Paradesporto natação: um olhar sobre a acessibilidade | |||
*Mestre em Reabilitação e Inclusão **Docente do PPGRI Centro Universitário Metodista IPA (Brasil) |
Prof. Ms. Daniel Geremia* Prof. Dsc. Atos Prinz Falkenbach** |
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Resumo O presente artigo descreve e reflete o Projeto Paradesporto Natação que é desenvolvido no Centro Universitário Metodista IPA (PPN IPA). Volta-se para o tema da acessibilidade ao mesmo tempo em que apresenta reflexões sobre a modalidade da natação e a inclusão de pessoas com deficiências (PCD) por intermédio do desporto. O estudo é de corte qualitativo na modalidade da etnografia. O uso das observações e das entrevistas permitiram refletir acerca da acessibilidade e das barreiras que os atletas com deficiência são usuários ao participarem de um Projeto Paradesporto Natação. O estudo demonstra a sensibilidade dos atletas com deficiência em relação aos benefícios do esporte e o impacto em suas atividades diárias e de ganhos de valorização e autonomia. Também descreve as dificuldades e os avanços de um Projeto Paradesporto para garantir o desenvolvimento das atividades e de continuar favorecendo o processo de inclusão através da acessibilidade. Untermos: Paradesporto natação. Inclusão social. Acessibilidade. |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 130 - Marzo de 2009 |
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Introdução
O presente artigo descreve e reflete o Projeto Paradesporto Natação que é desenvolvido no Centro Universitário Metodista IPA (PPN IPA). Volta-se para o tema da acessibilidade ao mesmo tempo em que apresenta reflexões sobre a modalidade da natação e a inclusão de pessoas com deficiências (PCD) por intermédio do desporto. Avaliamos que o tema da inclusão trouxe à tona uma nova discussão que pode até ser considerada elementar, mas que pode ser pouco perceptível àqueles que não possuem deficiências físicas e/ou sensoriais. Trata-se da acessibilidade. A acessibilidade é irmã da inclusão e precisam caminhar juntas, o não atendimento de uma acaba por inviabilizar a outra. É com essa motivação que começamos a apresentar um pouco sobre a investigação realizada e que é um dos temas que se originaram na dissertação de mestrado de Daniel Geremia desenvolvida e concluída no Programa de Pós-Graduação em Reabilitação e Inclusão do IPA.
Podemos iniciar descrevendo que o paradesporto vem sendo utilizado pelo Centro Universitário Metodista IPA como uma das ferramentas para o desenvolvimento integral das PCD e como um meio de aprendizagem física e social, priorizando uma relação saudável com o corpo e o movimento, envolvendo todas as dimensões da relação da PCD consigo mesma, com os demais e com o mundo. Visando possibilitar o estudo do desenvolvimento do presente projeto e dando voz aos protagonistas dessa atividade, organizamos o problema que norteou a investigação realizada: que significados e relações são manifestos pelos participantes ao Projeto Paradesporto de Natação do IPA (PPN IPA)? Também é relevante refletir acerca das pessoas que pensam sobre a acessibilidade das PCDs. Assim podemos questionar: quem são as pessoas que pensam sobre a acessibilidade? Quem confecciona e pensa estratégias urbanas e de acessibilidade ao esporte ou à educação? Há relação entre a experiência e o conhecimento técnico de quem vive o problema da acessibilidade no seu cotidiano?
É importante destacar que as descrições para fins do presente artigo se voltam para a questão da acessibilidade dos participantes no ambiente do PPN IPA, ou seja, como os participantes se manifestam em relação à acessibilidade para o desenvolvimento de seus treinamentos?
A partir da organização do problema descrevemos algumas questões de investigação como desdobramentos e aprofundamentos do tema do estudo, que são: como se organiza a estrutura, o desenvolvimento dos treinamentos e o envolvimento dos participantes com os eventos esportivos promovidos pelo Projeto? Qual a aproximação entre a inclusão e a acessibilidade no esporte? Que motivações os praticantes expressam sobre o seu ingresso no PPN IPA? Que dificuldades e facilidades encontram para participar do PPN IPA (transportes, acessibilidades, barreiras)? Como os participantes se organizam para poder participar das atividades do PPN IPA?
