Efeito do exercício resistido frente ao metabolismo de lipídios durante e pós treinamento |
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*Pós-Graduanda em Obesidade e Emagrecimento – UNIFRAN ** Docente da Universidade de Franca e Centro Universitário de Patos de Minas – UNIPAM Doutorando da Universidade Estadual Paulista –UNESP Araraquara – Programa de Ciências Nutricionais *** Docente da Universidade de Franca e Centro Universitário de Patos de Minas – UNIPAM Doutorando da Universidade Estadual Paulista –UNESP Araraquara – Programa de Ciências Nutricionais |
Discente Carolina Cristina de Freitas* Prof. David Michel de Oliveira** Prof. Daniel dos Santos*** davidef@unifran.br
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Resumo As transições nutricionais ocorridas neste século direcionam para uma dieta mais ocidentalizada, rica em açúcares simples, gordura saturada e pobre em fibras, a qual, aliada à diminuição progressiva da atividade física, aumenta o número de casos de obesidade e suas morbidades em todo o mundo. Para conseguir a diminuição da massa gordurosa é necessário um balanço energético negativo, e a atividade física pode contribuir por meio de mudanças metabólicas. Quando são realizados exercícios aeróbios ocorre mobilização de gordura durante a atividade, enquanto em via metabólica anaeróbia ocorre uma produção energética dependente da fosfocreatina e do glicogênio. Os estudos demonstram, de forma geral, que atividades de alta intensidade são capazes de promover aumento do metabolismo lipídico pós esforço, quando comparado a atividades de intensidade menor, devido ao gasto energético e o déficit de oxigênio durante sua recuperação, além do aumento da taxa metabólica basal produzida pelo aumento de massa magra. De fato, intervir de maneira preventiva sobre a obesidade tende a ser potencialmente mais eficaz e de menor custo. Unitermos: Obesidade. Lipídios. Atividade física. Metabolismo. |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 130 - Marzo de 2009 |
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Introdução
A obesidade está sendo considerada uma epidemia mundial, presente tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento (POPKIN; DOAK, 1998). O aumento de sua incidência está distribuído em quase todas as raças e sexos, e atinge principalmente a população de 25 a 44 anos, podendo ser considerada o resultado de complexas interações entre fatores genéticos, psicológicos, socioeconômicos, culturais e comportamentais (BLUMENKRANTZ, 1997). (Figura. 1)
Figura 1. Prevalência da obesidade. Fonte: Adaptada por Monteiro, 1998, WHO, 1997.
A obesidade é uma condição crônica degenerativa que aumenta a morbidade, mortalidade e que pode desencadear demais patologias metabólicas como: diabetes mellitos, dislipidemias, câncer e doença cardiovascular. Além da herança genética, a influência comportamental acaba também desempenhando um papel significante em seu desenvolvimento. A redução da ingestão de alimentos preparados em casa, em detrimento de alimentos industrializados, o aumento do consumo de refrigerantes e de bebidas alcoólicas, a inatividade física, e o uso crescente de meios de transporte vêm aumentado a prevalência de obesidade nas populações urbanas do ocidente (NEGRÃO et al., 2000).
O excesso de tecido adiposo, que caracteriza a obesidade, ocorre pelo balanço energético positivo de forma crônica, isto é, uma ingestão calórica que ultrapassa com o gasto energético. Um consenso sobre a causa do aumento da obesidade no mundo industrializado está no consumo de grande proporção de calorias derivadas da gordura e no estilo de vida sedentário. Os exercícios físicos regulares oferecem benefícios nas várias comorbidades associadas à obesidade; notadamente na resistência à insulina, hiperglicemia e dislipidemia. Portanto, um estilo de vida ativo, com conseqüente aumento da capacidade física, pode atenuar os riscos causados pelo sobrepeso ou obesidade (NEGRÃO et al., 2000).
Atualmente a obesidade é considerada uma disfunção metabólica e não um simples distúrbio alimentar, características genéticas parecem determinar alterações metabólicas facilitadoras do acúmulo de gordura corporal (SANTAREM, 1999).
A obesidade tem sido diretamente ligada à mortalidade e muitas enfermidades crônicas, como: cardiopatias, diabetes tipo 2, hipertensão, acidente vascular cerebral, doença da vesícula biliar, apnéia do sono, alguns tipos de carcinomas e osteoartrite, que tendem a se agravar conforme aumenta o grau desta. Os economistas da área de saúde, usando estudos prospectivos e estatísticas nacionais de saúde, fixaram o custo para a obesidade em 99,2 bilhões de dólares em 1995 (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2005).
