Percepção do atleta acerca de sua aptidão para competição Athlete’s perception about the apptitude to competition Percepción del atleta acerca de su aptitud para la competencia |
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*Graduando em Licenciatura Plena em Educação Física **Professor Orientador da disciplina de Prática de Pesquisa Universidade de Caxias do Sul (Brasil) |
Felipe Moreira de Carvalho* Daiane Toigo Trentin** |
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Resumo O atleta deve conhecer-se por completo, desde suas capacidades até suas habilidades, desenvolvendo assim seu conceito, sua auto percepção. O objetivo desse estudo com jovens atletas do programa UCS Olimpíadas, é descobrir qual é a percepção acerca de sua aptidão para a competição. O instrumento utilizado para a coleta de dados foi o questionário de Atitude para a Competição. Conclui-se que a maioria dos atletas se mostrou seguro de suas próprias forças, valorizou altamente as forças de seus adversários, mostrou um grande desejo de competir e avaliaram altamente suas possibilidades orientando-se pela opinião dos outros. Sugere-se que mais estudos sejam realizados para que se realize um melhor trabalho no treinamento desportivo visando rendimento do atleta. Unitermos: Psicologia do Esporte. Auto percepção. Jovens atletas.
Abstract The athlete must know his/herself at all, since your capacities until his/her abilities, development then his/her concept, his/her self perception. The aim of this study with young athletes of UCS Olympics program is to search wich is the perception about the aptitude for the competition. Attitude for the Competition questionnaire was the instrument used to collect data. It was conclude that most of athletes indicate confidant about his/her strengths, high valued the strengths of his/her opponents, reveal a great desire to compete and high evaluated his/her possibilities guided by others opinions. Further studies are required to accomplish a better work on sports training aiming the athlete’s performance. Keywords: Sport Psychology. Self perception. Young athletes. |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 131 - Abril de 2009 |
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Introdução
Após mais uma bem sucedida edição dos Jogos Olímpicos, surge uma questão pertinente: qual a diferença dos grandes atletas para atletas regulares? Podemos observar diversas performances de grandes atletas, como Michael Phelps, Usain Bolt e Yelena Isinbayeva. Foi possível observar que um dos aspectos que eles tiveram de semelhante foi a percepção de seus potenciais e até onde poderiam alcançar seus objetivos, sabendo usá-los. Porém observamos também que outros atletas tiveram essa mesma percepção, mas não obtiveram êxito suficiente para realizar o mínimo possível do que eram capazes. Mas de que forma isso foi alcançado pelos grandes atletas?
Pressão, confiança, ansiedade, descrença, medo, são algumas das questões que geralmente indagamos quando nos deparamos a insucessos. A psicologia do esporte, mesmo que pouco estudada e usada para este fim, vem com este objetivo de complementar a preparação dos atletas para competições de alto nível, afim de solucionar questões que possam por ventura prejudicar o rendimento físico do atleta. Samulski (2000) aponta que a melhoria planejada e sistemática das capacidades e habilidades psíquicas, a estabilização e otimização do comportamento na competição, a aceleração e otimização dos processos de recuperação psicológica e a otimização dos processos de comunicação social são alguns dos objetivos que podem ser alcançados por meios de medidas psicológicas de treinamento. Apesar de parecer ser consensual associar à prática regular de atividade física diversos benefícios de natureza psicológica, a investigação no domínio das auto-percepções físicas pode considerar-se ainda como insuficiente (Fonseca & Fox, 2002).
