efdeportes.com

O lazer em documentos oficiais da educação básica brasileira

El tiempo libre en documentos oficiales de la educación básica brasileña

The leisure in official documents of the brazilian basic education

 

*Professor da Rede Pública Estadual Paulista (SEE/SP)

Membro da Sociedade de Pesquisa Qualitativa em Motricidade Humana (SPQMH/UFSCar)

e do Núcleo de Estudos de Fenomenologia em Educação Física (NEFEF/UFSCar)

Mestre em Educação pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

**Membro da Sociedade de Pesquisa Qualitativa em Motricidade Humana (SPQMH/UFSCar)

e do Núcleo de Estudos de Fenomenologia em Educação Física (NEFEF/UFSCar)

Mestre em Educação pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

***Professor da Rede Pública Estadual Paulista (SEE/SP)

Membro da Sociedade de Pesquisa Qualitativa em Motricidade Humana (SPQMH/UFSCar)

e do Núcleo de Estudos de Fenomenologia em Educação Física (NEFEF/UFSCar)

Mestrando em Educação pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

www.ufscar.br/~defmh/spqmh/

Fábio Ricardo Mizuno Lemos*

fabiomizuno@yahoo.com.br

Matheus Oliveira Santos**

mat_tchos@yahoo.com.br

Robson Amaral da Silva***

juninhoamaral@bol.com.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste trabalho foi identificar e destacar, em cinco documentos oficiais da educação básica brasileira, os trechos que fazem referência ao lazer.

          Unitermos: Lazer. Educação básica. Documentos oficiais.

 

Resumen

          El objetivo de este artículo fue identificar y destacar, en cinco documentos oficiales de la educación básica brasileña, los párrafos que hacen referencia al tiempo libre.

          Palabras clave: Tiempo libre. Educación básica. Documentos oficiales.

 

Abstract

          The objective of this research was to identify and to place in evidence, in five official documents of the Brazilian basic education, the parts that contain the leisure.

          Keywords: Leisure. Basic education. Official documents.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 129 - Febrero de 2009

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Introdução

    O lazer, na Constituição da República Federativa do Brasil (BRASIL, 1988), é considerado um direito social de todo cidadão, assim como, a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados.

    Torna-se importante, então, pesquisar a atenção dada ao lazer pela educação escolar, a partir dos documentos que estabelecem as orientações, referenciais e parâmetros da educação básica brasileira.

    A educação básica, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional brasileira (BRASIL, 1996), é formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio.

    Assim, a partir da análise de documentos oficiais da educação básica brasileira, objetivou-se destacar os trechos que fazem referência ao lazer. A ênfase aos documentos específicos do componente curricular Educação Física, se justifica, por ser este, um dos responsáveis pelo desenvolvimento do tema na escola (MARCELLINO, 2007).

    Os documentos analisados foram os seguintes:

  • Referencial curricular nacional para a educação infantil – volume 3: conhecimento de mundo (BRASIL, 1998a);

  • Parâmetros curriculares nacionais: Educação Física – ensino de primeira à quarta série (BRASIL, 1997);

  • Parâmetros curriculares nacionais: Educação Física – ensino de quinta a oitava séries (BRASIL, 1998b);

  • Orientações curriculares para o ensino médio: volume 1 – Linguagens, códigos e suas tecnologias (BRASIL, 2006);

  • Proposta curricular do Estado de São Paulo: Educação Física (SÃO PAULO, 2008).

    A apresentação dos resultados obtidos, seguindo a seqüência acima, está dividida em cinco partes: 

  1. O lazer no Referencial curricular nacional para a educação infantil – volume 3: conhecimento de mundo, da Secretaria de Educação Fundamental (Ministério da Educação e do Desporto – Brasil); 

  2. O lazer nos Parâmetros curriculares nacionais: Educação Física – ensino de primeira à quarta série, da Secretaria de Educação Fundamental (Ministério da Educação e do Desporto – Brasil); 

  3. O lazer nos Parâmetros curriculares nacionais: Educação Física – ensino de quinta a oitava séries, da Secretaria de Educação Fundamental (Ministério da Educação e do Desporto – Brasil); 

  4. O lazer nas Orientações curriculares para o ensino médio: volume 1 – Linguagens, códigos e suas tecnologias, da Secretaria de Educação Básica (Ministério da Educação – Brasil);

  5. O lazer na Proposta curricular do Estado de São Paulo: Educação Física, da Secretaria de Educação (Estado de São Paulo – Brasil).