As questões descritas não se constituem na obrigatoriedade de suas respostas, mas possibilitam compreender a dimensão das possibilidades de leitura e de aprofundamentos em relação ao cotidiano da atividade do PPN IPA e as repercussões nos participantes.
Aspectos básicos da inclusão
Quando se estuda a inclusão, é preciso estabelecer alguns pontos. Primeiramente é relevante considerar que os termos integração e inclusão têm sentido distintos: enquanto que o primeiro é conceituado como inserção da pessoa deficiente preparada para conviver na sociedade, o segundo significa “[...] modificação da sociedade como pré-requisito para a pessoa com necessidades especiais buscar seu desenvolvimento e exercer a cidadania” (Sassaki, 1997, p. 43).
Os relatos de Werneck (2007) esclarecem que a inclusão é incondicional, é fazer do mundo um mundo para todos, sem deixar ninguém de lado. Que todos estejam aptos a vivenciar situações comuns é o que se pressupõe no conceito de inclusão. A PCD não precisa buscar a integração na sociedade, pois nasce fazendo parte dela.
Werneck (2007) explica que o conceito de inclusão não aceita palavras como: tolerar, respeitar ou entender a deficiência. É preciso legitimar como condição inerente à humanidade. Mais do que acreditar na diversidade é preciso desenvolver uma ética inspirada nela. A autora considera que não há pessoas especiais ou diferentes, porque cada pessoa tem suas características únicas. É fundamental parar o processo que cria comparações, categorias, cotas de condições humanas, achando natural decidir quando e de que forma um grupo pode ou não pode estar em algum espaço social em função da forma como enxerga, ouve, pensa ou se move.
Sassaki (1997) acrescenta que para a sociedade incluir todas as pessoas, ela deve entender que precisa ser capaz de atender às necessidades dos que integram seu corpo social. Deve ocorrer o desenvolvimento das PCD através da educação, reabilitação, esporte, qualificação profissional, entre outros, num processo de inclusão e não como uma exigência para que esses indivíduos possam vir a fazer parte da sociedade.
A inclusão social, portanto, é um processo que contribui para a construção de um novo tipo de sociedade através de transformações, pequenas e grandes, nos ambientes físicos (espaços internos e externos, equipamentos, aparelhos e utensílios, mobiliário e meios de transporte) e na mentalidade de todas as pessoas, portanto também do próprio portador de deficiência (Sassaki, 1997, p. 42).
Sassaki (1997) dá destaque aos meios de acessibilidade para a inclusão. De fato a acessibilidade para as atividades esportivas, para participação no meio social, na relação com as demais pessoas, para os processos de aprendizagem, na escola e outros é fundamental às PCDs. Trata-se de um movimento que se organiza do meio social para as PCDs, é a partir desse movimento que começamos a entender as bases da inclusão que é colocar-se no lugar do outro e de reconhecer o outro como legítimo de suas relações (MATURANA, 2001).
Assim, a partir do momento em que conjuntos comuns da sociedade incorporam a inclusão social, eles mais rapidamente atingem o processo de uma autêntica sociedade para todas as pessoas. Na qualidade de processos sociais, a integração e a inclusão são ambas muito importantes. Deve-se considerar que não é necessário que a sociedade seja modificada a uma parcela de PCD, motivado pelo fato de que algumas PCD se encontram aptas a serem integradas nela. No entanto, já que uma grande parcela das PCD tem necessidades especiais e não poderá participar plenamente em um conjunto de igualdade na sociedade se esta não vier a se tornar inclusiva, as sociedades encontram-se ainda na fase de transição entre a integração e a inclusão. Assim, esses processos sociais co-existirão, ainda, por algum tempo dentro de um processo que gradativamente fará que integração e a inclusão preponderem.
