Abordagem do conteúdo sexualidade nas aulas de educação física escolar no ensino médio: estratégias e propostas Abordaje de la sexualidad en las clases de Educación Física escolar en la escuela media: estrategias y propuestas Boarding of the content sexuality in the lessons of Physical Education in high school: strategies and proposals |
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*Licenciado em Educação Física pelas Faculdades Integradas Metropolitanas de Campinas (Metrocamp) *Bacharel e Licenciado em Educação Física pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Mestre e Doutorando em Educação Física (Unicamp) Bolsista CNPQ – 2004/2005 (Programa de Mestrado – UNICAMP) Docente das Faculdades Integradas Metropolitanas de Campinas (Metrocamp) e Universidade Adventista de São Paulo (UNASP) |
Marcelo Baroni* Rubens Venditti Junior** (Brasil) |
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Resumo O presente trabalho visa apresentar uma proposta metodológica com sistematização de atividades que englobem o tema transversal “orientação sexual”, previsto nos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998), para que possa servir como proposta de abordagem ao tema sexualidade nas aulas de Educação Física escolar. Discutimos primeiramente a história da Educação Física, por um breve retrospecto, considerando-a um dispositivo mobilizador do conhecimento, proveniente do processo evolutivo de registro e disseminação do saber. Em seguida, abordamos a sexualidade no contexto da Educação Física no Brasil, destacando as questões da sexualidade como conteúdo a ser discutido nas aulas de EF escolar, uma vez que se relaciona com o corpo e movimento. Após isso, busca-se correlacionar a visão de gênero como fator social criado pela sociedade moderna. Depois, apresentamos a pesquisa de campo propriamente dita, desde a escolha da escola, o contato com a unidade escolar e a direção da mesma, com a professora que aceitou o desafio, até a descrição da infra-estrutura e dos sujeitos da pesquisa, bem como suas atividades aplicadas e a eventual análise das mesmas. No capítulo final, reservado às considerações, a partir das ações e representações dos alunos, será possível discutir as implicações pedagógicas das atividades aplicadas, atividades que possuem um caráter cultural, tanto no que tange suas relações aos corpos dos alunos, quanto aos conteúdos teóricos e práticos desta temática. Unitermos: Educação Física Escolar. Gênero. Sexualidade. História da Educação Física.
Resumen El presente trabajo tiene como objetivo presentar una propuesta metodológica con la sistematización de actividades que comprendan el tema transversal "Educación sexual”, previsto en los parámetros del plan de estudios nacionales (BRASIL, 1998), de modo que pueda servir como insumo para abordar la sexualidad en las clases de Educación Física en la escuela. Primero discutimos la historia de la Educación Física, para un realizar informe retrospectivo, considerándola un dispositivo movilizador del conocimiento, procediendo del proceso del registro y de la difusión de saber. Después, consideramos a la sexualidad en el contexto de la Educación Física en el Brasil, separando las cuestiones de la sexualidad como contenido que se debatirán en las clases de EF escolar, en tanto se relaciona con el cuerpo y el movimiento. Después de esto, presentamos las correlaciones y la visión del genero como factor social construido por la sociedad moderna. Más adelante, presentamos la investigación de campo propiamente dicha, desde la elección de la escuela, hasta el contacto con la unidad escolar y su dirección, con la profesora que aceptó el desafío, hasta la descripción de la infraestructura y de los sujetos investigados, así como sus actividades aplicadas y el análisis eventual de las mismas. En el capítulo final, reservado a las conclusiones, a partir de las acciones y de las representaciones de los alumnos, será posible discutir las implicaciones pedagógicas de las actividades aplicadas, las actividades que poseen un carácter cultural, en lo refiere tanto a sus relaciones a los cuerpos de los alumas, cuanto a los contenidos teóricos y prácticos de esta temática. Palabras clave: Educación Física Escolar. Género. Sexualidad. Historia de la Educación Física.
Abstact The present work aims to present a proposal with systematization of activities that discuss the transversal subject "sexual orientation", foreseen in the National Curricular Parameters (BRAZIL, 1998), so it can serve as proposal of boarding to the subject sexuality in the lessons of school Physical Education. We first argue the history of the Physical Education, for a briefing retrospective, considering it a instigating device of the knowledge, proceeding from the evolutive process of register and dissemination of knowing. After that, we approach the sexuality in the context of the Physical Education in Brazil, detaching the questions of the sexuality as content to be argued in the lessons of physical education, once it relates with the body and movement. After this, we correlate the sort vision as social factor created by the modern society. Later, we present the research of field properly said, since the choice and the contact with the school unit and the direction of the same one, with the teacher whom accepted the challenge, until the description of the infrastructure and the subjects of the research, as well as its applied activities and the eventual analysis of the same ones. In the final chapter, reserved to the propositions, from the actions and representations of the pupils, it will be possible to argue the pedagogical implications of the applied activities, activities that possess a cultural character, as much that refers to its relations to the bodies of the pupils, towards to the theoretical and practical contents of this thematic.t; sexuality; history of the physical education. Keywords: Physical Education at school. Gender (Sort). Sexuality. History of Physical Education. |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 131 - Abril de 2009 |
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Apresentação
Por Marcelo Baroni (Primeiro Autor)
Como incluir o polêmico tema sexualidade, nas aulas de Educação Física (EF) Escolar, para a primeira série do Ensino Médio, de forma interdisciplinar em sua prática pedagógica, de acordo com as propostas educacionais e o projeto pedagógico escolar?
Recordo bem da minha adolescência, estudando na Escola Estadual Profª Francelina Franco de 1º e 2º grau (fundamental e médio), em Buri, interior do estado de São Paulo; e principalmente das aulas de Educação Física. O professor utilizava a política do “Laissez-Faire”, deixando o “rola-a-bola” acontecer... A aula sempre se resumia em futebol para os meninos e vôlei ou queimada para as meninas. Na maioria das vezes, essas aulas eram chatas e sem nenhum significado para mim. Somente alguns alunos participavam efetivamente, enquanto outros ficavam sentados contando os minutos para acabar a aula.
Essas recordações despertaram o interesse para escolha do tema deste trabalho - “Abordagem do conteúdo sexualidade nas aulas de Educação Física Escolar no Ensino Médio: estratégias e propostas“. Através deste trabalho, pretendo explorar esse passado e os dias atuais em que, cursando licenciatura plena nas Faculdades Integradas Metropolitanas de Campinas (Metrocamp), conheci uma Educação Física promissora, com disciplinas que mostram o amplo campo de atuação do profissional licenciado em Educação Física, dentro do contexto escolar com diretrizes e parâmetros a serem seguidos. Em uma destas aulas, ao direcionar a reflexão para o tema transversal “orientação sexual”, despertou-me a curiosidade a respeito de como se trabalhar esse tema nas aulas, possibilitando levar indivíduos a se tornarem mais conhecedores da cultura corporal, de si próprios e do mundo, buscando a formação de cidadãos mais críticos e autônomos.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), quanto à abordagem ao tema transversal orientação sexual, tem se observado na escola a seguinte atuação dos profissionais:
[...] manifestações da sexualidade afloram em todas faixas etárias. Ignorar, ocultar ou reprimir, são respostas habituais dadas por profissionais da escola, baseados na idéia de que a sexualidade é assunto para ser lidado apenas pela família (BRASIL, 1998, p. 291).1
Será mesmo?
Qual é o papel dos profissionais de EF na formação e informação a respeito deste tema?
Pretende-se com este trabalho desenvolver uma proposta metodológica com sistematização de atividades, visando o tema transversal “orientação sexual”, previsto nos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998), para que possam servir como proposta de abordagem ao tema sexualidade nas aulas de EF escolar de forma clara, objetiva e simples.
De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde, 2005), a sexualidade humana forma parte integral da personalidade de cada um. É uma necessidade básica e um aspecto do ser humano que não pode ser separado de outros aspectos da vida:
A sexualidade não é sinônimo de coito e não se limita à presença ou não do orgasmo. É energia que motiva encontrar o amor, contato e intimidade, e se expressa na forma de sentir, nos movimentos das pessoas e como estas tocam e são tocadas (OMS, 2005).
A sexualidade influencia pensamentos, sentimentos, ações e integrações, portanto, a saúde física e mental. “A saúde sexual é a integração dos aspectos sociais, somáticos, intelectuais e emocionais de maneira tal que influenciem positivamente a personalidade, a capacidade de comunicação com outras pessoas e o amor" (OMS, 2005).
Uma indagação que me perseguiu ao longo desta pesquisa, pois sabemos que são vários os conteúdos e temas a serem tratados, sempre foi a indagação “por que se trabalhar com este tema nas aulas de EF escolar?”.