    Vale ressaltar que, a palavra lazer estará destacada, da seguinte forma: LAZER.

I.     O lazer no Referencial curricular nacional para a educação infantil – volume 3: conhecimento de mundo, da Secretaria de Educação Fundamental (Ministério da Educação e do Desporto – Brasil)

    “As práticas culturais predominantes e as possibilidades de exploração oferecidas pelo meio no qual a criança vive permitem que ela desenvolva capacidades e construa repertórios próprios. Por exemplo, uma criança criada num bairro em que o futebol é uma prática comum poderá interessar-se pelo esporte e aprender a jogar desde cedo. Uma criança que vive à beira de um rio utilizado, por exemplo, como forma de LAZER pela comunidade provavelmente aprenderá a nadar sem que seja preciso entrar numa escola de natação, como pode ser o caso de uma criança de ambiente urbano. Habilidades de subir em árvores, escalar alturas, pular distâncias, certamente serão mais fáceis para crianças criadas em locais próximos à natureza, ou que tenham acesso a parques ou praças” (BRASIL, 1998a, p. 24-25).

Orientações didáticas

    “O professor deve eleger temas que possibilitem tanto o conhecimento de hábitos e costumes socioculturais diversos quanto a articulação com aqueles que as crianças conhecem, como tipos de alimentação, vestimentas, músicas, jogos e brincadeiras, brinquedos, atividades de trabalho e LAZER etc. Assim, as crianças podem aprender a estabelecer relações entre o seu dia-a-dia e as vivências socioculturais, históricas e geográficas de outras pessoas, grupos ou gerações” (BRASIL, 1998a, p. 182).

II.     O lazer nos Parâmetros curriculares nacionais: Educação Física – ensino de primeira à quarta série, da Secretaria de Educação Fundamental (Ministério da Educação e do Desporto – Brasil).

Apresentação

    “O trabalho de Educação Física nas séries iniciais do ensino fundamental é importante, pois possibilita aos alunos terem, desde cedo, a oportunidade de desenvolver habilidades corporais e de participar de atividades culturais, como jogos, esportes, lutas, ginásticas e danças, com finalidades de LAZER, expressão de sentimentos, afetos e emoções” (BRASIL, 1997, p. 15).

A Educação Física como cultura corporal

    “Assim, a área de Educação Física hoje contempla múltiplos conhecimentos produzidos e usufruídos pela sociedade a respeito do corpo e do movimento. Entre eles, se consideram fundamentais as atividades culturais de movimento com finalidades de LAZER, expressão de sentimentos, afetos e emoções, e com possibilidades de promoção, recuperação e manutenção da saúde. Trata-se, então, de localizar em cada uma dessas manifestações (jogo, esporte, dança, ginástica e luta) seus benefícios fisiológicos e psicológicos e suas possibilidades de utilização como instrumentos de comunicação, expressão, LAZER e cultura, e formular a partir daí as propostas para a Educação Física escolar” (BRASIL, 1997, p. 23).

Cultura corporal e cidadania

    “O LAZER e a disponibilidade de espaços para atividades lúdicas e esportivas são necessidades básicas e, por isso, direitos do cidadão. Os alunos podem compreender que os esportes e as demais atividades corporais não devem ser privilégio apenas dos esportistas ou das pessoas em condições de pagar por academias e clubes. Dar valor a essas atividades e reivindicar o acesso a elas para todos é um posicionamento que pode ser adotado a partir dos conhecimentos adquiridos nas aulas de Educação Física” (BRASIL, 1997, p. 25).

Objetivos gerais de Educação Física no ensino fundamental

    “Espera-se que ao final do ensino fundamental os alunos sejam capazes de: • conhecer, organizar e interferir no espaço de forma autônoma, bem como reivindicar locais adequados para promover atividades corporais de LAZER, reconhecendo-as como uma necessidade básica do ser humano e um direito do cidadão” (BRASIL, 1997, p. 33).

