1 / 1

Introdução

    Várias são as definições para o termo motivação, sendo este um dos conceitos mais estudados na Psicologia. Dentre estas diversas definições, a mais tradicional pressupõe que os indivíduos têm disposição para realização, e isso os motiva a se envolver em atividades. Uma segunda abordagem se concentra mais no como e por que os indivíduos são motivados (ROBERTS et al., 1986; PISANI et al., 1990; WEINBERG; GOULD, 2001, BARROSO,2007). Nas pesquisas mais recentes sobre motivação, perdeu-se a intenção de gerar um conceito universal sobre o termo motivação, concebendo-se a idéia que esta é a combinação de uma série de fatores intrínsecos e extrínsecos que levam a persistência de um comportamento com duração considerável e com uma direção e sentido bem definidos (DORSCH et al.,2001).

    Atualmente, a motivação, é um dos grandes conteúdos que tem sido investigado na Psicologia do Esporte, originando uma ampla investigação deste conteúdo e sua influência com o treinamento de rendimento, a prática de atividade física, dentre outros. (TAHARA, SCHWARTZ E SILVA, 2003; BARROSO, 2007; FREITAS ET AL 2007; ROSA, COSTA E van KEULEN, 2008). O constante interesse por parte dos estudiosos da psicologia esportiva sobre os motivos que de adesão e permanência dos indivíduos as práticas esportivas, sejam estas de treinamento ou atividade física, é fruto, conforme Rosa, Costa e van Keulen (2008), do entendimento que a motivação, constitui-se um dos elementos centrais para um processo de ensino-aprendizagem bem sucedido.

    Desta forma, atualmente a pesquisa relacionada a fatores motivacionais no esporte, tem se interessado intensamente por investigar aspectos relacionados à prática da atividade física e da musculação em academias. Com a elevação do nível de conscientização das pessoas quanto à importância da atividade física, tem se elevado consideravelmente o número de adeptos de ambos os sexos e com as mais diversas faixas etárias, praticantes de musculação em academias (ROSA, COSTA E van KEULEN, 2008). Corroborando com esta afirmação, Saba (2001) descreve que as academias tornaram-se uma opção para a população urbana, que adere ao exercício físico, com o intuito de obter melhorias em seu bem-estar geral.

    Apesar da constante investigação sobre os fatores intrínsecos e extrínsecos que levam os indivíduos a aderirem e a permanecerem na prática da musculação em academias, ainda não há consenso da comunidade científica sobre esses fatores (TAHARA, SCHWARTZ E SILVA, 2003).

    Desta forma, considerando a atual procura pela prática da musculação, com os mais diversos motivos, seja estes intrínsecos ou extrínsecos, este estudo terá como objetivo investigar quais seriam as tendências motivacionais, de adesão e permanência, de indivíduos de ambos os sexos e diferentes faixas etárias, possuem para a prática da musculação.

Procedimentos metodológicos

    Este estudo teve por objetivo descrever os motivos de adesão e permanência da prática da musculação em indivíduos de ambos os sexos, de diferentes faixas etárias, iniciantes ou não, da academia Ativa Fitness, em Curitiba – PR. Desta forma, trata-se de um estudo de caso, pois o pesquisador procurou verificar os fatores motivacionais dos indivíduos praticantes de musculação da academia Ativa Fitness.

Seleção da população e amostra

    A seleção da população do estudo foi selecionada de forma intencional, considerando que o local do estudo é de propriedade do pesquisador. Para a seleção da amostra foram estabelecidos alguns critérios de inclusão, sendo estes: ter idade mínima de 15 anos e ser praticante da modalidade de musculação a mais de 6 meses. Sendo assim participaram do estudo 65 sujeitos, sendo 49 homens (75,4%) e 16 mulheres (24,6%). Na distribuição da amostra por faixa etária, 21,5% foi identificada com idade entre 15 e 20 anos, 24,6% com idade entre 21 e 25 anos, 26% com idade entre 26 e 30 anos, 13,8% com idade entre 31 e 40 anos, 10,7% entre 41 e 50 anos e 3,4% demonstrou ter idade superior a 50 anos.