Buscamos os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998) para responder que a Educação Física que privilegia o uso do corpo e a construção de uma cultura corporal, é um excelente espaço onde o conhecimento, respeito e a relação prazerosa com o próprio corpo podem ser trabalhados. Jogar, lutar e dançar pode representar; portanto, a possibilidade de se expressar afetos e sentimentos, de explicitar desejos, de seduzir, de exibir-se.
Mas, além disso, segundo Daólio (2003, p. 58), “observa-se o relacionamento mais próximo dos professores de Educação Física com alunos, em comparação com professores de outras disciplinas, pelo carinho e atitude paternal que estes demonstravam em relação aos alunos”. Desta forma, esta aproximação e esse contato diferenciam o profissional de Educação Física de profissionais de outras disciplinas, ficando assim, mais fácil tratar nas aulas esses temas polêmicos, até mesmo pela confiança que o aluno deposita no professor de Educação Física.
No capítulo seguinte traçaremos uma breve retrospectiva pela história dessa disciplina até a atualidade, mostrando as influências tanto culturais quanto das correntes, hora positivista e hora nacionalista voltadas ao físico-biológico, destacaremos a abordagem da sexualidade no contexto da Educação Física no Brasil.
Ainda neste capítulo, destacaremos as questões da sexualidade como conteúdo nas aulas de Educação Física Escolar. Buscamos co-relacionar a visão de gênero como fato social criada pela sociedade atual, em conjunto com as idéias de Sara Delamont - que relata os papéis sexuais de uma escola em 1976; e desta forma mostrar a importância desta – a sexualidade- nas aulas e na escola.
Em seguida, será apresentada a pesquisa de campo propriamente dita, desde a escolha da escola, o contato com a Unidade Escolar com a direção da mesma e com a professora, até a descrição da infra-estrutura e dos sujeitos da pesquisa e das atividades aplicadas e a análise das mesmas. Neste momento com auxilio dos sujeitos desta pesquisa buscaremos avaliar as atividades, a partir da ação e a representação, ou seja, diante da forma em que agiram nas atividades práticas e refletiram sobre aquilo que praticaram ao avaliá-las.
No capítulo final, reservado às considerações, discorreremos sobre as ações e representações dos alunos, verificando se foi possível discutir as implicações pedagógicas das atividades aplicadas, atividades que possuem um caráter cultural, tanto ao corpo dos alunos, quanto aos conteúdos teóricos e práticos... Uma Educação Física que permita considerar que todos os alunos, independentemente de suas diferenças, são iguais no direito da prática e vivência dos conteúdos transversais, dentre eles a orientação sexual, que deve ser discutida e abordada no ambiente escolar de forma integrada... É este nosso desafio!
Introdução. Considerações históricas
Inicialmente, neste trabalho, pretende-se traçar um paralelo da história da Educação Física Escolar brasileira até a atualidade, no que lhe diz respeito à abordagem da sexualidade nos contextos das atividades de Educação Física, a forma com que era tratada e a relação da Educação Física com os papéis sexuais e sociais embutidos em suas práticas corporais ao longo do tempo.
Numa breve retrospectiva da Educação Física Escolar, encontramos, desde o século XIX até o século XX, as influências e tendências sócio-políticas sofridas na Educação Física: hora positivista (racionalismo científico e biologização) e higienista (influência da área médica e saúde coletiva); hora voltada a interesses militaristas (nacionalismo, introdução pré-militar), em uma época que o país necessitava de mão-de-obra fisicamente adestrada e capacitada, buscando a formação da raça pura e consolidação do sentimento pratiótico e nacionalista (MARÇURA, 2004).
Essas correntes influenciadoras da Educação Física não apenas a estigmatizaram, por longos anos como também trouxeram a descaracterização tanto da metodologia quanto do campo de atuação da Educação Física: considerando a influência conjunta dos militares e dos médicos, observa-se uma Educação Física voltada ao corpo humano prioritariamente biológico, forçando-a a buscar seu lugar e uma metodologia específica para cada campo de atuação, pois atualmente a formação do profissional de Educação Física mudou, deixando de ser apenas Licenciatura Plena, habilitação que dava ao formado amplo campo de atuação, ou seja, a escola, os esportes, a tudo que se referisse à atuação do profissional de Educação Física o formado em Licenciatura Plena era habilitado.
Hoje abre uma segunda habilitação, propiciando uma especificidade dentro da Educação Física: o Bacharelado (formação que habilita o formado a atuar em esportes, como treinador; técnico; professor de academia e muitos outros; apenas sendo restrita sua atuação como professor em ambiente escolar formal).
Segundo CASTELLANI FILHO (2003), a corrente positivista dos médicos nada mais era do que se utilizarem da Educação Física para desenvolver medicina social com foco Higienista, com embasamento biológico e aptidão física. Isto se deve ao fato da classe médica ainda ditar padrões de conduta física, moral e intelectual da nova família brasileira. Mas a corrente que mais marcou a Educação Física provavelmente seja a militar, embasada numa Educação Física para a formação de indivíduos fortes, porém adestrados, patrióticos e obedientes; pois o país necessitava de indivíduos fortes e saudáveis para desenvolver o país, levando a associar Educação Física à Educação do Físico, com um objetivo único de “eugenizar” a raça brasileira, ou seja, melhorar a raça, por meio da Educação Física.
Segundo CASTELLANI FILHO (2003, p.56), a Educação Física em questão da eugenia2 da raça tem um papel fundamental, onde:
[...] mulheres fortes e sadias teriam mais condições de gerarem filhos saudáveis, os quais, por sua vez, estariam mais aptos a defenderem e contribuírem a Pátria, no caso dos homens, e de se tornarem mães robustas no caso das mulheres.3
Transmitindo-nos a idéia de que a Educação Física promoveu, em determinadas épocas, atividades centradas nos meninos, não se preocupando com as conseqüências dessas atitudes na diferenciação dos papéis sociais entre meninos e meninas (“Homem não chora!”; “Boneca é coisa de menina”; “Menina deve ser delicada e não pode ficar se sujando jogando bola”; “Quem mostra emoção, mostra suas fraquezas!”; etc.). Hoje, resultam em uma menor participação das meninas nas aulas de Educação Física Escolar, devido a esses métodos praticados ao longo de todos os anos, refletidos em diversas situações sociais e também reproduzidos no conjunto de práticas corporais e atividades sociais destes homens e mulheres.
Segundo MARÇURA (2004), ocorreu naturalização do fato social, construída pela sociedade, de que é “normal” homens entre outras coisas participarem mais nas aulas de Educação Física, de que as meninas. Assim, nos dá a idéia de que algumas atividades são de meninos e outras específicas de meninas, pois as atividades não visam somente aqueles que sabem jogar, mas aquele que joga sem cometer erros e tivessem a qualidade superior de aptidão física e seleção natural. Mas como ficariam os meninos e meninas que não obtiveram bagagem suficiente em suas infâncias e, desta maneira, não desenvolvendo por completo suas habilidades necessárias para participar destas práticas corporais, restando assim para elas (e até mesmo eles, em alguns casos) o papel de marcar o ponto quando o tema da aula é vôlei, ou ficar à margem, fazendo outras tarefas escolares “típicas das meninas”, enquanto os meninos participam efetivamente da aula?
DAÓLIO (2003, p.40) afirma que “o primeiro brinquedo que o menino ganha é uma bola, há todo um incentivo para os primeiros chutes, ao contrário da menina, que, afora não ser estimulada é proibida de brincar com a bola utilizando os pés”. Essa caracterização dos papéis dos gêneros pela sociedade, influencia tendenciosamente as aulas de Educação Física Escolar. Assim, exige dos educandos uma vivência corporal, de momentos de especificidade de acordo com a prática da modalidade esportiva, momentos na prática da atividade física que destacam os mais aptos, em sua maioria os meninos, desmotivando os menos aptos, neste caso as meninas ou garotos que não se destacaram nas execuções dos movimentos ou não gostam da determinada modalidade esportiva.
Segundo Daólio (2003, p. 80), “A forma como os professores entendem e traduzem a noção de corpo, influencia no tipo de aula que ministram, no delineamento dos seus objetivos, na sua postura perante os alunos (...)”, observa-se que esse fator social e cultural acaba não estimulando os menos aptos para as práticas, prejudicados muitas vezes por profissionais que, não lhes proporcionando atividades, na qual se igualem as potências (sejam elas físicas ou cognitivas), os privam de conhec6e-las e ter contato com as mesmas.
Segundo Daólio (2003, p.41), “o corpo não é um dado puramente biológico sobre o qual a cultura impinge especificidades”, completa dizendo “o corpo é fruto da interação natureza/cultura”. Desta maneira, como pedir para estas meninas praticar uma atividade física, uma vez que os meninos encontram-se mais desenvolvidos por tantos estímulos sociais e culturais? Seria este o motivo das aulas mistas que por meio de atividades adaptadas visam o trabalho conjunto dos gêneros e a integração dos mesmos.
