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Reflexões a respeito da inclusão de pessoas com necessidades

educacionais especiais em aulas de Educação Física Escolar:

concepções e formação profissional

Reflections and perspectives about handicapped people in Physical Education 

classes at school: conceptions and professional formation

Reflexiones con respecto de la inclusión de personas con necesidades educativas 

especiales en las clases de Educación Física escolar: concepciones y formación profesional

 

*Licenciadas em Educação Física

Faculdades Integradas Metropolitanas de Campinas – Metrocamp

**Bacharel e Licenciado em Educação Física – Universidade Estadual de Campinas (Unicamp);

Mestre e Doutorando em Educação Física – Unicamp.

Docente no ensino superior pela Universidade Adventista de São Paulo – UNASP

Faculdades Metrocamp (Campinas) e UniAnchieta (Jundiaí)

Priscila Amanda Maciel*

Juliana Miguel*

Rubens Venditti Júnior**

rubensjrv@yahoo.com
(Brasil)

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste trabalho é discutir o fenômeno da inclusão e da adesão de alunos com necessidades especiais nas aulas de Educação Física do ensino formal. O presente estudo foi realizado por uma pesquisa bibliográfica que trouxe os dados coletados mais destacados tais como: a infra-estrutura escolar; os métodos utilizados pelos professores e a visibilidade da inclusão escolar. Apresentamos neste estudo também os obstáculos que existem para construir uma escola inclusiva, as exigências que são necessárias para se ter uma escola de qualidade que adaptam os alunos especiais juntamente aos ditos normais. Procuramos pontuar aspectos facilitadores e dificultadores da inclusão na Educação Física escolar, tendo como objetivo uma educação para todos, respeitando a diversidade humana e o respeito às individualidades. Talvez seja necessário que o profissional ressignifique sua prática pedagógica à concepção de diversidade. Carvalho apud Gorgatti e Da Costa (2005) afirma que aceitar a idéia de caleidoscópio é aceitar que todos são importantes e significativos; e quanto maior a diversidade, mais complexa e rica será a situação. Portanto, é o papel do profissional de Educação Física obter um conteúdo metodológico adaptável e flexível, criar alternativas para o desenvolvimento de sua disciplina, inovar e apresentar propostas onde os pais destes alunos especiais acreditem no aprendizado de seus filhos, juntamente com os ditos normais.

          Unitermos: Educação Física Escolar. Diversidade humana. Inclusão. Formação profissional.

 

Abstract

          The aim of this research is to discuss the inclusion and adhesion phenomenon of students with special needings in Physical Education Classes of formal education. The present research was done through a bibliographic research bringing some pointed data such as: school infra-structure, teacher’s methods and educational inclusion visibility. We also pointed out the existent obstacles to build an inclusive school, the necessary requirements to have an quality school that adapt the students with special needs together with others said as normal. We point some facilities and difficulties aspects of inclusion in Physical Education classes, showing the integration to have an education for everybody, considering human diversity and individual needs. Perhaps it will be necessary that the professional validate his pedagogies practices and diversity concepts. Carvalho apud Gorgatti and Da Costa (2005) said that accept the “kaleidoscope idea” is to accept that everybody are very important and significant and how bigger the diversity, more complex and rich will be the situation. So, the Physical Education professional job is to create a good and adapted methodology, to create alternatives to develop his subjects, innovate and show proposals to special student’s families to have them to believe on their progress, together with people said as normal.

          Keywords: Physical Education. Human diversity. Inclusion. Professional formation.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 131 - Abril de 2009

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Apresentação

    O presente estudo tem por objetivo refletir sobre a questão da Inclusão sob a perspectiva do profissional de Educação Física. Fruto de um trabalho de conclusão de curso, orientado pelo terceiro autor, buscou-se desenvolver um levantamento de fatores que facilitam e dificultam a inclusão de pessoas com deficiência na rede de ensino formal, especificamente no que tange à Educação Física (EF) escolar.

    A Educação Física deve proporcionar possibilidades às pessoas com necessidades especiais, para que as mesmas consigam identificar suas necessidades e capacidades, facilitando sua independência e autonomia, em busca de sua inclusão e aceitação no grupo social.

    A inclusão é um direito de todos; e, como profissionais da educação, é o nosso dever estarmos conscientes das possibilidades desta inclusão nas aulas de Educação Física do ensino formal. Mantoan (2005, [s.p]) afirma que:

    A escola tem que ser o reflexo da vida do lado de fora. O grande ganho, para todos, é viver a experiência da diferença. Se os estudantes não passam por isso na infância, mais tarde terão muita dificuldade de vencer os preconceitos. A inclusão possibilita aos que são discriminados pela deficiência, pela classe social ou pela cor que, por direito, ocupem o seu espaço na sociedade. Se isso não ocorrer, essas pessoas serão sempre dependentes e terão uma vida cidadã pela metade. Você não pode ter um lugar no mundo sem considerar o do outro, valorizando o que ele é e o que ele pode ser. Além disso, para nós, professores, o maior ganho está em garantir a todos o direito à educação.

    Portanto, é muito importante que o profissional de EF esteja preparado para receber estes alunos especiais e os ditos normais, e que ele obtenha conhecimentos satisfatórios proporcionando aulas qualificadas a essas pessoas, independente da atuação profissional da área.

Método

    Nosso trabalho foi elaborado com base metodológica na Pesquisa Bibliográfica. Segundo Severino (2002, p. 77):

    A pesquisa bibliográfica tem por objetivo a descrição e a classificação dos livros e documentos similares, segundo critérios, tais como autor, gênero literário, conteúdo temático, data e etc. Dessa técnica resultam repertórios, boletins, catálogos bibliográficos. E é a eles que se deve recorrer quando se visa elaborar a bibliografia especial referente ao tema do trabalho. Fala-se de bibliografia especial porque a escolha das obras deve ser criteriosa, retendo apenas aquelas que interessem especificamente ao assunto tratado.

