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Análise dos efeitos fisiológicos dos exercícios 

físicos aeróbicos na prevenção do diabetes tipo 2

Análisis de los efectos fisiológicos de los ejercicios aeróbicos en la prevención de la diabetes tipo 2

 

*Licenciado em Educação Física/UniSalesiano Lins

**Licenciado em Educação Física/UniSalesiano Lins

*** Mestranda em Atividade Física, Adaptação e Saúde (UNICAMP)

(Brasil)

Ivanildo Carlos Gomes de Lima*

Gilberto Martins Junqueira Júnior**

Márcia Cristina Carriel Giacomini***

mgiacomini@fef.unicamp.br

 

 

 

Resumo

          Diabetes Mellitus do tipo 2 é uma síndrome metabólica que se caracteriza por um excesso de glicose no sangue devido à falta ou ineficácia da insulina. O presente estudo procurou verificar e comparar os efeitos de um treinamento físico aeróbico em pessoas pré-diabéticas, analisando as variáveis: VO2MÁX, pressão arterial, taxa glicêmica e composição corporal, e as mudanças fisiológicas que o exercício físico possa exercer na prevenção do Diabetes. A atividade física aeróbia regular pode ser aproveitada na prevenção do Diabetes Mellitus tipo 2, por ocasionar efeitos positivos nas variáveis analisadas e reduzir significantemente os valores da composição corporal, que é uma das principais causas da diabetes associada ao sedentarismo.

          Unitermos: Diabetes Mellitus. Efeitos fisiológicos. Exercícios físicos. Prevenção.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 130 - Marzo de 2009

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Introdução

    O Diabetes Mellitus é uma síndrome metabólica que se caracteriza por um excesso de glicose (açúcar) no sangue (hiperglicemia) devido a falta ou ineficácia da insulina, hormônio produzido pelo pâncreas endócrino. (MARTINS, 2000, p. 11)

    Diabetes Mellitus é uma doença crônica que afeta o homem moderno podendo levar até à morte por causa de suas complicações (doenças secundárias). Segundo a Organização Mundial da Saúde, ela é a terceira causa principal de morte no mundo, o número de mortes atribuídas anualmente a diabetes está em torno de 3.2 milhões de pessoas.

    Os dois tipos de Diabetes Mellitus mais comuns são: Diabetes Mellitus tipo 1 e o Diabetes Mellitus tipo 2.

    A freqüência do diabetes tem aumentado rapidamente no mundo, nos últimos anos. Recentemente, a Organização Mundial de Saúde reconheceu que a doença é epidêmica. As estatísticas apontam que o número de casos registrados em 1977, cerca de 143 milhões, devem se multiplicar até 2025, chegando aos 300 milhões. A prevalência na faixa etária de 30 a 69 anos é de 7,5%, mas se eleva com a idade. Alguns dos fatores que favorecem crescimento alarmante de casos estão relacionados ao estilo de vida e o envelhecimento da população.

    O sedentarismo está relacionado com a inatividade que pode levar a obesidade, sendo uma das principais causas responsáveis por várias doenças degenerativas, entre elas a Diabetes Mellitus. É sedentário quem gasta poucas calorias com qualquer atividade motora, fazendo com que o organismo guarde esta energia em forma de gordura.

    O excesso de gordura é responsável por várias disfunções crônico-degenerativas, elevando os índices de morbidade e mortalidade.

    A obesidade não é responsável pelo desenvolvimento da Diabetes Mellitus tipo 1, mais é uma das causas principais do desenvolvimento do Diabetes Mellitus tipo 2. Aproximadamente 80% dos indivíduo com Diabetes Mellitus são obesos com mais de 25% do peso normal.

    “No diabetes tipo 2 as reações intracelulares estão diminuídas, tornado, assim, a insulina menos efetiva na estimulação da captação da glicose pelos tecidos”. (BARE; SMELTZER, 2000, p. 937).

    “Mesmo em indivíduos normais, um aumento significativo de peso induz a intolerância aos carboidratos, níveis aumentados de insulina e falta de resposta tecidual à insulina.” (ROBBINS et al. 1996 apud BORLONI et al.; 2002 p. 41).

    Quanto maior o sobrepeso, maior a propensão a problemas de saúde. Muitas pessoas com excesso de peso enfrentam dificuldades para chegar ao peso ideal para seu tipo de corpo.

    As pessoas com diabetes precisam ter um cuidado especial com a balança, pois se manter no peso ideal ajuda, e muito, a controlar a doença. Isso porque a ingestão diária de calorias e carboidratos influencia no controle glicêmico. Os exercícios físicos também são indicados, não só para manter o peso, como para aumentar a eficácia da insulina, dentre outros fatores importantes.

    Estudos mostraram que indivíduos obesos, com diabetes ou não, apresentam, em jejum, níveis de insulina aumentados e a liberam mais após sobrecarga oral de glicose (curva glicêmica). Quando este aumento de insulina (hiperinsulinismo) estiver associado ao aumento de triglicérides, diminuição do HDL- colesterol, aumento da pressão arterial e obesidade central, constituirá importante fator de risco para doença coronariana e diabetes.