Instrumento e técnica de coleta de dados

    Como instrumento de coleta de dados foi utilizado o questionário sobre motivação para a prática esportiva, com algumas questões adaptadas do WHOQOL (Instrumento de medida e qualidade de vida), desenvolvido pela rede CENESP (Centro de Excelência Esportiva). O questionário contém as principais variáveis de adesão e permanência ao exercício, segundo ordem e prioridade. A escala de distribuição dos dados dos praticantes foi trabalhada em duas dimensões. Na primeira, foram observadas as médias e medianas sobre os motivos de adesão, segundo os dezenove itens a serem respondidos. Os dezenove itens do questionário de adesão foram elaborados considerando aspectos relacionados à saúde e qualidade de vida, estética, prática de exercícios físicos, aspectos psicossociais, prazer e bem-estar, professor da modalidade, uso de tempo e influencia de mídia. Na segunda, foram observadas as médias e medianas, segundo os motivos de permanência através dos vinte e cinco itens sobre a motivação para a prática do exercício. Os vinte e cinco itens do questionário de permanência foram elaborados considerando aspectos relacionados ao exercício, saúde, bem-estar, ambiente da prática, aspectos psicossociais, qualidade do corpo docente e funcionários e valores estéticos. As informações obtidas pelo pesquisador partiram da aplicação do presente questionário de pesquisa, que estabelece um determinado grau de importância para os itens a serem respondidos. A distribuição do grau de importância é realizada através de uma escala Likert de 4 (quatro) pontos, dos quais: (1) sem importância; (2) pouco importante; (3) importante e (4) importantíssimo, além de um espaço para a inclusão de outros motivos, caso houvesse a necessidade de descrevê-lo. A coleta de dados foi realizada pelo pesquisador deste estudo, o qual estava devidamente instruído sobre os procedimentos necessários para a aplicação deste instrumento de pesquisa.

Análise dos dados

    A análise dos dados, em um primeiro momento, foi realizada através da estatística descritiva, objetivando realizar a distribuição dos dados em freqüências e percentuais relacionados às variáveis sócio-demográficas e em médias e medianas relacionadas aos fatores motivacionais. Em um segundo momento foi utilizado à estatística inferencial, através do teste de não-paramétrico de correlação de Kendall´s Tau-b, com o objetivo de verificar a correlação entre os fatores de adesão e permanência. Todos os testes foram realizados pelo software SPSS_11.0 for Windows.

Resultados e discussão

    Pode-se verificar através dos dados que a maioria dos participantes do estudo possui um nível de instrução até o ensino médio, caracterizando 55,4% da amostra pesquisada. Observou-se também na tabulação dos dados, que 29,2% dos participantes do estudo possuem o ensino superior e 15,4% são estudantes universitários.

    Em relação à renda familiar mensal, verificou-se que 49,2% da amostra possuem uma renda acima de 5 (cinco) salários míninos, enquanto 47,6% possuem renda entre 2 e 4 salários. Apenas dois integrantes da amostra, demonstraram ter uma renda de até 1 salário mínimo, representando 3,2% da amostra pesquisada.

    Quanto ao tempo de prática, os dados demonstraram que existe uma distribuição relativamente equilibrada dos participantes do estudo, entre as possibilidades de tempo de prática propostas pelo questionário de pesquisa. Sendo assim, 29,3% da amostra afirmaram estar praticando musculação de 6 meses a 1 ano. O mesmo percentual foi encontrado para a opção de 1 a 3 anos. Para o tempo de prática de 3 a 5 anos, 13,8% da amostra afirmou estar praticando musculação. Na opção de tempo de prática superior a 5 anos, 12,3% da amostra foi identificada. Quanto visualizado a opção de até 6 meses, 15,3% da amostra afirmou estar praticando musculação até este período de tempo. Desta forma, pode-se observar que a grande maioria da amostra pesquisada, prática musculação a mais de 1 ano.

    A esse respeito, Okuma apud Ortiz (1999), afirma que os indivíduos que apresentam maior nível de escolarização e maior renda familiar, tendem a aderir e permanecer em programas de exercício físico por mais tempo, do que aqueles que não apresentam estas características. Corroborando com esta afirmação Saba (2001), descreve que o padrão de vida e o nível de informação são outros fatores que interferem no inicio, na manutenção e no abandono de qualquer atividade física.

    Sendo assim, estas afirmações vêm ao encontro dos resultados encontrados neste estudo, onde, a maioria da amostra pesquisada possui um bom nível de instrução, bem como um bom nível de renda financeira, fatores estes que influenciam no inicio e na manutenção de um programa de atividade física.

