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Treinamento lúdico ‘outdoor’

 

* Graduada em Educação Física

** Livre Docente e Coordenadora do LEL - Laboratório de Estudos do Lazer

Membros Pesquisadores do LEL – Laboratório de Estudo do Lazer

IB/DEF/UNESP – Campus de Rio Claro

(Brasil)

Flávia Andrea Urvaneja de Moraes*

urvaneja@uol.com.br

Dra. Gisele Maria Schwartz**

schwartz@rc.unesp.br

 

 

 

Resumo

          Este estudo teve por objetivo investigar a inserção das atividades lúdicas “outdoor” aplicadas em empresas, nos treinamentos diferenciados. O estudo, de natureza qualitativa, utilizou como instrumento para coleta de dados a observação, realizada durante a aplicação de um treinamento lúdico outdoor, desenvolvido durante atividade de “lona lisa” e posterior feedback, em reunião. Os dados foram analisados descritivamente e indicam que, por ser o lúdico um atrativo diferente de treinamento dentro das empresas, as quais têm conceitos, na maioria das vezes, conservadores de trabalho em equipe, pode-se perceber grande aceitação desse tipo de atividade, evidenciando-se seu importante papel para incrementar aspectos como motivação, cooperação, liderança e espírito de equipe, nessa determinada empresa.

          Unitermos: Treinamento. Lúdico. Empresa.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 130 - Marzo de 2009

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Introdução

    Diversas empresas têm percebido a ineficácia a aplicação unicamente do modelo quantitativo de treinamento de pessoal, o qual visa como resultados, a performance e a melhoria na administração. Em face disto, algumas empresas têm procurado inovações ou a exploração de outros universos estratégicos, somando um modelo mais qualitativo de treinamento, com base nas atividades lúdicas, em que as relações interpessoais, o comprometimento e, inclusive, o prazer, são de extrema importância e tornam-se diferenciais para se atingir tais objetivos.


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    Entretanto, a relação entre o lúdico e o ambiente de trabalho não se faz de modo tão simples, tendo em vista que ambos os termos foram setorizados em espaços diferenciados. Mas, alguns profissionais, alertam para as mudanças e expectativas sociais e do meio empresarial, procuram salientar a perspectiva de integração do lúdico no ambiente de trabalho, uma vez que o treinamento lúdico, por suas características, pode ampliar as possibilidades de aprimoramento das relações interpessoais e de cooperação, as quais terão ressonâncias significativas na obtenção de resultados na qualidade das relações no trabalho e em outras instâncias nesse contexto.

    Sendo assim, o interesse deste estudo foi evidenciar uma experiência realizada com a atividade lúdica outdoor, aplicada em forma de treinamento dentro de uma empresa, visando alterações de atitudes e condutas referentes à valorização da expressão lúdica, inclusive no ambiente de trabalho.

Revisão de literatura

    O treinamento lúdico consiste em determinados tipos de atividades, focalizando, especificamente a brincadeira, o jogo, o prazer e a diversão, como características básicas, sendo oferecido às empresas em forma de experiências, neste caso, vivenciadas em ambiente fora do trabalho, ou outdoor.

    Este treinamento lúdico outdoor representa um conjunto de atividades que podem ser utilizadas com objetivos motivacional, de integração, ou para assimilação de informações específicas acerca de determinadas tarefas da empresa, entre outras finalidades (MORAES, 2008)

    Neste tipo de treinamento não são priorizadas somente abordagens de conteúdos dentro de uma sala, mas especialmente, aquelas que podem ser realizadas fora dela, em meio ao contato com a natureza. Esta estratégia permite um distanciamento temporário da realidade da empresa, ainda que as pessoas ou os objetivos perpassem a esfera empresarial. As ressonâncias do trabalho em meio ao ambiente natural já estão sendo pesquisadas por autores como Machado (2006) e Moraes (2008), preocupados em perceber o envolvimento de atividades diferenciadas em meio à natureza, como possibilidade de alteração de condutas, atitudes, inclusive, capazes de promover nova aceitação ao elemento lúdico, como comportamento primário da espécie humana (SCHWARTZ, 2004), fomentando a atitude lúdica.