Segundo Bara Filho & Ribeiro (2005), conhecer o atleta e suas características psicológicas vem tornando-se uma das grandes necessidades da evolução científica do esporte competitivo. O trabalho psicológico além de desenvolver habilidades em equipes desportivas, realça o desenvolvimento de atletas individuais, junto com a saúde mental (Kornspan & Duve, 2006). De acordo com Santos (200-), preparação psicológica deve se constituir uma parte permanente do treinamento esportivo de qualquer atleta, através de intervenções organizadas sistematicamente, realizadas por métodos que desenvolvam uma sucessão de atos que visem o melhor desempenho esportivo. Este autor define que a aptidão de um atleta se constitui de suas capacidades físicas e psicológicas, abrangendo assim a totalidade do atleta. Na busca por respostas que venham auxiliar nesse estudo, citamos Willvock & Valentini (2007), que em um estudo com crianças em idade escolar sobre as suas percepções de competências atléticas demonstram desempenho motor mais elevado as quais não desenvolvem essa percepção.
Samulski (2000), explica que através do treinamento psicológico em alto nível o atleta deve aprender a se controlar (sem ajuda externa) nas situações extremas e difíceis de treinamento e de competição, a fim de evitar reações psicofísicas exageradas (como ansiedade e raiva). O atleta por fim deve conhecer-se por completo, desde suas capacidades até suas habilidades, desenvolvendo assim seu conceito, sua auto percepção.
Assim, o objetivo, através desse estudo com atletas em idade escolar, é descobrir qual é a percepção deste atleta acerca de sua aptidão para a competição. Justifica-se a realização para que futuramente esses atletas não venham a ser prejudicados por razões psicológicas não avaliadas e trabalhadas. De acordo com Marques (2000) ao realizar esse tipo de mediação, o trabalho contribuirá para o desenvolvimento integral do indivíduo nos aspectos: social, motor, cognitivo e principalmente psicológico, ao considerar as possíveis repercussões de uma prática inadequada, sucessos e fracassos diante da realização de determinada tarefa.
Metodologia
Segundo Gil (2002) este tipo de estudo é caracterizado como uma pesquisa aplicada, de caráter quantitativo, descritiva e de levantamento.
A amostra foi constituída de 78 sujeitos dos quais 41 meninos e 37 meninas, atletas de Vôlei feminino, Vôlei masculino, Futsal masculino, Futsal feminino, Handebol feminino, Basquete Masculino, Atletismo feminino/ masculino e Natação feminino/masculino. Foram utilizados 10 atletas de cada de cada modalidade (oito na natação), com idades entre 13 e 17 anos, integrantes do Programa UCS Olimpíadas, que pelo menos já tenham competido pelo menos uma vez e que estejam treinando no ano vigente.
O instrumento utilizado para a coleta de dados foi o questionário, de Atitude para a Competição (APC) (Colectivo de Autores, 2002). A versão original é em espanhol traduzida pelo autor desta pesquisa. O questionário é formado por 28 perguntas fechadas nos quais os resultados apontam questões de auto percepção de sua aptidão no esporte. Essas questões correspondem a quatro categorias de análise: Certeza de suas próprias forças; Valorização das forças dos adversários; Significado da competição e Orientação segundo a opinião dos outros.
O procedimento para aplicação do teste será: antes do treinamento de cada esporte será entregue o teste APC para cada atleta com a descrição do questionário no mesmo no documento, sendo feita uma explicação sobre o objetivo do estudo breve para o esclarecimento de qualquer questão que venha a surgir. Foi-lhes ditos que não haviam respostas certas ou erradas, e que respondessem individualmente. Foi assegurado a todos o sigilo de suas respostas. Apesar do questionário ser auto-aplicável, contando com as instruções necessárias para que possam ser respondidos, o autor desta pesquisa esteve presente durante toda a aplicação para retirar eventuais dúvidas ou realizar esclarecimentos que se fizessem indispensáveis para a pesquisa. Os atletas preencherão na hora com a presença do pesquisador. Um tempo médio de 12 minutos foram suficientes para concluir essa atividade.
Análise e discussão dos resultados
As 28 questões que compreendem o questionário de como o atleta se sente disposto ou apto para a próxima competição serão analisados em categorias. A apresentação dos resultados é dividida em:
Certeza de suas próprias forças;
Valorização das forças dos adversários;
Significado da competição e
Orientação segundo a opinião dos outros. Dentro dessas categorias, os resultados serão avaliados de acordo com as análises na tabela abaixo.
