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Dimensão educacional dos conteúdos 

em Educação Física Escolar

Dimensión educativa de los contenidos en Educación Física Escolar

 

*Cursando o Técnico, habilitação para bailarino no Centro Avançado de Dança – CAD

Docente no ensino fundamental do Colégio Terra/Cirandinha em Ribeirão Preto

Concluiu a Especialização em Educação Física Escolar em 2008

Graduou-se em Educação Física pelo Centro Universitário Moura Lacerda em 2003

**Doutoranda em Educação Escolar na UNESP em Araraquara

Concluiu o Mestrado na mesma área e na mesma instituição em 2000

Graduou-se em Educação Física pela Fundação Educacional São Carlos (atualmente UFSCar)

Formou-se em Magistério em 1987. Docente do Centro Universitário Moura Lacerda

Márcia de Souza Medeiros

f14medeiros@ig.com.br

Luciana Renata Muzzeti Martinez

luciana_muzzeti@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          Por ser questionado o modelo de Educação Física predominantemente  biológico, abriu-se espaço  para  um novo modelo voltado para aspectos sócioculturais. O presente estudo teve como objetivo analisar a influência da dimensão educacional dos conteúdos e qual abordagem vem sendo priorizada  nas aulas de Educação Física em uma escola pública e outra particular da cidade de Ribeirão Preto – SP, Brasil.

          Os dados analisados nesta pesquisa mostram que os educandos de ambas as Escolas compreendem que os conteúdos da Educação Física Escolar devem ir além da dimensão procedimental, mas na prática a tendência esportivista e desenvolvimentista está ainda bem presente. No entanto, a Escola Particular apresenta ter mais informações dos conteúdos procedimentais e conceituais, em detrimento da Escola Estadual. Observou-se, também, que os educandos de ambas as escolas disseram cooperar com as atividades dadas nas aulas de Educação Física; porém, não houve mudanças significativas no comportamento dos alunos da Escola Pública, nas suas relações e conduta fora da escola. Isto é significativo, pois um comportamento só pode ser reproduzido quando o indivíduo se apropria de um conteúdo aprendido e vivenciado.

          Unitermos: Educação. Escola. Educandos. Abordagens. Tendências.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 130 - Marzo de 2009

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Introdução

    Para entender qual  é o papel da Educação Física na escola é necessário  saber em  qual contexto se encontra a Educação Física Escolar no século XXI.

    Desde a chegada da família real ao Brasil, segundo Ghiraldelli (1988), a Educação Física foi influenciada  por instituições  médicas e militares, as quais geraram tendências pedagógicas que influenciaram a formação dos professores e nortearam as aulas de Educação Física nas escolas.

    Inicialmente  as tendências que   nortearam a Educação Física Escolar tinham a perspectiva higienista, militarista e esportivista ou tecnicista.

    Segundo essas concepções, o objetivo das aulas de Educação Física  era desenvolver a aptidão física dos alunos, pois  se realizava teste físico  a cada início e final de ano, com o intuito de  atingir  os objetivos da área.

    No entanto, segundo Darido (1999), por volta da década de 80  surgiram novas tendências e concepções  provenientes  das Ciências Humanas  que tinham por objetivo romper com  o modelo tecnicista.

    Por ser questionado o modelo de Educação Física predominantemente  biológico, abriu-se espaço  para  um novo modelo, voltado para aspectos sócioculturais (Daolio, 1998).  

    No ano de 1997 o  Governo Federal através do Ministério da Educação desenvolveu uma proposta intitulada Parâmetros Curriculares Nacionais da área de Educação Física – PCNs. Ed.f.

    Essa proposta delineia diretrizes de educação que respeitem as diversidades culturais visando aà formação dos educandos para atuarem como cidadãos, conhecendo, compreendendo seus direitos e deveres, valorizando a pluralidade sóciocultural  brasileira e de outros povos. Tal formação lhes possibilitará repudiar a discriminação e a exclusão, tornando-os parte integrante  do meio em que vivem. Essa diretriz indica o mínimo de conteúdos para ser trabalhado no ensino em todo o território nacional.

    No entanto,  abordagem  ministrada   pelo professor durante a  aula de Educação Física apontará para os  valores socioculturais que estão sendo desenvolvidos nos educandos, ou seja, na estrutura dos seus hábitos.