    Para Schwartz (2004, p.212), pode-se entender por atitude lúdica:

    “... a disposição para modificar, inserir e propor situações que são égide da permissividade, do prazer, da confiança, da necessidade de segurança e na qual se permite o fantasiar e o imaginar, elementos que são dependentes de condições singulares de experimentação...”

    Para Marcellino (2002) deve-se entender o lúdico, não como uma finalidade, ou de forma isolada nessa ou naquela atividade (jogo, brinquedo, brincadeira, etc), mas, como um componente da cultura historicamente situada, e a cultura não somente como produto, mas como processo, afirmando que o lúdico, assim como o lazer, deve ser observado numa dupla perspectiva: como produto e como processo, conteúdo e como forma.

    Conforme Marinho (2004, p.195), discorre sobre o tema, ela diz que a ótica da complexidade lúdica está além dos aspectos apenas da diversão e do entretenimento, normalmente geralmente empregado ao lúdico, chegando a ser até um “ato de rompimento”, entre a vida cotidiana e as expressões críticas, criativas e prazerosas.

    Visto nesta perspectiva, pode-se entender o lúdico como um meio, inserido dentro do contexto de treinamento, como um agente motivador e inovador, criando novos significados, com novas abrangências.

    Quando se fala em treinamento lúdico “outdoor”, salienta-se um novo significado, que são as atividades já conhecidas de caráter lúdico, só que vivenciadas fora do ambiente físico do trabalho, em meio à natureza, mas, inseridas no ambiente pessoal de trabalho.

    A partir de um redirecionamento neste sentido no treinamento empresarial, isto é, tornando-o mais lúdico, utilizam-se conteúdos diferenciados das questões cotidianas enfrentadas pelas pessoas envolvidas nesta determinada realidade, com alto índice de aderência ao mundo real, onde será necessário o trabalho em equipe, o planejamento e o uso da criatividade, de formas inusitadas e que podem ser reassimiladas no contexto do trabalho, salientando o aspecto motivacional de cooperação para lidar com os problemas da empresa, formando uma verdadeira equipe, ao que se propõe chamar de Team Building.

“Team Building”

    O “team building”, termo utilizado nas ações corporativas, segundo Alexandre e Penetra (2008), é um processo de motivação que tem como objetivo criar em um grupo de pessoas o “espírito de equipe”, gerando um sentimento de pertença ao grupo e melhorando a forma como as pessoas interagem e trabalham em conjunto. Ao se juntar estes dois conceitos - o lúdico e o “Team Building”, têm-se o que se convencionou chamar de “team work” (trabalho em equipe).

    A principal diferença entre a proposta do Treinamento Lúdico Outdoor e os processos geralmente utilizados de motivação para equipe é a de que, nos da dinâmica tradicional ocorrem às atividades dentro da própria empresa, e, no primeiro, pelo fato deste processo ocorrer em área externa e envolver tarefas físicas, com alguma dose de desafio diferenciado, ele pode ter ressonâncias interessantes e mais duradouras.

    Atualmente, muitas empresas têm recorrido a este tipo de treinamento diferenciado, visto alguns resultados já evidenciados. Segundo Kolberg e Galuzio (2008), as atividades ao ar livre podem ser realizadas com o objetivo de compartilhar informações e estratégias, que proporcionam uma forma de aprendizagem bastante capaz de produzir um efeito real mais duradouro, combinando ao desafio a responsabilidade, estratégia com intuição, liderança e decisão de resultados.

    O treinamento ao ar livre representa um conjunto de atividades fora do contexto normal de trabalho, geralmente desenvolvidas ao ar livre e que leva o participante a se sentir sempre envolvido, mesclando desafio e divertimento (com ou sem o risco controlado).