Ao tentar compreender a história da Educação Física, vê-se que ela demonstra estar ligada aos interesses políticos de cada época, fatos que caracterizaram a sociedade e fizeram com que a Educação Física alterasse sua corrente pedagógica pelas influências que a manipulavam (usurpavam-na) para a obtenção de seus propósitos. Mas a quem devemos culpar? Ou melhor, o que fazer para reverter este quadro ainda vigente?
Legislação Brasileira e sexualidade
Tem-se conferido à Educação Física, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998), a responsabilidade da inserção autônoma, da cooperação, da participação social, da afirmação de valores e princípios democráticos. Nesse sentido, é necessário que o ensino de Educação Física introduza e induza os alunos na cultura corporal do movimento, com finalidades de lazer, expressão de movimentos, afetos e emoções.
Assim, busca garantir a todos as possibilidades de usufruir jogos, esportes, danças, lutas e ginásticas, em benefício do desenvolvimento intelectual para o exercício crítico da cidadania.
A Educação Física de hoje pode ser compreendida como conseqüência de muitas coisas; e que se mantém, desde sua origem, corrente de uma constante transformação (mutação). Desta maneira contínua de atualização, a Educação Física de hoje busca especificar-se em seus campos de atuação.
No contexto escolar com a Lei de Diretrizes e Bases (L.D.B), há bastante modificação, pois se indica uma direção obrigatória – a busca constante pelo aperfeiçoamento dos profissionais envolvidos no ensino. Mattos (1994) afirma que o professor de Educação Física não deve encontrar no comodismo, no individualismo e no ressentimento, a solução de seus problemas na escola.
Acrescenta que os professores devem ter muita persistência, criatividade e competência técnica para o desempenho de suas tarefas e não se deixar envolver em simplificações do ato pedagógico. Já que são eles os principais agentes pedagógicos para a transmissão de conteúdos da Educação Física e práticas corporais.
Desta forma, cabe ao professor o papel de planejar e estruturar sua aula, de acordo a sua clientela, buscando diversificar os conteúdos, para que assim possa satisfazer àqueles que não sabem ou muitas vezes não gostam dos jogos coletivos, mudando a visão de uma Educação Física Escolar que só alguns participam efetivamente, Trabalhar com a diversidade, de forma ampla, com conhecimentos tais como ética, valores, princípios, atividades práticas e teóricas, respeito, cooperação, orientação sexual, podem apontar para uma EF mais valorizada e integrada como disciplina efetiva e legitimamente fundamental no ambiente escolar.
Assim, justificamos o planejamento de conteúdos a serem transmitidos, que pertencem à Educação Física e não a disciplinas como Ciência, Educação Artística. Um exemplo muito comum é a forma em que se trabalha a orientação sexual nas aulas de Ciência, pois esta disciplina trata deste conteúdo enfatizando a reprodução sexual. Já a Educação Física trabalha diferente com ênfase na discussão das questões de gêneros e por meio das práticas corporais e do porquê das transformações corporais.
No Art. 26, da L.D.B, os currículos de Ensino Fundamental e Médio devem ter uma base nacional comum, “a ser complementada a cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela” (BRASIL, 2000, p.34). Entende-se que não existem conteúdos obrigatórios. Dessa forma, vale qualquer iniciativa da escola, ou do professor com seus alunos, desde que fundamentada e integrada ao projeto político-pedagógico da escola.
A idéia de uma orientação sexual nas aulas de Educação Física Escolar foi subsidiada recentemente pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998), que preconizam que a Educação Física deverá abordar dentro de sua especificidade os temas transversais, apontados como temas em urgência para o país como um todo.
Desta maneira, remete-nos à importância de se trabalhar com os temas transversais, pois o professor não apenas educa, mas também muda e cria conceitos a serem seguidos, muitas vezes sem saber que seus alunos os terão como referência. Por isso, espera-se que esses temas sejam abordados sem tirar do foco sua importância e que estes professores se capacitem para inclusão dos temas em suas aulas, já que são temas destacados pela sociedade, sendo de fundamental necessidade a sua abordagem nas disciplinas oferecidas aos educandos do Ensino Básico. Sabe-se, que cada vez mais os pais deixam para as escolas o dever de educar e assim cabe a ela discutir temas como gravidez precoce, masturbação e ainda preparar estes para o mercado de trabalho, transformando os nossos educandos em cidadãos críticos e reflexivos.
De acordo com MATTOS (1994), os PCN’s conquistam na nossa sociedade um valor inestimável, objetivando a compreensão de respeitar as diversidades regionais, culturais e políticas, existentes no país e de buscar construir referências nacionais comuns ao processo educativos em todas as regiões brasileiras.
Segundo os PCN’s (BRASIL, 1998), assim como a inteligência, a sexualidade será construída a partir das possibilidades individuais e de sua interação com o meio e a cultura. “Para alguns, as manifestações da sexualidade possuem a conotação de algo feio, sujo, pecaminoso, cuja existência se deve à má influência de adultos” (BRASIL, 1998, p.296).
Assim sendo, o trabalho do profissional de Educação Física deverá considerar os aspectos citados, resgatando, dentro das possibilidades pedagógicas, a auto-estima dos alunos.
Papéis sexuais e a Educação Física Escolar
Antes de surgir o termo sexualidade que aparece no final do século XIX, falava-se apenas em sexo.
Sexo designava a atividade que as pessoas faziam com a intenção de obter prazer ou de procriar. O aparecimento do termo sexualidade representou um aumento nos significados atribuídos ao termo “sexo”, passando a designar uma esfera importante na vida das pessoas (HEILBORN, 2002, P. 39).4
Com as mudanças ao longo do tempo dá-se o surgimento das palavras “Homossexualidade”, que nada mais é do que atração erótica entre indivíduos do mesmo sexo, e a palavra “Heterossexualidade” que é atração erótica entre indivíduos do sexo oposto, ou seja, termos usados para descrever e também classificar as condutas sexuais entre os gêneros.
O termo “gênero” muito usado e às vezes confundido com outro intimamente ligado ao termo “sexo” se difere em seus significados, pois segundo Delamont (1976, p.26), a palavra gênero deve ser utilizada para “mencionar todos os aspectos não biológicos das diferenças que separam os estilos de vida masculino e feminino”. Desta forma não se deve citar as funções dos sexos, pois as funções das pessoas na sociedade estão relacionadas, essencialmente, não com a biologia, mas sim com o comportamento social.
Falar de sexualidade remete-nos a pensar imediatamente ao ato sexual e à reprodução. Mas a sexualidade é muito mais abrangente. Pode ser definida como uma forma de expressão dos afetos, uma maneira de cada indivíduo se descobrir e descobrir os outros. Pois se a sexualidade engloba a identidade sexual (masculina e feminina); os afetos e a auto-estima; as alterações físicas e psicológicas ao longo da vida; o conhecimento anatômico e fisiológico do homem e da mulher; a higiene sexual; a gravidez, a maternidade e a paternidade; métodos anticoncepcionais; doenças sexualmente transmissíveis; os transtornos sexuais, entre outros; a Educação Física Escolar por trabalhar com a prática corporal não deve apenas discutir as questões de gêneros e sim ir além e saciar as dúvidas dos alunos como as acima citadas, pois estes por muitas vezes nem sabem que as têm.
Identificar estas definições e sabendo que a Educação Física objetiva-se ao estudo do movimento humano, ou seja, trabalha com o corpo e corpos que sentem, se expressam, que se movimentam e ainda sofrem transformações, desta maneira cabe a ela o papel de facilitadora e meio de conhecimento. Ora, a Educação Física pode contribuir muito ao esclarecimento do tema que muitas vezes não deixa a aula fluir, como por exemplo, as meninas que não querem jogar futebol porque dizem que é uma atividade de menino e os meninos que não querem participar da aula de ginástica, pois acreditam que esta seja uma atividade de menina.
Segundo Daólio (2003, p. 41), “... o conjunto de posturas e movimentos corporais representa valores e princípios culturais. Conseqüentemente, atuar no corpo implica atuar sobre a sociedade na qual este corpo esta inserido”, seria este o motivo no qual muitas meninas não querem praticar a atividade, porque não podem suar e ficar cheirando mal, pois como irão ver o namorado e até mesmo os meninos que dizem e acreditam que dança é coisa de menina e não participam efetivamente. Será apenas representação social dos papéis dos indivíduos?
Nesse pensamento, nosso planeta consiste de vários continentes com seus respectivos países, onde cada um tem seus hábitos e costumes de acordo suas realidades sociais, conseqüentemente diferentes culturas, entendendo que os gêneros variam de acordo a cultura, variam assim nas sociedades do mundo.