A prática da inclusão, segundo Sassaki (1997), em vários lugares no mundo já é um fato real. Esse processo está presente na educação, no lazer, no transporte entre outros. Através dessa ação, pode-se falar em educação inclusiva, no lazer inclusivo, no transporte inclusivo e assim por diante. Sassaki (1997) explica que outra forma de referência consiste em dizermos, por exemplo, educação para todos, lazer para todos, transporte para todos.
Ribeiro (2001) explica que o esporte, através de suas dimensões sociais, pode viabilizar uma ação inclusiva, considerando-se que as atividades esportivas fizeram e ainda fazem parte do processo de construção do homem no seu meio cultural. A busca pela inclusão efetiva através da prática da atividade esportiva torna importante que todos os envolvidos façam parte do objetivo da atividade.
Os profissionais que atuam diretamente com esporte devem buscar, segundo Ribeiro (2001), sensibilizar os pais, responsáveis, professores, alunos, esportistas, entre outros sobre a proposta inclusiva. Os envolvidos devem buscar informações, além dos livros, ou seja, com as pessoas que estão ligadas diretamente ao trabalho de inclusão e em especial com o indivíduo que tem algum tipo de limitação, podendo então encontrar respostas para várias questões.
Ribeiro (2001) considera ainda que:
[...] os profissionais da Educação Física, também inseridos nesse contexto, vêem-se diante de uma situação que até então não era discutida, sendo, portanto, inédita, e que merece atenção. Ao utilizar o termo inédito, não estou me reportando às atividades da educação física, esporte, lazer e recreação para pessoas com necessidades educacionais especiais, pois neste caso não existe inclusão. O que ocorre é a oportunidade de grupos de pessoas que apresentam necessidades especiais participarem entre si de algumas atividades oferecidas pela Educação Física (Ribeiro, 2001, p. 34).
Salientamos a valorização das PCDs participantes do projeto no sentido de sentirem-se à vontade por estarem inclusos no grupo de atletas. Falkenbach (2005) explica que a linguagem corporal é um dos meios mais autênticos de inclusão, assim as posturas e atitudes dos professores e estagiários responsáveis pelos treinos e atividades da natação é que favorecem aos participantes se sentirem bem e acolhidos no ambiente da piscina.
Contexto do estudo: sobre o PPN IPA
O PPN IPA é um projeto de extensão comunitária do Centro Universitário Metodista IPA. A origem foi em 2005, quando a ADIPA filiou-se à ABRADECAR, possibilitando a participação de uma atleta paradesportiva que veio a ser campeã sul-brasileira de natação 50m livre em sua categoria. Foi por intermédio dessa iniciativa de colaboração que nasceu uma atividade desportiva voltada ao treinamento e participação de para-atletas na natação.
O PPN IPA se desenvolve na piscina do IPA (prédio G), que pertence a ADIPA e coordenado por dois professores mestres, dois estagiários, um nutricionista, um bioquímico, e uma psicóloga do esporte. A piscina é térmica, com temperatura média de 31°C, com 25 metros de comprimento e 12 metros de largura. Possui seis raias entre as quais são divididos os horários de aula dos integrantes do PPN com outras atividades, porém em raias diferentes.
No ano de 2007, foram adaptados os vestiários para os participantes, assim como em 2006 houve uma melhora da acessibilidade para a piscina e vestiários com a instalação de um elevador no prédio. Os horários dos treinos e aulas são diversificados e flexíveis com a intenção de adaptar à realidade de cada participante. O meio de transporte utilizado é o ônibus sendo que alguns deficientes físicos (DF) e deficientes visuais (DV) necessitam de acompanhamento de algum familiar para o deslocamento. O tempo de duração dos treinos/aulas é de 45 a 60 minutos, três vezes por semana.