    O presente estudo teve como objetivo analisar a influência da dimensão educacional dos conteúdos e qual abordagem vem sendo priorizada  nas aulas de Educação Física.

    Foram analisadas as respostas de 49 educandos de ambos os sexos do 5º ano do ensino fundamental de duas Instituições de Ensino, uma estadual e outra  privada, da cidade de Ribeirão Preto – SP, Brasil.  

Aspectos das abordagens pedagógicas 

    A partir dos anos 80 surgiram  novas abordagens com conotação pedagógica em Educação Física Escolar, que se opõem ao modelo esportivista e tradicional.

    Nesse sentido, destacaremos alguns aspectos de  três abordagens  que mostraram ser um grande avanço: a abordagem   desenvolvimentista, construtivista e dos Parâmetros Curriculares  Nacionais -  PCNs.

    A abordagem desenvolvimentista valoriza  a especificidade da área, o movimento, que, para Betti (1991, p.18), é o “conteúdo e instrumento da Educação Física”. Respeitando a faixa etária  e o nível de desenvolvimento dos educandos,  o professor  adapta  as atividades proporcionando condições para que haja aprendizado e ampliação das habilidades motoras.

    Os  conteúdos devem ser  transmitidos em  ordem de habilidades, iniciando com as  básicas e depois   as específicas. As habilidades motoras básicas são divididas em  três categorias:   locomotoras,  manipulativas e de  estabilização. As específicas são as ligadas à cultura: prática de esportes, danças e jogos.

    Embora nesta abordagem  seja valorizada a aprendizagem  do movimento, Darido (2003, p. 22) salienta que na tendência desenvolvimentista, há pouca importância a “aspectos sóciosculturais que  permeiam  o desenvolvimento das habilidades motoras”.

    Por outro lado, na abordagem Construtivista o  educando constrói seu conhecimento interagindo  com o  meio, resolvendo problemas; suas experiências vividas e suas diferenças individuais são respeitadas. Nessa abordagem há um resgate da  cultura de brincadeiras e jogos conhecidos pelos educandos, para a organização de outras atividades, proporcionando, assim, a ampliação do Capital Cultural dos mesmos. Para Freire (1989, p. 24), todo ser humano tem um acúmulo de  conhecimentos , e este devem ser valorizados  pelo educador para servir de suporte para novos conhecimentos, sempre desenvolvidos com base cientíifica.

    Temos, também, a abordagem expressa nos Parâmetros Curriculares Nacionais da Área de Educação Física – PCNs. Ed.F., que são diretrizes de Educação para todo o território nacional, na perspectiva de orientar o projeto pedagógico escolar. A mesma propõe delinear uma educação que respeite as diversidades culturais, objetivando a formação dos educandos para atuarem como cidadãos, conhecendo, compreendendo  seus direitos e deveres, valorizando a pluralidade sóciocultural brasileira e de outros povos.

    Adotar uma postura não preconceituosa e não discriminatória é o eixo condutor para atingir os objetivos da pluralidade cultural em Educação Física. Para isso, é preciso valorizar danças, esportes, lutas e jogos que compõem o patrimônio cultural brasileiro, originário das diversas origens étnicas, sociais e regionais, proporcionando  o aumento do capital cultural dos  educandos, ou seja, ampliando valores que o indivíduo agrega durante a sua vida em sociedade.

    Nos Parâmetros Curriculares Nacionais, cultura está definida como: 

[...] conjunto de códigos simbólicos reconhecíveis pelo grupo: neles o indivíduo é formado desde o momento da sua concepção; nesses mesmos códigos, durante a sua infância, aprende os valores do grupo; por eles é mais tarde introduzido nas obrigações da vida adulta, da maneira como cada grupo social as concebe (1997, p.23). 

    Os Parâmetros Curriculares Nacionais -  PCNs. Ed. F. têm por objetivo introduzir o aluno na esfera da cultura corporal de movimento, por meio de princípios pedagógicos relacionados às três áreas de domínios de comportamento:   cognitiva: campo do saber; motora: saber fazer; e afetiva: saber ser (atitudes e valores) que devem ser desenvolvidas  em todos os  conteúdos trabalhados.

    Os conteúdos  que  devem ser  desenvolvidos durante todo o ensino fundamental são divididos em três blocos, dando uma diretriz do que poderá ser trabalhado: “esportes, jogos, lutas e ginástica; atividades rítmicas e expressivas; conhecimento sobre o corpo”. (BRASIL, 1997, p.45).