    Ao analisar os resultados referentes ao estado civil dos participantes desta pesquisa, constatou-se que 63% são solteiros, 33,8% são casados e 3,2% separados. Sobre está variável, Barros (2001), salienta que o apoio positivo de familiares aumenta as chances de adesão e permanência em atividades físicas. Entretanto, o contrário também é fato, ou seja, se houver dificuldades impostas por parte dos familiares, a probabilidade de desistência consideravelmente.

    Ao analisarmos os fatores motivacionais de adesão e permanência de indivíduos na prática da atividade física, e de forma mais específica na musculação, verificamos que vários são os fatores intrínsecos e extrínsecos que podem influenciar na compreensão destes fatores.

    Gouvêa (1997) descreve que em determinadas circunstâncias alguns motivos adquirem maior importância que outros, orientando o individuo para certos caminhos, direcionando o seu comportamento. Da mesma forma, certos motivos possuem maior intensidade em diferentes pessoas, já que cada uma possui uma “visão” diferente da outra. Desta forma, diferentes indivíduos podem realizar a mesma atividade animada por diversos motivos, com diferentes intensidades. A tabela 1 apresenta os motivos de adesão para a prática da musculação da amostra pesquisada, sendo tabulada de forma decrescente, partindo da maior média identificada, resultando no motivo de adesão de maior importância indicado pelos participantes do estudo, até a menor média e o motivo de adesão de menor importância.

Tabela 1. Médias e medianas dos motivos de adesão dos participantes do estudo da Academia Ativa Fitness

Motivos de Adesão	Média	Mediana
Melhorar seu desempenho físico	3,55	4,00
Adotar um estilo de vida saudável	3,51	4,00
Relaxar	3,35	4,00
Melhorar a saúde (Doenças)	3,31	4,00
Melhorar a auto-imagem	3,31	4,00
Melhorar a auto-estima	3,29	3,00
Confiança no professor	3,29	3,00
Reduzir o nível de estresse	3,26	3,00
Recuperar-se das atividades do trabalho diário	3,12	3,00
Gostar de desafios	3,03	3,00
Aumentar seus conhecimentos na área da saúde	2,89	3,00
Tempo disponível para a prática	2,88	3,00
Companhia de colegas com objetivos parecidos	2,86	3,00
Recuperação de lesões	2,74	3,00
Aprender novos movimentos	2,72	3,00
Já praticava exercícios (Hábito)	2,71	3,00
Aconselhamento médico	2,60	3,00
Influência de familiares e amigos	2,18	2,00
Para sair de casa	2,00	2,00
Influência da propaganda	1,85	2,00
Influência da televisão	1,82	2,00

    O fator de maior motivação indicado pelos 65 participantes do estudo, foi melhorar seu desempenho físico, seguido de adotar um estilo de vida saudável, relaxar, melhorar a saúde e melhorar a auto-imagem. Resultados muito semelhantes também foram identificados nas pesquisas realizadas por Rosa, Costa e van Keulen (2008), onde o mesmo estudo foi realizado em academias da cidade de Florianópolis-SC e no estudo conduzido por Tahara (2003), intitulado Aderência e manutenção de prática de exercícios em academias, em que, os motivos relacionados à estética e a saúde obtiveram a maior média. Neste sentido Nunomura et al (1997), descreve que na fase de adesão, a prática do exercício está mais vinculada aos sentimentos de bem-estar e prazer, do que a crenças a respeito de benefícios a saúde. Desta forma pode-se observar que os resultados identificados no presente estudo vêm ao encontro da observação feita por Nunomura et al (1997), onde os motivos indicados pelos participantes do estudo como mais importantes para aderir a prática da musculação estão mais vinculados ao sentimento de bem-estar e prazer.