[...] gênero refere-se à construção social do sexo anatômico, baseando-se de que há machos e fêmeas na espécie humana, mas a maneira de ser homem e de ser mulher é realizada pela cultura (HEILBORN, 2002, p. 40) 5
O que diferencia um menino de uma menina? (além do fator biológico, é claro). Poderia ser o nome, as cores e tipos de vestuários, os brinquedos, brincadeiras e jogos, seus comportamentos... Ou são coisas de caráter cultural? Ou o sexo é responsável pela maneira das pessoas agirem, sentirem ou pensarem questões de gêneros?
Segundo Delamont (1976, p.28), no contexto escolar, a “infração às regras de conduta masculina ou feminina pode ser uma das principais causas de piadas e insultos entre as crianças. Estas obtêm idéias claras acerca do que seriam os comportamentos e atitudes corretas de meninos e meninas”.
Quanto à escolha dos nomes das crianças, em primeiro momento pensa-se em dar um rótulo de gênero este que nos diz ao mesmo tempo, uma porção de coisa sobre essa pessoa, esses que podem ser escolhidos por outros motivos, Wallum apud Delamont, (1977, p.32), afirma que os pais norte-americanos escolhem nomes bonitos para as filhas, nomes polissilábicos “mais melodiosos e mais suaves”, sendo que para os meninos os nomes são “curtos, contundentes e explosivos”. Deste modo, os nomes das crianças rotulam-nas com o respectivo gênero e contêm mensagens de força ou de graciosidade, de acordo com os gêneros dos rebentos. E os vestuários usados pelas crianças são a contínua rotulação por gêneros, mesmo sendo apenas um recém-nascido, há a diferenciação por gênero.
Segundo Wallum apud Delamont, (1977, p.42) ao dar uma volta numa sessão infantil de roupas, “nas prateleiras das meninas há vestidos de princesa, calcinha de cetim cor-de-rosa, biquínis; nas dos meninos, há uniformes de baseball, fotos de astronautas e camisetas brancas de cerimônia”.
Os pais ao saberem o sexo de seus filhos, logo compram (antes mesmo deles nascerem) sendo menino uma bola ou um carrinho; se for menina, compram uma boneca, ou fogão com pratos de brinquedo; fazendo desta forma as escolhas da criança antes mesmo de deixarem a criança conhecer o mundo e ter a opção de escolha.
Há também os meios de comunicação em massa, que influenciam diretamente em nossa cultura. Ao passarem programas que buscam distinguir (estereotipar) as funções do menino e da menina; ou seja, específica para cada gênero como, por exemplo, os desenhos como Popeye, onde dois personagens do gênero masculino se mantêm em suas vidas diárias, trabalhando ou se divertindo; enquanto a terceira (Olívia) leva uma vida simples; pois quando não está tentando fugir do Brutus, está limpando, saindo para fazer compras ou coisas de uma dona de casa, restrita e que não consegue se defender.
Seriam assim as mulheres e os homens reais em suas respectivas épocas? Há também desenhos como “Cavaleiros do Zodíaco”, onde o nome já descreve a função de um grupo de rapazes que lutam para defender e salvar uma moça que não demonstra saber se defender. Desta forma, a função de criatividade, desempenho de força e perseverança são atribuídas aos rapazes; sobrando à frágil Atenas o papel de indefesa, docilidade, gentileza, cordialidade, substantivos que restringem e demonstram a visão e a função previamente determinadas para este gênero, mas seriam estes os papeis destes gêneros?
Segundo Delamont (1976, p.34), a imagem geral com que se fica é, porém, bastante clara: “as funções criadoras e inventivas ficam para os meninos e as funções de limpeza de si e do meio ambiente ficam para as meninas. Ambos são restritos a seus papéis sociais e isso podendo pesar sobre as crianças cujos interesses não se adequam aos padrões estereotipados acerca do outro gênero”.
Segundo a revista Good Housekeeping apud Delamont (1978, p. 37) que publicou um artigo questionando: “Os livros seriam injustos com as meninas?”, Este começa da seguinte forma:
Vejam John a chutar a bola. Vejam Jane ajudar a mãe a lavar a louça. Vejam John a remar. Vejam Jane a observá-lo da margem. Vejam John a sugerir uma aventura. Vejam Jane a segui-lo obedientemente. Vejam John crescer e fazer-se um homem... Por outro lado, vejam Jane crescer e ficar sempre fraca e imprestável...6
Pode-se observar que estes comportamentos da cultura refletem diretamente no que se refere à visão de sexualidade do que homem e mulher sendo diferenciados pelo fator biológico e pré estabelecendo suas funções. Segundo Delamont (1976, p.40), “o mundo em que crescem as crianças britânicas é um mundo de segregação de gêneros no qual todos os aspectos da vida doméstica e sociais estão impregnados de idéias feitas sobre a masculinidade e a feminilidade”.
Numa perspectiva de que os meninos são fortes, agressivos e criadores; as meninas são brandas, faladoras e domésticas. “Os meninos e as meninas são criados, a partir de suas primeiras horas de vida, de modos diferentes, a fim de fortalecer comportamentos diferentes e de punir ou de evitar atividades (erradas)” (DELAMONT, 1976, p.44). Assim, remete-nos a pensar no que mudou daquela época para os dias de hoje; ou melhor, depois de tanto tempo, será que houve alguma mudança em questão da visão da cultura quanto aos gêneros?
E o profissional de Educação Física separa, segrega seus alunos em suas aulas pelos gêneros. Isto é, trabalha com aulas específicas para meninos e meninas, nos dias atuais... O jogo é só para menino, em uma determinada aula e em outra é só para menina... Estamos tratando os alunos não de uma forma global como seres que possuem corpos que se expressam diferentes e sim segregando pelo fator biológico, por uma visão cultural, estereotipando o que cada gênero deve fazer... Determinando e predizendo comportamentos e papéis sociais...
A partir do referencial teórico explicitado anteriormente, começamos a delinear nosso campo de investigação, que é a solução de como se trabalhar com o tema sexualidade em aulas de Educação Física Escolar na primeira série do Ensino Médio de uma Escola Estadual na região de Campinas- SP, descrita no tópico seguinte, sendo este o problema norteador deste trabalho científico. E, para solucioná-lo, buscamos desenvolver estratégias e propostas de aulas, objetivando a afloração do tema para discussão de forma aberta e clara, de maneira que fossem saciados e levantados assuntos para reflexão entre os alunos com o direcionamento do professor de EF.
O primeiro passo foi selecionar uma escola que atendesse a estes critérios e ainda disponibilizasse o espaço para a aplicação dos conteúdos dentro das aulas de Educação Física. A opção pela rede pública não se deu apenas pelo fato dos professores seguirem, segundo Daólio (2003, p.51), “uma diretriz programática única”.
Até porque o objetivo deste trabalho é desenvolver estratégias e propostas, sabemos as diferenças entre escolas e professores, pois o que foi pensado era trabalhar com o público de uma comunidade comum de classe média. Segundo a revista Época (2004, ed.303, p.57) “pesquisa mostra que jovens ficam com muitos, namoram só um, transam mais cedo e não usam camisinha”. E traz em destaque números da pesquisa da Unesco sobre a sexualidade dos jovens brasileiros.
A seguir, veremos dados da Unesco, retirados da revista Época (2004, ed.303, p.58), dois quadros nos quais nos mostram por meio de porcentagem, as percepções sobre temas relacionados à sexualidade, iniciação sexual, gravidez juvenil e a média da primeira relação sexual dos alunos do Ensino Fundamental e Médio.
