Algumas discussões sobre o esporte da mídia e o esporte na mídia |
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Professor da UNOESC Campus de Videira Mestre em Educação Física pela Universidade Federal de Santa Catarina sob orientação do Dr. Elenor Kunz |
Ms. Aguinaldo César Surdi (Brasil) |
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Resumo O trabalho tem por objetivo desenvolver uma reflexão crítica sobre as discussões que envolvem atualmente sobre o esporte da mídia, aquele formatado e padronizado pela mídia, ou seja, pelos meios de comunicação de massa para tingir seus interesses capitalistas e lucrativos, e assim minimizar e fragmentar o real potencial do esporte e o esporte na mídia que busca ampliar o entendimento do esporte em favor da subjetividade humana, levando em consideração as individualidades e as significações percebidas pelas pessoas. Unitermos: Mídia. Esporte. Capitalismo. Subjetividade. |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 130 - Marzo de 2009 |
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Introdução
O avanço tecnológico da mídia e conseqüentemente dos meios de comunicação trouxeram conseqüências não muito boas para a sociedade pós – moderna. A industrialização e comercialização capitalista por parte da mídia do lazer, do tempo livre, da saúde e conseqüentemente do esporte fizeram uma reversão do entendimento esclarecido destes aspectos, que são de suma importância para toda a sociedade. O poder ideológico que a mídia ganha diariamente lhe dá o direito de escolher como que a divulgação proceda e com qual interesse comercial seja divulgada tal informação.
Mas antes de comentarmos sobre a mídia e o esporte temos que entender um pouco sobre o que eles são. O termo mídia segundo Gastaldo (2001) deriva de um termo latino baseado na pronuncia em inglês “media”. Este termo significa no plural em latim “medium”, ou seja, “meio”. Tornou-se “mídia” no senso comum, que quer dizer ainda “meios de comunicação de massa”, ou também “mass media” fazendo uma tradução para o português. A mídia tornou-se um veículo de comunicação que tem como objetivo divulgar de forma massificada inúmeros produtos em larga escala, de forma a atingir um público numeroso e indistinto sem levar em consideração sua individualidade. Podemos citar como mídia a televisão, rádio, jornal, outdoors e etc. Segundo Featherstone citado por Pires (2002) não esta equivocado relacionar o termo mídia aos veículos de comunicação, mas não abrange a totalidade que ela se envolve em nossa sociedade atualmente. Para o autor ela está ainda mergulhada na cultura de consumo e é comandada pelo mercado. Salienta que “mídia é também o conjunto de empresas (e cada uma delas) que produz e mercadoriza informações, entretenimento e publicidade, tripé sobre o qual, de forma interligada, se fundem as suas ações e interesses” (p 34). Neste sentido a função da mídia é oferecer necessidades e padrões de pensamentos que levem ao público o desejo de consumir em grande escala as mercadorias produzidas pela indústria capitalista e pensar que esta forma de ser e de viver é a melhor e única que podemos ter. Aliado a questão da mídia neste trabalho esta o esporte, desta forma tem que esclarecer um pouco mais sobre seu entendimento. A princípio temos que entendê-lo como sendo um dos maiores fenômenos sociais de nosso século. Acreditamos que todo este respaldo esta relacionado com o significado que a mídia lhe dá por ele ser um produto muito bem vendido e lucrativo nos meio de comunicação de massa. Segundo Kunz (1991) o esporte é uma atividade do movimento humano que possui como princípio a sobrepujança e as comparações objetivas. Conforme Bracht citado por Pires (2002) considera o estudo de Allen Gutmann, como sendo a gênese do esporte moderno e identifica sete categorias do esporte:
secularização,
igualdade de chances,
especialização de papeis,
racionalização,
burocratização,
quantificação e
busca de recordes.
Salienta Bracht, que por mais que estes sejam características do esporte de alto rendimento, estas características influenciam outras modalidades de atividades esportivas praticadas no lazer, tempo livre e até na escola. Estas duas abordagens do esporte mostram que o esporte possui critérios comuns para seu entendimento a competitividade e a rígida normatização.
Ampliando um pouco este entendimento de esporte, Betti citado por Pires (2002) acredita que em função da espetacularização do esporte pela mídia, outras formas de atividades esportivas foram sendo entendidas como esporte, como as atividades físicas relacionadas à saúde, atividades de desafio e de aventura, jogos no computador e outras da cultura de movimento. Temos que entender que estas mudanças estão relacionadas em função da mídia. O esporte neste sentido é um produto que recebe o tratamento necessário para ser comercializado pelos meios de comunicação nas mais variadas formas que forem necessárias, para gerar audiência e conseqüentemente lucro.