    Estas atividades, diferentes das situações que ocorrem no cotidiano de uma empresa, têm total relação de associação comparativa aos problemas do dia-a-dia coorporativo. Questões como a interdependência, cooperação, comunicação, sinergia, confiança mútua e liderança são normalmente abordadas neste tipo de treinamento, fazendo com que as atividades tenham muita semelhança com eventuais problemas, que neste sistema, são abordados de maneira lúdica.

    Quando se inicia o envolvimento e o trabalho com recreação para empresas, muitas vezes, este processo é desacreditado. A partir de um trabalho sério e embasado em conhecimentos específicos, aos poucos se colhem os frutos.

    Para este estudo, procurou-se trabalhar com jogos e com entretenimento, acrescentando-se novos tipos de atividades com valor agregado. Neste sentido, foram evidenciadas alternativas para esta diferenciação. A idéia foi mesclar algumas ferramentas da atividade recreativa com atividades que pudessem fortalecer o espírito coorporativo (team work) com seus diversos adjetivos, como, cooperação, comunicação, sinergia, etc.

    Atrelando estas duas ferramentas (atividades lúdicas e team building), chegou-se auxiliar a aprimorar os resultados positivos de respostas para os treinamentos.

Metodologia

    Este estudo, de natureza qualitativa, foi baseado em uma pesquisa exploratória, evidenciando as possibilidades das atividades lúdicas como fonte de resposta para um treinamento diferenciado, “divertido”, mas com cunho específico e embasado em conceitos coorporativos.

    O instrumento para a coleta de dados foi à observação baseada na aplicação de um treinamento lúdico para uma determinada empresa do mercado de vidros de alta performance, tendo como indicadores de análise a aceitação, o envolvimento dos participantes com a proposta lúdica e as relações interpessoais, frente a este novo treinamento.

    O tempo determinado para esta ação foi de trinta minutos para a execução da atividade em si e, para isto, a empresa foi dividida em quatro sub-equipes, que passaram a desenvolver diversos tipos de atividades. Para fins deste estudo, a observação foi feita durante a atividade proposta intitulada “Lona Lisa”. As equipes eram compostas por doze integrantes cada, que eram diferenciados por uma cor específica (amarelo, verde, azul e vermelho), as quais, neste treinamento, competiam entre si.

    O grupo deveria transportar toda a equipe de baixo para cima de uma lona, fixada em um morro de grama, a qual, de tempos em tempos, era regada com muita água e sabão. Após as atividades, era realizado um feedback acerca da vivência, as dificuldades, a estrutura, o desenrolar, enfim, todo o resgate da atividade, aqui lúdica, para os contornos empresariais.

Resultados e discussão

    Ao observar-se todo o desenrolar da atividade pode-se perceber que cada uma das equipes estava realmente interessada na atividade e imbuída do sentimento de participação e necessidade de envolvimento total.

    Foi observada grande aderência das pessoas nesta atividade (Lona Lisa), não apenas no sentido de terem que participar da mesma, mas, em relação ao envolvimento na atividade, com alegria e prazer.

    As relações pessoais e interpessoais ocorreram de modo bastante intenso, com a evidência de líderes e com sinergia, cooperação e espírito de equipe. Percebeu-se forte apelo de comunicação para a aceitação de normas, favorecendo a confiança e a positiva aceitação da atividade, durante seu desenvolvimento.

    Todos os participantes realizaram a prova em sua totalidade, que consistia em transportar toda a equipe de baixo para cima da lona. A comunicação foi intensa, para que o grupo chegasse com coerência no resultado final. Primeiramente, as pessoas tinham a predisposição de tentar subir a lona, sozinhas, sem a ajuda de ninguém, logo que davam início à subida, porém, escorregavam antes mesmo de chegarem à metade do caminho.