1. Objetivo
O presente estudo tem como objetivo realizar uma revisão de literatura com referências bibliográficas clássicas e contemporâneas, sobre o exercício físico resistido e sua resposta frente a perda de peso.
2. Metabolismo lipídico
No corpo existem a gordura essencial e a armazenada. A essencial é necessária para o funcionamento fisiológico normal, é encontrada em pequenas concentrações na medula óssea, coração, pulmão, fígado, rins, músculos e tecidos ricos em lipídios no sistema nervoso. Nos homens, cerca de 3% da gordura corporal é considerada essencial, e nas mulheres 12%. Os triglicerídios são a reserva primária de gordura do corpo, ficam armazenados nos adipócitos constituídos de tecido adiposo. A variação de gordura total (essencial mais armazenada) associada à saúde ótima é de 8 a 24% em homens e 21 a 35% em mulheres, embora, profissionais e atletas de alta performance ter valores muito inferiores a média da população em geral (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2005).
O tecido adiposo branco tem como funções: depósito de triglicerídios, proteger os órgãos abdominais e sendo isolante térmico. O tecido adiposo marrom visto em lactentes e em quantidades muito pequenas em adultos nas áreas escapulares e subescapulares está envolvido na produção de calor como um meio de adaptação ao frio e possivelmente de dissipar excesso de energia (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2005).
De acordo com Mcardle, Katch, Katch (1998) para promover uma boa saúde, a quantidade de gorduras não deve ultrapassar de 30% da ingestão diária, onde 10% desse valor devem ser fornecidos na forma de ácidos graxos insaturados. Porém eliminar grande parte da gordura dietética poderá prejudicar a realização de exercícios e resultar num estado relativo de má nutrição.
A quantidade de gordura disponível é quase ilimitada, suas fontes são os triglicerídeos armazenados na célula muscular, particularmente nas fibras com alto teor oxidativo, sendo estas de contração lenta, e os triglicerídeos circulantes nos complexos lipoprotéicos e os ácidos graxos circulantes mobilizados a partir dos triglicerídeos no tecido adiposo (MCARDLE; KATCH; KATCH, 1998).
Os adipócitos armazenam até 95% do seu volume. O tecido adiposo aumenta pelo crescimento do tamanho das células já existentes quando o lipídio é adicionado (hipertrofia), ou pelo aumento do número de células (hiperplasia). A hiperplasia ocorre no processo de crescimento durante a lactância e a adolescência, mas também pode ocorrer na fase adulta quando o conteúdo de gordura das células existentes alcançou sua capacidade (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2005).
A maioria dos depósitos de gordura vem diretamente dos triglicerídios da dieta. O carboidrato e a proteína em excesso também são convertidos em ácidos graxos no fígado (lipogênese), sendo necessário 3 vezes a quantidade de energia para converter o excesso de carboidrato em tecido adiposo. Quando são consumidas dietas com altos teores de carboidrato na forma de açúcares simples, ocorre a lipogênese, mas não representa uma contribuição significante para as reservas de gordura, a energia excedente do carboidrato tornará os indivíduos mais gordos, mas não pela lipogênese, mas pela supressão da oxidação de gordura (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2005).
O triglicerídio da dieta é transportado pelas lipoproteínas (VLDL-densidade muito baixa) para o fígado e é removido do sangue pela enzima lípase lipoprotéica (LPL), que fica na porção lumial dos capilares. A enzima hidrolisa o triglicerídio em ácidos graxos livres e glicerol. O glicerol prossegue para o fígado, os ácidos graxos entram no adipócito, onde são reesterificados em triglicerídios (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2005).
O nível de atividade local de LPL facilita a captação de ácidos graxos pela célula, que serão usados para obtenção de energia no músculo e para a ressíntese dos triglicerídeos armazenados no músculo e tecido adiposo. A ativação da lipase e as subseqüentes lipólise e mobilização dos ácidos graxos livres (AGLs) são estimuladas pelos hormônios adrenalina, noradrenalina, glucagon e hormônio do crescimento (MCARDLE; KATCH; KATCH, 1998).
De acordo com Maughan, Gleeson, Greenhaff (2000) a taxa de oxidação dos ácidos graxos livres no músculo está relacionada com sua concentração plasmática, fluxo sanguíneo, e também regulada pela capacidade oxidativa das fibras musculares recrutadas e pela disponibilidade das reservas de carboidratos. A capacidade enzimática oxidativa das fibras musculares pode ser comparadas ao estado sedentário, pois existe um aumento da densidade mitocondrial nos indivíduos praticantes de atividade física. A atividade da LPL também é intensificada pelo condicionamento, permitindo maior captação da VLDL circulante para oxidação no músculo durante o trabalho.