    Essa divisão tem por objetivo mostrar qual conteúdo  está sendo priorizado no ensino  e aprendizagem.

    Assim sendo, os citados aspectos dessas abordagens  contêm diferentes enfoques, mas  visam  uma Educação Física  que, para Betti (1991, p.18) “seria possível visar a formação de um certo modelo de homem e a consecução de objetivos educacionais  historicamente estabelecidos”. 

Materiais e método

    A pesquisa foi realizada  em duas instituições, uma   pública e outra particular, localizadas na cidade de Ribeirão Preto - SP, Brasil.

Participaram  desta pesquisa 49 educandos de ambos os sexos  do 5ºano (4ª série) do ensino fundamental I,  com  faixa etária entre  9 a 10 anos de idade, sendo 25 da Escola Estadual (18 meninas e 7 meninos) e  24 da Escola Particular (16 meninas e 8 meninos), ambas da cidade de Ribeirão Preto, SP. 

    Inicialmente foi formulado um questionário baseado na literatura sobre as abordagens da Educação Física Escolar e seus conteúdos. O método de coletas de dados escolhido foi o questionário contendo 10 perguntas fechadas, estruturadas.

    Segundo Cervo e Bervian (2002, p.48),  “as perguntas fechadas são padronizadas, de fácil aplicação, fáceis de codificar e analisar.” 

    Em seqüência , foi apresentada a proposta de estudo aos educandos de ambas as escolas, com o objetivo de coletar respostas do seu cotidiano escolar. Os educandos foram informados sobre os benefícios advindos  da participação e sobre  a natureza impessoal da pesquisa; o questionário seria de questões fechadas e o candidato não precisaria se identificar.

    O  questionário informa sobre a distribuição por sexo, idade, escolaridade  e questões   pertinentes ao objetivo  e aos conteúdos da Educação Física Escolar. 

Resultados e discussões

    A abordagem apresentada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais propõe “diferentes possibilidades da Educação Física na escola” (DARIDO, 2003, p.23).

    De acordo com essa proposta, a Educação Física Escolar deve abranger os diversos conteúdos que compõem “cultura corporal de movimento” (BRASIL, 1997, p.25), tendo por enfoque as três áreas de domínios de comportamento: cognitiva, motora e afetiva e não só o de aprender a fazer.

    Isso significa que o professor precisa preparar-se antecipadamente para produzir situações de ensino e aprendizagem que passem a ter um fundo conceitual, atitudinal, além da prática.

    Para analisar a influência da dimensão educacional dos conteúdos  nas aulas de Educação Física, os educandos responderam à pergunta: Para você o que é Educação Física na Escola? As respostas destacaram, conforme se observa na tabela 01 abaixo, o que é relevante para eles  durante a aula de Educação Física Escolar.

Educação Física na Escola

Escola Particular

Escola Pública

Aprender várias atividades físicas e fazer pesquisas sobre elas

45,60%

40%

Além de fazer atividades na quadra, assistir aula à sala de aula

28,80%

30%

Jogar queimada em todas as aulas

9,60%

2,50%

Fazer ginástica para ter saúde

40,80%

47,50%

É um horário para brincar

26,40%

17,50%

Jogar futebol em todas as aulas

4,80%

10%

Treinar para ser um atleta e competir

12%

12%

Aprender sobre o corpo

31,20%

40%

Tabela 1. Votos dos educandos (respostas de múltipla escolha)

    Dos educandos que responderam à pergunta, 45,60% da Escola Particular e 40% da Escola Pública disseram que “aprender várias atividades físicas, esportes, danças, lutas, ginástica, jogos, brincadeiras, folclore e fazer pesquisas sobre elas” é aula de Educação Física, mas se observa que “jogar queimada e futebol em todas as aulas” a quantidade de respostas é bem inferior em ambas as escolas. Isto tende a indicar que a perspectiva dos educandos com relação as aulas de Educação Física Escolar devem ter um objetivo e não ser apenas jogar futebol e queimada, como uma atividade mecanizada, ou apenas como simples brincar , ou seja, deve ter algo além do “saber fazer”, considerando o contexto sociocultural.