    O nosso objetivo é discutir a inclusão dos alunos com necessidades especiais em escolas de ensino formal nas aulas de Educação Física escolar e dialogar sobre as possíveis dificuldades que os docentes podem apresentar. A importância de discutir este tema se justifica pelo fato de que para os deficientes, ainda hoje a inclusão não é uma realidade em todas as escolas.

Introdução conceitual. Definição e conceitos da deficiência

    De acordo com Latância, (2001, p.03) a deficiência é um nome dado aos membros da sociedade que apresentam alguma forma de perda, anormalidade, diferenciação de uma estrutura ou funções psicológicas, fisiológicas ou anatômicas. Podendo ser do tipo: física, auditiva, visual, mental ou múltipla, são denominações aplicadas a cada caso, de acordo com a deficiência, ou seja, uma alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo, sendo temporária ou permanente, decorrente de fatores inatos ou adquiridos.

    Mas em meio à sociedade, encontramos na maioria das vezes uma realidade injusta, na qual, as pessoas com necessidades especiais são vistas como “diferentes” ou “anomalias”, como algo fora do normal e muitas vezes por este motivo não são aceitas em meio a um grupo social.

    Normal é a pessoa que se utilizam todos os sentidos e de seu corpo eficiente. Deficiente é a pessoa que não utiliza de um ou mais sentidos, que tenha limitações motoras ou mentais, que tenha um corpo anormal. (ROBERTES apud GAIO, 2006 p.26).

    São utilizadas muitas terminologias por meio de preconceitos, discriminações, estigmas, rotulações, segregações, que são direcionadas a essas pessoas por obterem algum tipo de deficiência. Desta forma são consideradas fora do padrão “normal” de ser humano. É comum ouvir as pessoas se referirem aos deficientes ofensivamente como: ceguinho, surdo, aleijado, manco, retardado etc- sendo todas elas maneiras desrespeitosas, discriminatórias, estigmatizadas, que marcam essas pessoas, transformam e manipulam sua identidade. É esclarecido que alguém com estigma representa:

    Por definição, é claro, acreditamos que alguém com estigma não seja completamente humano. Com base nisso, fazemos vários tipos de discriminações, através das quais efetivamente, e muitas vezes sem pensar, reduzimos suas chances de vida. Construímos uma teoria do estigma, uma ideologia para explicar a sua inferioridade e dar conta do perigo que ela representa, racionalizando algumas uma animosidade baseada em outras diferenças, tais como as de classe. Utilizamos termos específicos de estigma como aleijado, bastardo, retardado, em nosso discurso diário como fonte de metáfora e representação, de maneira característica, sem pensar no seu significado original. (GOFFMAN apud GAIO, 2006, p.28)

    São vistas como pessoas diferentes, onde na maioria das vezes como inferiores, por obterem algumas limitações, ou até mesmo “desvantagens”, comparando-as às pessoas ditas “normais”, assim consideradas pela sociedade.

    Pelo fato de que essas pessoas com necessidades especiais necessitam de maiores cuidados, recursos e de estruturas que possibilitem a eles uma vida mais digna, não significa que são inferiores às demais pessoas, e que por isso estão em desvantagens, eles necessitam desses recursos para que aos poucos e com o apoio de todos se tornem independentes, e possam ter uma melhor convivência no meio social.

    A maior ajuda que podemos oferecer as essas pessoas é o respeito, a compreensão, cooperação, incentivando-as a lutar pelos seus direitos. Direitos sim, pois elas podem e devem ser tratadas e vistas como capazes e com potencialidades apenas diferentes das pessoas normais. Elas também precisam de alimentação, educação, trabalho, lazer, prática de atividades físicas, etc, assim como todos precisamos sem diferenciação. Desta forma, contribuiremos para que ocorra a inclusão e não a exclusão das pessoas.

    O sentido da vida implica a expressão da realidade corporal, do ser humano como corpo vivente, que participa da história e ao mesmo tempo constrói esta história. Tem sido considerado “deficiente” em relação aos “eficientes”, mas capaz de se autoconstruir cognitiva, afetiva e socialmente, na proporção de seus próprios recursos, na busca de adaptação e comunicação com o mundo. (GAIO, 2006, p.17).

    A deficiência é considerada uma diferença que inferioriza e desvaloriza. Assim, essas pessoas são segregadas, separadas, excluídas da sociedade. Todos nós somos diferentes, e nem por isso deixamos de ser eficientes, seria impossível e até mesmo estranho se fôssemos todos iguais, padronizados fisicamente, intelectualmente, se gostássemos somente das mesmas coisas. Portanto, temos nossas diferenças, que apenas precisam ser respeitadas, valorizadas e vistas como algo que está presente em qualquer convivência entre os seres humanos.

    As pessoas com necessidades especiais precisam ter a chance de demonstrar suas qualidades, potencialidades, para poder alcançar seus objetivos. Assim como qualquer outra pessoa tem essa necessidade, a de conquistar seu espaço, seja no trabalho, família ou na sociedade em que vivem. A segregação, ou seja, a separação dessas pessoas com necessidades especiais do convívio social, pode inibir processos necessários para uma melhor qualidade de vida; tais, como a autonomia, a troca de experiências com as demais pessoas, direito à convivência em diferentes ambientes, a prática de atividades, dentre outros.