A lípase lipoprotéica aumenta durante o ganho de peso em obesos e não obesos, quando o peso é perdido a LPL retorna aos níveis normais em pessoas não obesas, porém nos obesos que reduziram o peso, a LPL aumenta. Este é um dos fatores que contribuem para o rápido ganho de peso (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2005).
2.2. Massa magra e taxa metabólica basal (TMR)
A massa magra é a parte do corpo sem tecido adiposo, que inclui os músculos esqueléticos, água, ossos e uma pequena quantidade de gordura essencial. A massa magra é maior nos homens do que nas mulheres, pode ser aumentada com o exercício, e é menor em adultos senis. É o principal determinante da taxa metabólica em repouso (TMR) (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2005).
O exercício ajuda a balancear a perda de massa corporal magra e a redução da TMR, podendo aumentar a massa corporal magra em proporção à gordura. Os efeitos incluem fortalecimento da integridade cardiovascular e aumento da sensibilidade à insulina. O treinamento de resistência aumenta a massa magra, somando-se à taxa metabólica em repouso e à capacidade de utilizar mais da ingestão de energia, aumenta a densidade óssea, além dos benefícios fisiológicos, maior inibição do centro de saciedade ventro-medial-hipotalâmica e da sensação de bem-estar (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2005).
Metabolismo basal é a quantidade mínima de calor produzido pelo organismo, relacionada à unidade de superfície cutânea e ao tempo (KAMEL; KAMEL, 1998), repouso físico e psíquico completo, jejum absoluto de 8h e num ambiente de neutralidade térmica (DOUGLAS, 1999). Segundo Weineck (2001) pode ser definido quando há repouso corporal e relaxamento muscular. Cerca de 60% da energia utilizada no metabolismo basal serve para manutenção da temperatura corporal, o restante é utilizado para funções fisiológicas de sistemas de controle.
A periodicidade, volume e intensidade do exercício físico podem alterar por várias horas a TMR. O aumento de massa magra resulta em gastos energéticos diário de 8 a 14% maiores em homens moderada e altamente ativos comparados aos sedentários, porém não foi constatado que o exercício habitual leve à estimulação prolongada da taxa metabólica por tecido ativo. A recomendação atual para manter a saúde cardiovascular, independente de peso, é pelo menos 1h por dia de atividade moderadamente intensa, ou 20 a 30min de atividade de alta intensidade 4 a 7 dias por semana (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2005).
O aumento de exercício sem dieta pode resultar numa perda de 2 a 3kg, dependendo da intensidade, duração e tipo. As pessoas que sob prescrição dietoterápica e têm obesidade hipertrófica perdem mais gordura durante um programa de exercícios que as pessoas com obesidade hiperplásica. Inicialmente a atividade aumenta a massa muscular e como a massa corporal magra é mais densa que a gordura, o peso corporal pode não mudar. Com a continuação do exercício, a quantidade limitada do aumento de massa muscular é superada pela diminuição da gordura, resultando em uma diminuição líquida no peso corporal. São necessários no mínimo 2 meses para obter qualquer redução de tecido adiposo com programas de treinamento (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2005).
2.3. Vias metabólicas anaeróbias e substratos energéticos
Segundo Bacurau (2000) em situações anaeróbias, as fibras de contração rápida (glicolíticas) são solicitadas, portanto, o exercício é anaeróbio também pela utilização das fibras musculares adaptadas para ressintetizar ATP na ausência de quantidades adequadas de oxigênio.
O sistema anaeróbio é subdividido em alático (sem acúmulo de ácido lático) e lático. Os exercícios que predominam o sistema anaeróbio alático são os de curta duração e alta intensidade, utilizando o ATP (adenosina trifosfato) e a fosfocreatina como fonte energética presente na musculatura utilizada para executar a atividade. Já os exercícios do sistema anaeróbio lático caracterizam pelo acúmulo de ácido lático, portanto a captação de O2 é menor que a necessidade para realizar a atividade desejada, usando predominantemente os carboidratos como substrato energético (KAMEL; KAMEL, 1998).
As vias metabólicas anaeróbias são capazes de proporcionar mais energia por unidade de tempo, embora possam ser mantidas durante um curto período (FERNÁNDEZ et al., 2000).
Uma grande parte do glicogênio muscular é utilizada para produção de energia anaeróbia para esforços de intensidade máxima, perdurando entre 20s e 5min. Para durações menores, os fosfogênios são as maiores fontes de energia. A utilização da fosfocreatina ocorre imediatamente no início da contração muscular, para tamponar o acúmulo rápido de ADP, resultante da hidrólise do próprio ATP (MAUGHAN; GLEESON; GREENHAFF, 2000).
