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A iniciação esportiva e a especialização precoce 

no futebol: fatores de crescimento ou de exclusão?

La iniciación deportiva y la especialización precoz en el fútbol. ¿Factores de crecimiento o de exclusión?

 

Licenciado pleno em E.F. – Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS

Especialista – Técnico Desportivo em Futebol e Futsal

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS

Pedro Evandro Francke

pefrancke@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste estudo foi de buscar nas referências, indicativos para os problemas encontrados na iniciação esportiva no futebol. Pois, apesar do grande número de crianças e jovens que iniciam neste esporte apenas uma parcela minúscula chegam a fase final que é o profissionalismo. Os jovens iniciantes não podem ser tratados da mesma forma e as metodologias aplicadas devem levar em consideração o desenvolvimento motor destes, o conhecimento do desenvolvimento motor deve ser superior ao conhecimento do esporte em questão quando tratamos de formação dos jovens atletas.

          Unitermos: Iniciação esportiva. Especialização precoce. Desenvolvimento motor.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 131 - Abril de 2009

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    O futebol nacional é sem dúvida uma grande paixão brasileira, é uma inspiração para a maioria dos jovens brasileiros que vêem em jogadores consagrados e renomados mundialmente a oportunidade de crescimento pessoal, ascensão financeira e realização de um grande sonho.

    É o esporte mais praticado mundialmente e sem dúvidas o mais jogado no Brasil, que é a grande referência mundial neste jogo. Fatores que inspiram à prática além da paixão são as grandes conquistas de nossas equipes neste esporte e o reconhecimento mundial dos jogadores brasileiros e que sempre estão entre os melhores mundialmente, trazendo muita fama e riqueza.

    Somos um país continental e com uma grande população, e existe por isso uma enorme quantidade de jovens que iniciam no futebol para atingir o profissionalismo. Com certeza a técnica e habilidade do brasileiro se destacam mundialmente, porém os jogadores de destaque são uma pequena parcela se analisarmos a quantidade de jovens que iniciaram neste processo e comparando-se com países de menor população e que possuem equipes também tradicionais e competitivas.

    Pode-se debater sobre vários aspectos que resultam no pouco aproveitamento desta grande amostra de futebolistas que iniciaram talvez o maior seja causado por metodologias ultrapassadas na formação e de alguns equívocos provocados no processo de formação. Porém busca-se neste artigo debater e questionar sobre o início, ou seja, como é visto a iniciação esportiva da prática do futebol no Brasil.

    Com o crescimento das cidades os antigos campos de “pelada” estão dando lugar a prédios e casas diminuindo os espaços onde crianças jogavam futebol, os jovens que sonham em serem profissionais buscam então escolinhas e clubes de futebol.

    Creio que estas instituições deveriam ser as de profissionais mais qualificados no futebol, mas o que ocorre é muitas vezes o contrário, encontram-se pessoas sem uma qualificação adequada.

    O preocupante é que o fato de conhecer futebol não transforma o instrutor num bom professor, às vezes esquece que o principal quando se fala em crianças e esporte é que o fator mais importante e o que deve ser de maior conhecimento não é o esporte e sim a criança, pois é ela que está em constante desenvolvimento e deve ser tratada e respeitada de acordo com este desenvolvimento.

    A otimização do treinamento infantil e de jovens requer um conhecimento básico das condições vigentes em cada faixa etária. Somente este conhecimento possibilita estabelecer um treinamento adequado às necessidades de crianças e jovens (WEINECK, 1999).

    Os profissionais que trabalham na iniciação esportiva devem saber que estão lidando com crianças em constante desenvolvimento tanto físico como mental, e este crescimento não ocorre de forma homogênea no ser humano e, por tanto, o instrutor deve ter um conhecimento nesta área para que saibam as causas, as conseqüências e os resultados de trabalhos corretos ou incorretos podem gerar na formação destes jovens.

    Os treinadores (instrutores) devem, portanto, além do conhecimento do esporte em si, devem conhecer como ocorre o desenvolvimento motor dos jovens que estão aos seus cuidados, como é citado por Scalon:

    Por isso a necessidade de termos técnicos bem preparados, porque estes não devem ser aqueles que têm apenas o melhor conhecimento do esporte ou da modalidade esportiva, mas que têm, igualmente, um conhecimento mais profundo dos aspectos biológicos e psicossociais da criança, assim como a capacidade para integrar estes conhecimentos na preparação esportiva delas, podendo identificar assim o nível de prontidão para a prática esportiva. (2004, p 94).