CF |
Certeza de suas próprias forças |
Seg |
Seguro de suas forças |
Méd |
Incerteza |
Não |
Crê não estar preparado p/ competição |
|
|
VA |
Valorização das forças dos adversários |
Sub |
Subvalorizam as forças do adversário |
Igual |
Igual possibilidade frente aos adversários |
Alta |
Valorizam altamente as forças do adversário |
|
|
SC |
Significado da competição |
Pouc |
Pouco desejo de participar da competição |
Méd |
Desejo é intermediário |
Gran |
Grande desejo de participar da competição |
|
|
OO |
Orientação segundo a opinião dos outros |
Alta |
Valorizam altamente suas possibilidades |
Méd |
Valorização intermediária |
Baix |
Baixa valorização de suas possibilidades |
Tabela 1. Legenda dos tópicos e abreviaturas utilizadas
A seguir serão apresentados os resultados divididos por cada esporte: Atletismo feminino e masculino, Natação feminino e masculino, Handebol feminino, Vôlei feminino, Vôlei masculino, Futsal feminino, Futsal masculino e Basquete masculino. Foram analisados os questionários de dez atletas por esporte exceto Natação que foi analisado oito questionários. A tabela abaixo ilustra os resultados obtidos em cada esporte.
Atletismo Fem/Masc |
||||||||
CF |
|
VA |
|
SC |
|
OO |
|
|
Seg |
100% |
Sub |
|
Pou |
|
Alta |
30% |
|
Méd |
|
Igual |
70% |
Méd |
10% |
Méd |
30% |
|
Não |
|
Alta |
30% |
Gran |
90% |
Baix |
40% |
|
Natação Fem/Masc |
||||||||
CF |
|
VA |
|
SC |
|
OO |
|
|
Seg |
75% |
Sub |
12,5% |
Pou |
|
Alta |
62,5% |
|
Méd |
12,5% |
Igual |
12,5% |
Méd |
12,5% |
Méd |
|
|
Não |
12,5% |
Alta |
75% |
Gran |
87,5% |
Baix |
37,5% |
|
Handebol Fem. |
||||||||
CF |
|
VA |
|
SC |
|
OO |
|
|
Seg |
70% |
Sub |
|
Pou |
|
Alta |
30% |
|
Méd |
20% |
Igual |
50% |
Méd |
|
Méd |
50% |
|
Não |
10% |
Alta |
50% |
Gran |
100% |
Baix |
20% |
|
Vôlei Masc. |
||||||||
CF |
|
VA |
|
SC |
|
OO |
|
|
Seg |
90% |
Sub |
|
Pou |
|
Alta |
60% |
|
Méd |
10% |
Igual |
30% |
Méd |
40% |
Méd |
20% |
|
Não |
|
Alta |
70% |
Gran |
60% |
Baix |
20% |
|
Vôlei Fem. |
||||||||
CF |
|
VA |
|
SC |
|
OO |
|
|
Seg |
100% |
Sub |
|
Pou |
|
Alta |
20% |
|
Méd |
|
Igual |
30% |
Méd |
20% |
Méd |
20% |
|
Não |
|
Alta |
70% |
Gran |
80% |
Baix |
60% |
|
Futsal Fem. |
||||||||
CF |
|
VA |
|
SC |
|
OO |
|
|
Seg |
70% |
Sub |
10% |
Pou |
|
Alta |
20% |
|
Méd |
20% |
Igual |
20% |
Méd |
|
Méd |
20% |
|
Não |
|
Alta |
70% |
Gran |
100% |
Baix |
60% |
|
Futsal Masc. |
||||||||
CF |
|
VA |
|
SC |
|
OO |
|
|
Seg |
100% |
Sub |
|
Pou |
|
Alta |
50% |
|
Méd |
|
Igual |
20% |
Méd |
|
Méd |
40% |
|
Não |
|
Alta |
80% |
Gran |
100% |
Baix |
10% |
|
Basquete Masc. |
||||||||
CF |
|
VA |
|
SC |
|
OO |
|
|
Seg |
100% |
Sub |
|
Pou |
|
Alta |
40% |
|
Méd |
|
Igual |
40% |
Méd |
|
Méd |
50% |
|
Não |
|
Alta |
60% |
Gran |
100% |
Baix |
10% |
Tabela 2. Resultados por distinção de esportes
A tabela abaixo ilustra os resultados obtidos nos esportes individuais e coletivos.