Os conteúdos de Educação Física no ensino fundamental

    Critérios de seleção e organização dos conteúdos

    “Com a preocupação de garantir a coerência com a concepção exposta e de efetivar os objetivos, foram eleitos os seguintes critérios para a seleção dos conteúdos propostos: • Relevância social. Foram selecionadas práticas da cultura corporal que têm presença marcante na sociedade brasileira, cuja aprendizagem favorece a ampliação das capacidades de interação sociocultural, o usufruto das possibilidades de LAZER, a promoção e a manutenção da saúde pessoal e coletiva” (BRASIL, 1997, p. 35).

Conhecimentos sobre o corpo

    “Este bloco diz respeito aos conhecimentos e conquistas individuais que subsidiam as práticas corporais expressas nos outros dois blocos e dão recursos para o indivíduo gerenciar sua atividade corporal de forma autônoma. O corpo é compreendido como um organismo integrado e não como um amontoado de “partes” e “aparelhos”, como um corpo vivo, que interage com o meio físico e cultural, que sente dor, prazer, alegria, medo, etc. Para se conhecer o corpo abordam-se os conhecimentos anatômicos, fisiológicos, biomecânicos e bioquímicos que capacitam a análise crítica dos programas de atividade física e o estabelecimento de critérios para julgamento, escolha e realização que regulem as próprias atividades corporais saudáveis, seja no trabalho ou no LAZER. São tratados de maneira simplificada, abordando-se apenas os conhecimentos básicos. No ciclo final da escolaridade obrigatória, podem ser ampliados e aprofundados. É importante ressaltar que os conteúdos deste bloco estão contextualizados nas atividades corporais desenvolvidas” (BRASIL, 1997, p. 36).

Critérios de avaliação de Educação Física para o segundo ciclo

    “Valorizar e apreciar diversas manifestações da cultura corporal, identificando suas possibilidades de LAZER e aprendizagem. Pretende-se avaliar se o aluno reconhece que as formas de expressão de cada cultura são fontes de aprendizagem de diferentes tipos de movimento e expressão. Espera-se também que o aluno tenha uma postura receptiva, não discrimine produções culturais por quaisquer razões sociais, étnicas ou de gênero” (BRASIL, 1997, p. 55).

Apreciação/crítica

    “É possível que uma pessoa goste de praticar um ou outro esporte, fazer uma ou outra atividade física; entretanto, apreciar é algo que todos podem fazer e amplia as possibilidades de LAZER e diversão. A crítica está bastante vinculada à apreciação; entretanto, trata-se de uma avaliação mais voltada à questão da mídia” (BRASIL, 1997, p. 62).

    “Nesse sentido, o professor pode questionar a forma como os meios de comunicação apresentam padrões de beleza, saúde, estética, bem como aspectos éticos. Assim, pode, por exemplo, fazer leituras dos cadernos esportivos e discutir termos como “inimigos”, “guerra”, “batalha de morte”, que são empregados para descrever jogos entre dois times ou seleções e quais as implicações dessa utilização. Pode também pesquisar os tipos físicos em evidência nas propagandas, novelas, etc., e sua relação com o consumo de produtos e serviços” (BRASIL, 1997, p. 63).

III.     O lazer nos Parâmetros curriculares nacionais: Educação Física – ensino de quinta a oitava séries, da Secretaria de Educação Fundamental (Ministério da Educação e do Desporto – Brasil).

Apresentação

    “O trabalho de Educação Física nas séries finais do ensino fundamental é muito importante na medida em que possibilita aos alunos uma ampliação da visão sobre a cultura corporal de movimento, e, assim, viabiliza a autonomia para o desenvolvimento de uma prática pessoal e a capacidade para interferir na comunidade, seja na manutenção ou na construção de espaços de participação em atividades culturais, como jogos, esportes, lutas, ginásticas e danças, com finalidades de LAZER, expressão de sentimentos, afetos e emoções. Ressignificar esses elementos da cultura e construí-los coletivamente é uma proposta de participação constante e responsável na sociedade” (BRASIL, 1998b, p. 15).