    Um grave problema encontrado em treinamento de jovens é a repetição de trabalhos desenvolvidos para adultos, o que gera problemas futuros a estes, conforme cita Scalon:

    Um aspecto que merece atenção neste trabalho é o fato do modelo esportivo dos adultos ser muitas vezes levado também para as crianças. Ao mesmo tempo em que este modelo atrai pelo alto nível da competição, outras vezes afasta por fatores como o excesso e rigidez de exigências advindas deste tipo de competição. (2004, p. 79)

    O que geralmente se constata no trabalho com jovens futebolistas e a grande utilização de metodologias utilizadas em categorias mais elevadas (juvenis, juniores e profissionais), mas nestas categorias o trabalho ocorre de uma forma mais sistemática e repetitiva, dando uma grande ênfase aos gestos técnicos e funções táticas. Esta metodologia é utilizada devido ao fato destes jogadores já estarem com seu desenvolvimento motor mais adiantado, e por dar uma importância maior à competição do que a formação dos atletas.

    O resultado é a deficiência técnica encontrada nos jogadores na fase adulta, porque trabalharam capacidades que não estavam preparados física e mentalmente para suportar e as que realmente deveriam trabalhar não foram estimuladas no momento correto. E pela grande repetição de gestos específicos do futebol esquecendo que estes, comparando com as grandes possibilidades de gestos possíveis são muito pobres para um desenvolvimento motor completo dos jovens.

    Um programa para iniciação esportiva, através do futebol, deve ser regular, equilibrado, voluntário, e agradável, de modo a dar atenção especial às necessidades, potencialidades e aspirações da criança. (FILGUEIRA, 2008)

Iniciação esportiva

    A iniciação esportiva pode ser definida como o momento em que o jovem ou a criança começa a prática sistemática de um ou mais esportes. Existem muitas opiniões sobre o momento ideal para este começo.

    Para Stefanello (2002, p.173):

    Juntamente com a grande proliferação do desporto jovem, o envolvimento de crianças e adolescentes em programas desportivos tem gerado opiniões variadas e até mesmo radicais, sendo comum encontrarmos defensores implacáveis para que as crianças sejam impedidas de participar de programas desportivos e, em contrapartida, para que deles possam participar sem reservas. Há, contudo, considerações mais moderadas que indicam posições cuidadosas sobre o tema, mas que não fecham a questão em torno destes posicionamentos. Os defensores desta proposta entendem que a prática desportiva para os mais jovens pode atuar como uma espada de dois gumes, cortando em direções contrárias, ou seja, com efeitos devastadores se for na direção errada.

    Go Tani (2002, p.144) afirma que:

    Sob o ponto de vista de estudos o desenvolvimento infantil, pode-se afirmar que existem evidências suficientes para uma tomada de decisão coerente e conseqüente sobre o melhor momento da iniciação esportiva. Se respeitadas as características de desenvolvimento motor, cognitivo, afetivo, social e moral das crianças, a iniciação esportiva, com pequenas variações, dependendo das especificidades da modalidade, deve ocorrer no final da segunda infância, ou seja, entre 10 a 12 anos de idade.

    Acredita-se que a questão, apesar de gerar polêmica trata-se mais de uma questão metodológica do que uma questão biológica, pois a partir dos 10 anos o organismo da criança já está desenvolvido para um início da prática esportiva, porém este desenvolvimento não ocorre de uma forma homogênea. Existem capacidades físicas que já estão desenvolvidas para um trabalho mais específico, já outras se trabalhadas e de que forma isto ocorrerá pode resultar em prejuízo a formação destes jovens.

    Porém não se pode considerar apenas a idade biológica como um padrão para a prática esportiva de uma forma sistemática, pois por vários fatores o desenvolvimento físico não acompanha a idade, e que se evidencia quando comparamos crianças de mesma idade e que na prática demonstram níveis de desenvolvimento motor diferente.