A quantidade de ATP é limitada, conseqüentemente deve ser sintetizado constantemente. Parte da energia para a síntese de ATP é suprida diretamente pelo catabolismo da molécula de fosfato de outro composto rico em energia creatina fosfato (CP). As células armazenam mais CP que ATP, sua disponibilidade para o suprimento de energia é instantâneo e não requer oxigênio, sendo importante para realização de atividades interruptas, intensas e de curta liberação de energia (MCARDLE, KATCH, KATCH, 1998). A desvantagem desse sistema é sua capacidade limitada, a quantidade total de energia disponível é pequena (MAUGHAN; GLEESON; GREENHAFF, 2000).
Num exercício intenso, a energia para fosforilar o ADP provém principalmente do glicogênio muscular armazenado através da glicólise anaeróbica, que resulta na formação de ácido lático. Tornando possível a formação rápida de ATP pela fosforilação, mesmo quando o fornecimento de oxigênio é insuficiente e/ou quando as demandas energéticas ultrapassam a capacidade do músculo para ressíntese aeróbia do ATP. Os níveis mais altos de lactato são alcançados durante o exercício explosivo (MCARDLE; KATCH; KATCH, 1998). Segundo Maughan, Gleeson, Greenhaff (2000) a taxa de formação de lactato depende principalmente da intensidade do exercício.
Atribui-se ao processo de acúmulo de ácido lático a gênese da dívida de O2, porém não existe correlação entre a taxa de ácido lático e a magnitude da dívida de O2. No metabolismo anaeróbio há aumento de NADH2 (Nicotinamida-adenina-dinucleotídeo reduzido), formando-se lactato e NAD como produtos finais. A formação de excesso de NADH2 refere-se a excesso de lactato, existindo uma estreita relação com o excesso de consumo de O2 pós exercício (EPOC). Deste modo, a formação de lactato não haverá maior consumo de O2, ocorrendo somente quando houver excesso de NADH2 (DOUGLAS, 1999).
O déficit de O2 refere-se à diferença entre a demanda de O2 do exercício e o O2 consumido realmente durante o exercício (MCARDLE; KATCH; KATCH, 1998). A dívida ou débito de O2 é quando seu consumo persiste elevado após a conclusão do exercício, situação em que o músculo não precisaria mais de energia nem de maior consumo de O2. A persistência dessa taxa elevada de consumo de O2 apresenta-se por um tempo variável. Durante o esforço muscular, o músculo obtém sua energia por processos aeróbios, entretanto, quando o exercício é intenso, maior é o requisito de energia para formar ATP, então o músculo recorre à energia anaeróbia. É a glicose anaeróbia que determina a dívida de O2, que deve ser paga após a realização do esforço (DOUGLAS, 1999).
Conforme Douglas (1999) todo exercício requer a utilização do substrato energético que varia de acordo com a magnitude e duração do esforço. Em geral, nos exercícios de curta duração o substrato utilizado é o glicídio, enquanto nos exercícios mais prolongados aumentam o consumo de lipídios também. Afirma-se que em repouso, o músculo esquelético consome lipídios e carboidratos, porém nos exercícios leves e de curta duração, se intensifica o consumo de glicídios fornecidos pelo glicogênio muscular, mas se a atividade for prolongada e aumentar a intensidade do esforço (mais de 60 min.), a glicose sanguínea passa a ser a principal fonte de energia.
O carboidrato é o único macronutriente capaz gerar ATP (adenosina trifosfato) anaerobicamente. O glicogênio muscular e a glicose sanguínea irão fornecer a maior parte de energia para a ressíntese de ATP nos exercícios vigorosos que requerem liberação rápida de energia. No exercício leve e moderado os carboidratos satisfazem cerca de metade das necessidades energéticas do organismo (MCARDLE; KATCH; KATCH, 1998).
Todavia, após 120 min. de atividade contínua o glicogênio muscular é depletado e o lipídeo assume a principal fonte energética. A utilização de glicose e ácidos graxos livres exige o consumo de oxigênio, pois a liberação de energia desses substratos requer oxidação prévia (DOUGLAS, 1999).
Segundo Maughan, Gleeson, Greenhaff (2000), nos exercícios de alta intensidade, a taxa de oxidação de gorduras não consegue produzir ATP suficiente para a contração muscular, portanto a energia não pode ser derivada dos lipídios pelas vias anaeróbias. O ATP, neste caso, é derivado da oxidação dos carboidratos e da glicólise anaeróbia.