    Os motivos de influência de familiares e amigos, para sair de casa, influência de propaganda e influência da televisão, foram identificados como pouco importantes para a adesão da prática de musculação pelos participantes deste estudo. Ao analisar os resultados de outros estudos semelhantes pode-se observar que não existe um consenso dos pesquisadores sobre a influência destes fatores no processo de adesão a prática da musculação. Os estudos realizados por Figueira (2000), Saba (2001), Dumont (2003) e Ferreira (2005) apontaram a mídia como um fator de massificação da informação, sendo um fator decisivo para o fenômeno da exercitação física, na qual médicos, educadores e outros profissionais trazem argumentos científicos com o objetivo de levar as pessoas a praticarem exercícios. Entretanto Giddens apud Dumont (2003) salienta que não é possível concluir que os meios de comunicação criam um reino de hiper-realidade, onde a imagem é “tudo”. É importante salientar também, que os enfoques principais da mídia, nos dias atuais, estão voltados aos esportes de competição e o culto ao corpo atlético, deixando de lado o que seria aplicável à maioria da população, fugindo da realidade da massa, não ocasionando o impacto desejado para motivar a adoção de um estilo de vida ativo e saudável (ROSA, COSTA, van KEULEN, 2008).

    Muitos outros motivos foram identificados em uma linha média de grau de importância, sendo estes: melhorar a auto-estima, confiança no professor, reduzir o nível de estresse, recuperar-se de atividade do trabalho diário, gostar de desafios, aumentar seus conhecimentos sobre a área da saúde, tempo disponível para a prática, companhia de colegas com objetivos parecidos, recuperar de lesões, aprender novos movimentos, já pratica exercícios (hábito) e aconselhamento médico.

    É interessante observar que a médias encontradas para estes motivos são semelhantes ao estudo realizado por Rosa, Costa e van Keulen (2008). Sendo assim, parece haver uma tendência dos praticantes de musculação primeiramente em aderirem a está prática por motivos relacionados ao bem-estar e ao prazer, seguido por uma heterogeneidade de motivos que estão mais vinculados a saúde e ao contato social. Quanto aos motivos de permanência para a prática da musculação, os dados serão apresentados através da tabela 2, segundo as médias e medianas dos graus de importância.

Tabela 2. Médias e medianas dos motivos de permanência dos participantes do estudo da Academia Ativa Fitness

Motivos de Permanência	Média	Mediana
Aumentar o bem estar corporal	3,55	4,00
Melhorar a postura	3,49	4,00
Manter-se em forma	3,46	4,00
Sensação de bem-estar proporcionada pelo exercício	3,45	4,00
Conhecer seus limites	3,37	3,00
Prazer da prática	3,35	3,00
Melhorar a aparência	3,34	3,00
Sentir-se realizado	3,25	3,00
Por causa dos incentivos do professor	3,22	3,00
Por causa da atenção do professor	3,20	3,00
Reduzir o nível de estresse	3,18	3,00
Sensação de bem estar proporcionada pelo ambiente	3,18	3,00
Liberar energias	3,15	3,00
Facilidade de acesso	3,12	3,00
Por causa da atenção dos funcionários do local	3,12	3,00
Recuperar-se de atividades do trabalho diário	3,11	3,00
Por causa da alegria proporcionada pelo ambiente	3,11	3,00
Círculo de amizades	3,05	3,00
Emagrecer	3,03	3,00
Parecer mais jovem	2,98	3,00
Por causa do local de prática	2,95	3,00
Ficar mais forte	2,91	3,00
Aumentar o contato social	2,55	3,00
Incentivo da família e amigos	2,42	3,00
Ter status social	2,17	2,00

    Ao analisar os resultados do questionário de permanência observamos como fatores de maior importância motivacional dos participantes do estudo, aumentar o bem estar corporal, melhorar a postura, manter-se em forma e sensação de bem-estar proporcionada pelo exercício. Novamente os resultados obtidos pelo questionário de permanência vêm ao encontro dos resultados obtidos pelo estudo de Rosa, Costa e van Keulen (2008), onde os motivos de maior importância para a permanência da prática da musculação na cidade de Florianópolis-SC foram: aumentar o bem-estar social (3,70), manter-se em forma (3,61), sensação de bem-estar proporcionado pelo exercício (3,57) e melhorar a postura (3,54). Este estudo contou com a participação de 140 indivíduos, sendo 78 do sexo masculino e 62 do sexo feminino. Sharkey (1998) e Saba (2001) afirmam que, um ponto de fundamental importância para que muitas pessoas permaneçam num programa de exercícios físicos é fazer com que as mesmas sintam prazer em realizar atividade física. Desta forma, ao analisarmos os resultados deste estudo, bem como do estudo realizados por Rosa, Costa e van Keulen (2008), realmente parece existir uma tendência da permanência dos praticantes de musculação por períodos superiores a 6 meses, por motivos relacionados ao prazer de estarem realizando algum tipo de atividade física. Tais resultados sugerem também, que a prática de exercício físico, neste caso de forma mais específica o treinamento resistido, traz muitos benefícios positivos, contribuindo na sensação de bem-estar corporal de seus praticantes.