    Através de seus estudos Weineck (1999, p.101) afirma que: “Em crianças com desenvolvimento normal há uma coincidência entre idade biológica e física. Em crianças precoces (com desenvolvimento acelerado) o desenvolvimento físico precede o biológico em 1 ou mais anos; e em crianças de crescimento tardio (retardado) ocorre o contrário, o crescimento biológico precede o físico”.

    Crianças com idades menores podem e deve participar de escolinhas desde que o trabalho realizado desenvolva as habilidades propícias á idade em que se encontram. Pois o futebol é um meio de integração social, proporciona atividades saudáveis ainda mais numa sociedade onde cada vez mais encontramos precocemente o sedentarismo. As atividades que visam à integração, o prazer pelo jogo, as não exigências de regras rígidas e a possibilidade do aumento do vocabulário motor, não são prejudiciais e ajudam na formação destas crianças.

    Quem acompanha crianças jogando em escolinhas nota-se facilmente que os melhores têm condições de jogar em qualquer posição nesta idade, não por serem diferenciados, mas sim por um vocabulário motor mais rico. Podem e fazem movimentos mais naturalmente, pois nas suas brincadeiras em idades menores terem adquirido um conhecimento melhor do seu corpo, diferente de crianças mais sedentárias.

    Ao referir-se a jogador de qualidade, Fernandez analisa:

    O jogador de qualidade é aquele que vivencia um número enorme de possibilidades e, para cada situação do jogo, ele encontra a melhor. O jogador de hoje tem poucas possibilidades, imposta por rotinas exaustivas e limitadas, portanto, formando um jogador de pouca qualidade, o que torna o jogo de menor qualidade com movimentos estereotipados, sem qualidade. Por isso, estamos cada vez mais frequentemente vendo jogadores de baixo nível técnico e equipes de péssima qualidade. (2008, p.1)

O desenvolvimento motor e suas fases sensíveis

    Para Gallardo (2000, p. 55) a respeito do desenvolvimento motor diz que: “O desenvolvimento humano tem sido entendido como mudanças que ocorrem no indivíduo desde sua concepção até sua morte. A palavra desenvolvimento em si implica mudanças comportamentais e estruturais dos seres vivos no tempo”.

    Gallardo (2000, p. 55) ainda afirma que: “É o surgimento e o melhoramento no nível de controle da criança, na execução das habilidades”.

    Isto é a medida que a criança vai se desenvolvendo ela passa a ter um conhecimento maior de seu corpo, o que permite realizar atividades e movimentos que antes não eram possíveis.

    Bielinski (S.D, p. 10) diz que: “ Com o desenvolvimento biológico da criança, ela vai conquistando um maior domínio sobre seu corpo, o que permite que se possa atuar no sentido de aperfeiçoar suas habilidades”.

    Para Golomazov (1996, p. 26): “A precisão dos movimentos bem como outras características, depende do amadurecimento da pessoa, quer dizer, da idade. A criança, com o aparelho locomotor ainda em desenvolvimento, não pode executar igualmente bem todos os movimentos”.

    No desenvolvimento motor encontramos períodos onde os estímulos do treinamento respondem de uma forma mais rápida e estes são definidos como fases sensíveis do desenvolvimento motor.

    Barbanti (1994, p.124) define fases sensíveis como:

    Períodos de vida nos quais se adquirem muito rapidamente modelos específicos do comportamento, vinculados com o ambiente, e nos quais se evidencia uma elevada sensibilidade do organismo para realizar determinadas experiências. Acredita-se que a motricidade humana, há períodos limitados de desenvolvimento nos quais as pessoas reagem de modo mais intenso, porque durante esses períodos da vida o organismo está mais preparado ou pronto para responder estímulos motores apropriados. Nas fases sensíveis as condições são mais favoráveis para o treinamento direcionado para o desenvolvimento das capacidades e para a formação das habilidades motoras.

    A utilização dos estímulos corretos conforme as fases sensíveis torna-se fundamental para a formação de futuros futebolistas, pois os resultados são duradouros e constituem na base motora para atividades mais complexas que o futebol exigirá em fases seguintes. Já o contrário pode trazer prejuízos, que com muitas dificuldades serão corrigidas num futuro.