    Quando essas pessoas estão em meio a um ambiente onde somente se encontram pessoas com as mesmas ou diferentes dificuldades, não estarão se desenvolvendo por completo, pois é preciso haver uma convivência social com a diversidade existente. Essa pessoa com deficiência poderá adquirir apoio, e novas experiências por meio de outras que não possuam tais limitações.

    Um dos maiores problemas é que os próprios pais dessas pessoas com deficiência acreditam que elas só devem freqüentar escolas especializadas, onde estão presentes somente as pessoas iguais a elas ou que possuem algum tipo de dificuldade, dificultando muitas vezes a efetiva inclusão social dos mesmos. Associado a isto, existem diversos profissionais que não estão preparados para lidar com esse público de alunos. Os familiares muitas vezes desenvolvem o sentimento de superproteção da pessoa com deficiência, evitando-se também a freqüência em lugares públicos, para que não sejam alvos do preconceito. Para que se sintam bem, procuram mantê-los sempre segregados em ambientes em que serão melhor vistos e tratados, convivendo de forma adequada. Fazem-no simplesmente com o intuito de entenderem ser um modo de protegerem seus filhos da sociedade dos normais, competitiva, excludente e muito exigente para estas pessoas. Ao contrário do que pensam, essa não é a melhor maneira de proporcionar uma melhor qualidade de vida a seus filhos, onde eles mesmos estão privando-os de seus direitos, o da igualdade, o de serem respeitados, e vistos como seres humanos como outro qualquer.

    Eles precisam sim de mais recursos: de uma infra-estrutura propícia, para que possam aos poucos se tornar independentes. É de direito dessas pessoas que em instituições de ensino formal, principalmente em redes públicas, sejam oferecidas condições adequadas para que elas possam freqüentar as aulas juntamente com as pessoas ditas “normais”.

    Ora, assim sendo, pais, professores e pessoas conscientes de seu dever de cidadãos, precisam estar dispostos a mudanças paradigmáticas profundas e abrangentes em diversos setores e aspectos da sociedade. Para a inclusão ocorrer efetivamente, é necessário a priori que a sociedade em geral procure auxiliar pessoas que possuam maiores necessidades, que as aceitem em um convívio social, desde a comunidade até os contextos ocupacionais, de lazer e educativos.

    Assim, estaremos dispostos a exercer o convívio com as diferenças, respeitando a diversidade humana (GORGATTI E DA COSTA, 2005; FABIANI e VENDITTI JR, 2008) e com isso dando oportunidades e desafios às pessoas com necessidades especiais de enfrentarem esses obstáculos e dificuldades, dando possibilidades e subsídios importantes para que consigam fazer parte de uma sociedade mais igualitária, onde pelo menos os respeitem em suas diferenças e os proporcionem oportunidades.

Iniciando a discussão. Inclusão: será que é possível?

    Ao mencionarmos sobre a “deficiência”, impomos a estas pessoas que elas sempre precisarão de nós e que sozinhas não levarão uma vida “normal” e tranqüila, como qualquer outra pessoa. Isso muitas vezes não é verdade, pois com um pouco de incentivo e persistência, elas conseguem enfrentar os obstáculos e dificuldades muito bem sem ajuda de ninguém, tornando-se assim mais independentes e autônomas em suas ações e decisões sociais.

    Pessoa deficiente é definida como qualquer pessoa incapaz de assegurar por si mesmo total ou parcialmente as necessidades de uma vida individual ou social normal, em decorrência de uma deficiência congênita ou não, em suas capacidades físicas ou mentais. (CENTRO NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL – CENESP, apud LATÂNCIA, 2001, p.04).

    Quando falamos em deficiência, nós os associamos diretamente às comparações com as pessoas ditas normais, que nos servem de padsrões de comportamento e funcionalidade social. Mas o conceito de deficiência seria apenas orgânico (AMARAL, 1996), acarretando algumas incapacidades (temporárias ou permanentes) que poderiam ser adaptadas e supridas em decorrência de outras capacidades que este indivíduo com a deficiência possua. Somente no comparativo social que a pessoa deficiente está em desvantagem com as pessoas ditas normais, uma vez que ainda utilizamos o paradigma da normalidade como padrão social.

    “Certamente, a palavra “deficiente” tem um significado muito forte, pois ela se opõe à palavra “eficiente”, deixando explícito que deficiente antes de tudo, é não ser capaz, não ser eficaz” (RIBAS, apud LATÂNCIA, 2001, p.03).

    O deficiente não quer alcançar o direito de ser igual ao resto da população, mas sim o direito à igualdade social, educação, emprego, saúde, cultura, lazer, e respeitar as suas diferenças.

    Sabemos que os alunos especiais têm o mesmo direito que os alunos “ditos normais”. Sendo assim, podem desfrutar de uma vida decente, tão normal e plena quanto possível. Por isso eles devem ser incluídos nas aulas de ensino formal. Algumas escolas dizem estar preparadas para recebê-los, enquanto outras se consideram inadequadas, havendo a necessidade de algumas adaptações. Com muitas destas desculpas, evitam a presença do aluno com deficiência e passam um “problema” adiante, muitas vezes sem respeitar o direito da pessoa com necessidades especiais de ter o acesso ao ensino fundamental e básico, em qualquer instituição escolar.

    A inclusão das pessoas com necessidades especiais é uma realidade, que deve ser vista como uma revolução, inovação e não como um problema difícil, ou até mesmo impossível de ser enfrentado. Portanto, as instituições de ensino e os profissionais que nelas estão envolvidos devem estar preparados para recebê-los. Os professores precisam ter interesse em querer buscar conhecimentos aperfeiçoando suas práticas com qualidade de ensino, se tornando aptos para responder às necessidades de cada um de seus alunos.