    Outros motivos relacionados a variáveis ambientais, ou seja, vinculadas ao contexto onde se realiza o exercício físico, também são indicados pelos participantes deste estudo como importantes para a permanência. Podemos destacar motivos como: por causa dos incentivos do professor, por causa da atenção do professor, sensação de bem-estar proporcionada pelo ambiente, por causa da atenção dos funcionários do local, dentre outros. Neste sentido Ortiz et al (1999), salientam que a manutenção da atividade física, bem como a prática de exercícios resistidos, é dependente de determinantes ambientais. Sendo assim, esta citação corrobora com os resultados encontrados no presente estudo.

    Os motivos relacionados a aspectos sociais como: aumentar o contato social, incentivo da família e amigos e ter status social, não foram indicados como sendo de muita importância para a permanência da prática da musculação. Ao se observar os motivos que foram indicados pelos participantes deste estudo tanto para adesão como a permanência da prática da musculação, podemos observar que são motivos que estão relacionados mais a aspectos intrínsecos. Segundo Alves et al (1996) e Pelletier et al apud Gouvêa (1997), a motivação intrínseca funciona como uma fonte permanente de energia, ela está ligada aos fatores puramente prazerosos e é um dos fatores mais relevantes para a permanência em atividades físicas. Sendo assim, estas citações sugerem que os fatores intrínsecos exercem maior influência sobre a motivação para a adesão e a permanência de exercícios físicos. Entretanto, é importante lembrar que a motivação é caracterizada como um processo ativo, intencional e dirigido a uma meta, o qual depende da interação de fatores pessoais (intrínsecos) e ambientais (extrínsecos) (SAMULSKI, 1995).

    Na análise de correlação entre os motivos do questionário de adesão e os motivos do questionário de permanência na prática de musculação, muitas correlações foram identificadas. Para este estudo optou-se apresentar as correlações que tiveram um valor de “r”, acima de 0,4, indicando uma correlação moderada fraca. Todas as correlações que serão apresentadas através da tabela 3 foram identificadas com um valor de α ≤0,01.

Tabela 3. Correlação entre os motivos de adesão e permanência da amostra pesquisada.

Motivos de adesão	r	Motivos de permanência
Melhorar a auto-estima	0,470	Sentir-se realizado
Recuperar-se das atividades do trabalho diário	0,491	Recupera-se das atividades do trabalho diário
Relaxar	0,566	Reduzir o nível de estresse
Relaxar	0,439	Recupera-se das atividades do trabalho diário
Relaxar	0,413	Por causa da atenção dos funcionários do local
Reduzir o nível de estresse	0,545	Reduzir o nível de estresse
Confiança no professor	0,415	Facilidade de acesso
Gostar de desafios	0,431	Sentir-realizado
Para sair de casa	0,463	Círculo de amizades

    Ao visualizarmos os níveis de correlação fornecidos pela tabela 3, podemos observar que o motivo de adesão melhorar a auto-estima obteve uma correlação moderada/fraca com o motivo de permanência sentir-realizado. Neste sentido podemos observar que a prática da musculação teve influencia decisiva no sentimento de realização pessoal dos participantes deste estudo. Se em um primeiro momento estes participantes aderiram à prática com o motivo de elevar a sua auto-estima, atualmente eles continuam a prática porque se sentem totalmente realizados, “felizes” consigo mesmo.

    Os motivos de recuperar-se das atividades do trabalho diário, relaxar e reduzir obtiveram uma série de correlações, dando a entender que a musculação é utilizada também pelos participantes deste estudo, como instrumento de promoção do bem-estar, reduzindo assim o seu estresse originado pelas atividades do trabalho diário. É interessante observar que estes três motivos também obtiveram uma correlação no estudo realizado por Rosa, Costa e van Keulen (2008). Entretanto, Dishman (1994) afirma que pessoas que demandam grande quantidade de energia durante seu trabalho tendem a aderir menos a programas de atividade física, mesmo que haja condições favoráveis para que isso ocorra. Situação, portanto, bastante diferente da encontrada no presente estudo, bem como no estudo dos autores supracitados.