Proporção de alunos do ensino fundamental e médio por sexo e percentuais extremos nas capitais pesquisadas, segundo síntese das percepções sobre temas relacionados à sexualidade (em %) |
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Percepções sobre temas relacionados à sexualidade |
Masculino |
Feminino |
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% Inferior |
% Superior |
% Inferior |
% Superior |
|
Iniciação sexual |
||||
Média de Idade dos alunos na primeira relação sexual |
13 anos (Vitória) |
15 anos (Florianópolis) |
15 anos (Porto Alegre, Manaus, Rio de Janeiro e São Paulo) |
16 anos (Belém) |
Adolescentes (10 a 14 anos) que já tiveram relações sexuais |
16% (Maceió) |
31% (Belém) |
2% (Fortaleza) |
9% (Belém) |
Virgindade não tem importância alguma, é coisa do passado |
51% (Distrito Federal) |
74% (Porto Alegre) |
34% (Distrito Federal) |
63% (Porto Alegre) |
As moças gostam de namorar, os rapazes gostam de ficar |
33% (Distrito Federal) |
51% (Fortaleza) |
46% (Florianópolis) |
62% (Fortaleza) |
Meu (a) namorado (a) só transa comigo |
28% (Salvador) |
43% (Belém e Maceió) |
32% (Distrito Federal) |
55% (Maceió) |
O amor proibido sempre é mais gostoso |
38% (Distrito Federal) |
50% (Manaus) |
34% (Maceió) |
45% (Belém) |
DST são assuntos que interessam mais aos homens |
10% (Vitória e Goiânia) |
19% (Manaus) |
2% (Rio de Janeiro) |
11% (Fortaleza) |
O sexo é mais importante para os homens do que para as mulheres |
21% (Florianópolis) |
29% (Fortaleza) |
18% (Cuiabá) |
30% (Maceió) |
Gravidez juvenil |
||||
Sabe de alguma jovem grávida na escola |
36% (Salvador e Rio de Janeiro) |
57% (Maceió) |
46% (Goiânia) |
69% (Manaus) |
Ter um filho tão cedo prejudica a vida dos jovens e ela vai ter um peso para o resto da vida |
58% (Maceió) |
70% (Salvador) |
49% (Recife) |
64% (Vitória) |
Quadro 01. Proporção de alunos do ensino fundamental e médio e síntese das percepções sobre temas relacionados à sexualidade.
Fonte: UNESCO. Pesquisa realizada em 2001, em escolas públicas, nas capitais brasileiras supra citadas. Descreve por meio
de percentis a média de idade em iniciação sexual e gravidez juvenil, retirado da Revista ÉPOCA (2004, ed. 303, p. 58)
Média de idade da primeira relação sexual dos alunos do ensino fundamental e médio, por sexo, segundo indicação dos alunos e capitais de Unidades da Federação (em %) |
||
Capital |
Média de idade da primeira relação sexual |
|
Sexo |
||
Masculino |
Feminino |
|
Belém |
14,1 |
16,0 |
Cuiabá |
13,9 |
15,7 |
Distrito Federal |
14,2 |
15,7 |
Florianópolis |
14,5 |
15,5 |
Fortaleza |
14,3 |
15,8 |
Goiânia |
14,4 |
15,7 |
Maceió |
14,2 |
15,4 |
Manaus |
13,9 |
15,1 |
Porto Alegre |
14,1 |
15,0 |
Recife |
14,2 |
15,6 |
Rio de Janeiro |
14,4 |
15,2 |
Salvador |
13,9 |
15,6 |
São Paulo |
14,1 |
15,2 |
Vitória |
13,4 |
15,6 |
Nota. Foi perguntado aos alunos: Você tinha quantos anos quando transou pela primeira vez? |
Quadro 02. Média de idade da primeira relação sexual dos alunos do ensino fundamental e médio, por sexo, segundo indicação dos alunos
e capitais de Unidades da Federação (em %). Fonte: UNESCO. Pesquisa realizada em 2001, em capitais brasileiras supra citadas.
Descreve os percentuais das médias de idade a respeito da primeira relação sexual, retirado da Revista ÉPOCA (2004, ED. 303, p. 59).
Método e procedimentos
Local e infra-estrutura
Ao refletir sobre uma Unidade Escolar estadual situada na Vila Teixeira, na região leste de Campinas, estado de São Paulo, escola que o primeiro autor fazia um trabalho aos fins de semana pelo “Programa Escola da Família” 7 há quatro anos, atuando como Educador Universitário, encontramos o local e as possibilidades para aplicarmos o trabalho deste estudo.
Pelo fato de já conhecer a infra-estrutura (espaço físico) que a escola possuía, pudemos planejar e desenvolver as atividades da proposta. Logo após o portão de entrada, havia um pátio grande e coberto, pois a escola é um prédio de um andar suspenso, usando assim o térreo como pátio e ainda contendo nesta parte uma sala de jogos (uma mesa de pebolim e um tênis de mesa), uma sala utilizada pela cantina, uma sala de materiais do professor de Educação Física, os banheiros, uma sala que fica abaixo da escada utilizada como almoxarifado e uma casa onde reside uma família de caseiros. Já as salas de aula, secretaria, direção, sala dos professores e outras salas ficam na parte superior do prédio, pois possui salas grandes e uma quadra poliesportiva coberta situada atrás do mesmo.
Sujeitos
Passamos a buscar dados para elaboração de atividades de acordo com os alunos freqüentadores,8 pois segundo Daólio (2003, p.41), “(...) os corpos, embora com uma base biológica semelhante, foram e continuam a ser construídos diferentemente em cada sociedade, segundo os padrões gerais da sua cultura e respeitando as especificidades de classe social, de religião, de grupo etc.”. Com esse pensamento de que existem corpos diferentes não apenas biologicamente, mas também culturalmente dotados de características especificas, com técnicas corporais integrantes de uma realidade sociocultural, buscamos adequar as práticas às características do grupo com o qual iríamos trabalhar.
Os sujeitos se compunham de uma sala com 30 (trinta) alunos da 1ª (primeira) série do Ensino Médio; compostos por 18 (dezoito) meninas e 12 (doze) meninos; faixa etária entre 14 (quatorze) e 17 (dezessete) anos de idade; estudando no período da manhã; possuindo duas aulas de Educação Física por semana no horário regular da escola. Isto contemplou uma de nossas necessidades: que a turma fosse mista, para discutirmos as questões de gênero. Não havia portadores de necessidades especiais, era uma sala bem diversificada com uma leve predominância do gênero feminino.9
Procedimentos
Primeiramente, foi elaborada uma carta de solicitação (vide anexo II) conjuntamente com uma reunião com a diretora da unidade escolar para explicar a proposta. Logo após, ela não só aprovou como também pediu para que conversasse com a professora de Educação Física responsável pela turma escolhida, no intuito de explicar a proposta e marcar as datas para aplicação das atividades.
Iniciamos assim a elaboração das atividades que possuíssem co-relação entre Educação Física e sexualidade. O foco das atividades seria dentro de aulas eventuais de Educação Física, que trouxessem discussões a respeito da sexualidade. Daí o surgimento e elaboração de quatro intervenções (aulas), com duração de cinqüenta minutos cada. As intervenções ocorreram durante o ano de 2005, nos meses de setembro e outubro.
Desenvolvimento e aplicação das atividades – proposta elaborada
Iniciaremos as descrições e análise das propostas, na qual mantivemos a mesma ordem ao aplicá-las. Neste momento descreveremos nosso plano de aula que elenca os respectivos itens: módulo temático (tema da aula); objetivo e conteúdo da aula; método (forma que se utilizou para ministrar a aula); e logo após a descrição da aula.
Primeira Proposta de Aula p/ o Tema Sexualidade no Ensino Médio, no contexto da EF
Módulo Temático: Dança - “Forró”
Objetivo Específico:
Conteúdo:
Método:
Descrição:
Após muitos comentários e objeções, nos locomovemos até o pátio, onde o aparelho de som já estava ligado e o CD de forró à espera. Dessa forma, foi pedido para que se posicionassem formando duas filas intercaladas. Nesse momento, viu-se que poucos se prontificaram a participar. Foi então pedido para aqueles que haviam sentado e não se apresentaram, um pouco de colaboração para fazerem a aula. De pouco adiantou... Perguntamos se gostariam de dançar, de aprender ao menos a dança.
Mostraram-se além de envergonhados, empobrecidos quanto à vivência da linguagem corporal. Um único comentário foi lançado em nossa direção com um tom de agressão. Um menino disse: “Dança não é “coisa de homem”! (sic). A professora se aproximou e disse: “o menino é o pior, o mais bagunceiro da sala (sic!).” e pediu mais uma vez para que fizessem a aula, mas agora chamando pelos nomes. De nada adiantou. Aí então decidimos convencê-los explicando que era um momento de vivenciar e que estávamos ali para aprender e principalmente para aqueles que nunca haviam dançado que seria uma oportunidade de vivência corporal.
Decidimos então iniciar com os que estavam dispostos. Realizamos movimentos básicos, um aquecimento com os passos necessários para se fazer os passos básicos da dança e ainda buscando assimilação do ritmo da música. Logo após a vivência, foi dado um número para cada participante (número um e número dois, no intuito de dividir em dois grandes grupos). Assim, o grupo um formou uma roda mais posicionado ao centro e o número dois outra roda por fora. Uma roda de frente à outra (esta formação é fundamental para que não fiquem dançando os mesmos pares a aula toda; e ao comando, a roda interna muda de parceiro, caminhando em sentido horário). Todos dançaram com todos com o intuito de integração e quebrar os preconceitos e os agrupamentos recém-formados.
