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Educação Física Escolar: um olhar para a educação infantil

Scholar Physical Education: look on the infantil education

 

*Licenciada em Educação Física (UFSM)

Especialista em Educação Física Escolar (UFSM)

Professora de Educação Física da rede de ensino particular de Santa Maria

Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física (GEPEF/UFSM)

**Doutor em Educação (UNICAMP/UFSM)

Doutor em Ciência do Movimento Humano (UFSM)

Professor Adjunto do Departamento de Metodologia do Ensino (CE/UFSM)

Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE/UFSM)

Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física (GEPEF/UFSM)

Leisa Caetano Bürger*

Hugo Norberto Krug**

hnkrug@bol.com.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          A investigação buscou analisar a realidade da disciplina de Educação Física nas turmas de Educação Infantil das escolas da rede privada de Santa Maria-RS, visto ser esse tema de fundamental importância para a Educação, reconhecendo assim, a participação da Educação Física no desenvolvimento infantil. A investigação assumiu um enfoque fenomenológico com abordagem qualitativa. Os sujeitos do estudo foi composto por três professores de Educação Física que atuam em turmas de Educação Infantil. Para a coleta de dados foi utilizado um questionário com perguntas abertas e fechadas e, a interpretação dos dados se deu pela análise de conteúdo. Quatro constructos nortearam o estudo: o perfil do professor de Educação Física na Educação Infantil, a valorização da Educação Física na Educação Infantil, os aspectos organizacionais e a prática pedagógica. Os resultados do trabalho permitiram concluir que há um pequeno número de escolas que oferecem aulas de Educação Física para as turmas de Educação Infantil, ou seja, poucos professores de Educação Física trabalham com as turmas infantis. Entretanto, evidenciou-se que, os professores pesquisados possuem uma postura didático-pedagógica que valoriza a Educação Física, de tal forma que a mesma não se torna apenas um fazer pelo fazer, mas que possa contribuir para uma Educação integral da criança através do movimento.

           Unitermos: Educação Física. Educação Física Escolar. Educação infantil.

 

Abstract

          The inquiry searchs to analyze the reality of disciplines of Physical Education in the groups of Infantile Education of the schools of the private net of Santa Maria, visa to be this subject of basic importance for the education, thus recognizing, the participation of the Physical Education in the infantile development. The inquiry assumes a positive approach with qualitative boarding. The study object is composed for three professors of Physical Education who act in groups of Infantile Education. For the collection of data a questionnaire with open and closed questions e, the interpretation of the data was used if it gave for the content analysis. Four hypothesis guide the study: the profile of the professor of Physical Education in the Infantile Education, the organization valuation of the Physical Education in the Infantile Education, aspects and practical the pedagogical one. The results of the work allow to conclude that it has a small number of schools that offer lessons of Physical Education for the groups of Infantile Education, that is, few professors of Physical Education work with the infantile groups. However, he proves yourself that, the searched professors in such a way possess a didactic-pedagogical position that values the Physical Education, that the same one not if becomes only one to make for making, but that it can contribute for an integral education of the child, through the movement.

          Keywords: Physical Education. Scholar Physical Education. Infantile education.

 

Artigo Monográfico apresentado ao Curso de Especialização em Educação Física Escolar/CEFD/UFSM

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 130 - Marzo de 2009

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Contextualizando a investigação

    Segundo Libâneo (1992), o primeiro contato oficial da criança com a sociedade acontece com o seu ingresso na escola. É nela que a criança passa a ampliar seu entendimento de mundo e ela também percebe outras pessoas ao seu redor, além dos componentes de sua família. Assim, professores e colegas são partes quase inseparáveis do desenvolvimento individual e social da criança, pois é a escola que vai preparar o aluno para uma participação ativa e transformadora nas várias instâncias da sociedade.

    A inclusão da Educação Infantil, assim como o Ensino Fundamental e Médio, como parte da Educação Básica, com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei No 9394 (BRASIL, 1996), pode ser considerada como um marco de valorização e atenção à Educação da primeira infância, através da criação de leis e estatutos que vieram a beneficiar e garantir direitos às crianças. Desta maneira, há uma crescente conscientização da importância atribuída à criança e à Educação Infantil, pois não se concebe mais esta como apenas uma boa política assistencial, mas sim com estabelecimentos específicos com orientações e práticas pedagógicas apropriadas ao atendimento educacional da criança do zero aos seis anos.

    Há tempos, muito se tem discutido sobre que lugar a Educação Física ocupa na Educação Infantil. Será que a atividade corporal não se constitui num meio importante para estimular processos de desenvolvimento e de aprendizagem desde a tenra idade? Se for, o que se deve fazer? Como? Por que? Onde? A Educação voltada aos pequenos não pode estar apenas voltada à aquisição de rotinas e hábitos, ou de preparação para a Educação Fundamental, mas sim entender esta fase como um período ímpar da vida, onde as potencialidades cognitivas, motoras, afetivas, sociais, devem ser, pela escola, plenamente exploradas, não de uma forma fragmentada, mas dinâmica, onde um momento venha a interagir com o outro.

    Em relação à prática da Educação Física, em nível da Educação Básica, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar (BRASIL, 1996). Entretanto, para turmas de Educação Infantil não são exigidos professores licenciados na disciplina em questão. Na maioria, as aulas são ministradas pelo(a) professor(a) regente da classe, ato denominado unidocência, em que esse é responsável por todas as disciplinas (Educação Física, Artes, Música, entre outros).