Educação Física e a cultura corporal de movimento

    “Entre essas possibilidades e necessidades podem-se incluir motivos militares, relativos ao domínio e ao uso de espaço; motivos econômicos, que dizem respeito às tecnologias de caça, pesca e agricultura; motivos de saúde, pelas práticas compensatórias e profiláticas. Podem-se incluir, ainda, motivos religiosos, no que se referem aos rituais e festas; motivos artísticos, ligados à construção e à expressão de idéias e sentimentos; e por motivações lúdicas, relacionadas ao LAZER e ao divertimento. Algumas práticas com motivos de caráter utilitário relacionam-se mais diretamente à realidade objetiva com suas exigências de sobrevivência, adaptação ao meio, produção de bens, resolução de problemas e, nesse sentido, são conceitualmente mais próximas do trabalho. Outras, com motivos de caráter eminentemente subjetivo e simbólico, são realizadas com fim em si mesmas, por prazer e divertimento. Estão mais próximas do LAZER e da fantasia, embora suas origens, em muitos casos, estejam em práticas utilitárias. Por exemplo, a prática do remo, da caça e da pesca por LAZER e não por sobrevivência, o caminhar como passeio e o correr como competição e não como forma de locomoção. Assim, às atividades desse segundo agrupamento pode-se atribuir o conceito de atividade lúdica, de certo modo diferenciada do trabalho” (BRASIL, 1998b, p. 27-28).

    “Trata-se, portanto, de localizar em cada uma dessas modalidades (jogo, esporte, dança, ginástica e luta) seus benefícios humanos e suas possibilidades de utilização como instrumentos de comunicação, expressão de sentimentos e emoções, de LAZER e de manutenção e melhoria da saúde. E a partir deste recorte, formular as propostas de ensino e aprendizagem da Educação Física escolar” (BRASIL, 1998b, p. 29).

Educação Física e cidadania

    “O LAZER e a disponibilidade de espaços públicos para as práticas da cultura corporal de movimento são necessidades essenciais ao homem contemporâneo e, por isso, direitos do cidadão. Os alunos podem compreender que os esportes e as demais atividades corporais não devem ser privilégio apenas dos esportistas profissionais ou das pessoas em condições de pagar por academias e clubes. Dar valor a essas atividades e reivindicar o acesso a centros esportivos e de LAZER, e a programas de práticas corporais dirigidos à população em geral, é um posicionamento que pode ser adotado a partir dos conhecimentos adquiridos nas aulas de Educação Física. No âmbito da Educação Física, os conhecimentos construídos devem possibilitar a análise crítica dos valores sociais, como os padrões de beleza e saúde, desempenho, competição exacerbada, que se tornaram dominantes na sociedade, e do seu papel como instrumento de exclusão e discriminação social. A atuação dos meios de comunicação e da indústria do LAZER em produzir, transmitir e impor esses valores, ao adotar o esporte-espetáculo como produto de consumo, torna imprescindível a atuação da Educação Física escolar. Esta deve fornecer informações políticas, históricas e sociais que possibilitem a análise crítica da violência, dos interesses políticos e econômicos, do doping, dos sorteios e loterias, entre outros aspectos. O vínculo direto que a indústria cultural e do LAZER estabelece entre o acesso aos conhecimentos da cultura corporal de movimento e o consumo de produtos deve ser alvo de esclarecimento e reflexão” (BRASIL, 1998b, p. 30- 31).

Valores e conceitos

    “A prática de jogos, esportes, lutas, danças e ginásticas é considerada, no senso comum, como sinônimo de saúde. Essa relação direta de causa e efeito linear e incondicional é explorada e estimulada pela indústria cultural, do LAZER e da saúde ao reforçar conceitos e cultivar valores, no mínimo questionáveis, de dieta, forma física e modelos de corpo ideais. Atrelada a essas premissas inevitavelmente carregadas de valores ideológicos e a interesses econômicos, a prática da atividade física é vinculada diretamente ao consumo de bens e de serviços (equipamentos, academias, espaços de LAZER, complementos alimentares, prescrições de treinamento), citada como método infalível no combate ao uso abusivo de álcool, fumo e drogas, e como recurso de integração social do jovem e do adolescente” (BRASIL, 1998b, p. 36-37).

