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A importância da psicomotricidade no âmbito 

da Educação Física escolar

La importancia de la psicomotricidad en el ámbito de la Educación Física escolar

The importance of psychomotricity in Physical Education school

 

*Pós-Graduada em Natação e Hidroginástica

Mestre em Cognição e Linguagem - UENF

**Doutor em Comunicação - UFRJ

***Pós-Graduada em Natação e Hidroginástica – Universo

(Brasil)

Fernanda Castro Manhães*

Carlos Henrique Medeiros de Souza**

Gabriela dos Reis Siqueira***

castromanhaes@gmail.com

 

 

 

Resumo

          Este artigo propõe uma reflexão a cerca da psicomotricidade e sua relação no desenvolvimento da aprendizagem no ambiente da educação física escolar. Procurou-se destacar alguns conceitos e formas de trabalho relacionadas com a prática da educação física e suas potencialidades. O texto apresenta alguns posicionamentos teóricos a fim de subsidiar algumas discussões. Acredita-se que esta concepção a respeito da psicomotricidade nos diversos níveis de desenvolvimento e integração poderá ser um caminho para o verdadeiro resgate a fim de potencializar a aprendizagem de forma significativa e prazerosa.

          Unitermos: Psicomotricidade. Aprendizagem. Educação Física escolar. Papel do professor.

 

Abstract
          This article proposes a reflection of the psychomotricity and about their relationship in the development of the learning environment in physical education school. We sought to highlight some concepts and forms of work related to physical education and its potential. The text presents some theoretical positions in order to subsidize some discussions. It is believed that this concept regarding the psychomotricity in different levels of development and integration could be a way for the real redemption in order to maximize the learning of a significant and enjoyable.

          Keywords: Psychomotricity. Learning. Physical Education school. The role of teacher.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 130 - Marzo de 2009

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Introdução

    A psicomotricidade inicialmente compreendia o corpo nos seus aspectos neurofisiológicos, anatômicos e locomotores, coordenando-se e sincronizando-se no tempo e espaço. Hoje, a psicomotricidade é o relacionar-se por meio da ação, como um meio de tomada de consciência que une o ser corpo, o ser mente, o ser espírito, o ser natureza na sua totalidade. Diversos autores apresentaram conceitos relacionados à Psicomotricidade, destacam-se Jean Le Boulch, André Lapierre, Bernard Aucouturier, Piaget, Ajuriaguerra, Vitor da Fonseca, além de outros. Sua definição é extremamente objetiva, como nos aponta Mello (1996) “uma ciência que tem por objetivo o estudo do homem, através do seu corpo em movimento, nas relações com seu mundo interno e externo”.

    Nesse sentido, a psicomotricidade está associada à Educação física e ao seu desenvolvimento afetivo, cognitivo e psicomotor. A psicomotricidade conquistou, assim, uma expressão significativa, já que se traduz em solidariedade profunda e original entre o pensamento e a atividade motora. Vitor da Fonseca (1988) aborda que a psicomotricidade é atualmente concebida como a integração superior da motricidade, produto de uma relação inteligível entre a criança e o meio. É um instrumento privilegiado por meio do qual a consciência se forma e se materializa.

    Trata-se de conceber educativa, reeducativa e terapeuticamente a psicomotricidade como um processo relacional e inteligível entre situação e ação, entre estímulos e respostas, numa linguagem mais específica, entre gnosias e praxias. Isto é, a psicomotricidade subentende uma concepção holística do ser humano, e fundamentalmente de sua aprendizagem, que tem por finalidade associar dinamicamente o ato ao pensamento, o gesto à palavra e as emoções aos símbolos e conceitos; ou, numa linguagem mais neurocientífica, associar o corpo, o cérebro e os ecossistemas envolventes, ou seja, tudo o que faz um movimento ser inteligente ou psiquicamente elaborado e controlado (FONSECA, 2004, p. 10)

    Assim, sua abrangente fundamentação multidisciplinar, como aborda Mello (1996), apresenta uma relevante contribuição por um amplo conjunto de campos científicos, onde se pode destacar a Neurofisiologia, a Psiquiatria, a Psicologia, Educação e até mesmo a Medicina. A psicomotricidade pode intervir em inúmeros campos de atuação e intervenção reeducativa, terapêutica e educacional. São considerados: debilidade motora, atraso e instabilidade psicomotora, dispraxias, distúrbios do tônus da postura, do equilíbrio e da coordenação, deficiências perceptivo-motoras, grandes perturbações, deficiência escolar, motora dentre outros, como aponta Fonseca, (1988). Entretanto, cabe a Educação Física buscar sua finalidade e representação na educação psicomotora:

    O discurso e prática da Educação Física sob a influencia da psicomotricidade conduz a necessidade do professor de Educação Física sentir-se um professor com responsabilidades escolares e pedagógicas. Busca desatrelar sua atuação na escola dos pressupostos da instituição desportiva, valorizando o processo de aprendizagem e não mais a execução de um gesto isolado (DARIDO, 2003, p. 14)

    Segundo Bracht (2002), a motricidade humana traz consigo toda uma significação de nossa existência. Há uma extrema coerência entre o que somos, pensamos, acreditamos ou sentimos, e aquilo que expressamos por meio de pequenos gestos, atitudes, posturas ou movimentos mais amplos. A psicomotricidade foi uma das tendências a ter mais força entre os profissionais da educação física em contrapartida ao modelo esportivo, já que suas idéias se contrapunham à mecanização e ao rendimento motor. Daolio (1998) afirma que a psicomotricidade não foi uma tendência exclusiva da área da educação física, mas também da pedagogia, psicologia e psicopedagogia. Além disso, com o discurso de “educação pelo movimento”, a educação física deixou para segundo plano os conteúdos até então trabalhados e passou a priorizar conhecimentos de outras disciplinas, como matemática e português, como maneira de trabalhar com os alunos os conhecimentos de outras disciplinas na aula.

Educação Física Escolar e o papel do professor

    A área da Educação Física a qual tem seus conteúdos de ensino baseados e fundamentados na cultura do movimento humano hoje contempla conhecimentos produzidos e usufruídos pela sociedade a respeito do corpo em movimento com finalidade de lazer, expressão de sentimentos e com possibilidades de promoção e manutenção da saúde.

    A sociedade atual está subsidiada por grandes mutações, transformações estas, produto de uma construção histórico-cultural do homem em seus diversos contextos. A todo o momento uma nova situação de vida, e reflexões profundas acerca dessas mudanças atinge direta e indiretamente as tradições culturais e instituições de ensino de nossa sociedade.

    Diante da considerável evolução no processo de transformação da escola e da realidade, todos têm um papel fundamental a desempenhar: são eles: professores, equipe de coordenação e direção, alunos, pais, funcionários, supervisores, autoridades e comunidade local, no qual inseridos no contexto educacional e conseqüente organização e ação de intervenção na realidade. Abordado por Demo (1995), o professor, no entanto, é um dos principais agentes de mudança do ensino, por estar sempre em contato direto com os alunos, em local privilegiado, onde se manifestam os problemas. A prática docente varia no tempo e de acordo com cada acontecimento, no decorrer da história. Demo (1995, p.175), aborda que “se educação é o processo de formação da competência humana histórica, para construí-lo é mister competência”.

    A escola é o lugar de atuação do professor e, considerando que o professor de Educação Física também ocupa uma importante função como educador na escola, no desempenho da atuação profissional e na prática pedagógica, se torna indispensável e fundamental para o processo de desenvolvimento afetivo, cognitivo e psicomotor do aluno, essa prática relacionada à aprendizagem motora e à interação social.

    O caminho percorrido pelo educador é um renovar constante, uma busca incessante. O cunho social que envolve o ensino é um fator importantíssimo para o desempenho do professor. Defende Imbernón (2000), que quanto mais ele tiver vivenciado fatos alheios ao seu trabalho, mais experiência de vida ele terá, e mais seus alunos sairão ganhando, pois o enriquecimento cultural pessoal do educador estende-se aos seus discípulos, que absorvem estes conhecimentos juntamente a disciplina.

    O profissional de educação física deverá se fazer presente nas mais diversas questões do dia-a-dia da vida do aluno. Esclarecê-lo sobre aspectos sociais, políticos, econômicos e, sobretudo, culturais. Essa interação com o aluno é parte da formação educacional por que ele passa. O professor deve ser essa presença reafirmando valores, apontando o caminho, incentivando descobertas e fazendo com que o aluno adquira o hábito de pensar, raciocinar e tomar decisões sempre movidas pelo bom senso.

    Imbernón (2000), defende que o professor tem que acreditar naquilo que faz, é preciso que ele tenha convicta confiança em seus valores e aplique isso em suas aulas. O aluno precisa depreender da lição que o caráter do educador compatibiliza-se com o que está sendo falado e que não é mera falação ou venerável discurso realizado.

    Nóvoa (1996), também defende que o educador é o mediador do diálogo do educando com o conhecimento, e não o seu obstáculo. Ao professor cabe promover o ensino por meio de uma ação eminentemente crítica e criativa, questionando, levando a questionar, comparando, sugerindo alternativas, abrindo perspectivas. Assim, permitirá ao aluno aprimorar-se de novas formas de ação de comunicação, e ele possibilitará ainda atribuir significado ao saber que adquire.