    No Estado do Rio Grande do Sul e no município de Santa Maria (RS), ainda predomina a unidocência na Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental, onde o professor da classe exerce múltiplas funções, informativas, recreativas, motoras e plásticas. Negrine (2002) reconhece que não se consegue entender os argumentos em defesa da manutenção da unidocência na Educação Infantil, e muito menos nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental. No entanto, existe um movimento localizado e específico em determinadas escolas, onde existe a aula de Educação Física ministrada pelo professor com formação superior em Educação Física, que parte do interesse da própria escola em proporcionar esta possibilidade, sendo atitudes extra-oficiais.

    Assim, baseando-nos nestas premissas surgiu a questão norteadora desta investigação: Qual é a realidade da Educação Física na Educação Infantil em escolas da rede particular de ensino de Santa Maria (RS)?

    Conseqüentemente, o objetivo geral foi analisar a realidade da Educação Física na Educação Infantil em escolas da rede privada de ensino de Santa Maria (RS).

    Em decorrência do objetivo geral surgiram os seguintes objetivos específicos

  1. Conhecer o perfil dos professores de Educação Física atuantes na Educação Infantil; 

  2. Verificar a importância da Educação Física na Educação Infantil na opinião dos professores de Educação Física atuantes na Educação Infantil; 

  3. Conhecer a prática pedagógica dos professores de Educação Física atuantes na Educação Infantil; e, 

  4. Conhecer a estruturação organizacional das aulas de Educação Física na Educação Infantil.

    Justificamos a realização desta investigação, considerando que a mesma possa colaborar para uma melhor compreensão da realidade atual da Educação Física na Educação Infantil, e conseqüentemente também influenciar na melhoria da qualidade do ensino desta disciplina e nível de ensino. Além disso, somos a favor de que todas as crianças matriculadas na Educação Infantil tenham acesso às aulas de Educação Física, e que os órgãos competentes, assim como as escolas compreendam a importância da participação do professor de Educação Física na Educação Infantil.

Destacando as bases teóricas para a investigação

O perfil do professor de Educação Física na Educação Infantil

    Atualmente, vivemos num tempo de constantes transformações científicas e tecnológicas, caracterizado, principalmente, pela injustiça econômica, concentração de riqueza e individualismo. É um mundo de contradições que trás novos desafios para a educação brasileira, a qual precisa proporcionar a seus educadores a compreensão, a existência de uma aproximação dos diversos campos do conhecimento, dos novos valores, dos novos universos que vêm sendo descobertos.

    Neste sentido, as escolas não podem mais ser pensadas como se fossem fábricas, pois colocar o modelo de qualidade da Educação na estreiteza das relações de mercado é como um recuo nos séculos. Portanto, mais do que nunca, a escola não pode ficar alheia aos processos econômicos, sociais, políticos e culturais.

    Para Nóvoa (1992), as escolas constituem uma territorialidade espacial e cultural, onde se expressa o jogo dos atores educativos internos e externos. Por isso, as suas análises só têm verdadeiros sentidos se conseguirem mobilizar todas as dimensões, pessoais, simbólicas e políticas da vida escolar, não reduzindo o pensamento e a ação educativa à perspectiva técnica, de gestão ou de eficácia.

    Nessa escola brasileira, enfatiza-se a co-responsabilização dos diferentes atores educativos (entre eles o professor de Educação Física), na perspectiva de melhoria das escolas como um processo e não como um produto.

    Segundo Holly (1992), há muitos fatores que influenciam o modo de pensar, de sentir e de atuar dos professores, ao longo de processo de ensino: o que são como pessoas, os seus diferentes contextos biológicos e experimentais, isto é, as suas histórias de vida e os contextos sociais em que crescem, aprendem e ensinam.

    Entretanto, para que os professores de Educação Física sintam-se convictos de seu papel na escola brasileira, precisam ter claro que, como qualquer outro educador, seu aperfeiçoamento deve ser constante, pois não se pode esperar que a formação inicial seja o fim dos estudos desse educador, já que as mudanças ocorrem rapidamente na sociedade atual.

A valoração da Educação Física na Educação Infantil

    Partimos do pressuposto de uma Educação Infantil que seja realizada em uma perspectiva de criança compreendida como um ser humano em processo de desenvolvimento e que necessita de cuidados e de Educação e uma Educação Infantil que perceba a criança em toda a sua potencialidade, em que características como a autonomia, a criticidade, a criatividade e a solidariedade sejam seus pressupostos. Temos assim, posto o desafio de construir uma prática pedagógica em Educação Física que seja coerente com essa concepção que atenda às especificidades crianças de uma faixa etária de 0 a 6 anos de idade.

    A Educação Infantil e, em seu interior, a Educação Física, preocupa-se com a organização de um currículo que contemple um cotidiano da escola infantil, apontando para a concretização de alguns objetivos importantes. Entre esses objetivos, destaca-se a necessidade de ampliar os conhecimentos da criança, proporcionando-lhe os instrumentos para que ela possa apropriar-se, criticamente, de cultura sistematizada pela humanidade.

    É notório que os movimentos corporais são para a criança pequena, um meio de comunicação, de expressão e de interação social. Esta linguagem corporal, além de possuir um significado para a criança, representa a sua intervenção no mundo, o que nos possibilita outro enfoque, ampliando o trabalho com as crianças.