Demonstramos os passos a serem executados a dois. Em seguida, foi pedido às meninas que formassem pares com os meninos. Nesta etapa, elas conduziriam os passos, fazendo desta forma o papel dos garotos. Após, foi pedido aos meninos que conduzissem as meninas. Notamos que aqueles que não estavam participando mostravam-se atentos a cada movimento e ainda estáticos com o avanço dos que haviam iniciado e já estavam dançando. Foi deixado o tempo final livre para que fizessem o que haviam aprendido e dançassem com quem quisessem. Finalizamos, pedindo para que todos sentassem na escada onde discutimos as atividades, os comportamentos e os preconceitos que afloraram. Momento este que se mostrou muito interessante, pois ao indagar aos meninos que participaram, que nunca haviam dançado, como havia sido esta vivência, eles disseram: “É uma sensação diferente!”; outro: “Achei muito difícil!”. Todos afirmaram que gostaram de ter feito. Perguntamos também se houve respeito quanto aos contatos ao dançar entre os pares. Ouvimos os seguintes comentários: “Claro, pois vocês não saíam de perto!”; “Não houve malicia, pois estava tentando aprender!”. Perguntou-se também se dançar era coisa de meninas e disseram: “Não, pois falam isso de ciúmes de quem dança.” Um outro garoto relata: “Eu só não dancei porque estou com o joelho machucado.” Ao finalizar, foi-lhes entregue um texto que seria a segunda atividade (vide anexo I). Explicamos que era para levarem para casa e que sugerissem um final para a história.
Número de participantes:
Materiais:
Segunda Proposta de Aula p/ o Tema Sexualidade no Ensino Médio, no contexto da EF
Módulo Temático: Texto “Amizade Colorida”, elaborado por Marcelo Baroni (2005)- Anexo I.
Objetivo:
Conteúdo:
Método:
Descrição:
Número de participantes:
Materiais:
Terceira Proposta de Aula p/ o Tema Sexualidade no Ensino Médio, no contexto da EF
Módulo Temático: Jogos – Futsal Adaptado e Misto
Objetivo:
Conteúdo:
Após esta exclamação, decidimos cancelar, respeitando e preservando a integridade das garotas, mas ao cancelar esta aula que tinha como objetivo demonstrar que a gestante também faz atividade, os cuidados necessários a se tomar durante a prática e ainda com saciar indagações como: “Como ficou seu dia-dia após a gravidez?” ou ...”E a escola? Teve que parar?”, seria uma aula totalmente voltada à discussão e importante para o desenrolar do projeto. Mas tivemos que alterar em uma semana o cronograma e desenvolver outra aula, já que as garotas realmente não aceitaram e nem encontramos outra voluntária que pudesse dar seu depoimento em tempo. Assim ao refletirmos sobre a primeira aula, buscamos unir uma aula de Educação Física mas fazer um paralelo com a primeira. E assim montamos uma aula do que Paes (2003) define como “jogo possível”:
O jogo possível é um meio que permite aos professores promover intervenções no processo de educação dos alunos, possibilitando-lhes o aprendizado dos fundamentos e das regras; trabalhando em espaços físicos que possam ser adaptados e com o uso reduzido de materiais, permitindo a interação de quem sabe jogar com quem quer aprender. (PAES, 2003, p. 94)” 10
Ao refletirmos sobre os relatos da professora de Educação Física, que nos dissera: “Trabalho muito com eles práticas esportivas... Vôlei, futsal, handebol e basquetebol com jogos coletivos.” Percebemos então, como isso poderia ajudar para alcançarmos os objetivos principais do projeto e ainda aumentar o número de participantes já que a primeira proposta não obteve muita participação e a adaptação para o jogo acabou sendo fundamental, para alcançar nossos objetivos e ainda fazer uma conexão entre a primeira aula com esta, pois a partir de conflitos e situações surgidas neste jogo adaptado e que exigiria a formação de duplas e casais, poderíamos discutir questões relacionadas à sexualidade, gênero, contato e preconceitos.
Método:
Descrição:
Número de participantes:
Materiais:
Quarta Proposta de Aula p/ o Tema Sexualidade no Ensino Médio, no contexto da EF
Módulo Temático: Apresentação de Grupos Temáticos e Dramatizações
Objetivo:
Conteúdo:
Já a seleção do formato de apresentação ficou a critério dos grupos, pois foi esclarecido que o grupo que estava apresentando não poderia ser interrompido e seria oferecido ao final da apresentação um momento para discutir e tirar dúvidas. Durante a apresentação, observamos os pontos importantes (mais polêmicos) para fazer um feedback no final da apresentação, corrigindo e discutindo, expondo pontos não apresentados e tentando esclarecer dúvidas e acontecimentos. Também surgiu a discussão de como os mesmos conversam sobre os temas, com quem (familiares, pais, amigos), onde podem encontrar mais sobre as discussões.
Método:
Descrição:
Apresentação do primeiro tema – Desejo Sexual
Grupo composto por seis alunos, duas garotas e quatro garotos. O grupo se apresentou na sala de aula por meio de exposição oral para se apresentarem ao restante da sala de aula. Revezavam a vez de explanar. Demonstraram inicialmente timidez, mas foram se soltando e demonstraram ao longo da apresentação muita segurança. A classe acompanhou a apresentação e prestaram atenção. Quando acabaram, a apresentação ficou aberta para discussão. Poucos demonstravam dúvidas ou objeções. Assim, começamos a questioná-los qual seria a definição de desejo sexual. Na parte escrita do trabalho, disponibilizado para os alunos, encontramos em seu conteúdo algumas definições de Desejo Sexual, visto principalmente como um fenômeno subjetivo e comportamental extremamente complexo, composto de fantasias sexuais, sonhos sexuais, iniciação a masturbação, receptividade do companheiro, as sensações genitais. Destacaram também os problemas sexuais, motivação sexual, a aspiração sexual, e o impulso sexual. Todos estes assuntos foram contemplados e discutidos nesta proposta e retomados em diversos momentos daqui para frente.
Apresentação do segundo tema - DST’s (Doenças Sexualmente Transmissíveis)
Grupo composto por sete alunos, com três garotas e quatro garotos. Se apresentaram na sala de aula, também por exposição oral. Neste dia, a sala ficou muito dispersa, dificultando a apresentação do grupo. Ao terminarem, a sala mostrou-se novamente sem apresentar dúvidas. A única contribuição foi da própria professora, que estava participando da aula e mencionou que o grupo não havia relatado sobre a Herpes, que esta também era uma doença sexualmente transmissível e alertou a sala a respeito deste assunto e da higiene pessoal. O grupo destacou na apresentação que as mulheres são mais susceptíveis a infecções. Assim, estimulamo-los a refletirem sobre o porquê, explicando em seguida que pelo fato das mulheres possuírem os órgãos genitais mais expostos ao ambiente do que os homens, além da temperatura vaginal que também propicia mais a proliferação de doenças. No trabalho escrito, descreveram as Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST’s) como principal fator de proliferação do vírus HIV (vírus da AIDS- Síndrome da Imunodeficiência Adquirida), destacando as características da AIDS e ainda que as pessoas com DST’s necessitam de atendimento adequado; e completaram dizendo que as mulheres são mais susceptíveis a adquirir as DST’s que os homens.
Apresentação do terceiro tema – Sexo Seguro
Grupo composto por sete alunos, cinco garotas e dois garotos. Tivemos mais uma exposição oral. O grupo foi rápido e a sala se manteve atenta. Descreveram a importância do relacionamento estável, do sexo seguro e com proteção. Destacaram que as Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST’s) se caracterizam pelos elevados índices de troca de parceiros sexuais. Ao terminarem a apresentação, a sala novamente se manteve sem aparentes dúvidas. Desta forma, questionamos quais eram os tipos de preservativos e sua utilização. Uma das garotas do grupo rapidamente respondeu: “Existem as camisinhas masculinas e femininas, mas as camisinhas femininas além de serem desconfortáveis são caras”. Um dos garotos do grupo se prontificou a demonstrar como se coloca a camisinha masculina, momento este que a sala fez um alvoroço, demonstrando energia da idade e todo o tabu e conflito que a questão da sexualidade gera nesta faixa etária. O grupo havia coletado cerca de 20 preservativos no Centro de Saúde de Campinas-SP, para distribuir na sala. O demonstrador se posicionou no meio da sala e simulou a preparação em um estojo de lápis: iniciou abrindo a embalagem, com o cuidado de rasgar a embalagem sem danificar o preservativo. Depois, enfatizou que era importante apertar a extremidade que não acumulasse ar; continuou abaixando e abrindo a camisinha até o fim. Reforçamos a atenção que sempre após a ejaculação, era preciso retirar o preservativo com o pênis ainda ereto, para que não ocorresse o vazamento de sêmen. Neste momento a sala mostrou-se calma, curiosa e atenta às explicações. NO trabalho escrito enfatizaram que SEXO SEGURO é o sexo sem o risco de ser contaminado com Doenças Sexualmente Transmissíveis, alertando que para isso o sexo deveria ser monogâmico, ou seja, sempre com o mesmo parceiro. Outra maneira de evitar o contágio seria o uso de preservativo, que evita o contacto dos fluidos corpóreos entre os parceiros sexuais.
