Lecturas: Educación Física y Deportes
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Revista Digital


O PROGRAMA DE JOGOS COOPERATIVOS NO CEPEUSP. UMA AVALIAÇÃO
Katia M. Alves Barata - Sheila A. P. Santos Silva - Fábio Otuzi Brotto


Neste agrupamento "Caráter dos Jogos Cooperativos", cinco sujeitos apontaram que vivenciaram jogos onde todos participavam. Também quatro sujeitos foram capazes de perceber que os mesmos possuem objetivos preestabelecidos e que seu desenvolvimento ocorre através de atividades dinâmicas, requerendo esforço físico. Neste Jogos, quatro sujeitos foram capazes de perceber que existe a possibilidade de mudança das regras.

Três sujeitos destacaram que as atividades desenvolvidas eram motivantes e que a vitória e a "performance" esportiva não eram enfatizadas. A integração com o ambiente, o caráter pouco tradicional das atividades desenvolvidas, e uma característica importante dos Jogos que é o trabalho em grupo, foram aspectos destacados por dois dos respondentes.

Apesar da sua importância para o desenvolvimento dos Jogos Cooperativos, a percepção de uma filosofia subjacente aos mesmos, a busca da integração corpo-mente, foram aspectos assinalados por apenas um dos sujeitos. Da mesma forma, apenas um sujeito aponta que os Jogos apresentaram-lhe resultados surpreendentes, no entanto, não deixa claro de quais resultados se tratam. É possível que o questionário não tenha dado margem para que mais percepções quanto ao caráter dos jogos fossem colocadas, ou então que esses aspectos tenham sido pouco discutidos no Programa.

No agrupamento "Sentimentos vivenciados nos Jogos e no Programa" a maioria do grupo, representada por dezesseis sujeitos, percebeu que o clima das aulas era alegre, divertido, proporcionando-lhes uma sensação de bem-estar. Oito sujeitos revelaram em suas respostas que houve, durante o processo, um sentimento de crescimento pessoal, com conseqüente mudança na forma de ver o mundo e de pensar.

Três sujeitos mencionaram a presença de um clima afetivo, onde havia toques entre as pessoas, onde os sentimentos podiam ser compartilhados, onde era possível manifestar-se de uma forma autêntica e espontânea. A percepção que o grupo obteve progressos no exercício da cooperação, foi citada por apenas um sujeito.

Apesar da maior parte dos respondentes expressar sentimentos positivos em relação ao Programa, houve duas exceções, onde um sujeito declara que não conseguiu participar do Programa da forma como desejaria e outro que afirma que suas opiniões eram incompreendidas pelo restante do grupo.

As "Habilidades desenvolvidas a partir dos Jogos Cooperativos" que apresentaram maior número de citações foram: auto-conhecimento (oito sujeitos); integração do grupo (sete sujeitos); cooperação e habilidade de perceber e ouvir o outro (seis sujeitos). Com três citações, encontramos: criatividade, confiança no outro, compartilhar idéias e opiniões. Apenas dois sujeitos diferentes mencionaram: diminuição de tensão e outro sujeito menciona o desenvolvimento da conscientização corporal.

As respostas ainda evidenciavam várias reflexões sendo, algumas delas, selecionadas sob o título de "Conclusões" por expressarem a percepção daquilo que foi vivenciado e discutido no decorrer de todo o Programa.

A maioria do grupo (dezessete sujeitos), considera que a cooperação é um valor necessário e importante à vida cotidiana. Dezesseis sujeitos mencionam que deve-se buscar aplicá-la sendo, inclusive que alguns já estavam tentando fazê-lo em sua rotina diária. A aplicabilidade destes princípios é mencionada nos mais diversos lugares: na escola, no trabalho, nos relacionamentos interpessoais, no desenvolvimento da cidadania, na vida, de uma forma geral.

Há ocorrência de convergência nas respostas de seis sujeitos que concluem que, na vida e no jogo, a ética competitiva predomina; outros quatro sujeitos valorizam a presença do outro e o desenvolvimento de trabalhos em grupo.

A cooperação como facilitadora do alcance de objetivos comuns, promotora de auto-conhecimento e crescimento pessoal surgiu três vezes nos discursos. Por duas vezes, foi mencionado que o ato de cooperar com outras pessoas constitui numa colaboração para consigo próprio e que o conhecimento do outro propicia um maior auto-conhecimento. A constatação de que, todavia, cooperar pode ser uma tarefa difícil aparece por duas vezes.

Foi mencionado, em duas ocasiões, que a satisfação oriunda da participação em jogos não deve-se a resultados mensurados numericamente; que a tolerância e a paciência são aspectos importantes; que há necessidade de divulgação dos princípios e fundamentos dos Jogos para um maior número de pessoas. Aspectos que surgiram apenas uma vez nos discursos foram: a importância da auto-estima, da ludicidade e da doação.