    Trazemos assim, a contribuição de Kunz (2001), quando nos mostra alguns “sentidos/significados” que o movimento humano traduz pelas suas manifestações. São eles: 

  1. Sentido comparativo - este pode ser analisado sob dois aspectos, ou seja, um é o tipicamente esportivo, onde a comparação existe unicamente no sentido da performance, tendo como referência modelos pré-estabelecidos; o outro aspecto pode relacionar-se à comparação enquanto apreensão de novas formas de movimento, tendo por base o movimento próprio e o movimento do outro; 

  2. Sentido explorativo - busca o conhecimento e interpretação de objetos materiais, no sentido de apreender seus significados sociais e sua relação com o mundo. Não visa uma melhoria da performance; 

  3. Sentido comunicativo - expresso através da comunicação corporal, manifesto pelas atividades/gestos que têm finalidades de expressão de intenções, saudações, idéias. A necessidade do conhecimento de um determinado sistema de símbolos para que se compreenda essas mensagens corporais pode ser um indicativo para a prática pedagógica do professor; 

  4. Sentido expressivo – em que se manifesta e exterioriza-se a individualidade psíquica, sendo expressos, assim, sentimentos, emoções, impressões, entre outros; e, 

  5. Sentido produtivo - a produção caracteriza-se como criação de novas alternativas de materiais a serem trabalhados ou mesmo pelas manifestações artísticas, na forma de obras de arte ou objetos.

    Macedo; Antunes (1998;1999), em seu estudo intitulado “Valoração da Educação Física: da produção acadêmica ao reconhecimento individual e social” constataram que a Educação Física atrai à atenção da sociedade, satisfaz a necessidade, desperta interesses, sendo caracterizados como um bem, digna de ser estimada e válida para a vida de todo ser humano, logo é valorizada, tem seu valor.

    Entretanto, segundo Montenegro (1994, p.39), o trabalho do professor de Educação Física nas escolas, muitas vezes, não é reconhecido pela sociedade, sendo desvalorizada até mesmo pelos professores de outras disciplinas, e “os jovens de hoje que circulam nos cursos de Educação Física são frutos deste momento de diferença em que vive a sociedade como um todo, e como não poderia deixar de ser, a escola. Com isso e independente disso, a Educação Física Escolar vive também seu momento de descrédito perante a comunidade escolar e a sociedade geral”.

    Para Neuenfeldt; Canfield (1998), os profissionais que trabalham com a Educação Física são os principais responsáveis pela imagem que ela possui na sociedade, e a qualidade do trabalho que desenvolvemos reflete a nossa identidade.

    Januário; Matos (1996, p.164) destacam que:

    a identidade profissional é o produto de um olhar para o espelho, em que os fenômenos de reflexo, de imagem e de percepção são determinados histórica, social e culturalmente. O reflexo é o estatuto e o prestígio concedidos pela sociedade a uma profissão, pois a imagem relaciona-se com os papéis acometidos e respectivo reconhecimento público do contributo que proporciona à sociedade, a auto e heteropercepção de uma identidade profissional é a construção da especificidade e complexidade da função social esperada.

    Lovisolo (1996) afirma que a desvalorização da Educação Física decorre da própria postura profissional do especialista, pois através deste, podemos constatar a presença do comodismo, a falta de atualização e de consciência profissional, uma vez que poucos mencionam, o que leva a crer que não reconhecem, a grandiosidade dos conteúdos sob sua responsabilidade e, principalmente, do valor das vidas que se colocam nas suas mãos.

    Neste sentido, o mesmo autor propõe re-valorizar a imagem do profissional a partir do seu trabalho, mostrando que a Educação Física é capaz de contribuir com a dinâmica escolar, tornando a escola mais atraente, valorizando-a.

Os aspectos organizacionais da Educação Física na Educação Infantil

    Para Pereira (1994), um dos pontos centrais da Educação escolarizada confirma-se nos períodos formais de ensino que são as aulas. Incluídas as aulas de Educação Física, elas compreendem um certo espaço de tempo, em que um grupo de alunos, com intenção de aprendizado, se encontram com o professor, que é pago para ensinar determinadas matérias, num conjunto que envolve professor, alunos e conhecimento.

    Segundo Drews; Fuhrmann; Breskan (apud BENTO, 1987) a aula representa, em Educação Física, a unidade pedagógica e organizativa básica e essencial do processo de ensino. Entretanto, atualmente estamos presenciando muitos acontecimentos que estão gerando mudanças radicais na estruturação sócio-econômica da população, e, com isto, automaticamente, desencadeando vários problemas à nível familiar como também à nível escolar, muitas vezes influenciando a forma de estruturação organizacional da Educação Física Escolar.

    Podemos citar alguns exemplos que influenciam a estruturação organizacional da Educação Física Escolar como no caso desta disciplina não ser desenvolvida no turno normal das outras disciplinas dos alunos, o que acarreta uma disponibilidade dos alunos em dois turnos para a sua escolarização. Isto impede ao aluno, por exemplo, dependendo de sua faixa etária, a sua inserção no mercado de trabalho ou em outros afazeres familiares. Para evitar este fato, várias escolas lançaram as aulas “dobradinhas” para reduzir as idas dos alunos à escola.