    O professor de Educação Física deve sempre garantir condições de segurança para o aluno com necessidades especiais, fazendo adaptações, criando situações de modo a possibilitar a sua participação, sempre visando todas as possibilidades que favoreçam o princípio da inclusão. Além disso, o professor de Educação Física deve favorecer o desenvolvimento e o aperfeiçoamento motor de seu aluno,. onde se encontram: a força muscular; a coordenação motora; a flexibilidade corporal; o equilíbrio motor; a velocidade e a resistência e além do desenvolvimento motor deve favorecer o desenvolvimento da formação humana e da afetividade dos alunos, como responsabilidade, cooperação, respeito pelos outros, solidariedade, organização, criatividade, confiança em si mesmo. (GALLARDO apud FALKENBACK e MEDEIROS, 2008, [s.p]).

    O sentido de incluir significa integrá-los, educar crianças e jovens “deficientes” dentro de um ambiente não restrito, dentro das possibilidades e necessidades de cada um. Esses indivíduos devem ser motivados e estimulados de maneira eficiente, sendo necessário que também os pais e responsáveis sejam instruídos e preparados.

    O incentivo dos pais é de grande importância para que ocorra a inclusão dessas pessoas com necessidades especiais, pois se os próprios pais os acharem incapazes, e não se importarem com os seus direitos em ter uma vida melhor, com qualidade, sem restrições, estarão privando-os de uma série de experiências importantes para seu desenvolvimento. Dessa forma, paradoxalmente, esses pais contribuirão para a exclusão de seus filhos.

    A superproteção do indivíduo representa uma forma de rejeição e cria condições desfavoráveis para o surgimento de comportamentos associados à autonomia do deficiente (GIMENEZ, 2005, p.95 apud MIGUEL e MACIEL, 2008).

    Até mesmo pelo fato de muitas vezes superproteger seus filhos, tomando certas atitudes por eles, os pais podem atrapalhar no seu desenvolvimento, fazendo com que eles não adquiram a autonomia necessária para serem aceitos na sociedade e tomarem suas próprias decisões.

    Uma grande dificuldade que quase sempre ocorre é a do preconceito dos pais de alunos sem deficiências, ou os ditos “normais”, por não admitirem que seus filhos estudem juntamente com pessoas com necessidades especiais, por acharem que as escolas diminuirão seu nível de qualidade de ensino. Trataremos deste assunto em outro capítulo.

A inclusão dos alunos com necessidades especiais nas aulas de Educação Física de ensino formal

    Aranha apud Alves (2006, [s.p]) diz que “[...] escola inclusiva é, aquela que garante a qualidade de ensino educacional a cada um de seus alunos, reconhecendo e respeitando a diversidade e respondendo a cada um de acordo com suas potencialidades e necessidades”.

    Dificuldades, limitações, deficiências existem em todos os seres humanos embora de formas diferentes. A sociedade e principalmente as escolas de Ensino Formal devem incluir a todos sem restrição. Os alunos em geral devem aprender juntos sempre que possível, apesar das dificuldades que podem ocorrer.

    Participar de um processo inclusivo é estar predisposto a considerar e a respeitar as diferenças individuais, criando a possibilidade de aprender sobre si mesmo e sobre cada um dos outros em uma situação de diversidade de idéias, sentimentos e ações. (GORGATTI E DA COSTA, 2005, p.19).

    Oliveira (2002, [s.p]) ressalta que:

    A maioria dos professores tem conhecimento das novas perspectivas da educação, afirmam “trabalhar com a Educação Inclusiva em suas aulas”, e ratificam em suas falas que “nenhum de seus alunos Portadores de Necessidades Educativas Especiais são dispensados das suas aulas”. Estes professores declaram que, “quando necessário eles também fazem adaptações para que esses alunos participem”, sendo assim pensam que a participação deles é importante fazendo com que haja uma integração já que eles realizam atividades junto com outros alunos.

    O profissional de Educação Física deve estar preparado para abranger conteúdos diversificados adaptando-os nos vários estilos de aprendizagem, podendo assim satisfazer todos os alunos garantindo uma educação igualitária a todos, sem exclusão. A escola e os profissionais que nela trabalham precisam atender a todas as necessidades dos alunos tendo assim que criar estratégias de ensino para que não haja a exclusão. Além disso, o educador deve estar preparado para aceitar as diferenças.

    Os parâmetros curriculares nacionais (PCNS), dizem que a aula de Educação Física deve favorecer a construção de uma atitude digna e de respeito próprio por parte das pessoas com necessidades especiais, e a convivência com ele pode possibilitar a construção de atitudes de solidariedade, respeito e aceitação, sem preconceitos (BRASIL,1998, [s.p]).

    Seybold apud Oliveira (2002, [s.p]) ressalta considerações a respeito da Educação Física escolar:

    Partindo do princípio da adequação à criança, deve favorecer a mesma, um pleno desenvolvimento, de acordo com a sua necessidade e sua capacidade de aquisição de movimentos, pois parte do princípio que elas têm necessidade natural de movimento. Então, o professor não pode dispensar a oportunidade destes alunos em participar da aula, pois mesmo o aluno sendo deficiente físico, mental, auditivo, visual, múltipla e até mesmo apresentando condutas típicas (que são os portadores de síndromes, quadros psicológicos, neurológicos ou psiquiátricos) eles têm necessidades de fazer atividades que desenvolva a sua relação social, motora e afetiva.

    É muito importante que nós sejamos guiados pela ética, solidariedade, respeito às diferenças, diversidade das pessoas, sem preconceitos e discriminação em nossas ações, rumo à direção de uma escola para todos, que procura acima de tudo fazer com que seus alunos sejam pessoas melhores perante a sociedade, sociedade essa que já passa por muitas dificuldades.