    Referenciais direcionados à adoção de estilo de vida saudável, a partir de prática de atividade física e de alimentação adequada, têm sido advogados na medida em que, comportamentos inadequados neste sentido podem afetar fatores fisiológicos associados, predispondo ao surgimento de fatores de riscos relacionados às doenças crônico-degenerativas (PATE et al., p 402, 1995).

Com o diagnóstico precoce, tratamento adequados, juntamente com uma boa alimentação e um programa de exercícios físicos que respeitem as necessidades do diabético, a progressão e as complicações do Diabetes podem ser evitadas.

    Martins (2000, p. 71) descreve ”Nas primeiras décadas deste século já se conhecia o efeito depressor do exercício físico sobre os níveis de glicose sanguínea”.

    Portanto o presente estudo tem como objetivo verificar e comparar os efeitos de um treinamento físico em pessoas pré-diabéticas, analisando as variáveis: VO2máx, pressão arterial, taxa glicêmica e composição corporal, e as mudanças fisiológicas que o exercício físico possa exercer na prevenção do Diabete do tipo 2.

Material e métodos

    Os sujeitos deste estudo foram nove pessoas com predisposição a Diabetes Mellitus do tipo dois, sendo três do sexo masculino e seis do sexo feminino, com idade entre 47 a 72 anos, com uma média de 57 anos. Todos os sujeitos são sedentários, seis hipertensos, cinco obesos; a dieta alimentar que os avaliados mantinham permaneceu a mesma durante todo o estudo.

    Os aparelhos utilizados para os testes foram: esteira rolante (IMBRAMED), analisador de gases teem 100, aparelho de bioimpedância (BIODYNAMICS), esfignomanômetro; estetoscópio e analisador glicêmico capilar.

Protocolo

    Para análise do consumo de oxigênio os sujeitos foram submetidos a um teste sub-máximo de esteira rolante onde a velocidade inicial foi de 5.5 Km/h com incremento de carga em sua inclinação sendo inicial de 1% e a cada 1 minuto aumento de 2%.

    Para determinar a composição corporal foi utilizado o aparelho de bioimpedância elétrica. Os avaliados estavam em jejum de no mínimo de 8 horas. Os eletrodos sendo colocados na mão direita e no pé direito, sendo os de cor vermelha próximo do coração e o de cor preta distante.

    Para determinar a pressão arterial foi utilizado o aparelho esfignomanômetro e estetoscópio. A mensuração da pressão arterial foi realizada no braço direito antes e após o teste de VO2máx.

    Para determinar a taxa glicêmica foi utilizado o aparelho analisador glicêmico capilar. Os avaliados estavam em jejum de no mínimo de 8 horas

    Para análise estatística dos índices avaliados foi utilizado o método “t” de Student para dados pareados, sendo demonstrado em tabela.

    Para determinar a intensidade da caminhada foi usada a freqüência cardíaca de acordo com o seguinte protocolo: 220 – idade calculando a zona alvo, que foi de 60% a 75% da freqüência cardíaca máxima.

Procedimentos

    As avaliações foram realizadas no período da manhã. Após a realizações dos testes os sujeitos foram submetido a um programa de treinamento aeróbico (hidroginástica e caminhada) durante 8 semanas. Para verificar os efeitos do treinamento após as 8 semanas foram repetidos os mesmos testes iniciais, seguindo os mesmos protocolos.

Foi elaborado um programa de caminhada de longa duração e intensidade leve ou moderada. A caminhada foi aplicada de segunda, quarta e sexta-feira das 07h00min horas as 08h00min horas durante seis semanas. Nos dez primeiros minutos eram realizados alongamentos passivos e aquecimento, em seguida eram realizadas caminhadas de 40 minutos de intensidade moderada e nos últimos dez minutos era realizada uma volta calma com alongamentos passivos. As caminhadas foram realizadas em uma pista de atletismo.

    Também foi elaborado um programa aeróbico de hidroginástica para terceira idade de intensidade leve ou moderada. Hidroginástica foi aplicada de terça e quinta-feira das 18h00min horas as 19h00min horas durante oito semanas, nos dez primeiros minutos eram realizados alongamentos passivos e aquecimento, logo após era aplicado quarenta minutos de exercícios aeróbico moderado, e nos últimos dez minutos era realizada uma volta calma com alongamentos passivos.

    Para determinar a intensidade da caminhada foi usada a freqüência cardíaca.

Resultados

Tabela 1. Média e desvio padrão das variáveis mensuradas nos sujeitos submetidos ao treinamento aeróbio.