    A criação dos "clubes esportivos", os "módulos" são outros exemplos que podemos citar de diferentes formas de estruturação organizacional da Educação Física Escolar.

A prática pedagógica do professor da Educação Física na Educação Infantil

    Considerando o processo de ensino como uma ação conjunta do professor e dos alunos, em que o professor estimula e dirige atividades em função da aprendizagem dos alunos, podemos dizer que a aula é a forma didática básica de organização do processo de ensino. Cada aula é uma situação didática específica, na qual objetivos e conteúdos se combinam com procedimentos metodológicos e formas didáticas visando, fundamentalmente, propiciar a assimilação ativa de conhecimentos e habilidades pelos alunos (LIBÂNEO, 1992).

    Na realização do ensino da Educação Física, a aula constitui o elo decisivo do processo de Educação e formação. A aula representa a unidade pedagógica e organizativa básica essencial do processo de ensino. Constitui o verdadeiro ponto de rotação do pensamento e da ação do professor (DREWS; FUHRMANN; BAESKAN apud BENTO, 1987).

    A prática pedagógica do profissional de Educação Física tem sido foco de inúmeras investigações que procuraram esclarecer como o professor constrói sua prática desde os primeiros contatos com a escola, quais são as preocupações que norteiam a sua intenção, bem como os constrangimentos enfrentados na realidade escolar (FARIAS; SHIGUNOV; NASCIMENTO, 2001).

    De acordo com Cunha (apud FARIAS; SHIGUNOV; NASCIMENTO, 2001), a prática pedagógica é o cotidiano do professor na preparação e execução do ensino.

    Portanto, estudar o que acontece na aula é tarefa primeira daqueles que se encontram envolvidos e comprometidos com uma prática pedagógica competente.

    Assim, a prática pedagógica do professor pode ser analisada, identificando-se coerência, consistência, suas implicações e relações, o que poderá contribuir para que sua ação seja mais eficaz.

Explicitando a metodologia da investigação

    Para Minayo (2002), metodologia é o caminho do pensamento e da prática exercida na abordagem da realidade. Krug (2001) destaca que a metodologia ajuda na compreensão não só do produto da investigação, mas também do processo.

    A partir disto, consideramos que o caminho mais adequado para chegarmos aos objetivos propostos nesta investigação deu-se através dos pressupostos que norteiam a abordagem qualitativa, pois, segundo Chizzotti (1998), este tipo de pesquisa parte do fundamento de que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade. Desta forma, caracterizamos esta investigação como um estudo de campo, de natureza descritiva, sendo que a abordagem é do tipo qualitativa e interpretativa (RÚDIO, 1986).

    Para a coleta de informações, utilizamos como instrumento um questionário, contendo questões abertas, versando sobre os objetivos específicos. Perguntas abertas são aquelas que permitem ao informante responder livremente, usando linguagem própria, e emitir opiniões sem nenhuma influência. Possibilitam, desta forma, recolher dados ou informações mais ricas e variadas (CERVO; BERVIAN, 1996).

    Segundo Miles; Hüberman (1994) os dados qualitativos bem coletados possuem como característica principal, o fato de focalizarem os eventos naturais, costumeiros em ajustes naturais, de modo que haja uma vista de como é “a vida real”. Uma outra característica de dados qualitativos é sua riqueza e holismo com forte potencial para revelar complexidade.

    Dos objetivos específicos construímos “constructos” que embasam a teoria do estudo, e de onde surgiram variáveis que originaram as 15 questões da investigação. Deste modo, foram realizadas perguntas sobre: o perfil do professor; a valorização da Educação Física na Educação Infantil; a estruturação organizacional das aulas de Educação Física na Educação Infantil; e, a prática pedagógica do professor.

    A interpretação das informações obtidas pelo instrumento de pesquisa sofreram uma análise de conteúdo. Para Bardin (1977, p.42), a análise de conteúdo pode ser definida como um “conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção/ (variáveis indefinidas) destas mensagens”.

    Ainda para este autor a utilização da análise de conteúdo prevê três etapas principais: 

  1. A pré-análise – etapa que envolve os primeiros contatos com os documentos de análise, a formulação de objetivos, definição de procedimentos a serem seguidos e a preparação formal do material; 

  2. A exploração do material – etapa que corresponde ao cumprimento das decisões anteriormente tomadas, isto é, leitura de documentos, categorização, entre outras; e, 

  3. O tratamento dos resultados – etapa onde os dados são lapidados, tornando-os significativos, sendo que esta etapa de interpretação deve ir além dos conteúdos manifestos nos documentos, buscando descobrir o que está por trás do imediatamente aprendido.

    A investigação contemplou a participação de três professores licenciados em Educação Física de três diferentes escolas da rede particular de ensino da cidade de Santa Maria (RS), que atuavam em turmas de Educação Infantil. Com o intuito de preservar a identidade destes professores, eles foram chamados de “professor a”, “professor b” e “professor g”.

    Justificamos o número de três professores participantes pelo fato de haver em Santa Maria poucos professores de Educação Física que atuam em turmas de Educação Infantil nas escolas da rede particular de ensino, pois a maioria das turmas tem aula de Educação Física com a própria professora titular da classe. Também porque, poucas escolas particulares oferecem aulas de Educação Física para as turmas de Educação Infantil, o que geralmente ocorre a partir do Ensino Fundamental com professores da área.