    Soares apud Marques, Silva e Silva (2008, [s.p]) diz que a Educação inclusiva enfatiza a necessidade de integrar todas as crianças com necessidades em escolas regulares, inclusive as crianças com necessidades especiais e para que os educadores possam receber essas crianças, “[...] é lógico que teremos de ter uma Pedagogia voltada e centrada na criança, que atenda a todos sem descriminação e sem a colocação de obstáculos que possam comprometer o processo de ensino-aprendizagem” (MARQUES, SILVA e SILVA, 2008, [s.p.]).

    A inclusão seria uma conseqüência de uma escola de qualidade, podendo dar a eles oportunidades de conhecerem a si próprios e aos outros, respeitando o próximo, as diferenças e convivendo na diversidade humana. A inclusão é um direito das pessoas com necessidades especiais. É também um dever da sociedade mostrar-se competente para educar e propiciar condições de sobrevivência digna para essas pessoas. Talvez a escola deva ser a primeira Instituição a dar este exemplo (MIGUEL e MACIEL, 2008). E também oferecendo a eles um ensino de qualidade onde possam adquirir conhecimentos dando significados para o seu desenvolvimento. Mantoan (2001, [s.p]) justifica que:

    O sucesso da inclusão de alunos com deficiência na escola regular decorre, portanto, das possibilidades de se conseguir progressos significativos desses alunos na escolaridade, por meio da adequação das práticas pedagógicas à diversidade dos aprendizes. E só se consegue atingir esse sucesso, quando a escola regular assume que as dificuldades de alguns alunos não são apenas deles, mas resultam em grande parte do modo como o ensino é ministrado, a aprendizagem é concebida e avaliada. Pois não apenas as deficientes são excluídas, mas também as que são pobres, as que não vão às aulas porque trabalham, as que pertencem a grupos discriminados, as que de tanto repetir desistiram de estudar.

    Se desde cedo as crianças ditas “normais” conviverem e souberem lidar com as diferenças das pessoas, não somente das com necessidades especiais, mas com toda a diversidade existente na sociedade, se tornarão adultos diferenciados, com certeza bem melhores, com mais dignidade, capacidade em entender as dificuldades que essas pessoas enfrentam para obter seus direitos em ter uma vida normal, com qualidade. Pois saberão respeitá-las e aceitá-las, diferente de nós que nos empenhamos para aceitar essa nova realidade.

A Inclusão Escolar e sua Estrutura

    A educação inclusiva tem que fazer parte da vida de todos. Nesse meio, devemos aprender a conviver com as diferenças do próximo e ajudar quando for preciso, afinal a educação é um direito de todos.

    Inclusão total e irrestrita é uma oportunidade que temos para reverter à situação da maioria de nossas escolas, as quais atribuem aos alunos as deficiências que são do próprio ensino ministrado por elas – sempre se avalia o que aluno aprendeu, o que ele não sabe, mas raramente se analisa “o que” e “como” a escola ensina, de modo que os alunos não sejam penalizados pela repetência, evasão, discriminação, exclusão, enfim. (MANTOAN, 2003, p.28).

    Geralmente o diferente é representado como aquilo que é difícil de lidar, como o desconhecido ou também as pessoas com necessidades especiais. E isso é percebido não só na escola, mas também em nosso cotidiano. Percebe-se uma intolerância a quem tem uma cultura diferente, a quem tem outra religião, outra opção política, a quem fala de outro modo, a quem tem outro ritmo de aprendizagem.

    Stainback apud Miguel e Maciel (2008) diz que na maioria das reformas de reestruturação, imagina-se que novas estruturas resultem em novos comportamentos e culturas, mas a maioria não consegue isso. Não há dúvida sobre um relacionamento recíproco entre a mudança estrutural e cultural, mas ele é muito mais poderoso quando os professores e os diretores começam a trabalhar de novas maneiras apenas para descobrir que as estruturas escolares estão inadequadas para as novas orientações e devem ser alteradas.

    De acordo com diversos autores aqui citados, podemos dizer que a inclusão escolar e sua estrutura irão se adaptar nos modos adequados quando as pessoas responsáveis da escola perceberem que é preciso renovar para assim possibilitar aos alunos uma escola inclusiva de acordo com as necessidades dos alunos especiais.

    A escola além de fazer adaptações físicas precisa ter um bom projeto pedagógico e uma equipe disposta e qualificada para atender a todos os alunos. É preciso que a escola procure inovar os seus métodos de ensino, materiais, e além de ter todo um conteúdo preparado é importante acima de tudo o respeito das pessoas com a deficiência do próximo.

    Como bem colocado por Freire apud Barroso (2008, [s.p]):

    A educação é uma forma de intervenção no mundo sendo que é através da escola que a sociedade adquire, fundamenta e modifica conceitos de participação, colaboração e adaptação. Embora outras instituições como a família ou a igreja tenha papel muito importante, é da escola a maior parcela. Isto torna a questão da integração escolar das pessoas portadoras de deficiência um ponto decisivo, não só em curto prazo, mas também no que se refere à organização das gerações futuras.

    É importante que a integração escolar aconteça não só para os alunos especiais, mas também para os alunos ditos normais, que haja o respeito entre eles, a empatia e amizade, o companheirismo nesta caminhada; e que eles se ajudem entre si rumo à inclusão.