O fracionamento dos ácidos graxos depende de um nível prévio e contínuo do catabolismo de carboidratos, e em condições anaeróbias o metabolismo dos lipídeos é bloqueado. É provável que haja um limite de velocidade para utilização dos ácidos graxos pelo músculo ativo (MCARDLE; KATCH; KATCH, 1998).
Considerando que quando as reservas de glicogênio muscular e glicose sanguínea estão diminuídas, a intensidade do exercício fica reduzida e limita o organismo de converter as gorduras corporais em energia (COYLE, 1997).
Segundo Mcardle, Katch, Katch (1998) a produção máxima de potência do músculo deverá terminar quando o glicogênio muscular for depletado. Durante a depleção de carboidratos, a acetilcolina produzido na oxidação-beta e os ácidos graxos livres se acumulam nos líquidos extracelulares, pois não conseguem penetrar no ciclo de Krebs. Estes compostos são transformados em corpos cetônicos pelo fígado, e se essa condição de cetose persistir, poderá alcançar níveis potencialmente tóxicos e lesivos ao sistema nervoso.
3. Avaliação do déficit de O2
3.1. Espirometria
A espirometria determina a entrada e saída de ar dos pulmões, permite o calcular as alterações dinâmicas do volume pulmonar, mensurando os fluxos respiratórios na inspiração e expiração. Os sistemas para espirometria podem ser classificados em abertos ou fechados. No sistema aberto o indivíduo realiza uma inspiração máxima fora do sistema (antes de colocar a peça bucal) e expira, enquanto no sistema fechado o indivíduo inspira diretamente no aparelho. Existem equipamentos que podem ser de volume e fluxo (DOUGLAS, 1999).
A estatura é a variável com maior influência nos valores previstos para função pulmonar. Quando existe deformidade espinhal ou não for possível medir a estatura, a envergadura pode ser utilizada. O peso corporal geralmente não não afeta as variáveis espirométricas, a menos que o indivíduo apresente obesidade mórbida. Valores baixos de índice de massa corporal (IMC) podem resultar em redução da capacidade vital forçada (CVF) (DOUGLAS, 1999).
De acordo com Douglas (1999) as medidas do volume do gás expirado são realizados em equipamentos onde as moléculas de gás estão em temperatua e pressão ambientais e usualmente saturadas com vapor d’água. Os volumes devem ser convertidos para uma condição padrão devido às variações ambientais.
Conforme o autor, para realização do exame não é necessário jejum; café e chá devem ser evitados nas últimas 6h; cigarro e deve ser proibido 24h antes do exame; álcool não deve ser ingerido nas últimas 4h; evitar ingestão de refeições volumosas 1h antes do teste; repousar 5 a 10 min. antes do teste; broncodilatadores de curta duração devem ser suspensos por 4h e os de duração prolongada por 12h antes do exame; evitar uso de vestimentas apertadas; presença de infecção respiratória nas últimas semanas pode alterar a função pulmonar ou levar à hiperresposividade brônquica (DOUGLAS, 1999).
O exame deve ser realizado com o indivíduo sentado, e no mínimo três manobras com um intervalo de 30 seg. Inicialmente deve-se proceder a Capacidade Vital Lenta (CV) orientando o indivíduo para realizar uma expiração, a partir de uma inspiração máxima, de maneira relaxada e com velocidade normal até a eliminação total do ar. Para realização da manobra de Capacidade Vital Forçada deve-se orientar para processar uma expiração máxima seguida de expiração rápida até que o técnico ordene a interrupção. A inspiração até a Capacidade Pulmonar Total (CPT) antes da expiração forçada ao deve ser muito rápida (DOUGLAS, 1999).
3.2. Consumo de O2 no exercício muscular
Em condições de repouso, o consumo de O2 do organismo é de 250 ml/min, enquanto no exercício muscular pode ser aumentado até 20 vezes o valor basal (5 litros/min). O aumento de consumo de O2 na atividade é variável de acordo com a modalidade (DOUGLAS, 1999).
Douglas (1999) para se calcular o consumo de O2 total do organismo, em repouso, deve-se considerar a diferença arterio-venosa de O2 (quantidade de O2 que é entregue aos tecidos pelo sangue arterial, subtraindo a quantidade de O2 do sangue venoso). O fluxo de sangue (q°) comum para todo o organismo, ou seja, o volume cardíaco-minuto (VCM) ou débito cardíaco. Equação: Q°O2=VCM x a-v O2
Em condições de repouso: VCM=5.000 ml/min.; a-v O2=0,005 vol/ml. Então: Q°O2=250 ml/min.