Os achados da investigação

    Neste momento, apresentamos os achados da investigação sob forma de quadros, contendo as respostas dadas pelos professores às perguntas do questionário. Situamos as respostas com seus respectivos constructos, respaldo teórico e a posição da autora do estudo.

    Ao analisar o constructo relativo ao “perfil do professor de Educação Física na Educação Infantil”, relacionamos cinco variáveis, tais como: “sexo” (V1); “formação profissional” (V2); “tempo de trabalho em escola” (V3); “tempo de trabalho com Educação Infantil” (V4) e “atividades de formação continuada” (V5). Segundo Andrade et al. (2004) o estudo sobre o perfil dos professores pode sinalizar importantes veios para a formação, tanto inicial como a continuada.

Quadro 1. Respostas dos questionários para o constructo: Perfil do professor de Educação Física na Educação Infantil

Professor

Sexo

Formação Profissional

Tempo de Trabalho em Escola

Tempo de Trabalho em EI

Atividades de Formação Continuada

a

Feminino

Graduação em EF e Especialização

01 ano e meio

01 ano e meio

Cursos, congressos e grupo de pesquisa.

b

Feminino

Graduação em EF

15 anos

08 anos

Cursos e palestras.

g

Feminino

Graduação em EF e Especialização

17 anos

10 anos

Cursos e seminários.

    Quanto à V1, observamos que todos os respondentes são do sexo feminino. André (2002) destaca a enorme discrepância entre o número de mulheres e o de homens envolvidos no magistério. Salienta que existem determinantes sócio-históricos que levam à feminização do magistério. De acordo com o mesmo autor, alguns determinantes são: a) O reduzido número de escolas existentes no século XIX e no início do século XX explica não ter havido uma resistência organizada ao ingresso de mulheres na profissão no momento em que a cobertura escolar foi ampliada. Desse modo, a presença tão predominante de mulheres na profissão docente no Brasil se deveria ao aumento do mercado de trabalho, decorrente da ampliação do atendimento escolar, como também da procura dos homens por novas profissões que ofereciam melhores salários, quando do início da industrialização; e, b) A associação, presente no imaginário social, entre escola e maternidade, que leva a uma continuidade do iniciado no lar, sempre sob a orientação e/ou a coordenação de mulheres. A própria denominação “tia”, dada pelos alunos às professoras, reforça a proximidade e identificação da professora como a figura familiar e similar à materna. Assim, a função da professora é naturalizada e desqualificada como prática e saber especializados, quando é concebida como continuação das tarefas da primeira Educação, próprias da mãe. O conceito de feminização do magistério não se refere apenas à adequação do magistério às características associadas tradicionalmente ao feminino, como o cuidado.

    Conforme Louro (1997), o professor sempre foi associado à autoridade e ao conhecimento, enquanto a professora sempre foi vinculada ao apoio e a cuidados dirigidos aos alunos. Essas associações correspondem e se ajustam ao predomínio dos homens nos níveis mais altos e especializados da Educação, nos quais o trabalho, em boa medida, está dirigido para a orientação dos jovens em relação à sua futura profissão, e à predominância das mulheres nos segmentos iniciais da escolarização, que contam com muitas tarefas voltadas para aspectos relacionados ao cuidado das crianças.

    Quanto à V2, observamos que duas professoras possuem Especialização, ou seja, continuam aperfeiçoando-se e qualificando-se profissionalmente. Para Marques (1992), a formação do profissional em Educação Física não se encerra na formação acadêmica, e sim, estende-se por todo o seu exercício profissional.

    Quanto à V3 e V4, observamos que uma professora é inexperiente porque está em início de carreira e outras duas professoras podem ser consideradas experientes, tanto na docência em Educação Física de forma geral quanto na docência em Educação Física especificamente na Educação Infantil. Hüberman (1992) classificou a carreira dos professores nas seguintes fases: 

  • 1a) Entrada na carreira (até 3 anos); 

  • 2a) Estabilização (de 4 a 6 anos); 

  • 3a) Diversificação (de 7 aos 25 anos); 

  • 4a) Serenidade (entre 45 e 55 anos); 

  • 5a) Conservantismo (entre 50 e 60 anos de idade); e, 

  • 6a) Desenvestimento (fim da carreira).

    Através das respostas da V5, observamos resultados satisfatórios em relação à formação continuada das professoras respondentes. Todas afirmaram participar de cursos, congressos, palestras, seminários e grupos de pesquisa. Segundo Farias (1998), a atualização profissional torna-se indispensável à medida que proporciona um espaço para investigar, refletir, duvidar e buscar alternativas de ação pedagógica. Já Paiva (2004) destaca que a formação continuada é indispensável para acompanhar a velocidade e a contemporaneidade do desenvolvimento das ciências, técnicas, tecnologias, das artes, das expressões, linguagens, culturas, enfim, que o mundo, especialmente a partir do fenômeno globalização, confere à história.

    Ao analisarmos o constructo relativo à “valorização da Educação Física na Educação Infantil”, relacionamos uma variável mais significativa, tal como a “importância da Educação Física na Educação Infantil” (V6).

Quadro 2. Respostas dos questionários para o constructo: Valorização da Educação Física na Educação Infantil

Professor

Importância a Educação Física na Educação Infantil

a

Desenvolvimento das competências motora, física e psicológica do aluno.

b

Desenvolvimento dos aspectos cognitivo, afetivo e psicomotor.

g

Desenvolvimento do aluno em todo os aspectos.