    Outra correlação que merece destaque é entre o motivo para sair de casa e círculo de amizades. Conforme a teoria das necessidades básicas proposta por Maslow (1954), um dos elementos básicos para a auto-realização do ser humano e a necessidade de pertencer e ser aceito por um determinado grupo. O fato do praticante de musculação, sair de casa para se relacionar com um círculo de relacionamento amigável, onde este é aceito e apreciado, faz com que ele se auto-realize.

Conclusão

    Ao analisarmos os resultados identificados no presente estudo sobre os motivos de adesão e permanência da prática da musculação, podemos concluir que estes, em sua grande maioria, corroboram com os achados encontrados na literatura pesquisada. Quando observamos as informações sócio-demográficas, verificamos que a maioria dos participantes do estudo era do sexo masculino. Sabe-se que apesar da ascensão atual do número de praticantes de musculação do sexo feminino, a prática desta modalidade continua a ter a predominância de praticantes do sexo masculino, resultado de todo um processo histórico e social, onde a força muscular é relacionada com um elevado nível do gênero masculinidade. Sobre a distribuição dos participantes deste estudo, nas faixas etárias propostas pelo questionário, observamos, que a prática da musculação tem rompido com as barreiras impostas pela idade e tem alcançado praticantes de diversas faixas etárias. Tal fato demonstra que a prática da musculação passou a ser compreendida pela sociedade não apenas como uma modalidade relacionada ao fitness, mas também ao wellness. Ou seja, a prática da musculação demonstra ser hoje, para os seus praticantes, uma excelente opção para a manutenção de hábitos de vida saudáveis, como instrumento para a manutenção da saúde e bem-estar.

    Corroborando com estes dados, verificamos que os motivos de adesão pontuados pelos participantes deste estudo, como sendo os mais importantes para a adesão a prática da musculação, estão juntamente relacionados a adotar um estilo de vida saudável e melhorar a saúde. Entretanto, verificamos também, que a prática da musculação, continua exercendo uma grande influência em seus praticantes, quanto a sua utilização como meio para melhorar o seu desempenho físico, assim como a sua imagem corporal. Estes resultados demonstram que atualmente a prática da musculação atende dois tipos de clientela; uma relacionada ao fitness e outra a o wellness.

    Outro ponto que observamos neste estudo, está relacionado ao nível de instrução dos praticantes de musculação da academia Ativa Fitness. Ao observamos os resultados, verificamos que a grande maioria dos participantes do estudo tem um bom nível de instrução e conhecimento. Estes resultados sugerem que a prática da musculação deixou de ser entendida pela sociedade, como uma “cultura” para desocupados, e se tornou um instrumento de profilaxia para profissionais e estudantes, de possíveis doenças relacionadas ao trabalho, bem como da sensação de estresse ocasionada pelas atividades da vida diária. Os resultados dos motivos de adesão, assim como os de permanência, sugerem ser verdadeira essa analise, quando observamos que motivos relacionados ao relaxamento, assim como se recuperar de atividades do trabalho diário foram indicados pelos participantes do estudo, como importantes tanto para a adesão como para permanência.

    Ao analisarmos os resultados dos motivos de adesão e permanência, os dados demonstraram que a grande maioria das correlações está relacionada a motivos de diminuição do nível de estresse ocasionado pela rotina do trabalho diário. Novamente estes dados indicam que a adesão e permanência dos participantes deste estudo a prática da musculação, apresenta uma tendência de estar pela busca de uma melhor qualidade de vida, entendendo a prática do exercício físico, como uma alternativa adquirir ou manter, um bom estado de saúde, em todos os sentidos, seja este físico, mental, social e até mesmo espiritual.

    Sendo assim, pode-se verificar através desta pesquisa, que o conhecimento por parte do profissional de educação física, atuante na academia, sobre os motivos de adesão e permanência dos praticantes de musculação a esta modalidade, pode servir como instrumento para um melhor atendimento e acompanhamento deste praticante. O conhecimento destes motivos também pode facilitar na construção de um programa de treinamento que venha ao encontro das necessidades e expectativas destes praticantes. Podemos destacar ainda, que estratégias de marketing podem ser estruturadas a partir do conhecimento por parte dos gestores da academia Ativa Fitness dos motivos de adesão e permanência indicados pelos usuários desta academia, como sendo os mais importantes.