    Stainback apud Marques, Silva e Silva (2008, [s.p]), relata sobre o benefício da inclusão considerando que a sala de aula que consegue adaptar-se às necessidades óbvias de um aluno invariavelmente beneficia pessoas cujas necessidades não são tão óbvias. Se não houver outra utilidade, adaptar as escolas e as turmas para incluir todos significa dizer, implicitamente, "a escola pertence a todos" (STAINBACK apud MARQUES, SILVA e SILVA, 2008, [s.p.]). Ressalta ainda que: “Qualquer cultura que diga "você é importante", aumenta a probabilidade de seus membros serem capazes de dizer o mesmo uns para os outros e para si mesmos” (STAINBACK apud MARQUES, SILVA e SILVA, 2008, [s.p.]).

    Para construirmos uma escola que seja inclusiva, precisamos ter autonomia, buscar novos conhecimentos e saber lidar com as mais diversas situações.

    Stainback apud Marques, Silva e Silva (2008, [s.p]), diz:

    [...] uma escola somente poderá ser considerada inclusiva quando estiver organizada para favorecer a cada aluno; independentemente de etnia, sexo, idade, deficiência, condição social ou qualquer outra situação. Um ensino significativo é aquele que garante o acesso ao conjunto sistematizado de conhecimentos como recursos a serem mobilizados.

    A vontade de querer ver acontecer ou de abrir espaço para novas possibilidades inclusivas em detrimento ao tradicionalismo dos padrões normais excludentes, deve ser muito maior que o medo do fracasso.

    Aranha apud Alves (2006, [s.p]) pensa

    A escola que pretende ser inclusiva deve se planejar para gradativamente implementar as adequações necessárias, para garantir o acesso de alunos com necessidades educacionais especiais à aprendizagem e ao conhecimento.

    No entanto, a escola precisa ser mais democrática e flexível, pressupostos fundamentais à escola inclusiva, com suas adaptações necessárias para seus alunos. Já nós, como educadores, precisamos procurar atualizações nos estudos, capacitações e desenvolvimento de métodos que nos preparem para receber estes alunos. Assim, iremos construir uma verdadeira escola inclusiva de boas adaptações e futuros vencedores.

    Alves (2006, [s.p]) ressalta que a luta em se ter uma escola inclusiva de verdade é grande e de nada adianta colocar a criança especial dentro de uma classe comum, se a deixarem segregada, exclusa, vegetando em sala de aula. Reforça ainda que:

    A pessoa com deficiência tem que se sentir valorizada, importante, inteligente, capaz igual aos demais estudantes. Cada um possui limites, até os “ditos normais” também possuem, o que o professor não pode é enfatizar a limitação das pessoas e sim lhes mostrar que são capazes de evoluir sempre, que cada conquista não é o ponto final, é apenas o estímulo para buscar cada vez mais. (ALVES, 2006, [s.p.]).

    Para que haja realmente a inclusão, é necessária a colaboração de todos, e que essas pessoas envolvidas se preocupem com a participação das pessoas com necessidades especiais nas atividades, sem diferenciação das demais. De acordo com Alves (2006, [s.p]):

    [...] não adianta aceitar o aluno especial na escola, e deixá-lo dentro da sala de aula sem participar das práticas pedagógicas. O aluno tem que ser incluído não somente na escola, mas sim em todas as suas disciplinas, podendo se sentir valorizado, para irem em busca de seu aprendizado e desenvolvimento.

    Para Schneider (2003, [s.p]):

    A política da inclusão dos alunos na rede regular de ensino que apresentam necessidades educacionais especiais, não consiste apenas na permanência física desses alunos, mas o propósito de rever concepções e paradigmas, respeitando e valorizando a diversidade desses alunos, exigindo assim que a escola defina a responsabilidade criando espaço inclusivo. Dessa forma, a inclusão significa que não é o aluno que se molda ou se adapta à escola, mas a escola consciente de sua função, coloca-se a disposição do aluno.

    A autora também concorda que o papel da escola inclusiva é reconhecer e atender a essa diversidade, aceitando as diferenças existentes em seus alunos, proporcionando a eles atividades que respeitem os diferentes ritmos de aprendizagem, adquirido através de modificações curriculares, que buscam estratégias, recursos necessários para a realização dessas atividades inclusivas de ensino, assegurando assim um ensino de qualidade para todos (SCHNEIDER, 2003, [s.p]).

    Freitas e Castro (2004, [s.p]) também ressaltam que:

    Nessa perspectiva de transformação e atualização, não basta só o professor buscar alterar suas práticas, mas a escola, o contexto onde este professor está inserido deve sofrer alterações. Os professores não podem mudar sem uma transformação nas instituições em que trabalham, nem as escolas podem fazer mudanças sem o empenho, especial, dos professores. Deve haver uma articulação entre a escola, seus projetos e seus professores, pois um depende do outro. O investimento que a escola faz em seu professor, converte-se para o futuro da própria instituição.

    Os autores (Freitas e Castro, 2004, [s.p]) dizem que não depende só do professor para ocorrerem as mudanças necessárias para a inclusão. Toda a escola deve estar envolvida neste processo, pois é um grupo no qual todos os funcionários da escola devem ser mobilizados a colaborarem e a instituição adequar-se à novas estruturas que disponibilize acesso livre a essas pessoas, para que eles consigam também sua independência.Todos devem fazer a sua parte, todo o grupo envolvido, na busca de atingir o melhor resultado para esse objetivo, não somente suprir algumas necessidades sem um ideal. Ainda Alves (2006, [s.p]) diz que:

    O professor que enfatiza o fracasso da outra pessoa, que é indiferente, não pode ser chamado de educador. Não se deseja de forma alguma, dizer que ser professor é fácil ou de que ter crianças totalmente diversas e com necessidades especiais em sala é tranqüilo fácil de trabalhar, que todos sabem lidar perfeitamente, não é isso. Mas o que não se pode aceitar é o docente que se deixa abater diante das dificuldades, que não busca ajuda, esse sim é um fracassado, pois prefere o erro (e muitas vezes bitolar e acabar com a vida de uma criança) do que ter a humildade de pedir ajuda.