    Para Betti (1994), o educando deve ter suas atividades e executá-las, desenvolvendo suas habilidades motoras, mas isto deve ser acompanhado de um aprendizado de respeito mútuo, compreendendo que as regras fazem parte da nossa sociedade, tornando as relações de socialização e cooperação, possibilitando que haja o jogo.

    Igualmente, 28,80% dos educandos da Escola Particular e 30% da Escola Pública consideram que, “além de fazer atividades na quadra, assistir aula em sala de aula” também é aula de Educação Física. Suas respostas se aproximam da abordagem apresentada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais que, numa visão sociocultural, destacam os conteúdos em três planos: “procedimental, conceitual e atitudinal”, ou seja, o professor deve mostrar como fazer, dar importância e significado as atividades desenvolvidas e promover, por meio delas, mudanças no comportamento do educando.

    Além do mais, 40% dos educandos da Escola Pública e 31,20% da Escola Particular responderam que “aprender sobre o corpo” também é aula de Educação Física, mostrando uma grande tendência para domínio cognitivo, ou do saber, na Educação Física Escolar, fugindo do modelo tradicional, denominado por Ghiardelli Jr. (1988, p. 20) de competitivista. Essa tendência do ponto de vista dos educandos é bem clara, pois, apenas 12% dos educandos da escola pública e 12% da escola particular, responderam que “treinar para ser atleta e competir” é Educação Física Escolar. Torna-se necessário ressaltar que a disciplina Educação Física deve ter objetivo além do saber fazer.

    Por conseguinte essa concepção abre um leque para o professor que, respeitando as faixas etárias, pode planejar atividades que possibilitem o desenvolvimento de habilidades motoras básicas, específicas e capacidades físicas no decorrer do ensino fundamental, sem deixar de trabalhar os aspectos socioculturais presentes na Educação Física Escolar.

    Nesse sentido, Castellani Filho (1995, p.14) recomenda que o professor integre o aluno no mundo da sua cultura corporal:

“Não se trata - e é bom que não pairem dúvidas – de negar o conhecimento circunscrito ao saber jogar e ao saber ensinar a jogar na composição do acervo daquilo que deve ser conhecido pelos profissionais da área. O que defendemos é a ampliação desse acervo, motivados pelo entendimento da imperiosa necessidade e importância de nos instrumentalizarmos para podermos vir a tratar o esporte enquanto prática social, redimensionando, assim, o universo daquilo que compreendemos deva ser conhecido na área [...]”

    Por outro lado, 40,80% dos educandos da Escola Particular e 47,50% da Escola Pública, assinalaram que “que fazer ginástica para ter saúde” é Educação Física Escolar. Essas respostas mostram a influência que a Educação Física Escolar no Brasil recebeu nos seus conteúdos, até 1930 Higienista, de 1930 a 1945 Militarista, perduram até hoje Ghiraldelli (1988, p. 16). Para esse grupo de educandos, a Educação Física Escolar é um meio de melhorar as funções orgânicas por meio da ginástica.

    Lembrando que esta tendência tinha por objetivo educar por meio da aprendizagem dos movimentos ginásticos, e, segundo Ghiraldelli (1988, p.17), devia “(...) antes de qualquer coisa disciplinar os hábitos das pessoas no sentido de levá-las a se afastarem de práticas capazes de provocar a deterioração da saúde e moral, o que ‘comprometeria a vida coletiva’”. p.17 Sob o mesmo ponto de vista, segundo Darido (2005, p. 69) além da dimensão procedimental “existe nesta tendência a perspectiva dos conteúdos atitudinais, que buscavam valores de obediência e submissão”.

    Outra influência que a Educação Física sofreu foi o Movimento Desportivo Generalizado, que foi a substituição da ginástica pelo esporte por volta de 1950 e, segundo Betti (1991, p. 97), essa proposta enfatiza o lúdico. Utiliza-se também do jogo para dar iniciação esportiva, sendo o esporte um meio de educar para a vida. Sobre isso se observa que 26,40% dos educandos da Escola Particular e 17,50% da Escola Pública assinalaram que “Educação Física Escolar é um horário para brincar”, assemelhando com a proposta do Movimento Desportivo Generalizado, e, para os educandos, a disciplina Educação Física está interligada com o lúdico.