O PPN IPA conta com um grupo de 8 pessoas no total, subdividindo-se em 2 grupos, um chamado de vivência e outro de treinamento. No grupo contamos com participantes na faixa etária entre 20 e 42 anos de idade, sendo quatro integrantes do sexo feminino e quatro do sexo masculino. As deficiências apresentadas são: distrofia muscular progressiva, artrodese, sepsemia aguda e osteomilite, resultando em amputações (DF), paralisia obstétrica e paralisia cerebral (PC), e também deficiência visual parcial e completa (DV).
O processo metodológico do estudo
Goffman (1974) descreve sobre sua experiência de acesso em seu estudo etnográfico realizado em um hospital. Para o desenvolvimento do estudo, procurou uma posição de igual junto ao grupo de pessoas a ser estudada, isto é, os pacientes do hospital. Tal procedimento, ainda que com limitações, como o autor cita, em razão das condições sócio-econômicas pessoais, o distanciava de uma relação de comunicação mais ajustada e de compreensão sobre as realidades com as quais passou a conviver nessa comunidade.
O exemplo de Goffman (1974) auxiliou na compreensão de como o acesso ao contexto de investigação requisita aproximações cautelosas e continuadas para que o pesquisador constitua-se comum no grupo. Stigger (2002) ensina que o trabalho do investigador em etnografia desenvolve-se em um processo de imersão na cultura estudada. É um exercício contínuo para entender a complexidade da realidade, favorecendo a interpretação das significações que os indivíduos do grupo em estudo atribuem aos seus comportamentos. O processo de significação é sempre respectivo ao processo de culturalização específica de determinado grupo.
Tomando como referência os estudos de Goffman (1974) e de Stigger (2002) optamos pela modalidade etnográfica de pesquisa. O processo de aproximação com o PPN IPA foi facilitado pelo fato de o pesquisador ter ocupado função de coordenação da ADIPA. Isso permitiu melhor aproximação aos trabalhos de pesquisa e de coleta de informações em momentos como treinos, reuniões, atividades de convivências e eventos competitivos.
O processo de coleta de informações fez uso das observações e das entrevistas. As observações foram realizadas no segundo semestre de 2007, e primeiro semestre 2008. O procedimento para a realização das observações procurou dar destaque aos comportamentos dos participantes desde a sua chegada através da acessibilidade ao local (instalações), da acessibilidade e das barreiras no vestiário, no desenvolvimento do projeto durante as sessões de treinamentos, a saída do local, descrevendo as participações no grupo.
A entrevista semi-estruturada foi escolhida para o estudo, pois ocorre quando o instrumento de coleta está pensado para se obter informações a partir de questões abertas, previamente definidas pelo pesquisador e, ao mesmo tempo, permite realizar explorações não-previstas, oferecendo liberdade ao entrevistado para dissertar sobre o tema ou abordar aspectos que sejam relevantes sobre o que pensa.
O acesso e o deslocamento dos participantes ao PPN/IPA
A presente descrição1 foca no tema das condições de acesso e de deslocamento dos participantes ao prédio da piscina, aos vestiários, bem como ao tanque da piscina para o desenvolvimento das atividades do PPN IPA. A acessibilidade dos participantes ocorre de várias maneiras:
acessibilidade casa e/ou trabalho ao IPA;
acessibilidade ao prédio G (local dos treinos);
acessibilidade do prédio G ao 2o andar (vestiários e piscina);
acessibilidade aos vestiários e;
acessibilidade ao tanque (entrada e saída da piscina).
O acesso dos participantes do estudo é variado, pois os mesmos fazem primeiro o trajeto de casa, do trabalho e/ou da escola. A condução utilizada para esse fim é diversificada, podendo ser ônibus, trem metropolitano, a pé, com carro de familiar e carro próprio. Os participantes vêm de diversos locais porque possuem atividades diversificadas anteriores aos aulas/treinos, o que acaba proporcionando diversidade nos deslocamentos.
A descrição da observação descreve as instalações do prédio onde o projeto ocorre:
“O prédio onde se localiza o complexo aquático também possui outras salas de estudo, um laboratório de informática, uma sala de ginástica de grupo e uma academia de musculação. O prédio possui dois andares. Escadas para acesso e um elevador próprio para uso de pessoas com deficiências” (Obs. número 1 em 26/09/2007).