Esportes Individuais |
|||||||
CF |
|
VA |
|
SC |
|
OO |
|
Seg |
89% |
Sub |
5,5% |
Pou |
|
Alta |
44,4% |
Méd |
5,5% |
Igual |
44,4% |
Méd |
11% |
Méd |
16,6% |
Não |
5,5% |
Alta |
50,1% |
Gran |
89% |
Baix |
39% |
Esportes Coletivos |
|||||||
CF |
|
VA |
|
SC |
|
OO |
|
Seg |
90% |
Sub |
1,7% |
Pou |
|
Alta |
36,7% |
Méd |
8,3% |
Igual |
31,7% |
Méd |
10% |
Méd |
33,3% |
Não |
1,7% |
Alta |
66,6% |
Gran |
90% |
Baix |
30% |
Tabelas 3 e 4. Resultados por distinção de esportes individuais e coletivos
Segundo as avaliações é possível analisar que segundo a Certeza de suas próprias forças (CF), nos Esportes Individuais (EI) e Coletivos (EC), se sentem seguros em relação a sua aptidão. Na Valorização da forças do Adversário (VA) metade dos avaliados dos EI valorizam altamente seu adversários enquanto nos EC essa porcentagem é um pouco maior. De acordo com o Significado da Competição (SC) a grande maioria dos atletas tem um grande desejo de competir. E segundo Orientação seguindo a opinião dos outros (OO) nos EI valorizam altamente suas possibilidades enquanto nos EC a análise é bem dividida. As pessoas quando são altamente motivadas se sentem valorizadas e competentes para executar determinadas tarefas (Samulski, 2002). Este alto valor de OO nos EI pode ser explicado já que o que os diferencia é que esses atletas dependem unicamente de seu próprio rendimento, o qual tem de maximizar em curtos períodos de tempo, segundo Silvia & Rubio (2003).
Apesar de não mostrar diferenças significativas nas avaliações dos EI e EC em OO, segundo Bueno & DiBonifácio (2007), os EC tendem a demonstrar suas diferentes percepções segundo suas funções nos jogos e de acordo com a situação do campeonato, já que esses fatores são geradores de estresse, que por sua vez interfere na avaliação de suas percepção. Ainda nos EC, Samulski (2002) afirma que, a capacidade de percepção, considerada como um processo de recepção e elaboração de informação, relacionada com o meio ambiente situacional, é fundamental para a orientação, controle e avaliação do próprio momento.
A tabela abaixo ilustra os resultados obtidos nos sexos feminino e masculino.