    Os educandos de ambas as escolas estão nos anos iniciais do ensino fundamental e possuem a mesma perspectiva quanto à definição de Educação Física. Segundo análise, para eles a Educação Física deve ser não só de procedimentos, mas também de conceitos baseados em leituras e pesquisas (Tabela 1). Isso é relevante, pois na visão sociocultural a Educação Física deve basear-se na formação e na informação plena, atingindo a dimensão dos conteúdos.

    No entanto, qual abordagem vem sendo priorizada  nas aulas de Educação Física desses educandos? Estão vivenciando os conteúdos da cultura corporal de movimentos? Para Libâneo (1994), os conteúdos ensinados devem ser organizados pedagogicamente e didaticamente para serem assimilados e aplicados pelos educandos na prática de vida.Os conteúdos são o conjunto de conhecimentos, habilidades, hábitos e atitudes valorizadas socialmente.

    A Tabela 2 apresenta o esporte como sendo um conteúdo sempre presente nas aulas de Educação Física de ambas as escolas; porém, observa-se uma escala: na Escola Particular 91,66% responderam que praticam basquetebol “às vezes”, seguido do futebol, 83%, vôlei, 75% e handball, 16%, e na Escola Pública o vôlei e o futebol estão sempre presente, 40% responderam “sempre” para o vôlei, 52% “às vezes” para o futebol, para o handball 44% “às vezes” e basquetebol 28% “às vezes”.

Quais esportes você pratica na Educação Física escolar?

Escola particular

Vôlei

Futebol

Basquetebol

Handball

Sempre

16,66%

8,33%

00

12,5%

Às vezes

75%

83,33%

91,66%

16, %

Nunca

8,33%

8,33%

00

12,5%

Não responderam

00

00

8,33%

16,66%

Escola Pública

Vôlei

Futebol

Basquetebol

Handball

Sempre

40%

32%

36%

36%

Às vezes

52%

52%

28%

44%

Nunca

00

8%

16%

00

Não responderam

8%

8%

20%

20%

Tabela 2. Conteúdo: esporte

 

    Observa-se na figura 1 que os educandos da Escola Particular, além do esporte, vivenciam com mais freqüência o conteúdo dança. 37% responderam que “sempre” fazem aulas de dança, o que se contrapõem com a Escola Particular, apenas 4% respondeu “sempre".

    Na figura 2, com respostas sobre produzir e compartilhar a cultura corporal de movimento, 50% dos educandos da Escola Particular responderam “sempre”; por outro lado, 12% dos educandos da Escola Pública responderam “sempre”. Ao comparar os dados, observa-se que na Escola Pública o esporte se sobressai com relação ao conteúdo Dança, o que não acontece na opinião dos alunos da Escola Particular. Há maior diversidade nos conteúdos apresentados para os educandos, legitimando, assim, maior investimento na ampliação cultural dos mesmos.

    

    Ainda com relação aos conteúdos, observa-se na figura 3 que 70,83% dos educandos da Escola Particular responderam que “sempre” participaram das aulas quando o conteúdo é Atletismo, em contraste com 16% da Escola Pública. 

    O mesmo acontece com o conteúdo luta: 87,5% da Escola Particular responderam “às vezes” e apenas 16% da Escola Púbica responderam que participaram desse conteúdo. Observa-se que predomina a força cultural dos esportes como conteúdo da Educação Física Escolar para os educandos da Escola Pública conforme se observa na figura 4.

    Rangel-Betti (1995) Apud. Darido e Maitino (2004, p.63) perguntaram o que leva os professores a limitar a um único bloco de conteúdos. “A autora levanta as seguintes possibilidades para tal fato: Falta de espaço, de motivação, de material? Comodismo? Falta de aceitação de tais conteúdos pela sociedade? Ou o fato dos professores desenvolverem somente os conteúdos com os quais têm maior afinidade?”.

    A seleção dos conteúdos tem sua importância, pois é por meio dos conteúdos que o professor transferirá seus conhecimentos e experiências do campo conceitual para a prática.

    Segundo Darido e Maitino (2004) o esporte como conteúdo tende a se tornar singular, ou seja, dificultando o desenvolvimento dos objetivos básicos da Educação Física como criatividade, expressividade e socialização.