    Golomazov (1996, p. 26) afirma que:

    A capacidade de aprender os movimentos depende da idade. Há outros que aprendem melhor na infância, e os que se dominam só com a idade. Alguns hábitos se não aprendidos oportunamente, nunca mais se aprendem, ou são obtidos, somente mediante treinamentos intensos.

Especialização precoce: o vilão do desenvolvimeno infantil

    O perigo está em fazer com que estas crianças tenham uma rotina de treinos que seriam para idades superiores, pois vão trabalhar gestos específicos do futebol sem terem um conhecimento corporal que permitam realizar estes gestos com segurança.

    Sobre especialização precoce Golomazov (1996, p.28) afirma que: “Por várias razões, muitos técnicos vêem-se obrigados a acelerar a preparação dos jovens atletas. Se a especialização precoce é positiva ou negativa, depende dos objetivos colocados. Se a idéia é criar um futebolista talentoso, o treino intensivo e precoce é nocivo”.

    Sobre a metodologia Filgueira (2008, p. 3), diz:

    A metodologia deve ser baseada na variação dos exercícios a serem ministrados de acordo com o nível de idade (fraldinha, dentinho e dente), devendo ser programada quanto à complexidade, intensidade e duração. Nestes níveis de idade, os trabalhos técnicos devem ser formados por ações básicas, não visando à técnica propriamente dita, sem o aperfeiçoamento e sim, objetivando a aprendizagem dos movimentos.

    A realização de movimentos na iniciação sem uma cobrança repetitiva e sistemática permite aos jovens um domínio do corpo de uma forma mais natural e sem buscar ênfase em gestos específicos, aumentando assim as possibilidades de um conhecimento corporal através de outras ações motoras que não são específicas do futebol. Mas que darão um suporte para ações mais complexas no futuro através do aumento do vocabulário motor destes jovens.

    Muitas atividades empregadas com crianças envolvem ações básicas as quais elas ainda não tiveram oportunidade de aprender. Assim, as crianças estariam a ser "empurradas" para as ações esportivas, mesmo antes de terem alcançado um nível de padrão motor próximo da forma madura e necessária para a habilidade subjacente. (SAAD, 2006)

     Muitos professores, conforme Stein (1988) têm adotado o caminho mais fácil de ensinar até a automatização de ações técnicas e táticas na forma de exercícios/jogadas programadas, que implicam em uma precoce especialização em posturas definidas nas equipes, fato este que elimina opções de criatividade ou "saída dos esquemas" do jovem jogador. (SAAD, 2006)

O treinador e sua função na formação

    A função do treinador ou instrutor é de fundamental importância neste processo de formação, pois será quem apresentara o esporte para a criança e a direcionará nos seus primeiros passos. Facilmente este se tornará numa referência para os jovens e seus procedimentos e atitudes marcarão estes jovens negativa ou positivamente no decorrer da prática esportiva destes jovens.

    Marques (2000, p.7) alerta: “Há atitudes censuráveis na ação do treinador, as quais estes se eximem. Pior, pelas quais sequer são responsabilizados e, no entanto, são ‘pedagogos’”.

    O conhecimento destes técnicos deve atender o desenvolvimento dos jovens e os conhecimentos devem ir além das sessões de treinos de futebol. Precisam saber e conhecer bastante sobre como se comporta o desenvolvimento infantil para que consiga adaptar seu trabalho e sua metodologia ao jovem e suas intervenções tenham um efeito positivo na formação destes jovens.

    Bielinski (S.D, p. 42) reforça esta afirmação quando diz: “O professor, que atua como orientador na escolinha de Futebol, além de ser um especialista em futebol, precisa entender de evolução psicobiológica do ser humano, pois vai lidar com atividade física de crianças ainda em formação”.

    Sobre a busca de rendimento máximo dos jovens pelos seus treinadores Scalon (2004, p. 85) diz:

    Alguns treinadores, muitas vezes, para alcançarem o máximo de rendimento que um treinamento intensivo requer, extrapolam como já foi referido anteriormente, com modelos de treinamentos próprios para adultos, como se a criança fosse um “adulto em miniatura”. Já no início das temporadas as crianças são submetidas a processos de seleção, vulgarmente chamado de “peneiras”, que vão eliminando a grande maioria para conseguir um grupo de qualidade. Tudo isto fomentado por uma transposição mimética ao mundo infantil dos valores, dinâmica de competição e regulamento do adulto.