    Após esta primeira tentativa pessoal frustrada, os participantes procuraram fazer uma base, a qual, geralmente, era formada de apenas uma pessoa, sendo que esta base, quanto ambos estavam quase no meio desta lona, escorregava novamente. Logo os participantes chegavam à conclusão final de que, sem uma base sólida, dificilmente transporiam todas as pessoas e não atingiriam o objetivo.

    Ao final da atividade, foi feita uma reunião com todos os participantes, para transportar a vivência para a realidade da empresa. Neste momento pode-se reafirmar que, nesta ação, assim como na vida cotidiana, sem uma base realmente forte, de pessoas comprometidas e fiéis aos pensamentos do grupo, dificilmente se chega ao topo ou a conquistas.

    Pode-se perceber, ainda, ao término das atividades, uma sensação de vibração geral, contagiante até para os que não estavam diretamente envolvidos na atividade de treinamento.

    Com coesão no trabalho, ouvindo os demais participantes, dando crédito às idéias, confiando em cada membro do grupo, tanto no sentido das idéias como no sentido físico, os participantes puderam perceber que precisavam do outro membro como corpo físico para a subida em segurança, o que os levou à idéia de que, apenas trabalhando em conjunto podem dar conta dos desafios impostos no campo do trabalho.

Conclusão

    Com base nos resultados do estudo pode-se notar uma conquista de novas atitudes (comunicação, liderança, planejamento, cooperação) e a sensação de motivação, inerente à atividade proposta e na perspectiva desta ser levada para o âmbito da empresa, durante o trabalho.

    Em relação ao grupo, os participantes experimentaram e expressaram diversos sentimentos, provenientes dos toques, das controvérsias geradas, das sensações de pertença a um grupo e de superação de obstáculos. Por intermédio da sessão de feedback, realizada logo após a atividade, pode-se observar que esta experiência reafirma-se como positiva, no que tange ao transporte do treinamento desenvolvido para a realidade da empresa.

    Das reflexões apresentadas, fica fortemente estabelecida a possibilidade de inserção das atividades lúdicas “outdoor” aplicadas em empresas, nos treinamentos diferenciados, ampliando-se as perspectivas de aprimoramento axiológico em relação ao lúdico na vida empresarial.

Referências

  • ALEXANDRE, D.; PENETRA, F. O que é Team Building. Disponível em http://about-mkt.blogspot.com. Acesso em 25 de nov. 2008.

  • KOLBERG, B.; GALUZIO, J. W. Treinamento ao Ar Livre: Integração, Planejamento, Estratégia e Resultado. Disponível em http: //www.parisdakar.com.br. Acesso em 10 de nov. 2008.

  • MACHADO, F. H. A Criatividade e as Ressonâncias Emocionais das Atividades Físicas de Aventura na Natureza. Rio Claro, 2004. Tese (Mestrado em Pedagogia da Motricidade Humana). Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, 2004.

  • MARCELLINO, N.C. Lazer: Formação e Atuação Profissional. Campinas: Papirus, 2002.

  • MARINHO, A. Repensando o Lúdico na Vida Cotidiana: Atividades na Natureza. In: SCHWARTZ, G. M.(org). Dinâmica Lúdica: Novos Olhares. Barueri, S.P.: Manole, 2004, p. 189-204.

  • MORAES, F.A.U. et al. Atividades Lúdicas no Treinamento Empresarial: Objetivos e Expectativas. In: XX Encontro Nacional de Recreação e Lazer, 2008. São Paulo, Anais... XX Encontro Nacional de Recreação e Lazer, 2008.

  • _____. & SCHWARTZ, G.M. O Paintball como Agente Motivador das Relações Interpessoais na Empresa. In: XX Encontro Nacional de Recreação e Lazer, 2008. São Paulo, Anais... XX Encontro Nacional de Recreação e Lazer, 2008.

  • JALOWITZKI, M. Jogos e técnicas Vivenciais nas Empresas. São Paulo: Madras, 2001.

  • SCHWARTZ, G. M.(org). Dinâmica Lúdica: Novos Olhares. Barueri, S.P.: Manole, 2004.

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