Apresentação do quarto tema - Gravidez na Adolescência
Grupo composto por sete alunos, seis garotas e um garoto. Este grupo se optou pela apresentação teatral (dramatização). O grupo iniciou a apresentação relatando “Hoje em dia é comum ver adolescentes, cada vez mais novas, grávidas”. Complementaram: “Isso nem sempre é culpa dos pais, pela falta de informação e sim por descuido ou falta de informação”. Ao terminarem esta explanação inicial, explicam que irão apresentar uma história elaborada por eles que relata o assunto. Uma das integrantes do grupo vai lendo o texto descrito abaixo, enquanto o restante do grupo atua como personagens na história. A sala permaneceu extremamente quieta durante a apresentação.
Peça: “Eduardo e Mônica”
Mônica e Eduardo se conhecem desde criança e desta Amizade surge um grande amor. Após alguns meses de namoro, resolvem iniciar sua vida sexual. Mônica tem 14 (quatorze) anos e nunca teve um diálogo muito aberto sobre sexo com seus pais. Apenas tiveram uma ou outra conversa sobre o assunto. Já Eduardo, 19 (dezenove) anos, sempre conversava com seu pai, que lhe ensinava que ele deveria ser ‘macho’...
Enfim chegou o momento da relação... A transa rolou naturalmente. Eduardo foi carinhoso e tratou Mônica com muito carinho. Tudo poderia ser lindo, a não ser por um pequeno probleminha...
Eduardo e Mônica não se protegeram e nem se preocuparam com conseqüências...
Mônica, após alguns meses, começou a passar mal. Mas não se importou, pois acha que está apenas doente e nem se importa com a sua menstruação, já atrasada há um mês. Apesar de ser regulada acha que é normal, um mês se passa e Mônica agora sim começa a ficar preocupada. E, junto com suas amigas Carla e Sofia, vão até uma farmácia e compram o famoso teste de gravidez instantâneo. Mônica, mesmo com medo, conta a sua mãe, que surpresa e preocupada ajuda a filha e dá todo apoio. Mônica fala também para Eduardo e ele como a ama fica feliz e decide morar com ela. Eduardo e Mônica, ambos sem emprego, moram no fundo da casa da mãe de Mônica e começam a perceber as conseqüências de seus atos, passam por muitas dificuldades antes e depois da criança nascer.
Agora, imagine como poderia ter sido diferente o rumo desta história e de suas vidas se tivessem usado preservativo. Mônica apesar de amar seu filho, ainda não estava preparada para ser mãe e o mesmo aconteceu com Eduardo, ainda imaturo para ser pai... Esta história não é nem de perto a realidade que se vive quando surge uma gravidez prematura ou indesejada, que é bem mais difícil.
Para que não aconteça com você, vamos dar um aviso: (neste momento todos dizem juntos)
USE PRESERVATIVO!!!!!
Ao terminar a apresentação, toda a sala aplaudiu, mas todos demonstraram ter entendido a mensagem. Desta forma, partimos para a próxima e última apresentação.
Apresentação do quinto tema - Violência Sexual
Grupo composto por sete alunos, com cinco garotas e um garoto. Se apresentaram na sala de aula. Relataram o conceito de violência sexual: qualquer ato de violência, de constrangimento e de coação, considerada inclusive criminosa. Relataram também os efeitos de um estupro, os locais nos quais se deve tomar cuidado para evitar a violência sexual nos arredores da unidade escolar. Pouco depois de acabarem sua apresentação, houve muitas perguntas. Destacamos aqui a indagação de uma garota: “No caso de ocorrer um estupro e a mulher ficar grávida... O QUE ELA FAZ?”. Uma garota do grupo se prontificou a responder dizendo que por lei ela teria o direito ao aborto, que neste caso é respaldado por lei e deixa de ser um ato criminoso, que o Ministério da Saúde determina que o aborto pode ser feito na rede pública e em hospitais autorizados, após processo que reconheça o legitime a situação.
Assim, finalizamos as apresentações dos grupos e por termos acabado antes do horário final de aula, lhes pedimos que avaliassem as atividades propostas, colocando os pontos positivos e negativos, descritos no próximo tópico.
Número de participantes:
Materiais:
Considerações finais
O tema transversal “Orientação sexual com crianças e jovens”, existente nos PCN’s, sugere discussões em diferentes dimensões. A orientação sexual em aulas de Educação Física Escolar é uma delas. Neste trabalho, pretendeu-se promover uma articulação da orientação sexual com atividades práticas de Educação Física Escolar nos períodos referentes à adolescência, ou seja, que sejam discutidos no Ensino Médio. Foi defendida a importância de desenvolver uma proposta pedagógica para se ensinar e compreender a orientação sexual, levando em consideração os aspectos relativos aos valores e modos de comportamento. Nesse contexto, os referenciais sócio-culturais e metodológicos são norteadores para a aplicação dessa proposta que objetiva através da visão pedagógica transmitir que existem possibilidades de se tratar com propriedade o tema da orientação sexual em aulas de Educação Física.
Como apresentado nesse trabalho científico, a orientação sexual na vida de jovens e crianças deve ter como objetivo contribuir para a educação e para sua formação como cidadãos, no exercício pleno da autonomia e da informação.
A orientação sexual, considerando o espaço físico, as pessoas, os conceitos e os objetivos do estudo, deveria propiciar aos alunos o conhecimento dos seus diferentes conceitos e facilitar as situações de conflito muito eminentes no período da adolescência.
Ao se tratar da orientação sexual, é necessário propiciar aos alunos a descoberta de questões que muitas vezes nem sabem que possuem, por meio de conversas, discussões de maneira informal e aberta para o relato de um tema muito polêmico que é a orientação sexual. A orientação sexual mostra-se cada vez mais importante nas aulas de Educação Física. Ao trabalharmos com adolescentes, devemos destacar os pontos principais deste trabalho: a participação mostra-se de extrema importância para que haja um desenvolvimento pleno do conteúdo e estes compreendam para que discutam no final. Quando a aula é prática, os alunos devem vivenciar e assim sentir para que possa discutir o acontecido.
Outro ponto positivo é que para estes participarem, não precisam ser segregados por sexo, ou seja, separando a sala por gêneros ou papéis sexuais, repletos de estigmas e preconceitos. Por fim, é preciso enfatizar a importância das discussões sobre orientação sexual nas aulas de Educação Física Escolar. Os adolescentes ao vivenciarem o conteúdo mostram-se mais preparados a discutirem o tema e assim abre-se espaço ao diálogo, no qual podem discutir muitas vezes situações que prejudicam a aula, como por exemplo, em atividades de contato e toques, surgem aqueles contatos maliciosos; ou a garota não quer praticar atividade física pois está grávida, ou até mesmo aconselhá-los ou conversar com eles a estas escolhas e decisões.
São motivos suficientes para justificar a importância da abordagem e desenvolvimento deste tema em nossas aulas e com esta faixa etária, na qual o adolescente está repleto de dúvidas, anseios, medos e desejos, como já mencionado anteriormente. O que não se pode é mascarar estes conflitos, ou simplesmente abordar as questões fisiológicas e diferenças orgânicas e simplificar as questões de sexualidade a uma ou duas explanações sobre hormônios e órgãos genitais masculino e feminino. É preciso quebrar estas barreiras e auxiliar o público adolescente, através do diálogo franco e aberto com relação a suas latências e dúvidas, ou até mesmo preconceitos e estigmas relacionados a esta temática.
Este trabalho tampouco teve o intuito de defender a idéia de se propor estas atividades como “manuais de sexualidade”, seguindo este ou aquele procedimento. Pelo contrário, tivemos o interesse em divulgar uma proposta que considerou o contexto, seus sujeitos e as situações, que trouxe resultados muito positivos dentro desta temática ainda polêmica, bem como alguns aspectos passíveis de novas reflexões e alterações, mas que visualizamos serem facilitadoras para colegas de profissão que atuem no ensino médio e se deparem com esta problemática. As idéias aqui descritas podem ser aprimoradas, alteradas e adaptadas às situações de cada profissional e cada unidade escolar.
Daí a importância da presença e participação do professor de EF no ambiente escolar e a importância de seus conteúdos, que deveriam extrapolar muito mais do que a simples prática ou conhecimento de atividades físicas e esportivas. É este nosso desafio! Vamos em frente!
Notas
Ministério da Educação, BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais, p. 291.