Até o ano de 2005 o Centro Universitário Metodista IPA mantinha acesso à carros e pedestres exatamente em frente do prédio G (piscina). Por motivos de engenharia de trânsito, acabou sendo vetada a entrada por esse local, pois ocasionava uma lentidão enorme, inviabilizando a fluidez do trânsito em horários de grande fluxo. É como o participante I descreve:
(Ent. número 1 em 25/09/2007).“Está tudo muito bem, o único problema que eu vejo é que vocês poderiam abrir o portão que está na frente do acesso ao prédio G, pois facilitaria o nosso trajeto”
A solicitação da participante I. faz sentido, pois a entrada a qual a mesma se refere fica exatamente em frente ao prédio da piscina sendo que a parada de ônibus fica a 10 metros desta entrada. Considerando-se a entrada atual é preciso caminhar em torno de 60 metros de lomba e trajetos íngremes e tortuosos o que dificulta bastante o trajeto para uma DV. Para minimizar o problema daqueles que possuem carro, foi solicitado à direção da Instituição e à empresa responsável pelo estacionamento que fossem disponiblizadas duas vagas para os deficientes em frente à entrada do prédio da piscina, facilitando o deslocamento dos mesmos.
O PPN IPA favoreceu e impulsionou construções e adaptações para a acessibilidade de PCD ao prédio da piscina. O elevador instalado 2006 no hall de entrada do prédio da piscina era específico para cadeirantes e facilitava o acesso para deixar as PCD na porta dos vestiários localizados no andar superior e de acesso à piscina. Os atletas ainda contavam com a possibilidade de virem de automóvel até a porta principal do prédio que conta com estacionamento com vagas próprias para PCD. Tal realidade favoreceu a participação dos praticantes no Projeto.
Houve alterações nesse acesso, pois no primeiro momento, existia somente acesso através das escadas (dois lances). No ano de 2006, após solicitação à direção, foi transferido um elevador que já existia na instituição para o prédio G que levava PCD do 1º andar ao 2º andar (vestiários e piscina). O elevador esteve em funcionamento durante 10 meses, até o momento em que um incidente interditou seu funcionamento. Até o término do presente estudo, estavam sendo realizadas tentativas de adequação para o funcionamento do elevador. As dificuldades oriundas da falta do elevador são relatadas pela participante V.:
(Ent. número 1 em 25/09/2007).“A maior dificuldade que o IPA apresenta é a escada. Meu problema muscular nas pernas não impede a subida nem a descida, mas a todos os demais atletas hoje em treinamento no PPN IPA, diria que é a maior dificuldade que vejo. Quanto ao restante da estrutura oferecida, considero boa. O estacionamento dá acesso próximo e tem vagas disponíveis durante todo o dia, o vestiário é bom. Talvez o acesso da borda à piscina devesse ser adaptado aos atletas que não podem utilizar a escada”
Após a chegada ao 2º andar, através do elevador ou da escada, os praticantes se dirigem aos vestiários para troca de roupas. No início do Projeto alguns demonstravam dificuldades na chegada e saída dos vestiários, em especial os cadeirantes, pois as rodas trancavam nos “buracos” das portas no chão, assim como nas paredes do vestiário masculino.
Foi solicitado à um arquiteto um projeto para que fossem feitas algumas reformas nos vestiários com o objetivo de adaptá-los às necessidades dos participantes. Com a iniciativa foi construído um banheiro específico para PCD, assim como um espaço de chuveiro maior para que os cadeirantes pudessem utilizar a ducha de maneira confortável. Também houveram adequações como aberturas maiores entre as paredes e melhorias no piso que era irregular.