Neste sentido o próprio Betti (2001) afirma que o esporte está na mídia, ou seja, pelo fato de estar na mídia, este esporte se torna o esporte da mídia. Como veremos posteriormente, o autor defende esta questão com base em algumas questões que estão baseados nos interesses da mídia. Acreditamos juntamente com o autor que esta forma de ver e entender o esporte o torna bastante restrito e alienado. Queremos arriscar neste trabalho mostrando algumas questões e críticas que achamos necessárias para ampliar um pouco este entendimento do esporte e tentar de forma bastante tímida avançar no assunto sobre o esporte na mídia, onde o esporte teria um espaço maior e melhor.
O esporte da Mídia
Esta parte do trabalho terá como fundamento o texto de Betti (2001). Ele salienta que o esporte atualmente é o esporte da mídia e isto esta acontecendo porque a mídia e neste caso a televisão, como sendo o maior meio de comunicação de massa, tem que defender seus interesses econômicos, políticos, sociais e ideológicos perante o povo. Para o autor a televisão devorou as outras mídias por dar a visibilidade que o esporte tem hoje. Esta abrangência televisiva o autor deu o nome de “esporte telespetáculo”.
As características que o autor mostra e que fazem com que o esporte seja da mídia em especial da televisão começam com a ênfase dada a falação esportiva, que tem como característica informar e atualizar as pessoas dos bastidores do mundo esportivo, contar histórias dos atletas e clubes, criarem expectativas para conquistar adeptos e aumentar a audiência. Ainda as previsões de resultados e as contratações devem ser disseminadas pela população. As explicações e justificativas dos erros e acertos dos árbitros promovem aos telespectadores muitas emoções, criando polêmicas e rivalidades. Por fim critica e dramatiza os grandes acontecimentos que marcam a vida esportiva.
Outra característica é a monocultura esportiva. Podemos observar claramente que em nosso país o futebol é destaque, principalmente na televisão aberta. Por assinatura os esportes radicais estão em primeiro seguido do futebol e tênis. O futebol se explica por seu custo benefício que atende ao interesse econômico. Outro fator é a sobrevalorização da forma em relação ao conteúdo. Com os avanços audiovisuais ligados a informática, as imagens vêm ganhando espaço em relação à palavra. Estes avanços são visíveis e apresentados principalmente pela televisão. Nos canais por assinatura este avanço é ainda maior. Podemos observar que em muitos casos a informação é muito bem transmitida puramente com imagens, buscando atingir o máximo de emoções. Esta espetacularização gera a fragmentação e a descontextualização do esporte. Neste sentido existe muita diferença em você assistir um jogo pela televisão e ao vivo no estádio.
Outra característica muito importante é a superficialidade. A televisão por si só, gera a cultura do breve e do descontínuo. A profundidade das informações pode ser atingida com a interação entre várias mídias, ou seja, a televisão levaria ao jornal, a revista e outras mídias. Mas atualmente quem lê, se as imagens são mais fáceis de ser captadas e assimiladas como verdade? Neste sentido os efeitos negativos da televisão são enormes, ainda mais num país como o Brasil que possuem muitos analfabetos e semi-analfabetos. O último fator e não menos importante é a prevalência dos interesses econômicos. A mídia privilegia o que fornece audiência e em conseqüência o lucro. A ideologia que a mídia passa aos seus consumidores produz uma alienação ao tradicional. Isto caracteriza a pobreza da televisão brasileira e suas mesmices da programação. As pessoas acabam escolhendo o que as mídias querem. O telespectador acaba sofrendo da terrível doença da alienação e da heteronomia, os outros definem por mim e sabem o que eu quero e gosto. As pessoas perderam o poder da reflexão crítica e de perceber o que é bom ou ruim para si próprio.
Podemos observar que estas características possuem fatores que mostram o grande poder que as mídias detêm sobre as pessoas. As informações transmitidas para nós têm um caráter alienante e um interesse particular seja ele econômico, político, social e outros que nos fazem pensar e agir de forma que eles querem. A reflexão crítica que devemos possuir deve nos proporcionar uma atitude também crítica, que nos possibilite não aceitar de forma simples e rápida as imposições consumistas e ideológicas que as mídias nos impõem diariamente.
O esporte na Mídia
Acredito que falar sobre o esporte na mídia implica em comentar sobre algumas questões e possibilidades que vem de encontro com as pessoas e seus direitos mais significativos como seres humanos. Podemos observar que o esporte da mídia possui as lacunas fundamentais que servem de suporte para serem exploradas e com isto justificar e elaborar novas questões e possibilidades para construir o esporte na mídia. Desta forma podemos ampliar o entendido do esporte em todas as suas dimensões.