    Os dados sugerem também, que a prática da musculação deixou de ter um caráter apenas vinculado ao treinamento de ganho de força, mas também vinculado ao ganho e a manutenção da saúde, fato este que pode ser melhor explorado pelos profissionais que atuam nesta academia.

Referências

• BARROS, W.C.C. Determinantes da Adesão e da Permanência em Programas de Exercícios Físicos Orientados por Personal Trainers de Florianópolis. Florianópolis, 2001.

• BARROSO, M.L.C. Validação do Participation Motivation Questionnaire adaptado para determinar motivos de prática esportivade adultos jovens brasileiros. 2007. 129 f. Dissertação (Mestrado em Ciências do Movimento Humano) – Centro de Ciências da Saúde e Esportes, Universidade do Estado de Santa Catarina.

• DISHMAN, R. K. Advances in exercise adherence. Champaigon. Champaigon, IL.: Human Kinetcs, 1994.

• DORSCH, Friedrich; HÄCKER, Hartmut; STAPF, Kurt-Hermann. Dicionário de psicologia Dorsch. Tradução de Emmanuel Carneiro Leão e equipe. Petrópolis: Vozes, 2001.

• DUMONT, L.M.M; GATTONI, R.L.C. As relações informacionais na socieade reflexive de Giddens. Ci Inf, v.32, n.3, p.43-53, 2003.

• FERREIRA, M. S.; NAJAR, A.L. Programas e campanhas de promoção da atividade física. Ciências da saúde coletiva. Supl.10, p.207-219 2005.

• FIGUEIRA, J.; AYLTON, J. Pontencial da mídia e tecnologias aplicadas ao mecanismo de mudança de comportamento, através de programas de intervenção de atividade física. Revista Brasileira de Ciência do Movimento. v.8, n.3 p.39-46, 2000.

• FREITAS, C.M.S.M; SANTIAGO, M.S; VIANA, A.T; LEÃO, A.C; FREYRE, C. Aspectos motivacionais que influenciam a adesão e Manutenção de idosos a programas de exercícios físicos. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano. v.9, n.1, p.92-100, 2007.

• GOUVÊA, F.C. Motivação e Atividade Esportiva. In: MACHADO, A.A. Psicologia do Esporte: temas emergentes. Jundiaí: Fontoura, cap.9, p.167-191, 1997.

• MASLOW, A. Motivation and Personality. Harper Row, 1954.

• NUNOMURA, M. et al. Nível de adesão ao exercício num programa supervisionado. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde. v.2, n.3, p.61-66, 1997.

• ORTIZ, M.; ISLER, G.; DARIDO, S.C. Atividade Física e Aderência: considerações preliminares. Revista Brasileira de Ciências do Esporte. v.21, n.1, p.842-846, 1999.

• PISANI et al. Psicologia geral. 11ª ed. Porto Alegre: Vozes, 1990.

• ROBERTS, G. C.; SPINK, K. S.; PEMBERTON, C. L. Learning experiences in Sport Psychology. Champaign, IL (EUA): Human Kinetics, 1986.

• ROSA, M.C; COSTA, M.A.S; van KEULEN, G.E. Adesão e permanência de praticantes de musculação nas academias de Florianópolis. Trabalho não publicado.

• SABA F. Aderência: a prática do exercício físico em academias. São Paulo: Manole, 2001.

• SAMULSKI, D. Psicologia do esporte.Barueri: Manole, 2002.

• SHARKEY, B.J. Condicionamento físico e saúde. Porto Alegre: Artmed, 1998.

• TAHARA, A.K; SCHWARTZ, G.M; SILVA, K.A. Aderência e manutenção da prática de exercícios em academias. Revista Brasileira de Ciência do Movimento. v.11, n.4, p.7-12, 2003.

• WEINBERG, R. S.; GOULD, D. Fundamentos da Psicologia do Esporte e do exercício, 2ª.ed. Tradução de Maria Cristina Monteiro. Porto Alegre: Artmed, 2001.

Outros artigos em Portugués

revista digital · Año 13 · N° 130 | Buenos Aires, Marzo de 2009   © 1997-2009 Derechos reservados