Dos trinta questionários analisados, vinte e sete contêm "Sugestões para o Programa". Doze sujeitos mencionaram que não fariam qualquer mudança, três afirmam que não saberiam o que sugerir, quatro sugerem uma ampliação da carga horária.

Outras sugestões elencadas uma ou duas vezes foram: que não houvesse repetição de atividades; que as mesmas fossem apresentadas ao grupo previamente; que o tempo das discussões fosse melhor controlado; pontualidade por parte do professor; realização de maior número de leituras e reflexões; a inclusão de jogos com pouco envolvimento motor e de atividades de relaxamento; inclusão de jogos onde houvesse um equilíbrio entre cooperação e competição e que fossem mais dinâmicos. Foi sugerida, também, a realização de atividades em outros ambientes e extra-curso; a abertura de novos horários para que houvesse maior opção para os participantes contando com uma maior divulgação do Programa no campus universitário.

A partir das sugestões apontadas pelos alunos, percebe-se que a aceitação do Programa foi positiva. As sugestões de diferentes atividades, muitas parecendo conflitantes, refletem as singularidades e particularidades de cada indivíduo, tratando-se de um desafio para o Programa atender a todas essas "vontades" de forma cooperativa.


Conclusões
Os objetivos dos Jogos Cooperativos são colocados de uma forma bastante ampla, não predeterminando comportamentos observáveis por parte dos alunos, mas indicando possibilidades de trabalho e "estados de espírito" ou disposições de ânimo desejáveis.

Cada um destes "estados de espírito", a exemplo de: alegria, entusiasmo, bom humor, auto-estima, poderiam ser objeto de estudos mais detalhados, utilizando-se um instrumental mais específico da área da Psicologia. Para o escopo deste trabalho, no entanto, tivemos como suficiente o exame das percepções dos alunos a respeito das intenções do Programa, manifestas em seus discursos.

Pudemos concluir que as disposições de ânimo: alegria, bem-estar, diversão, foram mencionadas, em grande escala, pelos participantes.

Criatividade, preconizada como objetivo a ser atingido através dos Jogos, foi pouco mencionada, indicando a necessidade de revisão das estratégias de trabalho caso se deseje mantê-la para os próximos programas.

A melhora da auto-estima é mencionada apenas por um indivíduo, mas esta mesma disposição pode estar se manifestando de forma diferente nos discursos daqueles que referem que melhoraram sua visão de mundo e experimentaram um sentimento de crescimento pessoal. Sendo assim, podemos considerar que trata-se de um objetivo atingido por um terço do grupo. Em relação ao desenvolvimento da confiança mútua e do respeito pelas diferenças, é possível inferir que foi um objetivo altamente atingido através da menção dos aspectos perceber o outro e ouvi-lo; confiança no outro; compartilhar idéias e opiniões; cooperação; conhecer-se através do conhecimento do outro; respeito pelas diferenças; doação; trabalho e integração do grupo; presença de progresso no grupo, por vinte alunos diferentes.

Em relação ao objetivo "amor", não mencionado pelos respondentes, nos permite inferir da sua inadequação enquanto objetivo do Programa, podendo ser suprimido por encontrar-se implícito em outros objetivos ou mesmo substituído, com maior coerência, por: desenvolvimento do comportamento afetivo entre os componentes do grupo.

A menção freqüente da percepção da cooperação como um fator importante e aplicável na vida cotidiana pode ser considerado um indicador do sucesso das atividades e reflexões desenvolvidas com o objetivo de confrontar a visão cooperativa com a competitiva e colaborar para diminuir o condicionamento competitivo imposto às pessoas formadas num contexto social capitalista.

Dos sentimentos e habilidades promovidos pelos Jogos Cooperativos segundo a literatura, a integração, a cooperação e a tomada de consciência do outro foram os aspectos confirmados pelo grupo. No entanto, autoconfiança, aceitação, vontade de continuar jogando, não chegaram a ser mencionados.

Por outro lado o Programa mostrou que tem a potencialidade de desenvolver sentimentos e habilidades como o auto-conhecimento e o crescimento pessoal, aspectos não registrados na literatura revista.

De uma forma geral, podemos concluir que o Programa obteve sucesso esperado, devendo tentar responder às sugestões dos participantes referentes à ampliação de sua oferta. Sugerimos que programas com objetivos e estratégias semelhantes sejam desenvolvidos em empresas, escolas, igrejas, grupos políticos, associações de bairro, e outros locais onde a cooperação possa ser vista como importante para se atingir objetivos comuns.


Referências bibliográficas

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Revista Digital
Año 4. Nº 13. Buenos Aires, Marzo 1999.