4. Avaliação antropométrica
Existem dois procedimentos gerais para avaliar a composição corporal. A avaliação direta é feita por análise química da carcaça animal ou do esqueleto humano; a avaliação indireta é feita por pesagem hidrostática ou com mensurações simples das pregas cutâneas e das circunferências (MCARDLE; KATCH; KATCH, 1998).
A mensuração da gordura subcutânea tem a finalidade de estimar a gordura corporal total, através do compasso. O procedimento consiste em pinçar fortemente com o polegar indicador, uma prega de pele e gordura subcutânea, afastando-a do tecido muscular subjacente, seguindo o contorno natural da prega cutânea. A espessura da dupla camada de pele e tecidos é lida diretamente no mostrador do compasso e registrada em milímetros, dentro de dois seg. após aplicar toda a força do compasso (MCARDLE; KATCH; KATCH, 1998).
Conforme Mcardle; Katch; Katch (1998) as áreas mais comuns para realizar as mensurações são no nível triciptal, subescapular, supra-ilíaco, abdominal e superior da coxa. Todas as medidas são feitas do lado direito do corpo com o indivíduo de pé. Existem duas maneiras de utilizar as pregas cutâneas, a primeira consiste em somar os escores que indicará o grau relativo de adiposidade entre os indivíduos. A segunda é a combinação com equações matemáticas destinadas a predizer a densidade corporal, estas equações são específicas para determinada população.
Segundo o autor a determinação do percentual de gordura antes e após um programa de atividade física proporciona um meio conveniente para avaliar as alterações na composição corporal que, são independentes das mudanças no peso corporal.
5. Efeitos da musculação (contra-resistido) frente a obesidade
Alguns relatos de estudos avaliando o perfil lipídico em indivíduos com treino vigoroso têm produzido resultados conflitantes (WOLINSKY; HICKSON 1996).
Uma pesquisa feita no Canadá por Tremblay (1994) com jovens adultos destreinados, que foram divididos em 2 grupos. O primeiro grupo se exercitou por 20 semanas, iniciando os treinos a 65% da freqüência cardíaca máxima (FCM) e progredindo para 85%. Cada treino durava entre 30 a 45 min. tendo um período de 3 a 4 vezes por semana. O segundo grupo se exercitou por 15 semanas, executando aquecimento e em seguida 10 a 15 tiros de 15 até 30 segundos ou 4 a 5 tiros de 60 até 90 segundos. Os intervalos ocorriam até que a freqüência cardíaca chegasse a 120-130 bpm. Foi verificado que o grupo I gastou mais que o dobro de calorias (120,4 MJ em comparação com 57,9 MJ), porém os indivíduos do segundo grupo obtiveram uma redução no percentual de gordura maior que o primeiro.
De acordo com Grediagin et al. (1995) dois grupos de mulheres destreinadas e acima do peso foram submetidos a diferentes intensidades de exercício (50% e 80% do VO2 máx) respectivamente, durante 12 semanas, sendo que as atividades eram realizadas até que se chegasse num gasto total de 300 Kcal. Ao final do estudo não houve diferença significativa na perda de peso e porcentagem de gordura corporal, porém o grupo que se exercitou intensamente ganhou mais que o dobro de massa magra em relação ao outro, promovendo um possível aumento da TMB.
Segundo Santarem (1997) a não utilização de ácidos graxos pelos exercícios anaeróbios não deve levar à conclusão de que tais exercícios não contribuem para a diminuição do tecido adiposo. A redução da gordura corporal ocorre por um processo metabólico complexo, sendo o balanço calórico negativo o aspecto fundamental.
Um estudo realizado por Fernandez et al. (2004) verificou as influências do exercício aeróbio e anaeróbio na composição corporal de 28 adolescentes obesos do sexo masculino, com idades entre 15 e 19 anos, que apresentavam obesidade grave. Foram divididos em 3 grupos, o grupo I: exercício anaeróbio; o grupo II: exercício aeróbio; e o grupo III: controle. Concluiu-se que o exercício anaeróbio foi mais eficiente para promover a diminuição da gordura corporal e da porcentagem de gordura.
Segundo Broeder et al. (1992) um estudo foi feito com 47 homens com idade entre 18 e 45 anos por 12 semanas, para comparar os efeitos de exercícios de alta intensidade e de resistência no metabolismo em repouso. Ambos os grupos mostraram uma redução na gordura corporal e manteram a massa magra, a taxa do metabolismo em repouso não apresentou grandes mudanças. Os resultados sugeriram que tanto o treinamento de alta intensidade quanto o de resistência podem ajudar a manter a normalidade quando o organismo apresenta um balanço energético negativo, preservando ou diminuindo a massa gorda. De acordo com o autor, os exercícios resistidos contribuem para o aumento de massa muscular, aumento da massa óssea calcificada e a redução da gordura. O principal determinante do processo de mobilização da gordura corporal é o balanço calórico negativo, compreende-se que quando faltam calorias para suprir a demanda energética ocorre mobilização da gordura corporal. No caso da atividade resistida, ocorre aumento da taxa metabólica basal devido ao aumento da massa muscular.