A colocação de V. sobre o acesso da borda é importante, pois a única maneira dos praticantes do projeto acessarem a piscina é através das escadas com degraus e/ou sentando na borda e se “atirando” para dentro da água, pois a entrada pela escada inviabiliza a entrada de cadeirantes. Em 2006 tentou-se junto à instituição a aquisição de um “elevador” manual exatamente para este público específico poder entrar na piscina de maneira mais tranqüila, já que esse equipamento apresenta estrutura fixa que fica na borda da piscina com um balanço em formato de rede no qual a pessoa é colocada sentada e girada para dentro da piscina. Apesar da sensibilidade e prioridade compreendida pela Instituição, tal equipamento não pode ser adquirido em razão do seu custo e das dificuldades financeiras que a Instituição se encontrava no momento.
Ainda em relação à acessibilidade ao tanque (entrada e saída da piscina), pudemos observar que a entrada e saída são realizadas basicamente por duas escadas de acesso, com quatro degraus na vertical. A escada não é específica para a população de PCD. Alguns participantes recebem auxílio de professores e estagiários para esse momento da aula/treino, pois há dificuldade tanto aos paralisados de membros inferiores como para os DV. As observações ilustram esse fato:
“Para a entrada na água as pessoas podem utilizar de duas escadas, simples, dispostas uma em cada lado da piscina” (Obs. número 1 em 26/09/07).
É interessante observar que mesmo com essas dificuldades de acesso foi possível verificar o lado positivo do PPN IPA no que diz respeito ao acesso à Instituição. O relato que segue foi a maneira com que a participante L. (PC) falou a respeito de forma emocionada sobre sua autonomia conquistada já que precisa pegar dois ônibus para se dirigir ao IPA:
(Ent. 1 em 25/09/2007).“Ir sozinha ao IPA é uma realização, uma vez que venho melhorando minha autonomia de ir e de vir por intermédio de minhas atividades na água”
A seguinte observação reforça esse depoimento:
“J. e L. chegaram por volta das 16h30min, sendo que J. acompanhada pelo seu pai e L. chegando sozinha, pois esta última apresenta uma autonomia e autoconfiança em fazer várias atividades sem auxílio” (Obs. número 6 em 17/10/07).
O acesso de J. (DV) à entrada do prédio até dentro do tanque da piscina precisa contar com o auxílio de várias pessoas, embora do início até a finalização deste estudo observamos melhora de autonomia, pois a mesma foi se adaptando e conhecendo melhor os detalhes do local, criando uma autoconfiança maior. A observação a seguir relata:
“ J. tem chegando acompanhada pelo seu pai até a entrada do vestiário feminino. A partir deste momento, J. faz a troca de roupa e vai até o ambiente da piscina sozinha, onde o estagiário auxilia a entrada na piscina (tanque)” (Obs. número 11 em 30/04/08).
Os responsáveis pelo PPN IPA realizam reuniões periódicas abordando determinados assuntos na busca de melhorias em vários aspectos como acessibilidade, busca de parcerias e patrocínios, busca de competições fora de Porto Alegre. Também reconhecem que outros Estados do Brasil estão mais avançados em seus projetos esportivos com PCD, assim procuram tomar conhecimento de caminhadas desses Estados como modelo para o PPN IPA. Em reunião da qual participamos surgiu uma proposta interessante de uma professora em relação à melhoria da acessibilidade, tendo em vista que não mais poderíamos contar com o elevador, conforme a observação seguinte:
“A professora C. P. sugeriu a construção de uma rampa de acesso ao andar da piscina (tanque), tendo em vista o problema relatado anteriormente do elevador que é de uso exclusivo de carga e não para o transporte de pessoas, dificultando e inviabilizando a continuidade da participação de alguns atletas cadeirantes, pois tem dois lances de escada” (Obs. número 12 em 06/05/08).
Imediatamente houve contato telefônico com o coordenador do curso de educação física para que fosse avaliada a possibilidade da construção da referida rampa. O mesmo disse que conversariam com o departamento de projetos da Instituição verificando a possibilidade da obra, acreditando que seria um salto de qualidade importante para o PPN IPA, já que os dois lances da escada possuem largura suficiente para a locomoção dos degraus e da rampa, embora achasse que a escada poderia ser um pouco íngreme para colocação da rampa. Mesmo assim, afirmou que tentaria com o arquiteto responsável do departamento de projetos e arquitetura.