    Constatamos com as respostas da V6 que todas as professoras entendem a Educação Física como sendo importante, principalmente para o desenvolvimento dos aspectos cognitivo, afetivo e psicomotor para as crianças das turmas de Educação Infantil.

    Conforme designações da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei N° 9.394 (BRASIL, 1996), a Educação Infantil, sendo a primeira etapa da Educação Básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físicos, psicológico, intelectuais e sociais, complementando a ação da família e da comunidade. Nessa idade, é que os estímulos educativos têm maior poder de influência sobre a formação da personalidade e o desenvolvimento da criança. Trata-se de um tempo que não pode estar mal orientado. O entendimento da infância deve perceber a criança como um ser que é e não que poderá vir a ser, como destaca Oliveira (2003, p.74), “criança como sujeito de relações sociais, inserida em determinado contexto social”, não como um ser genérico, abstrato e subjetivo, que está em preparação para algo.

    Para Kunz (2001), a importância de se desenvolver movimentos, esportes e jogos para crianças está na objetivação de proporcionar a esta um conhecimento maior de si mesmo e do mundo à sua volta. O movimento como um meio, não como um fim em si mesmo.

    A escola, como aponta Canfield (2000), como meio educacional, é responsável por oferecer a criança práticas motoras diversificadas, pois, ela é essencial e determinante, no processo de desenvolvimento. Os educadores também possuem importante papel nessa instância de Educação, sua capacitação e interesse em perceber as capacidades, necessidades e limitações das crianças que estão, em determinado período sob sua tutela. Cabe ao professor oportunizar e facilitar tal desenvolvimento psicomotor, através de estímulos adequados. Já conforme Kunz (2001), a importância de se desenvolver movimentos, esportes e jogos para crianças está na objetivação de proporcionar a esta um conhecimento maior de si mesmo e do mundo à sua volta. O movimento como um meio, não como um fim em si mesmo.

    A Educação Física na Educação Infantil precisa objetivar o desenvolvimento global, em que o movimento dê margem à criança, através de suas descobertas, de sua criatividade, expressar-se, conhecer, analisar e transformar sua realidade. Desde o primeiro contato com o mundo, segundo Kunz (2001), o inicial e mais importante diálogo com o mundo se realiza por intermédio do movimento, e “na seqüência de nosso desenvolvimento, ainda é com movimentos e gestos que melhor conseguimos nos situar e entender o mundo e os outros ao nosso redor” (p.28). Através do movimento, da expressão do corpo e na relação com nossos sentidos temos experiência do mundo e nos comunicamos com ele e com outras pessoas, instituindo bases para a construção de nosso conhecimento sobre as coisas.

    Ao analisarmos o constructo relativo aos “aspectos organizacionais da Educação Física na Educação Infantil”, relacionamos quatro variáveis mais significantes, tais como: a “freqüência semanal das aulas de Educação Física na Educação Infantil” (V7), a “duração das aulas de Educação Física na Educação Infantil” (V8), o “turno de desenvolvimento das aulas de Educação Física na Educação Infantil” (V9) e, a ocorrência de “aulas mistas ou separadas por sexo” (V10).

Quadro 3. Respostas dos questionários para o constructo: Aspectos organizacionais da Educação Física na Educação Infantil

Professor

Freqüência Semanal das Aulas de EF na EI

Duração das Aulas de EF na EI

O Turno de Desenvolvimento das Aulas de EF na EI

Aulas Mistas ou Separadas por Sexo

a

Uma vez por semana

45 minutos

Tarde

Mistas

b

Uma vez por semana

30 minutos

Tarde

Mistas

g

Uma vez por semana

30 minutos

Tarde

Mistas

    Quanto a V7, notamos que a freqüência de aulas semanais é, infelizmente, somente uma. Este resultado coincide com a colocação de Silva (1999) que diz ser evidente as perdas verificadas pela disciplina de Educação Física em termos de número de aulas semanais e isto não deixa dúvidas das dificuldades porque passa esta disciplina na escola.

    Já quanto a V8, também notamos que a maioria das aulas de Educação Física na Educação Infantil tem a duração de somente 30 minutos. Desta forma, mais uma vez citamos Silva (1999), que também destaca a diminuição da quantidade de tempo de duração das aulas como mais um indicativo de perda de espaço escolar da disciplina de Educação Física.

    Quanto a V9, notamos que as aulas de Educação Física na Educação Infantil acontecem no turno da tarde, isto é, no turno normal das demais atividades escolares. Este fato nos parece ser extremamente normal, pois seria muito incoerente as crianças nesta faixa etária comparecerem à escola em turno inverso para realizarem aula de Educação Física.

    Finalmente no Quadro 3, notamos com as respostas da V10 que as aulas de Educação Física na Educação Infantil são ministradas para turmas mistas, sem separação por sexo. Este fato vai em desacordo com a realidade atual, pois, segundo Romero; Aguiar (1999), grande parte das escolas ainda separa os alunos por sexo nas aulas de Educação Física mantendo a ideologia sexista na condução das atividades físicas. Estas autoras sugerem melhor preparo docente e capacitação pedagógica a fim de prepará-los a atuar melhor minimizando a ideologia sexista que reina na sociedade e igualmente, na escola.