A constituição federal comenta no artigo 221 que a mídia deveria ter um caráter puramente educativo, artístico, cultural e informativo. Outro artigo o 224, prevê um Conselho de Comunicação Social para analisar e efetivar que a mídia tenha exatamente o caráter que a constituição lhe impõe. Como este conselho nunca foi efetivado e com certeza não á nenhum interesse que ele realmente se efetive, a mídia com seu conhecimento parcializado sobre a realidade, possui total liberdade para ditar o que é educativo, artístico, cultural e informativo.
Neste contexto grande parte das pessoas que vê o esporte dentro desta ótica (da mídia) o entende como sendo educativo, artístico, saúde, integrador, lazer e outros adjetivos que o caracterizam como sendo um fator de transformações social que tira as crianças das ruas e das drogas e garante um futuro melhor como atleta. Esta visão acrítica e alienada de esporte é o que a mídia, com suas formas de persuasão desenvolvidas pelos meios tecnológicos apresentam para nós.
Por trás do fenômeno esporte se escondem muitas informações que a mídia com sua característica de superficialidade não conseguem mostrar. Esta visão de esporte é semelhante a um iceberg, a parte maior não esta vista e sim escondida debaixo da água. O esporte na mídia teria o dever de mostrar estas facetas escondidas e buscar a verdade dos fatos esportivos. Mostrar os reais interesse políticos e econômicos dos campeonatos e grandes eventos que são os únicos que a mídia divulga. Segundo Rebelo e Azevedo (2001) a CBF ganha milhões de patrocínio de várias instituições como NIKE e Ambev para promover o futebol brasileiro em todos os níveis desde a principal até a de base. Mas sabemos que a grande maioria vai para a equipe principal que oferecem aos jogadores uma mordomia e grandes salários e a outra parte simplesmente some. No ano de 2001 a CBF ganhou destes dois patrocinadores R$ 25 milhões. O dinheiro desapareceu. O passivo circulante da CBF chegou a R$ 55 milhões e o prejuízo acumulado de R$ 25 milhões. Ainda ninguém sabe quem gastou o dinheiro e como. Enquanto sobra dinheiro em um lado em muitos outros tem inúmeras pessoas passando fome.
Geralmente na televisão se associa o esporte como educação e saúde. É muito divulgado que se a criança esta praticando esporte ela automaticamente está tendo educação. O esporte possui como características a competitividade e a rígida normatização. Neste contexto o participante é um mero executante de formas técnicas de movimento. Obedecendo geralmente a um técnico que manda o participante a executar movimentos predeterminados em direção a uma modalidade esportiva com intenção de formação de atletas. Mas quantos serão atletas? Será que uma criança tem consciência se quer ser um atleta? E o que isto representa para ela? E ainda neste mesmo sentido fazem as peneiras humanas, para selecionar os melhores, como se as pessoas fossem objetos de escolha. Tratam-nos como ferramenta para executar determinado serviço que é importante apenas para quem seleciona. Exemplo disto são os programas ditos sociais exibidos principalmente pela televisão, que selecionam crianças pobres de um determinado lugar e oferecem durante um determinado tempo atividades esportivas, alimentação e brincadeiras e chamam isto de educação e cidadania. Esta visão simplista de educação é o que a mídia quer divulgar para melhor controlar e dominar.
Neste sentido, qualidades importantes para o ser humano como a participação efetiva nas atividades criando e construindo conjuntamente possibilidades de movimento, não existem. Valores éticos como honestidade, cooperação, responsabilidade e respeito não são proporcionados pelas atividades desenvolvidas. Atividades de interação social entre crianças, grupos de discussão e criação também não são oferecidas. Desta forma o desenvolvimento de uma reflexão crítica nas pessoas e principalmente nas crianças é praticamente impossível.
Outro fator que temos que comentar é sobre a veiculação do esporte como saúde. Começamos pelas inúmeras lesões que os jogadores têm no dia a dia. Lesões estas que se tornam crônicas e dura toda vida. O que proporciona em muitas vezes um afastamento do trabalho e problemas para toda a família. A saúde esta vinculada geralmente a um corpo bonito em que as atividades esportivas e conseqüentemente físicas são fundamentais para isto. Podemos observar aqui que a mídia entende a saúde como ausência de doença, como sendo um fenômeno puramente físico, objetivo e empírico. A subjetividade do ser humano, ou seja, o que ele sente e o significado que a atividade tem para cada um de nós é ignorada. Somos diferentes um do outro. As receitas de atividades física que são divulgadas para toda população e são relacionadas à saúde, reagem diferente em cada ser humano que é único e particular. Uma caminhada para mim é uma atividade ótima que eu realmente gosto de fazer. Para aquela pessoa que faz porque um personal treiner mandou tem outro significado. Estas diferenças no sentido e no significado das atividades que são baseadas na subjetividade de cada um a mídia ignora, ou seja, o ser humano não pode ser um sujeito pensante e sim um objeto executante.