Acredita-se que a tendência das pessoas engordarem com a idade sejam em grande parte devido à redução da taxa metabólica basal decorrente de perda progressiva de massa muscular. Alguns trabalhos documentaram superioridade a longo prazo dos exercícios com pesos para o objetivo de redução de gordura corporal, em função do aumento da massa magra (SANTAREM, 1997).
O tipo de substrato energético mobilizado durante os esforços parece não ter maior importância no processo de emagrecimento, visto que ocorre interconversão metabólica entre eles no período do exercício. Quando é realizado exercícios aeróbios ocorre mobilização de gordura durante a atividade, já nos anaeróbios, a produção energética depende quase exclusivamente da fosfocreatina e do glicogênio. No entanto nas atividades anaeróbias propiciam perda de peso no período pós exercício, quando a atividade metabólica de síntese protéica e glicídica ocorre ás custas de energia aeróbia proveniente, na sua maior parte, dos ácidos graxos. Quando se compara os efeitos dos exercícios com pesos e dos aeróbios, pode compensar em peso com o ganho de massa muscular, nesse caso deve ter consciência de que a composição corporal está mudando favoravelmente no sentido da saúde (SANTAREM, 1997).
Foram feitos 2 experimentos para determinação do efeito do exercício resistido extenuante no gasto energético pós exercício em homens previamente treinados em exercícios resistidos. Grupo 1: 7 homens (22-40 anos) que realizaram por 90 min. um protocolo de levantamento de peso. Foi aferida a taxa de metabolismo continuamente por 2h após o exercício e na manhã seguinte após 15h do treinamento. Grupo 2: 6 homens (20-35 anos) foi realizado um protocolo similar, e o grupo controle que foi medido q taxa de metabolismo 2h após um período em repouso. Em ambos os experimentos a taxa de metabolismo pós-exercício permaneceu elevada pelas 2h contínuas durante a recuperação. Na manhã seguinte aferiu-se novamente, o grupo 1 foi 9,4% maior e no 2 foi 4,7% do que no dia anterior. Concluiu-se que no exercício resistido extenuante a taxa de metabolismo pós-exercício permaneceu mais elevada por um período maior, e pode ter aumentado a oxidação lipídica (MELBY et al.,1993).
Conforme Melby e Hill (1999) o aumento de oxidação de gorduras em indivíduos treinados é facilitada pela morfologia e adaptações enzimáticas do músculo esquelético que ocorre após o treinamento. O exercício contra resistido reflete uma grande contribuição das gorduras para o fornecimento de energia durante o período de repouso, assim como outros tipos de exercícios de alta intensidade, as gorduras fazem a ressíntese do glicogênio.
Uma pesquisa feita por Gillette (1994) avaliou o gasto energético após a atividade, de homens de 22 a 35 anos foram divididos em 3 grupos, atividade resistida extenuante; ciclismo estacionário (50% O2) e o controle (estado parado). O metabolismo em repouso foi aferido no momento da atividade e na manhã seguinte, e o consumo de oxigênio na recuperação 5h após os treinamentos. O consumo de oxigênio foi maior na atividade resistida em relação aos outros grupos, o metabolismo em repouso após a atividade no exercício resistido foi significantemente maior comparada ao grupo controle. Estes resultados sugerem que a atividade resistida extenuante resulta num aumento no consumo de oxigênio após a atividade comparado a atividade de endurance.
Em contrapartida Melanson (2002) comparou a oxidação de lipídios e a energia gasta após 24h do treinamento de ciclismo estacionário e trabalho resistido. Concluiu-se que o exercício de resistência apresenta uma oxidação similar após 24h comparado ao exercício aeróbio.
Segundo Kuo (2005) avaliou-se a hipótese de que a oxidação lipídica predomina no período pós-atividade. Foram avaliados 6 sujeitos do sexo masculino (idade média 21,2) e 6 mulheres (idade média 22,8) durante e após 2 tipos de atividade: 89 min. com 45% e 60 min. com 65% de consumo de O2. A oxidação lipídica para contribuição energética aumentou significantemente durante a recuperação comparada aos níveis pré-exercício. Concluiu-se que, embora o carboidrato seja a maior fonte de energia durante o exercício intenso e moderado, há uma importante oxidação lipídica e a oxidação lipídica é a mesma durante o período pós exercício se o esforço for de 45% ou 65% do vO2.