A competição como instrumento formador dos jovens futebolistas

    A competição de jovens, se utilizado corretamente pode servir como um grande instrumento formador desde que seja trabalhada corretamente, pois caso não seja, atuará como um agente de exclusão de muitos jovens neste esporte.

    Sobre a participação de crianças em eventos esportivos, Saad (2006, p.1) afirma:

    Com a crescente participação de crianças em eventos esportivos, na busca de rendimento de alto nível, Krebs (1995) destaca que o treinamento e a participação competitiva de crianças têm sido uma réplica, ou uma adaptação mais ou menos estreita, dos conhecimentos e formas de organização do esporte de alto rendimento. Dessa forma, a prática esportiva ocasiona efeitos de ordem fisiológica, emocional, psicológica e social. Por um lado, proporciona satisfação, divertimento, prazer e até perspectiva de um futuro melhor, se tomarmos como exemplo a mídia que envolve os jogadores de futebol. Por outro lado, frustrações, perda de tempo, de dinheiro e até mesmo prejuízo à saúde, são alguns fatores prejudiciais de uma prática esportiva que não respeita a idade evolutiva das crianças e que coloque formas de pressão e cobranças de resultados inadequados à faixa etária.

    A competição é um instrumento do treinamento infantil importante nesta formação, até porque os jovens futebolistas são competitivos entre si, valorizam as conquistas e são muitos críticos nas derrotas. Portanto a competição torna-se neste contexto um instrumento de formação de valores destes jovens.

    As estratégias que devemos utilizar na preparação de crianças devem ocorrer de princípios que valorizamos na formação, fazendo da competição uma extensão da atividade de treino e não o contrário. (SCALON, 2004)

    Sobre a relação desporto e competição, Gaya diz:

    Nem o desporto, nem a competição que lhe é imanente se constituem em si mesmos como determinantes na perspectiva da educação da criança. O desporto e a competição são apenas instrumentos. São sobretudo os princípios e valores associados à competição, a forma como esta é utilizada e as experiências vividas durante a atividade que conferem, ou não, às práticas desportivas o seu valor educativo. Mas estes pode, indiscutivelmente, ser associado às atividades competitivas. (2004, p. 77)

    Gaya, relacionando treino e competição afirma:

    A relação treino/competição no desporto dos mais jovens não deve então ser estabelecida da direita para a esquerda, isto é, da competição para o treino, como se faz no desporto de alto nível, em que o modelo de treino é organizado a partir do modelo de actividade competitiva, mas da esquerda para a direita, do treino para a competição, isto é, numa relação de continuidade e complemento dos objectivos de formação que se promovem no treino. (2004, p. 79)

    Frequentemente constatamos que as instituições formadoras enfatizam o aprendizado e desenvolvimento dos jovens futebolistas, mas no início das competições e com resultados adversos o discurso inicial fica em segundo plano e a busca de meios para vencer supera os meios formativos, muitas vezes as soluções encontradas são a exclusão dos jogadores menos preparados no momento, e na busca de jogadores mais desenvolvidos, como também na troca das metodologias formativas por trabalhos que exigem mais dos jogadores do que eles possam realizar.

    Sobre a valorização excessiva dos resultados, Gaya afirma:

    Uma valorização excessiva dos resultados na competição terá inevitavelmente como conseqüência um aumento inapropriado do volume e intensidade das cargas e uma rápida especialização dos exercícios e métodos de treino. O que prejudica a formação. Mas a competição não é prejudicial à formação e educação da criança. Bem pelo contrário, desde que utilizada adequadamente. (2004, p.80)

    A forma como enfrentam as conquistas e as derrotas podem ou não acrescentar e fortalecer valores de companheirismo, união, entre outros. Desde que sejam bem abordados e trabalhados pelos treinadores.

