004), a estatura dos ginastas é sempre inferior quando comparada a não-atletas e outras modalidades esportivas. Para ele esta diferença estatural pode estar associada aos aspectos maturacionais, e isto pode justificar a estatura no voleibol.

    Como encontrado nos resultados, um percentual de maturação avançado, observa-se no grupo feminino que mesmo somando a média encontrada de desvio padrão do alvo genético de 5,21cm ao maior percentil 75=163,57, daria uma estatura de 168,78cm, sendo uma estatura imprópria a prática do voleibol. Para os meninos, se somado da mesma forma a média de desvio padrão do alvo genético de 6,37cm ao maior percentil 75=181,71, daria uma estatura de 188,08cm sendo até possível para este escolar chegar ao alto rendimento; mas em posições como levantador, líbero ou até ponta dependendo da impulsão.

    Cabe ressaltar que uma série de fatores externos pode influenciar no desenvolvimento do indivíduo, como o ambiente, clima, alimentação, tipo de infância, afeto dado à criança; e para Powers e Howley (2005) alguns destes fatores interferem também no rendimento dos atletas.

    Apesar da margem de erro para a predição da estatura prevista final pode ter correlação com o pequeno número de participantes da amostra, bem como a com a deportação das estaturas dos pais biológicos como observado por Malina (2005), uma vez que não se sabe como fora mensurado e qual a variação em centímetros para mais ou menos da estatura final.

    É fundamental destacar o esporte como expressão do alto rendimento bem como sua excelência, sendo necessário o apoio da mídia e do governo, já que constitui um patrimônio histórico e cultural da humanidade; por isso com a atuação do profissional de educação física, o esporte deve ser utilizado para as relações sociais de grupos de crianças, jovens e adultos, através do ambiente escolar ou em suas diferentes áreas de atuação (GUIMARÃES, 2004). De forma abrangente para detectar um talento desportivo, usava-se como forma de detecção a intuição e a própria experiência. Muitos destes profissionais, por ter formação deficiente ou não ter estudos específicos nestas áreas, buscam através de tentativas e de erros chegar a um objetivo próximo do correto, e assim encontrar o suposto talento (MASSA et al., 2000).

Conclusão

    De acordo com a estimativa encontrada, todos os avaliados estão a mais de 90% do alvo, ou seja, estão com a estatura atual bem próxima da estimada, porém com estatura atual inferior as necessidades do vôlei moderno.

    O método utilizado nos forneceu um indicador de momento maturacional relacionando o percentual da estatura prevista a estatura atual, pois foi possível estimar a estatura adulta dos escolares praticantes de voleibol que fizeram parte da amostra.

    Sendo de extrema importância para selecionar escolares praticantes de uma modalidade esportiva e que aspiram competir para o alto rendimento; e que na maioria dos casos param de competir no melhor da sua performance, porque não atingiram uma estatura adequada para a prática do voleibol, basquetebol, futebol, handebol ou contrário, atingiram uma estatura inadequada para a ginástica olímpica, e assim sucessivamente.

    Desta forma os resultados encontrados demonstram uma responsabilidade da escola, clubes, pais de alunos e principalmente dos profissionais de Educação Física em desenvolver programas orientados para práticas desportivas, contribuindo assim para um desenvolvimento mais saudável e gratificante de crianças e adolescentes.

Referências bibliográficas

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  • TANI, Go. Comportamento motor, aprendizagem motora. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. 2 p 36 e 40.

  • TANNER JM,The use and abuse of growth standards. In: FALKNER F & TANNER JM (eds) Humam Growth, v. 3. nº 2 ed., p. 95-112, (1986) 

  • TOURINHO FILHO, Hugo; TOURINHO, Lílian Simone Pereira Ribeiro. Crianças, adolescentes e atividade física: aspectos maturacionais e funcionais. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo-sp, n., p.71-83, 21 set. 1998.

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