Eugenia, segundo dicionário MICHAELIS, Dicionário Prático da Língua Portuguesa, p. 231, é “a ciência que estuda as condições que tendem a melhorar as qualidades físicas e morais da raça humana”. Este conceito foi apropriado para Educação Física no século XIX até XX pelas influentes correntes positivistas, higienistas e militares, que buscavam a formação da raça pura.
Lino CASTELLANI. FILHO, Educação Física no Brasil, a história que não se conta, p. 56.
Maria LUIZA HEILBORN, Sexualidade e Identidade: entre o social e o pessoal, 1 (2): 39.
Maria LUIZA HEILBORN, Sexualidade e Identidade: entre o social e o pessoal, 1 (2): 40.
Good Housekeeping apud Sara DELAMONT, Os Papéis Sexuais e a Escola, p. 37.
O programa Escola da Família é um projeto social do Governo do Estado que abre as escolas aos finais de semana, com programações de atividades livres e monitoradas. No caso, Marcelo Baroni ficava como responsável pelo monitoramento dos esportes coletivos e individuais.
Escolhemos estes freqüentadores, por serem alunos regulares durante a semana, que retornam aos finais de semana para participarem das atividades comunitárias e oferecidas na unidade escolar, dentro do programa Escola da Família, do governo do estado de São Paulo.
Houve uma ampliação no público ao aplicar as atividades, pois ao executar o primeiro módulo temático (dança), despertou claramente não apenas na professora, mas também nas outras séries do Ensino Médio um interesse curioso, pois ao passarem pelo pátio no momento que estavam se encaminhando para o banheiro, presenciavam a aula e em seguida indagavam a professora, se eles também teriam aula de dança, demonstrando interesse. A professora ao analisar a aula e observar o interesse dos alunos pela aula, pediu para aplicá-la em todas as séries do Ensino Médio. As outras salas do Ensino Médio em que foram aplicadas as atividades: duas salas do primeiro ano, com cerca de 35 (trinta e cinco) alunos cada; duas do segundo ano, com cerca de 38 (trinta e oito) alunos cada; e uma do terceiro com 30 alunos.
Roberto Rodrigues PAES, A Pedagogia do Esporte e os Jogos Coletivos, p. 94.
Referências bibliográficas
BRASIL, MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais / Educação Física: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998a.
BRASIL, MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental; temas transversais. Brasília: MEC/SEF, 1998b.
BRASILEIRO, DICIONÁRIO DIDÁTICO. Dicionário Didático Brasileiro da Língua Portuguesa. Guarulhos/SP: Didática Paulista editora.1999.
CASTELLANI FILHO, LINO. Educação Física no Brasil, a história que não se conta. 8ª edição. Campinas/SP: Papirus editora, 2003.
DELAMONT, SARA. Os Papéis Sexuais e a Escola. Londres: editora Livros Horizonte, 1980.
ÉPOCA, REVISTA. Sexo na Cabeça. Rio de Janeiro: editora Globo. Rio de Janeiro: Edição nº 303, 2004.
LUIZA HEILBORN, Maria. Sexualidade e Identidade: entre o social e o pessoal, Rio de Janeiro. Instituto de Medicina Social. UERJ. 1 (2): 36-44, mar. 2002.
MARÇURA, RODRIGO. Monografia: A Educação Física Escolar Brasileira (en) rola a bola?...Histórias e Perspectivas. 1ª edição. Campinas/SP: Unicamp, 2004.
MASSABNI, VALÉRIA GALINDO. Monografia: A Conscientização Corporal para Adolescentes Na Escola. Campinas: Unicamp, 1997.
MATTOS, MAURO GOMES DE / MAURO GARCIA NEIRA. Educação Física na Adolescência - Construindo o Conhecimento na Escola. 1ª edição. São Paulo/SP: Phorte editora. 2000.
MICHAELIS. Dicionário Prático da Língua Portuguesa. São Paulo/SP: Melhoramentos editora. 2001.
OMS (Organização Mundial da Saúde) http://www.who.int/en/. Acesso em 20 out. 2005.
PAES, ROBERTO RODRIGUES. A Pedagogia do Esporte e os Jogos Coletivos (Esporte e Atividade Física na Infância e na Adolescência), Dante de Rose Jr. e Colaboradores. Campinas/SP: Papirus editora, 2003.
SEVERINO, Antônio J. Metodologia do Trabalho Científico. 22ª edição. Revista e ampliada de acordo com a ABNT. São Paulo/SP: Cortez. 2002.
Anexo I – Texto elucidativo criado para a discussão do tema com os alunos
Anexos do trabalho
Amizade colorida (produzido por Marcelo Baroni)
Na Antiga Grécia....
....Filho você ainda não foi dormir? “Tá” vendo que horas são? Depois não consegue acordar para ir à aula de manhã.
- “Ta” bom mãe, estou indo...
E assim Platão vai descansar, para mais um dia de aula. 06:10 h da manhã.
- Platão, está na hora.
- “To” indo mãe.
Agora, Platão se arruma, toma seu café para ir à escola, chega a hora de ir...
- Tchau filho, tenha boa aula e não se esquece que hoje eu vou ajudar seu pai e por isso só volto ás 17:00 h.
- Tudo bem mãe, tchau mãe... “fui”...
Já na escola:
- “Fala aí” Platão beleza? Como foi seu fim de semana?
- Ah normal, fui na casa da minha avó e....
- Ei... a sua prima tava lá? Nossa ela é muito gatinha!
- Você não me deixa falar! Ela estava, mas acompanhada por um cara, só porque ele tem moto...
- “Vixe” Platão!!! Então já era... agora acabou tudo mesmo, hein? É melhor você investir na Atenas, pois ela “ta” dando mole para você.
- Ah sei lá... O Aquiles já “ficô” com ela... Eles foram ao cinema e ela acabou transando com ele, foi ele quem me contou.
- “Pô” Platão, o Aquiles é meio mentiroso... Mas... E se for verdade? Não é assim que você gosta?!
- Sim, mais não sei se tenho chance com ela... Bom, vou nessa, pois tenho todas as aulas hoje, depois a gente se fala...
- Até Platão.
(09:10 h hora do intervalo, já na fila da cantina).
- Olá Platão! Tudo bem?
- Oi Atenas... Tudo... como anda seu namoro?
- Nem te conto... “To” sozinha de novo, e você?
- Também estou só.
- Hum! O que vai fazer depois da aula? Posso te esperar?
- Bom não vou fazer nada, mas podemos combinar.
- Sei lá! Que tal um filme? Vai passar um ótimo hoje na sessão da tarde.
- “Pôxa! Massa!”, estou sozinho em casa mesmo, podemos ir pra lá.
- Beleza! Então, “ta” combinado! Te espero na saída.
- Tchau... Até....
11:50 h - saída da escola:
- E aí, Platão, vamos? – entrelaçando os braços dele.
- Vamos.
Na casa de Platão:
- “Poxa!” Platão, como sua casa é grande.
- É! Meus pais ganharam do meu avô.
- Será que eles não deixariam a gente fazer uma festa aqui?
- Ah não sei, mas posso falar com eles.
- Ei Platão, vai demorar para começar o filme... O que podemos fazer enquanto isso?
-Que tal isso. – ele se aproxima dela e lhe dá um beijo.
(...)
Em poucos instantes, já estão na cama dele, trocando carícias... tudo vai bem até que ela pergunta:
- Você tem proteção aí?
E ele diz:
- Proteção! O que é isto?
E ela :
- Camisinha! Preservativo... Você tem?
E ele:
- NÃO, MAS QUAL O PROBLEMA? JÁ QUE ESTAMOS AQUI, VAMOS APROVEITAR O MOMENTO?
E ela:
CONTINUE AGORA A HISTÓRIA – VOCÊ DECIDE!!!
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Anexo II - Solicitação para aplicação de atividades
Campinas___/___/_____
Solicitação para Aplicação de Atividades em Trabalho de Conclusão de Curso
À
Ilma Profª Diretora da Unidade Escolar _______________, Campinas SP
Eu, Marcelo Baroni, aluno de Educaçào Física de Campinas, venho por meio desta, solicitar autorização para aplicação de atividades práticas propostas em minha Monografia / Trabalho Cientifico vinculada a instituição supra-citada, sob orientação do Profº Ms Rubens Venditti Jr.
Destaco a importância da aplicação e a necessidade de observação desta prática para coleta de informações pertinentes ao meu objeto de estudo: a abordagem do conteúdo sexualidade nas aulas de Educação Física Escolar.
Sem mais, e certo de vossa presteza e compreensão.
Com os mais valiosos votos de estima e consideração.
Atenciosamente
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Pesquisador: Marcelo Baroni Orientador: Ms.Rubens Venditti Jr
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digital · Año 14 · N° 131 | Buenos Aires,
Abril de 2009 |