    Nóvoa (1996) aborda que o professor responsável deve conhecer com profundidade os conteúdos que trabalha e estar aberto às transformações social. Enfatiza que o professor como ser histórico deve aliar a competência técnica à humana, compromissado com as ações que planeja durante o ato educativo, capaz de pensar e construir um processo pedagógico próprio, alguém com referencial teórico prático, com senso crítico desenvolvido, criativo, consciente de seu papel histórico no processo de transformação da sociedade.

    É fundamental a todo professor reconhecer a transcendência da dimensão interativa do ensino, interpretando-a como uma relação pedagógica que depende de um diálogo contínuo entre professor e aluno comprometidos ao mesmo tempo com a busca do saber e com a construção de uma sociedade humana solidária.

    Discorre Nóvoa (1996) que um ensino com tais características supõe naturalmente o desenvolvimento harmônico de componentes cognitivos, afetivos e sociais, sem privilegiar apenas, um desses aspectos. A qualidade da interação reflete sempre um desequilíbrio dinâmico resultante de históricas pessoas, interesses, expectativas e percepções recíprocas, mas indiscutivelmente o professor é o principal responsável pelo direcionamento da comunicação.

    O educador é aquele que interage com os educandos que se constituem, frente a ele e em si mesmo, em diferença do coletivo. Nesta interação, confronto, o educador só pode mediar a aprendizagem dos educandos, se também ele aprende em processo de reciprocidade. E esta aprendizagem só pode ser significativa se resultar em novas buscas em termos de posturas com relação à escola, ao conhecimento, à pedagogia da sala de aula, o modo de ver os alunos e de tratar a cultura que os identifica. Este é o real conteúdo de formação, atestando o que defende Nóvoa (1996).

    Nesse sentido é fundamental ter a escola como lugar da formação do educador, mas acima de tudo fazer-se ela, pela própria ação dos educadores e isto significa que não basta a existência desta dimensão formativa, é preciso à consciência produtora da identidade dessa dimensão.

Considerações finais

    Vale ressaltar a importância da psicomotricidade nas aulas de Educação Física, uma vez que, através de atividades para o desenvolvimento afetivo, cognitivo e psicomotor, constitui-se num fator de equilíbrio para os alunos, expresso na interação entre o espírito e o corpo, a afetividade e a cooperação, o indivíduo e o grupo promovendo a totalidade do ser humano.

    Levando em consideração as características de uma aprendizagem significativa a psicomotricidade tem importância à medida que permite a estimulação a partir da superação dos limites nas relações com seu mundo interno e externo.

    Deter-nos-emos, portanto, no âmbito do presente trabalho, a uma breve reflexão sobre os processos de desenvolvimento afetivo, cognitivo, psicomotor e os desafios postos pela sociedade contemporânea.

    No cotidiano das práticas escolares, os professores precisam sentir-se envolvidos para que possam ter e criar as condições necessárias para o enfrentamento do desafio de propiciar aos seus alunos os melhores meios de aprendizagem. A aprendizagem é processo complexo que exige ação conjunta e integrada e uma permanente atualização do educador.

    Assim, as múltiplas possibilidades que a educação física proporciona aos alunos da educação infantil, ensino fundamental e médio vão de encontro a gama de desenvolvimento afetivo, cognitivo e psicomotor que promovem a totalidade do ser humano em um rico espaço de aprendizagem e potencialidades.

Referências

  • BRACHT, V. A prática pedagógica em educação física: a mudança a partir da pesquisa-ação. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v.23, n.2, 2002.

  • BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: Introdução / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.

  • BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: educação física. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.

  • COLL, César ; PALACIOS, Jesus ; MARCHESI, Álvaro. Desenvolvimento psicológico e educação: necessidades educativas especiais e aprendizagem escolar. Trad.: Marcos A. G. Domingues. v.3, Porto Alegre : Artes Médicas, 1995.

  • DAOLIO, J. Educação Física Brasileira: autores e atores da década de 1980. Campinas: Papirus, 1998.

  • DARIDO, S.C. Educação física na escola: questões e reflexões. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.

  • DEMO, P. ABC Iniciação à competência reconstrutiva do professor básico. Campinas: Papirus, 1995.

  • FONSECA, Vitor da. Da filogênese à ontogênese da psicomotricidade. Porto Alegre: Artes Médicas, 1988.

  • ______________ Psicomotricidade: Perspectivas Multidisciplinares. Porto Alegre: Artmed, 2004.

  • IMBERNÓN, F. (Org.) A educação no século XXI. Porto Alegre: ARTMED, 2000.

  • MELLO, Alexandre Moraes de. Psicomotricidade, educação física e jogos infantis. 3 ed. São Paulo: Ibrasa, 1996.

  • NÓVOA, Antonio. História da educação: percursos de uma disciplina. Análise Psicológica, Lisboa, n.4, 1996.

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