    A competição pode ser estruturante da formação da criança. Nas vitórias como nas derrotas. A derrota é tão ou mais importante que a vitória na formação dos mais jovens. As vitórias imediatas podem comprometer mais o futuro do que as derrotas. (GAYA, 2004)

Crianças com dificuldades de aprendizagem

    Muitas vezes por mais que se busque um trabalho correto e baseado no desenvolvimento motor dos jovens, os resultados para algumas crianças não aperecem. Algumas vezes pelo fato destes estar tendo um primeiro contato com o esporte, mas outras vezes as crianças possuem dificuldades na aprendizagem e devemos estar atento para detectar e dar uma atenção especial para estes casos.

    Referindo-se às dificuldades na execução de atividades motoras, Gaya afirma que:

    Existem crianças que, mesmo com suas experiências motoras em jogos, brincadeiras do cotidiano e, até mesmo, com as atividades desenvolvidas nas aulas de educação física na escola, apresentam dificuldades quando solicitadas a executar tarefas motoras, aparentemente simples, tais como correr e saltar consecutivamente, saltar e arremessar simultaneamente, entre outras quando comparadas a crianças da mesma faixa etária. Quando inseridas no contexto de ensino do esporte, em função de seu comportamento atípico e desajeitado, essas crianças passam a ser consideradas como problemáticas. A necessidade da criança de explorar o ambiente defrontar-se com sua “realidade motora” um tanto quanto atrapalhada, podendo torná-la frustrada e marginalizada pelos colegas. Os professores muitas vezes desconhecedores dos problemas decorrentes desse tipo de comportamento acabam permitindo atitudes de isolamento, desprezo e, algumas vezes, de deboche que, possivelmente, só servem para agravar ainda mais a situação. (2004, p. 537)

    O esporte é um instrumento de socialização e mesmo que muitos dos jovens que praticam futebol não serão jogadores profissionais no futuro, nem por isso devemos menosprezar jovens menos qualificados, pois a prática esportiva ajuda de forma direta na formação deste jovem como cidadão acrescentado valores importantes para o convívio social.

    Sobre dificuldades e desordens motoras, Gaya diz:

    As dificuldades e desordens motoras são uma realidade para muitas crianças, e essas características não as fazem piores que as outras, simplesmente as fazem diferentes e com uma história de vida distinta. O que se faz necessário é revermos as questões pedagógicas que se relacionam com as dificuldades da criança em aprender o esporte. Muitas vezes, o despreparo do profissional que atua com a criança desencadeia uma generalizada isenção de responsabilidades. À criança rotulada sobra a estigmatização, a introjeção de uma doença, com repercussões previsíveis em sua auto-imagem, autoconceito e auto-estima (Moysés; Collares, 1993). (2004, p. 544)

Conclusão

    Com esta pesquisa buscou-se criar questionamentos sobre a forma que esta sendo utilizada para formar as nossas novas gerações de jogadores de futebol.

    Devemos oferecer suporte a um treino adequado à criança, e também nos opormos à especialização precoce promovendo assim uma construção sistemática e com objetivos em longo prazo. (SCALON, 2004).

    Num momento em que se busca um maior embasamento científico ainda utiliza-se formas já estão ultrapassadas e que devem ser abolidas tanto pelo prejuízo causado como também pelo grande percentual dos jovens que se perdeu neste processo.

    Para as crianças terem uma vida esportiva prolongada, chegando ao esporte de alto rendimento, torna-se necessário que suas experiências motoras e de iniciação esportiva sejam positivas, tanto do ponto de vista psicomotor quanto das dimensões afetivas, sociais e cognitivas. (SAAD,2004)

    Sobre os princípios científicos que regem o treinamento desportivo, Thomaz afirma:

    Como o treinamento desportivo é regido por princípios científicos e, existem diferenças significativas entre as etapas de alto rendimento e formação, fica clara a necessidade de diferenciação dos conteúdos aplicados e dos objetivos a serem alcançados nas distintas fases. E isto foi proposto por autores como Barbanti (2005) e, Greco e Benda (1998) objetivando a sistematização deste processo. (2007, p. 1)

    Analisando os programas de prática esportiva, Gaya diz:

    Os programas de prática esportiva podem ser encontrados em contextos diferenciados, tais como aulas de educação física escolar, clubes esportivos ou escolas de formação específica de esportes. Nesses programas, independentemente dos locais e das condições, é preciso que o ensino esteja voltado para o desenvolvimento das capacidades da criança, sem perder de vista as implicações do processo de aquisição das habilidades motoras para seu cotidiano. Além disso, é necessário que sejam respeitadas as individualidades e potencialidades dos executantes, principalmente daqueles que apresentam maior dificuldade no ato de aprender. (2004, p.544,)

    Torna-se fundamental para o desenvolvimento dos jovens futebolistas, que além de um planejamento para longo prazo, o respeito pelo indivíduo, um tratamento individualizado a cada jogador; que os responsáveis sigam o rumo traçado e não busquem mudar o planejamento a cada revés que se encontre no processo.