    Segundo o autor, podemos dizer que, não somente as instituições devem disponibilizar os recursos necessários a esses alunos, mas também os profissionais devem se adequar às suas necessidades, inovando sempre seus conhecimentos. Sabemos que não é fácil trabalhar com a inclusão nas escolas, mas precisamos estar preparados para incluir estes alunos, independente da área de atuação, porque poderemos nos deparar com essa diversidade que hoje é uma realidade visível em qualquer ambiente, seja nas escolas, academias, clubes, no trabalho, etc.

    Quando sentimos dificuldades em agir com certas questões, devemos primeiramente procurar ajuda, dos colegas de trabalho, grupos de apoio, das instituições, etc, que podem nos auxiliar, para uma melhora na qualidade de ensino. E jamais desistir diante das dificuldades existentes, deixando de colaborar com o aprendizado desses alunos. Schneider (2003, [s.p]) ainda nos diz que:

    O sistema escolar, para construir uma comunidade escolar inclusiva, é preciso o planejamento e o desenvolvimento do currículo que conduza aos resultados esperados pelo Estado e pelos setores educacionais. Preparar a equipe para trabalhar de maneira cooperativa e compartilhar conhecimentos para melhorias para um progresso contínuo. Investimento em tecnologia para dar apoio, servindo como um importante dispositivo da comunicação para conectar a escola à comunidade e o ensino dos resultados esperados, além de grupos de professores atuando como planejadores, instrutores e avaliadores de programas, que conduzam a uma ação pedagógica inclusiva.

    De acordo com a autora, ressaltamos que o currículo deve passar por um replanejamento ou ainda uma ressignificação, que indique progressões importantes para a melhoria no ensino, sendo reconhecidas pelos setores educacionais, como importantes para o desenvolvimento dos alunos.

    As instituições de ensino também devem se preocupar e investir em uma melhor preparação, tanto dos profissionais, quanto da estrutura da escola, proporcionado assim melhores condições a esses alunos. Os profissionais devem procurar inovar e compartilhar seus conhecimentos, sendo auto-avaliadores, que planejam e fazem suas adaptações, com intuito de sempre melhorar a qualidade do ensino e da atividade docente.

    Albuquerque apud Cores (2006, [s.p]) fala da inserção de pessoas com deficiência no ambiente escolar, apontando que:

    Essa inclusão deve se dar pela adaptação de todo sistema às necessidades de cada educando, o que não pode representar o nivelamento do ensino em uma base inferior, mas um trabalho com criatividade e flexibilidade que permita a real participação e a aprendizagem de todos. O ambiente desejado e valorizado é o da diversidade, na crença que as trocas sociais dadas neste ambiente heterogêneo irão enriquecer todo processo de ensino aprendizagem, não apenas nos aspectos dos conteúdos, como também nos aspectos da consciência cidadã.

    Ou seja, acreditamos que o professor deve estar ciente sobre o desenvolvimento e a aprendizagem de todos os seus alunos. É o profissional quem deve encontrar estratégias, aplicando-as em suas aulas nas quais todos possam ser incluídos, participando ativamente, e que favoreçam o desempenho de todos, sem exceção.

    Vigotsky apud Cores (2006, p.44) destaca que em um mesmo indivíduo um tipo de intelecto pode estar bem desenvolvido e ao mesmo tempo, outro tipo pode estar muito deficitário. As investigações experimentais confirmam a existência de diferentes tipos de intelecto e de deficiências intelectuais.

    Podemos ressaltar de acordo com o autor que cada um tem a sua forma de interpretar a explicação do professor, ou seja, cada um tem o seu jeito de aprender, de assimilar seus conhecimentos adquiridos em uma aula. Pode acontecer de um aluno ter mais facilidade de interpretação do que o outro em uma mesma explicação.

    E, às vezes, o professor, quando se depara com esta situação, acaba culpando o aluno por não ter conseguido aprender, sendo que ele poderia rever seus procedimentos e metodologias e se a maneira que ele está explicando está realmente de acordo, se facilitou ou dificultou esse aprendizado. Essa é uma reflexão que todo profissional deve fazer no término de suas aulas, pois é necessário que ele avalie tanto o desenvolvimento do aluno durante a aula, como também seu método de ensino, e procurar melhorá-lo a cada aula. O que ocorre infelizmente é que o profissional não quer enxergar os seus erros, preferindo culpar seu aluno por não ter ele realizado a atividade como o esperado.

    Os professores aprendem ao mesmo tempo que os estudantes atualizam continuamente tanto os seus saberes 'disciplinares' como suas competências pedagógicas."(...) "A partir daí, a principal função do professor não pode mais ser uma difusão dos conhecimentos, que agora é feita de forma mais eficaz por outros meios. Sua competência deve deslocar-se no sentido de incentivar a aprendizagem e o pensamento. (LÉVY apud GALVÃO FILHO, 2002, [s.p]).

    De acordo com o autor, o professor não deve somente basear-se em livros. Ele deve aprimorar a transferência de conhecimentos utilizando outros métodos e ferramentas em busca da aprendizagem de seus alunos.

Considerações finais

    Neste trabalho, procuramos considerar alguns itens que podem facilitar e dificultar a inclusão na Educação Física na escola de ensino formal.