Sexo Feminino |
|||||||
CF |
|
VA |
|
SC |
|
OO |
|
Seg |
86,5% |
Sub |
5,4% |
Pou |
|
Alta |
24,3% |
Med |
10,8% |
Igual |
37,8% |
Méd |
8,1% |
Méd |
32,4% |
Não |
2,7% |
Alta |
56,8% |
Gran |
91,9% |
Baix |
43,3% |
Sexo Masculino |
|||||||
CF |
|
VA |
|
SC |
|
OO |
|
Seg |
92,8% |
Sub |
|
Pou |
|
Alta |
51,2% |
Méd |
4,8% |
Igual |
31,7% |
Méd |
12,2% |
Méd |
26,8% |
Não |
2,4% |
Alta |
68,3% |
Gran |
87,8% |
Baix |
22% |
Tabelas 5 e 6. Resultados por distinção de sexo Feminino e Masculino
Na divisão entre Masculino (M) e Feminino (F), não se obteve diferenças significativas em duas categorias analisadas: em CF ambos os sexos em sua maioria mostraram-se seguros segundo suas percepções em com grande desejo de competir (SC). Na VA o maior escore foi obtido em ambos os sexos valorizando altamente as forças de seus adversários, contudo no F obteve-se uma pequena porcentagem sub-valorizando seus adversários. De acordo com OO o sexo M avaliou altamente suas possibilidades e no sexo F, em sua maioria, foi analisado uma baixa avaliação de suas possibilidades. De acordo com Seixas & Duarte (2005) podemos compreender que a auto-estima e o auto conceito da mulher refletem o efeito de uma forte influência social agindo como fonte de possíveis desajustamentos ou de conflitos interpessoais, com repercussões na sua imagem corporal e na sua saúde mental. As atletas em geral, segundo Samulski (2002) tem menos autoconfiança na sua capacidade de rendimento. Apesar de essa última ser uma baixa avaliação, mostrou-se muito mais distribuídos os valores entre alta, média e baixa. Isso pode ser mostrado em uma pesquisa em que indivíduos do sexo F mostraram uma maior percepção de seus estados do que o sexo M (Bueno & DiBonifácio, 2007; Freitas, 2000) e segundo Villwock & Valentini (2007), descobriram que meninos perceberam que são mais competentes motoramente, corroborando assim com a alta avaliação em OO no presente estudo. No mesmo estudo meninos e meninas apresentam uma percepção de competência atlética semelhante.
A tabela abaixo ilustra os resultados obtidos de forma geral, sem distinção de esporte, EI e EC ou M e F.
Geral |
|||||||
CF |
|
VA |
|
SC |
|
OO |
|
Seg |
89,7% |
Sub |
2,6% |
Pou |
|
Alta |
38,4% |
Méd |
7,7% |
Igual |
34,6% |
Méd |
10,3% |
Méd |
29,5% |
Não |
2,6% |
Alta |
62,8% |
Gran |
89,7% |
Baix |
32,1% |
Tabela 7. Resultados gerais
De acordo com o CF o resultado mostrou-se muito positivo na maioria do escore porque o caminho para essa percepção se encontra na auto-estima, que é um conceito bastante estável e de difícil mudança segundo Bernardo & Matos (2003). Na VA é possível avaliar um baixo escore na subvalorização dos adversários, o que se permite observar que mesmo estando seguros de suas capacidades há uma alta compreensão de que conhecer a si mesmo e aos outros não possa servir de alguma forma como vantagem em uma competição, para Silvia & Rubio (2003), nem toda preparação física ou mental, a partir de treinamentos extenuantes, nem a utilização de conhecimentos científicos, dão garantia ao atleta da vitória. Ainda confirmando este resultado Samulski (2002), aponta que o valor do sucesso no esporte é maior quando um atleta vence um adversário excelente do que um amador. Observa-se que no SC foi obtido uma grande porcentagem no desejo de competição e entende-se que o espírito de competição e conquista são partes inextrincáveis do esporte. Para Rubio (2006), a principal contribuição que essa prática pode proporcionar para a sociedade é o exercício das habilidades que levam ao limite. Sendo assim, o esporte tem o potencial para ensinar a viver com limites e a vitória teria a função de indicar essa condição, apontando quem dentre os competidores carece de maior aprimoramento. Segundo Gotwals & Dunn (2003), atletas que se sentem mais motivados e que demonstrem isso em empenho aproveitam melhor suas experiências competitivas. A avaliação de OO apesar de sua maioria demonstrar um alto valor a suas possibilidades, encontra-se bem dividido entre as três respostas, assim explicado na análise dos sexos que vão ao encontro com Bueno & DiBonifácio (2007) e Villwock & Valentini (2007). Em particular, pessoas orientadas para o sucesso demonstram alto nível de motivação para o sucesso e baixo nível de motivação para o fracasso. Elas gostam de demonstrar e avaliar suas capacidades (SC) e não ficam preocupadas com resultados negativos (OO) (Samulski, 2002, Franco, 2000).