    Defender a idéia de que meninos e meninas devem ter aulas de Educação Física juntos não quer dizer que não reconheçamos as diferenças entre um e outro sexo. Claro que existem, especialmente biológicas. Porém, essas, como outras que possam existir, como as psicológicas, não são impeditivas de uma Educação Física sem discriminações.

    Ao analisarmos o constructo relativo à “prática pedagógica do professor de Educação Física na Educação Infantil”, relacionamos quatro variáveis mais significantes, tais como: a “existência de planejamento de ensino para as aulas de Educação Física na Educação Infantil” (V11), os “objetivos das aulas de Educação Física na Educação Infantil” (V12), os “conteúdos desenvolvidos nas aulas de Educação Física na Educação Infantil” (V13), a “metodologia utilizada para as aulas de Educação Física na Educação Infantil” (V14) e a “avaliação das aulas de Educação Física na Educação Infantil” (V15). Para Carreiro da Costa (1988) a prática pedagógica é um problema central da ação educativa, que não deve ser realizada em si, mas com a expressão de um longo processo que materializa as várias opções tomadas pelo docente durante a organização do ensino.

Quadro 4. Respostas dos questionários sobre o constructo: Prática pedagógica do professor de Educação Física

Professor

Existência de Planejamento de Ensino

Objetivos das Aulas

Conteúdos Desenvolvidos nas Aulas

Metodologia

Avaliação das Aulas de EF na EI

a

Sim.

Realização de novas experiências, descobrir, explorar e resolver situações cotidianas.

Esquema corporal e orientação espaço-temporal.

.Atividades desenvolvidas em três momentos: inicial (atividades de integração); principal e final (relaxamento)

Através de observações e anotações diárias

b

Sim.

Estimular, dirigir, incentivar o processo de aprendizagem.

Atividades lúdicas. Habilidades físicas: coordenação, equilíbrio e agilidade

Aulas expositivas.

Não respondeu a questão.

g

Sim.

Desenvolver habilidades físicas básicas integradas com o trabalho da professora da classe.

Habilidades físicas básicas. Rodas cantadas, brincadeiras e músicas.

Aulas globalizadas.

Através de pareceres.

    Visualizamos através das respostas da V11 que todos os professores desenvolvem planejamentos para as suas aulas de Educação Física na Educação Infantil. Este resultado contraria a literatura, pois, segundo Pereira (1994), a maioria dos professores de Educação Física com experiência docente, não planifica as suas aulas e justificam a sua opção por entenderem que é algo que é desnecessário, enquanto que os professores que planificam as aulas apontam como principal razão à necessidade de se estruturar os progressos da aprendizagem dos alunos.

    Com as respostas da V12, visualizamos que a interação não foi citada como objetivo das professoras. Para Sayão (2002), a brincadeira, as interações e as diferentes linguagens são o eixo de todo o trabalho pedagógico quando se atua na Educação Infantil e os/as profissionais envolvidos podem planejar situações que levem as crianças a: brincar de diferentes formas; interagir com as outras crianças do grupo, com os adultos; e manifestar-se através de diferentes linguagens como, a dança, a música e o desenho, por exemplo.

    Libâneo (1992) salienta que a elaboração dos objetivos pressupõe, da parte do professor, uma avaliação crítica das referências que utiliza balizada pelas suas ações em face dos determinantes sócio-políticos da prática educativa. Assim, o professor precisa saber avaliar a pertinência dos objetivos e conteúdos propostos pelo sistema escolar oficial, verificando em que medida atendem as exigências de democratização política e social, deve, também, saber compatibilizar os conteúdos com as necessidades, aspirações, expectativas da clientela escolar, bem como torná-los exeqüíveis às condições sócio-culturais e de aprendizagem dos alunos.

    Visualizamos com as respostas da V13 que os três professores possuem entre seus conteúdos as atividades motoras. Segundo Aguiar (2003) a Educação Física Escolar ainda vive sob a influência da cultura de aptidões físicas, iniciação desportiva e formação de equipes representativas. Apesar de todo o discurso de inclusão, de interdisciplinaridade e da importância da Educação Física para a formação integral, ela não precisa ser uma disciplina especial, deve ser normal como qualquer outra, que participe da formação global do aluno como as demais.

    Percebemos, também, que existe um trabalho voltado ao lúdico, ou seja, a brincadeira, sendo concebida como eixo principal de trabalho e como linguagem característica das crianças pequenas. Neste sentido o trabalho lúdico perpassa todos os momentos do trabalho pedagógico e não deveria ser utilizada como uma atividade que “serve para alguma coisa predefinida” (SAYÃO, 2002).

    As aulas de Educação Física na Educação Infantil precisam propiciar um ambiente que estimule a criatividade e a investigação, através da brincadeira, favorecendo ao surgimento de atividades em que prevaleça a solidariedade, a responsabilidade e o respeito aos direitos humanos. Parte-se, também, do respeito à diversidade cultural e da compreensão dos valores morais presentes em todas as ações humanas, considerando-os como princípios da ação educativa, passíveis, inclusive, de serem transformados em temas educacionais.