    Pois vitórias e derrotas são também instrumentos formativos e não critérios para mudanças de planejamento ou exclusão de jovens deste processo.

    Caso os resultados sejam mais importantes que todo o processo formativo, então o planejamento está equivocado ou a instituição está equivocada, pois procura-se então os melhores (maiores, mais fortes,etc.) num momento da vida em que não é possível definir se estes realmente serão os melhores quando chegarem ao profissionalismo, ou se pula etapas para que no treinamento se atinja melhores resultados mas tem-se então no futuro jogadores provavelmente mais limitados.

    São nesses equívocos que se perdem promessas no esporte, até porque fora os jogadores natos, muitos jogadores de alto nível técnico foram se aprimorando no decorrer de todo o processo formativo, e os que poderiam chegar neste nível e abandonaram antes, talvez, a exclusão deve-se pela deficiência do processo e não da criança.

Referências

  • BARBANTI, Valdir J. Dicionário de Educação Física e do Esporte. São Paulo: Manole, 1994.

  • BIELINSKI, Reginaldo P. Escola de Futebol: Ensino com emoção. Rio de Janeiro: Grupo Palestra. SD

  • FILGUEIRA, Fabrício M. Aspectos físicos, técnicos e táticos da iniciação ao futebol. EFDeportes.com, Revista Digital, Nº 115, 2006. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd103/iniciaciao-futebol.htm. Acesso em: 22 de fevereiro de 2008.

  • GALLARDO, Jorge Sergio Pérez. Educação Física: contribuições à formação profissional. 3ª ed. Ijuí: Editora Unijuí,2000.

  • GAYA, Adroaldo, MARQUES, Antônio, GO TANI. Desporto para crianças e jovens: razões e finalidades. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004.

  • GOLOMAZOV, Stanislav; Shirva, Boris. Futebol: Treino de qualidade do movimento para atletas jovens. Adaptação técnica e científica: Antônio Carlos Gomes e Marcelo Mantovani. São Paulo: FMU,1996.

  • GO TANI. Iniciação Esportiva e influências do Esporte Moderno. IN: SILVA. Francisco Martins. Treinamento Desportivo: aplicações e implicações. João Pessoa: Editora Universitária, 2002.

  • MARQUES, Antônio T. As profissões do corpo: treinador. Treinamento Desportivo, Curitiba, v.5, n.1, p. 4-8, junho. 2000.

  • SAAD, Michel Angillo. Iniciação nos jogos coletivos. EFDeportes.com, Revista Digital, Nº 95, 2006. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd95/inici.htm. Acesso em: 25 de fevereiro de 2008.

  • SCALON, Roberto M. A psicologia do esporte e a criança. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004.

  • STEFANELLO, Joice Mara Facco. Psicologia do Desporto: Aplicações e contribuições para o treinamento desportivo de crianças e jovens. IN: SILVA. Francisco Martins. Treinamento Desportivo: aplicações e implicações. João Pessoa: Editora Universitária, 2002.

  • THOMAZ, Tiago R. PAOLI, Próspero B. Percepções de técnicos da categoria infantil das escolas de futebol da Grande Vitória - ES, referentes ao desenvolvimento do componente tático no planejamento de trabalho. EFDeportes.com, Revista Digital, Nº 115, 2007. http://www.efdeportes.com/efd115/escolas-de-futebol-desenvolvimento-do-componente-tatico.htm.

  • WEINECK, Jüngen. Treinamento Ideal: Instruções técnicas sobre desempenho fisiológico, incluindo considerações específicas de treinamento infantil e juvenil. Tradução: Beatriz Maria Romano Carvalho. 9ª ed. São Paulo:Manole, 1999.

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