    A formação profissional é de extrema importância não somente para que ocorra a inclusão dos alunos com necessidades especiais, mas também para trazer benefícios ao seu desenvolvimento. O profissional deve ter em mente estratégias importantes para dar oportunidades a todos, de participar ativamente das atividades propostas, como por exemplo: fazer adaptações respeitando as dificuldades de cada um; evitando atividades praticas de caráter competitivo; e a cada aula fazer repetições dos exercícios até que o aluno atinja o objetivo proposto.

    O profissional precisa estar ciente das dificuldades e limitações que alguns alunos irão apresentar em suas aulas. Deste modo com sua aceitação e conscientização a respeito destas dificuldades e limitações, o professor deve criar estratégias possibilitando a participação ativa dos mesmos em suas aulas. Sendo assim o Profissional contribuirá para o desenvolvimento de seus alunos nos aspectos: físico; emocional; intelectual e psicológico.

    O quadro 01 a seguir, fruto destes estudos e de toda a discussão ocorrida no período de preparação do trabalho final de conclusão de curso, que dera origem a este paper, pode, resumidamente, apontar alguns itens que consideramos como facilitadores e outros como dificultadores do processo de inclusão efetiva das pessoas com necessidades especiais na educação física escolar:

Itens Facilitadores

Itens Dificultadores

Formação do Profissional

Despreparo do Profissional

Conhecimento

Preconceito

Planejamento

Medo

Aceitação e Conscientização

Falta de Interesse

Possibilidades e Oportunidades

Superproteção

Socialização

Limitações

Quadro 01. Esquema de itens facilitadores e dificultadores, levantados a partir

das discussões e elaboração deste ensaio (MIGUEL e MACIEL, 2008, p. 27).

    Portanto, o profissional deve fazer um replanejamento de suas aulas, adaptando-as, adequando-as a todos os seus alunos, pois o professor precisa também adequar sua aula ao aluno e não somente o aluno adequar-se à aula do professor, colocando-se a disposição, para qualquer necessidade que o aluno possa apresentar (winnick, 2004).

    É importante que o professor em suas aulas trabalhe com os alunos valores como: a solidariedade, cooperação, respeito, incluindo a colaboração de tutores, grupos, equipes de apoio, etc. Procurando fazer atividades onde há a necessidade de se trabalhar a coletividade para que eles se conheçam, tenham contatos uns com os outros e busquem os resultados para o que foi proposto.

    Desta forma, os que possuem certas dificuldades, poderão receber ajuda dos demais e ao mesmo tempo desenvolverão a socialização e um aspecto importante para que não ocorra o preconceito entre eles, que eles saibam respeitar a diferença de cada um – o convívio com as diferenças.

    Mas infelizmente ainda ocorre a falta de interesse dos profissionais da área em procurar novas possibilidades, novos conhecimentos, estando pouco dispostos ou sem a motivação necessária a colaborar para o aprendizado de seus alunos. Isto ocorre muitas vezes pelo medo da pessoa fora do “padrão normal”, do diferente, de saber lidar com este fator que sai fora da rotina escolar e exige muita adaptabilidade, flexibilidade e persistência dos educadores.

    Os pais destes alunos também muitas vezes não se interessam em matricular seus filhos no ensino formal e sim no ensino especializado, pois acreditam, que a segregação dos mesmos no ambiente onde haja pessoas com os mesmos problemas ou outros, seria a melhor opção para protegerem seus filhos. Fazem-no pensando que eles não se sintam inferiores no mundo social normal, ficando nas instituições com seus iguais, segregados e desprovidos também de conviverem nas diferenças e aceitarem também outros indivíduos que não possuam aquelas necessidades especiais.

    É preciso combater a ignorância e o preconceito, nos cunhos sociais, educacionais, profissionais e religiosos. Certas atitudes acontecem pelo fato de não termos conhecimentos necessários sobre os deficientes e as etiologias dos tipos de deficiência. É necessário que se busque informações, esclarecimentos para que ocorra uma visão mais ampla sobre o assunto, evitando-se as incertezas, os pré-conceitos e os estigmas voltados às pessoas com deficiência.

    Pelo fato de haver o preconceito, muitas vezes as pessoas com necessidades especiais evitam sua exposição, como prova de que eles mesmos se inferiorizam, ou muitas vezes os próprios pais e responsáveis legais, não acreditando no potencial de seus filhos os privam dos desafios e frustrações, de que eles podem e devem obter uma vida em comum com as demais pessoas. Isso se dá pelo fato de sempre quererem protegê-los, o que muitas vezes acaba sendo excessivamente prejudicial.

    A família é um dos maiores apoios que estas crianças precisam ter, é com ela que iremos conseguir aprender nossas individualidades e independência, por isso os pais destes alunos precisam estar conscientes e mobilizados, para apoiar e trabalhar em conjunto para o desenvolvimento dos mesmos e para providenciar que estes indivíduos participem e usufruam do processo de inclusão. Portanto há a necessidade da conscientização de todos sobre o que é a inclusão, o quanto ela é importante para a vida dessas pessoas com necessidades especiais. A inclusão só pode ocorrer quando há um grupo todo envolvido (as instituições, infra-estrutura, os profissionais, os pais, etc).

    As próprias pessoas com deficiências precisam lutar pelos seus direitos, promovendo o empowerment (SASSAKI, 1997) em proporcionar novas oportunidades de vivência, que trazem bem estar e benefícios a estas pessoas. Sendo assim, a escola inclusiva é aquela que abre espaço para todas as crianças inclusive as com necessidades especiais.

    Uma escola onde seu corpo docente se adéqua às necessidades destas crianças para que sejam incluídas independentes de qualquer problema que ela possa apresentar. É este nosso desafio! Vamos em frente!

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