    Nas respostas da V14, surgiram como formas de metodologia das aulas de Educação Física na Educação Infantil aulas expositivas e aulas globalizadas. De acordo com Oliveira (apud XAVIER, 1986), são quatro os métodos de ensino mais utilizados na Educação Física na escola: 

  1. Método da demonstração; 

  2. Método de resolução de problemas, 

  3. Método global; e, 

  4. Método parcial.

    Avaliar significa incorporar as produções infantis ao planejamento e não emitir juízos de valor sobre o que as crianças conseguiram fazer ou não. Afirmamos isso, porque tradicionalmente a avaliação na Educação Física junto às crianças pequenas carece de instrumentos elaborados ou de critérios definidos, o que leva muitos/as profissionais a registrarem a produção das crianças na forma de pareceres muitas vezes preconceituosos baseados naquilo que é percebido como “falta” (SAYÃO, 2002, p.53). Em sua maioria, as professoras respondentes, apresentaram nas suas respostas o modo como avaliam seus alunos da Educação Infantil, como podemos visualizar na V14, sendo que uma delas apresentou o parecer como método de avaliação.

    É imprescindível que vejamos a criança como um ser em constante desenvolvimento. Em que a cada dia, cada aula dada, apresenta ao professor novos avanços, novas descobertas e demonstrações de necessitar novas experiências, novas situações corporais e sociais a serem vividas. Daí a importância do professor de Educação Física acompanhar em seus registros essas evoluções de maneira mais observadora do que avaliadora, auxiliando também, na construção dos seus posteriores planejamentos.

    Corroborando, Freitas (1995, p.59) nos diz que: “a avaliação é a guardiã dos objetivos. Os objetivos em parte estão diluídos, ocultos, mas a avaliação é sistemática (mesmo quando informal) e age em estreita relação com eles. No cotidiano da escola os objetivos estão expressos nas práticas de avaliação”.

Possíveis sínteses sobre a investigação

    Conforme já demonstrado, nos achados da investigação, os objetivos propostos foram plenamente atendidos, conhecendo assim, informações relevantes sobre a realidade da Educação Física em três escolas da rede particular de ensino da cidade de Santa Maria (RS) nas turmas de Educação Infantil.

    Através da verificação da existência de planejamento contendo objetivos, metodologia, conteúdo e avaliação, notamos que há uma preocupação, um interesse didático-pedagógico dos três professores de Educação Física pela área da Educação Infantil. Existe uma estrutura pedagógica, respaldando as práticas. A Educação voltada para as crianças não pode estar apenas voltada a aquisição de rotinas e hábitos, ou de preparação para o Ensino Fundamental, mas sim entender esta fase como um período ímpar da vida, onde as potencialidades cognitivas, motoras, afetivas, sociais, entre outros, devem ser plenamente exploradas pela escola, não de uma forma fragmentada, mas dinâmica, em que um momento venha a interagir com o outro. Notamos, claramente, a importância de um planejamento para aulas coerentes e condizentes com a realidade da turma infantil.

    Pressupomos um entendimento das necessidades e capacidades da Educação Física, quando analisamos as respostas dadas pelos professores, demonstrando, por exemplo, que, todos possuem considerável tempo de docência em Educação Física na Educação Infantil. Observamos também, que dois professores têm Especialização e todos dizem participar de cursos, palestras e seminários, dando continuação à sua formação inicial. O professor deve ter a propriedade dos saberes que constituem o seu fazer docente, tendo capacidade de articulá-los conforme a realidade específica de seu trabalho cotidiano. Podemos ressaltar também que, desta forma, os professores valorizam a Educação Física na Educação Infantil e reconhecem sua extrema importância para o desenvolvimento físico e cognitivo da faixa etária em estudo.

    Dois pontos limitantes surgiram no decorrer da investigação: 

  1. A realidade apresentada na investigação fica restrita à cidade de Santa Maria (RS), ou seja, uma situação local com suas peculiaridades, podendo ser somente um conhecimento vicário, em relação a outras esferas da realidade; e, 

  2. Percebemos um certo desinteresse e uma insegurança por parte das direções das escolas particulares da cidade, em participar da presente investigação. Algumas alegaram que muitas pesquisas realizadas anteriormente tiveram dados distorcidos, e outros pesquisadores não entregaram o estudo e suas possíveis conclusões.

    Outro aspecto importante e que serve como sugestão é o fato de que enquanto representantes de uma instituição de ensino superior (CEFD/UFSM), formadora de futuros professores de Educação Física, devemos reconhecer que o curso de licenciatura em Educação Física ainda deixa muito a desejar em relação à prática da disciplina para a Educação Infantil. Seu currículo apresenta-se ainda muito voltado para o cunho biológico, enfoque que, segundo Negrine (2002), historicamente tem norteado a formação dos profissionais dessa área, ou seja, torna-se interessante repensar sua atuação e seu envolvimento no projeto político-pedagógico da escola.

    O desenvolvimento da Educação Física na Educação Infantil determina para o professor, talvez, um desequilíbrio, uma quebra na sua acomodação, em relação as suas crenças e concepções sobre a Educação Física. O trabalho com a infância exige do professor, que, acostumado ou treinado a objetivar nas suas aulas o desenvolvimento de práticas desportivas, uma perspectiva diferenciada na maneira de trabalhar com o movimento. Depara-se com uma nova realidade, com um novo desafio, com uma turma de crianças com outras vivências corporais, com diferenciadas necessidades para o seu desenvolvimento psicomotor. Enquanto professores de Educação Física, competentes e compromissados, devemos conhecer essas novas “condições”. Trabalhar com a Educação Infantil proporciona aos professores a oportunidade ideal para que possamos exercer o papel de educadores.

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