Segundo Saris e Schrauwen (2004) estudaram o efeito de exercícios de alta intensidade e o gasto energético após 24h. Foram colocados 8 homens obesos em câmara respiratória por 2 fotoperíodos noturnos, onde eles realizaram atividade de alta intensidade e baixa intensidade, com protocolo de mesmo gasto de energia. Os resultados não demonstraram diferença, concluindo-se neste estudo que o gasto energético após 24h não apresentou diferença entre os exercícios de alta e baixa intensidade.
Um estudo realizado por Ormsbee et al. (2007) investigaram como o exercício resistido pode contribuir para a melhora da composição corporal. Foram realizadas análises de composição corporal medidos em 8 homens jovens (média 24 anos) a lipólise e o fluxo sanguíneo na gordura abdominal por microdiálise, antes e depois de 5h de atividade de resistência e um dia sem atividade física (controle). A oxidação da gordura foi medida imediatamente antes e depois da atividade por calorimetria indireta, por 45 min. Pode-se concluir que a atividade resistida contribuiu para melhorar a composição corporal, diminuir a gordura abdominal e melhorar a oxidação lipídica e a energia gasta em resposta da atividade intensa.
Uma revisão feita por Poehlman e Melby (1998) examinaram os efeitos do treinamento de resistência no gasto energético. Alguns estudos investigaram os efeitos do metabolismo basal, a atividade física e o gasto de energia, o consumo de O2 pós-atividade e a oxidação de substratos em jovens e idosos. Muitos estudos indicaram que a intensidade da atividade intensa aumenta o consumo de O2 e muda o substrato oxidado para oxidação lipídica. Sugeriu-se que o trabalho de resistência aumenta a força e resistência muscular, interferindo na regulação do peso, devido à composição corporal (aumento de massa magra).
Alguns estudos têm mostrado que o metabolismo permanece elevado por horas após atividades de resistência, mas nenhum achado foi encontrado sobre este aumento por mais de 16h. Neste estudo foi examinado a duração do consumo de O2 pós-treino de 7 homens (idade média 22 anos), que fizeram exercícios resistidos por 31 min. Foi analisado o consumo de O2 após a atividade, que apresentou significantemente elevado até 38h após o exercício. Sugeriu-se nesse estudo que a duração do consumo de O2 em exercícios resistidos permanece além de 16h, indicando-se a importância de futuros estudos em exercícios de resistência numa população variada (SCHUENKE et al., 2002).
Cada vez mais se valoriza o aumento da taxa metabólica basal produzida pelo aumento de massa magra. Porém, dois fatores parecem dificultar a aceitação desses novos conceitos, o fato de que apenas as atividades aeróbias mobilizam gordura como substrato energético, e o receio de que atividades intensas possam ser perigosas para sujeitos sem níveis adequados de condição física, sendo a situação dos obesos (SANTAREM, 1999).
Considerações finais
A principal proposta deste estudo foi verificar os efeitos do exercício anaeróbio na composição corporal. A literatura aponta que um treinamento que possa maximizar tanto o EPOC quanto a TMR podem ser importantes para o emagrecimento, embora o gasto dessas variáveis em uma sessão de exercício se mostre pequena, a longo prazo poderá ser bastante significativo.
As adaptações da musculatura energética ocorridas como resposta do treinamento favorecem o processo metabólico dos lipídios. As atividades intensas comparadas às atividades de mesmo dispêndio calórico, proporcionaram uma degradação de carboidratos e gorduras após o treinamento proporcionais à sua intensidade, o que nos leva a afirmar que o período pós exercício deve ser levado em conta quando analisamos a eficiência das atividades.
Considerando os dados obtidos e toda a revisão bibliográfica realizada, é correto afirmar que o exercício físico tem papel fundamental para o controle e tratamento da obesidade. A intensidade da atividade parece estar diretamente relacionada com a perda de massa e gordura corporal, uma vez que as atividades de maior intensidade promovem como conseqüência maior queima calórica. Portanto, é sabido que alterações na composição corporal para serem mais saudáveis devem apresentar menores quantidades de tecido adiposo, e não devemos nos equivocar com a perda de peso total do indivíduo.
O treinamento anaeróbio proposto neste estudo foi mais eficiente para promover a diminuição da porcentagem de gordura corporal que o treinamento aeróbio. No entanto, novos estudos deverão ser realizados com o intuito de confirmar essas evidências.
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