    Segundo Rangel Apud.Darido e Maitino (2004, p.115):

Várias são as formas dos alunos adquirirem conceitos sobre jogos: podem aprender a história dos jogos, como e onde foram criados, quais países jogam os mesmos jogos, quais as regras dos jogos e por que eles existem, conhecer o repertório de jogos e brincadeiras dos familiares de diferentes gerações, conhecer os vários nomes recebidos, pelos jogos, verificar quais jogos são utilizados para o lazer da população local, discutir a diferença entre jogo competitivo e cooperativo etc. Estas atividades podem ser realizadas em forma de pesquisa em livros, jornais, revistas, internet, com familiares, comunidade.”

No entanto nota-se nas figuras 5 e 6, que as leituras sobre as atividades realizadas e aprender brincadeiras e jogos de outros povos é mais privilegiado na Escola Particular, sendo que 91% responderam “às vezes” para fazer leituras e 75% “sempre” para aprender brincadeiras e jogos de outros povos. Na Escola Pública, 44% responderam “às vezes” para fazer leituras e 12% “sempre” para aprender brincadeiras de outros povos.

    A dimensão conceitual dos conteúdos é representada pelo “saber”, ou seja, ela ocorre quando o professor explica aos educandos o sentido, a importância, o significado e a orientação para uma prática. Os educandos se mostraram, pelas respostas que fazer leituras e pesquisas faz parte da Educação Física, conforme analisado na Tabela 1, mas esta não é uma constante na Escola Pública.

    Sobre isso, Ghiraldelli (1988, p. 58) argumenta que “É fundamental que realmente a aula de Educação Física se transforme num ambiente crítico, onde a riqueza cultura se estabeleça como trampolim para a crítica”. Partindo dessa perspectiva, observa-se neste trabalho que os professores necessitam de preparação para desenvolver essa dimensão dos conteúdos, pois a Educação Física Escolar no Brasil, conforme se observou acima, tem um histórico de dar prioridade ao conteúdo de dimensão procedimental.

Além disso, a compreensão dos conteúdos é fundamental para que sejam reproduzidos fora da escola, atingindo a dimensão atitudinal.

    Isto fica evidente comparando as figuras 7 e 8. Na figura 7, 41,66% da Escola Particular e 52% da Escola Pública responderam que “sempre” gostam e cooperam com as atividades dadas durante as aulas de Educação Física.

    No entanto, a figura 8 esclarece que 58,33% da Escola Particular e apenas 28% da Escola Pública responderam “sempre” à pergunta: “Você costuma cooperar nas atividades realizadas fora da escola?”.

    Comparando a resposta da Figura 7 com a resposta da Figura 8 observa-se que 52% educandos da Escola Pública disseram cooperar com as atividades dadas nas aulas de Educação Física; porém, não houve mudanças significativas no comportamento deles, nas suas relações e em sua conduta fora da escola. No entanto 58,33% dos educandos da Escola Particular mostraram que ter o mesmo comportamento dentro e fora das aulas de Educação Física.

Conclusão

    Pode-se constatar que o papel da Educação Física na escola, nos tempos atuais, é introduzir os educandos na esfera da cultura corporal de movimento, abordando as três dimensões dos conteúdos: procedimental, conceitual e atitudinal, conforme propõe os Parâmetros Curriculares Nacionais.

    Para ser significativa, a Educação Física Escolar, além da aprendizagem motora, precisa contribuir para o desenvolvimento dos educandos no campo do saber e das relações sociais, contemplando os princípios pedagógicos relacionados às três áreas de domínios do comportamento: cognitiva, motora e afetiva.

    No entanto, conforme mostrado nesta pesquisa os educandos de ambas as escolas compreendem que os conteúdos da Educação Física devem transpor a dimensão procedimental, mas as respostas mostraram que a tendência esportivista e desenvolvimentista está ainda bem presente.

    Por outro lado, a Escola Particular apresenta ter mais informações dos conteúdos procedimentais e conceituais conforme mostram os dados analisados. Isto é significativo, pois um comportamento só pode ser reproduzido quando o indivíduo se apropria de um conteúdo aprendido e vivenciado.

Referências bibliográficas

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  • DARIDO, Suraya Cristina. Educação Física na Escola - Questões e Reflexões. Editora Guanabara Koogan S.A, 2003.

  • DARIDO, Suraya Cristina.. Educação Física na escola: questões e reflexões. Araras, SP: Topázio, 1999.

  • FREIRE, João Batista. Educação de Corpo Inteiro: Teoria e Prática da Educação Física. São Paulo: Scipione, 1989 (Pensamento e Ação no Magistério – Fundamentos para o Magistério).

  • LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.

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