Segundo Nitsch apud Rubio (2000), o objetivo e a meta do treinamento psicológico é a modificação dos processos e estados psíquicos (percepção, pensamento e motivação), ou seja, as bases psíquicas da regulação do movimento. Por tanto é uma ferramenta importante para qualquer atleta de qualquer especificidade e rendimento. De acordo com Wilson & Stephens (2005), a percepção de desempenho do atleta é melhor avaliado nas atribuições atléticas de desempenho do que a expectativa do treinador
Este estudo realizado com adolescentes mostra uma preocupação fundamental para que tenhamos atletas de alto rendimento no futuro. É necessário conhecer esses atletas agora, nesta fase em que ocorrem muitas descobertas. De acordo com Bernardo & Matos (2003), durante a fase inicial da adolescência ocorrem importantes alterações fisiológicas e psicológicas nos indivíduos, que muito provavelmente se refletem nas suas auto-percepções. Trata-se de um período em que os adolescentes têm que se ajustar a um corpo em alteração e sujeito a maturação.
A vitória mostra ser uma exigência do esporte contemporâneo, seguindo a tendência da sociedade atual, de caráter altamente quantitativo e competitivo. Atletas de alto desempenho têm como perfil procurar tarefas desafiantes e que os esportistas possuem entre outras características, elevada resistência psíquica, autodomínio e controle emocional. Entretanto, afirmações como estas podem ser questionadas, na medida em que cada indivíduo tem reações particulares conforme o que percebe de si mesmo, de suas capacidades e da importância pessoal dada à situação a enfrentar.
Considerações finais
Como propósito da pesquisa, verificou-se que o atleta deveria ter a percepção de si, compreendendo a sua atuação para com auxílio técnico lidar com diversas situações que impedem a melhora no rendimento esportivo. De uma forma geral, a maioria dos atletas se mostrou seguro de suas próprias forças, valorizou altamente as forças de seus adversários, mostrou um grande desejo de competir e avaliaram altamente suas possibilidades orientando-se pela opinião dos outros.
Esse estudo para obter informações a respeito da APC, é muito interessante, porque responde a questões diretamente envolvidas na relação do atleta consigo mesmo, em relação aos seus adversários, a respeito da opinião de outros e o que o competir significa para si mesmo. Em posse dessas informações, pode ser realizado um trabalho concomitante ao treinamento físico, que por sua vez irá complementar a preparação do atleta para enfrentar diversas situações.
Assim creio que o trabalho da psicologia do esporte organizado para idade que compreenda a adolescência é de fundamental auxílio e complementa o trabalho físico já realizado. Pensamos muitas vezes em que este exemplo de trabalho deve ser realizado apenas em adultos, onde já está formado a maioria das faculdades psicológicas, e creio que, por isso seja mais difícil almejar um objetivo mais complexo. Por sua vez nas crianças como estão em processo de formação, devemos já estruturá-las a esse nível psicológico para que quando adultos, estejam mais bem preparados.
Em vista, este estudo visa somar às pesquisas realizadas na área da psicologia do esporte, onde seus conhecimentos ainda estão sendo estudados. Sugere-se que mais estudos sejam realizados com diferentes técnicas, como a aplicação de diferentes questionários com objetivos distintos, para que aconteça um melhor trabalho no treinamento desportivo visando seu rendimento.
Referências bibliográficas
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Outros artigos em Portugués
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