Temos que analisar também que o esporte na mídia tem que abordar a inteireza das modalidades esportiva, desde o amadorismo até o profissionalismo. Percebemos hoje que as mídias dão destaque exatamente a algumas modalidades que se projetam para o mundo, com intenção de medalhas e que possuem um bom patrocinador. Acredito que as pessoas têm que entender, conhecer e vivenciar outras formas de atividades esportivas e isto pode ser conquistado com uma mídia diferente, a favor do esporte. Proporcionando que as pessoas escolham e participem de suas atividades baseado nos seus interesses.
Desta forma podemos observar que todas estas questões que foram analisadas são possibilidades reais, que o esporte na mídia com mais visibilidade e como um fator que tenha domínio de si e de seus atos podem ser concretizado. Sabemos que no sistema atual de comunicação de massa isto se torna um pouco utópico, mas entendemos a utopia como sendo uma forma de pensamento que nos leva para o melhor, para traçar novos caminhos em busca do bem comum.
Considerações finais
Buscamos neste trabalho enfatizar que realmente o esporte que temos contato por intermédio da mídia é um esporte da mídia. Esporte este que deve respeitar as regras impostas por esta mídia, mídia esta que detêm um grande poder, que foi adquirido pelos avanços tecnológicos e por respeitar os interesses capitalistas. A mídia quer através do esporte socializar sua informação e utilizá-lo como produto de consumo, para tal atividade esportiva existe um equipamento adequado que cumpre com as regras. O esporte se torna uma peça em busca de lucro para quem já o tem.
Acredito que a visão humana de entender o esporte esteja exatamente em reverter este processo. O esporte é o que se faz dele. Ele pode auxiliar tanto na transformação como na destruição das pessoas e ainda como já é de costume manter o etatus quo da sociedade. O esporte entendido em todas as suas dimensões, principalmente como meio educativo pode contribuir para o crescimento das pessoas como seres autônomos, criativos e com valores éticos. Para isto temos que ampliar seu entendimento e não resumi-lo a formas de movimento pré-estabelecido, baseado em regras e competição, que classifica o ser humano em apto e não apto. Temos que dar asas à subjetividade humana de perceber este lado do esporte. Para isto o esporte deve ser divulgado e difundido de forma diferente e mais abrangente, ou seja, de forma crítica e na mídia.
Para encerrar percebemos que a mídia neste sentido faz de tudo para atingir seus objetivos consumistas. Sabemos que ela usa de todas as artimanhas para persuadir as pessoas e mostrar que aquilo que se mostrar é o real e assim o verdadeiro. As conseqüências da difusão do esporte pela mídia atualmente, nos faz pensar em uma sociedade robotizada. Formas de pensamento, gosto e desejos são coletivizados, temos que pensar e agir como todo mundo. As individualidades e diferenças que todos nós temos por natureza não têm mais nenhuma importância e não são mais respeitadas e sim apagadas ideologicamente de nós. Não consigo ver no esporte apenas seu lado competitivo, agressor e beligerante, sempre em estado de guerra. Tenho plena convicção que a face humana do esporte que poucos estudiosos conhecem, deva ser mais discutida na mídia.
Referências bibliográficas
BETTI, M., Esporte na Mídia ou esporte da Mídia? In: Revista Motrivivência, Ano XII, nº 17, Educação Física, Esporte, Lazer e Mídia (1) p. 107 – 111,set./2001. Editora da UFSC. FlorianópolisSC.
GASTALDO. E. L., Notas sobre um pais em transe: Mídia e copa do mundo. In: Revista Motrivivência, Ano XII, nº 17, Educação Física, Esporte, Lazer e Mídia (1) p. 47 –68,set./2001. Editora da UFSC. FlorianópolisSC.
KUNZ, E. Educação Física: Ensino & Mudanças. Livraria UNIJUI Editora. Ijuí, RS. 1991.
PIRES, G. L., Educação Física e o Discurso Mediático: Abordagem crítico – emancipatória. Editora Unijuí: Coleção Educação Física. Ijuí. RS. 2002.
REBELO. C., AZEVEDO. C., A corrupção no futebol brasileiro. In: Revista Motrivivência, Ano XII, nº 17, Educação Física, Esporte, Lazer e Mídia (1) p. 15 – 45, set./2001. Editora da UFSC. FlorianópolisSC.
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