Pré Pós

PESO (kg) 62.46 ± 10.53 60.35 ± 11.18*

GORDURA (%) 27.66 ± 6.23 25.01 ± 5.29 *

VO2MÁX (ml/kg/m) 25.71 ± 3.47 26.40 ± 4.14

TAXA GLICÊMICA (mg/dl) 118.44 ± 17.32 107.11 ± 10.19

P. A. SISTÓLICA R. (mmhg) 122.22 ± 10.92 117.77 ± 15.63

P. A. DIASTÓLICA R (mmhg) 82.22 ± 6.66 77.77 ± 8.33

P. A. SISTÓLICA A. E. (mmhg) 41.11 ± 10.54 126.88 ± 44.06

P. A. DIASTÓLICA A. E. (mmhg) 80.00 ± 7.07 81.11 ± 7.81

* (p ≥ 0,05)

Discussão

    Segundo Nunes (1997, p. 77): “O programa de atividade física é extremamente complexo pluridimensional e multiforme necessitando ser complementado e interpretado por uma série de exames clínicos e laboratoriais, que ajudam a equipe do programa (médico, nutricionista e Professor de Educação Física)”.

    Um programa de prevenção para controle do Diabetes Mellitus deve ser bem estruturado através da integração de profissionais da saúde. Programa este monitorado sistematicamente por estes profissionais.

    Devemos nos lembrar de que se não for respeitado, dentro de um treinamento físico o princípio da continuidade, as adaptações metabólicas poderão não existir. Adaptações estas que contribuem para o controle de muitas doenças, especialmente de natureza endócrino-metabólica como o Diabetes Mellitus.

    Segundo Azevedo (1997, p. 23): “A atividade física praticada regularmente, por outro lado, leva a adaptação morfológica e fisiológica importantes para a manutenção do organismo em condições normais”.

    De acordo com Simão (2003, p.128): “Embora a insulina injetável seja eficaz e, em algumas situações, necessária para o controle glicêmico, resultados semelhantes sugerem que a regularidade na execução de exercícios aeróbicos também pode reduzir o risco da resistência à insulina e prevenir o desenvolvimento de pioras na tolerância à glicose”.

    Com o controle da taxa glicêmica é possível que seja evitado problemas futuros, pois a decorrência dos danos em artérias, néfrons, neurônios e na retina é fruto do aumento do nível de glicose sangüínea.

    A obesidade é um dos fatores preponderantes no início do processo fisiológico de resistência da entrada de insulina pela membrana plasmática. Portanto o exercício físico auxiliando o controle da obesidade também auxilia no controle do diabetes.

    Estudos demonstram que o exercício físico aumenta a permeabilidade da membrana plasmática à glicose, fazendo com que a resistência à insulina fique em níveis baixos. Com isto a glicose sangüínea diminui.

    Segundo Bennett; Goldman (2001, p. 1417): “O exercício físico regular constitui um auxiliar útil no tratamento do diabético, podendo melhorar a ação da insulina e facilitar a perda de peso; entretanto, a sua principal vantagem é reduzir o risco cardiovascular”.

    O exercício aeróbico é comprovadamente o melhor caminho para se conter a alta da taxa glicêmica, juntamente com outros que não envolvem o esforço. Pois outros tipos de exercícios que usam outros sistemas energéticos (anaeróbico alático e anaeróbico lático) não influenciariam o necessário para regulação dos níveis de glicose presente no sangue. O sistema aeróbico é o ideal, pois oxida o maior número de moléculas de glicose para gerar ATP, sem falar que o próprio exercício faz com que a membrana plasmática das células aumente a permeabilidade para a glicose, em até cinco vezes.

    Neste estudo pode-se analisar que o treinamento aeróbio trouxe melhora relevante na composição corporal, pois houve perda de peso e diminuição no percentual de gordura dos indivíduos avaliados.

    Apesar da analise estatística comprovar que não houve uma melhora significativa nos níveis de glicemia, houve redução da taxa glicêmica de quase todos os indivíduos avaliados; exceto um. Em relação à pressão arterial e VO2máx houve uma sensível melhora.

    Pode-se observar que a atividade física trouxe melhoras na qualidade de vida, por exemplo: durante o treinamento alguns indivíduos avaliados relataram que antes da realização dos treinamentos sentiam dores locais, cãibras, desânimo e logo após o início do treinamento as dores não eram mais notadas, desapareceram as cãibras e tinham mais ânimo para realizar as atividades do dia-a-dia.

    Durante o treinamento notou-se que vários fatores influenciavam a freqüência cardíaca, tais como estado emocional, temperatura ambiente, alimentação, vestimentas; portanto não seria uma variável confiável para ser usada como referência na prescrição da atividade.

Conclusão

    Observou-se por meio deste estudo que houve uma melhora significativa na composição corporal, com redução do peso e diminuição do percentual de gordura. Porém não houve melhora significativa na pressão arterial e VO2máx, talvez pelo programa ter sido realizado num curto período de tempo, então sugere-se que em futuros estudos sejam realizados um programa mais longo.

    Portanto a atividade física aeróbia pode ser aproveitada na prevenção do Diabetes Mellitus tipo 2, por reduzir valores das variáveis da composição corporal, que é uma das suas principais causas.

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