Considerações finais
Para concluir o presente artigo que aborda o tema da acessibilidade no PPN IPA é relevante trazer novamente a descrição do questionamento principal que é: como os participantes do PPN IPA se manifestam em relação à acessibilidade para o desenvolvimento de seus treinamentos?
Como ensina Maturana “[...] só são sociais as relações que se fundam na aceitação do outro como um legítimo outro na convivência, e que tal aceitação é o que constitui uma conduta de respeito” (2001, p. 24). Considerando a compreensão social de Maturana podemos compreender que as relações sociais e o respeito foram alguns dos principais cuidados que o Projeto demonstrou em relação à melhoria da qualidade de vida de seus participantes, tanto em termos natatórios quanto aos aspectos relativos à inclusão e auto-estima por intermédio da busca constante da acessibilidade. Na intenção de pontuar aspectos básicos relativos ao que o estudo destaca sobre a acessibilidade de PCD nos treinos de natação do PPN IPA descrevemos:
O PPN IPA possui a intenção de constantemente aprimorar o processo de acessibilidade de PCD aos treinos em conjunto com a Instituição, pois é a acessibilidade que pode favorecer a melhoria da qualidade de vida e de participação no Projeto.
Observamos que mesmo havendo problemas com o elevador de acesso ao andar da piscina e vestiários do prédio G, assim como o fechamento da entrada do portão de chegada dos participantes do PPN IPA localizado em frente deste prédio da piscina, não foram motivos impeditivos que fizessem com que os participantes do PPN IPA deixassem de freqüentar as aulas e treinos, pois as motivações de estarem participando deste Projeto superavam as dificuldades apresentadas.
A oportunidade de aprender a nadar ou competir demonstradas nas entrevistas são maiores do que as dificuldades de acesso, em especial aos cadeirantes que necessitam do elevador para acessar o andar de cima do prédio, onde se localizam a piscina e os vestiários.
Os atletas PCD demonstram avanços em suas autonomias e confianças pessoais. Tal aspecto é fruto da desenvoltura que exercitam nos treinos de natação do PPN IPA. Percebemos a sensibilidade e prioridade da Instituição em possibilitar a acessibilidade, mas que por dificuldades econômicas acaba impedindo a ideal configuração física.
A acessibilidade e a inclusão é um movimento reconhecido Institucionalmente e é mobilizado na intenção de manter e aprimorar projetos inclusivos como o PPN IPA.
Finalmente entendemos que o processo da inclusão não pode ser constituído em sua plenitude na falta da acessibilidade. A possibilidade de facilitar e de prover o acesso às PCD é o que vai garantir o reconhecimento de sua participação e inclusão, bem como avançar culturalmente em uma sociedade que reconhece a natureza da convivência na diversidade
Notas
Utilizamos formatações: “negrito” e “itálico” para os trechos das entrevistas com os participantes e “negrito” para as minhas observações”.
Referências
FALKENBACH, AP. Crianças com crianças na psicomotricidade relacional. Lajeado: UNIVATES, 2005.
GOFFMAN, E. Manicômios, prisões e conventos. São Paulo: Perspectiva, 1974.
MATURANA, H. Emoções e linguagem na educação e na política. Belo Horizonte: UFMG, 2001.
RIBEIRO, SM. Inclusão e esporte: um caminho a percorrer. In: Sociedade Brasileira de atividade motora adaptada: temas em educação física adaptada. [S.l.]: SOBAMA, 2001.
SASSAKI, RK. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA, 1997.
STIGGER, MP. Esporte, lazer e estilo de vida: um estudo etnográfico. Campinas: Autores Associados, 2002.
WERNECK, C. Inclusão Social – Todos Somos Responsáveis. 2007. Disponível em: http://www.portaldovoluntario.org.br/site/pagina.php?idconteudo=916, Acesso em: 15 mai 2007.
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