    “Além disso, deve-se ressaltar que grande parte das informações conceituais disponíveis no ambiente sociocultural relativas às práticas da cultura corporal de movimento dizem respeito ao exercício profissional dessas atividades, com enfoques e valores muitas vezes contraditórios que contribuem para a construção tanto de uma imagem distorcida do exercício profissional de esportes, lutas, danças e ginástica, como numa referência equivocada para o cotidiano do cidadão comum. Considerando a força que a cultura de massa consegue imprimir na constituição/geração de modelos de comportamentos e atitudes, resultam dessas distorções, por exemplo no plano institucional, a manipulação demagógica de poderes públicos, na prestação de serviços de LAZER e programas de atividade física, e o uso de instituições públicas de pesquisa na geração de tecnologia e conhecimento a serem utilizados pelo setor privado. No plano pessoal, da vida cotidiana do cidadão, abre-se um espaço que favorece os modismos, o consumismo exacerbado ou a impossibilidade de acesso, a anorexia entre adolescentes, a exclusão calcada em estereótipos e padrões corporais, no comércio clandestino de anabolizantes, entre outros. Nesse sentido, para além do suporte de informações de caráter científico e cultural, é responsabilidade da Educação Física escolar diversificar, desmistificar, contextualizar, e, principalmente, relativizar valores e conceitos da cultura corporal de movimento. Assim, o aprendizado das relações entre a prática de atividades corporais e a recuperação, manutenção e promoção da saúde deve incluir o sujeito e sua experiência pessoal ao considerar os benefícios, os riscos, as indicações e as contra-indicações das diferentes práticas da cultura corporal de movimento e as medidas de segurança no seu exercício. O cotidiano postural, o tipo de trabalho físico exercido, os hábitos de alimentação, sono, LAZER e interação social, o histórico pessoal de relações com as atividades corporais constituem um sujeito real que deve ser considerado na formulação de qualquer programa de saúde que envolva atividade física” (BRASIL, 1998b, p. 37-38).

Procedimentos

    “Principalmente nas zonas urbanas, as atuais condições socioeconômicas, como o desemprego crescente, a informatização e automatização do trabalho, a urbanização descontrolada e o consumismo, favorecem a formação de um ambiente em que o cidadão convive com a poluição, a violência, a deterioração dos espaços públicos de LAZER e a falta de tempo para a atividade física e convívio social. Esse contexto contribui para a geração de um estilo de vida caracterizado pelo sedentarismo, pelo estresse e pela alimentação inadequada, resultando num crescente aumento de mortes por doenças cardiovasculares. Essa situação, somada à falta de infra-estrutura pública para atividades corporais, transforma as horas diante da televisão em uma das poucas opções de LAZER para a maioria da população, especialmente para crianças e adolescentes, o que leva à diminuição da atividade motora, ao abandono da cultura de jogos infantis e à substituição da experiência de praticar atividades pela de assistir passivamente às práticas da cultura corporal de movimento” (BRASIL, 1998b, p. 38).

    “Na escola, a Educação Física pode fazer um trabalho de pesquisa e cultivo de brincadeiras, jogos, lutas e danças produzidos na cultura popular, que por diversas razões correm o risco de ser esquecidos ou marginalizados pela sociedade. Pesquisar informações sobre essas práticas na comunidade e incorporá-las ao cotidiano escolar, criando espaços de exercício, registro, divulgação e desenvolvimento dessas manifestações, possibilita ampliar o espectro de conhecimentos sobre a cultura corporal de movimento. Dessa forma, a construção de brinquedos, a prática de brincadeiras de rua dentro da escola, a inclusão de danças populares de forma sistemática - e não apenas eventual - nas festas e comemorações contribuem para a construção de efetivas opções de exercício de LAZER cultural e para o diálogo entre a produção cultural da comunidade e da escola. A intensa veiculação pela mídia e o caráter quase universal de determinadas modalidades esportivas, como o futebol, o vôlei, o basquete, o boxe e o atletismo, permitem a apreciação e a comparação de estilos e maneiras de praticá-las, relacionando-as a diversos grupos sociais e culturais. No caso da dança, é possível questionar as distorções decorrentes da massificação, da banalização e do caráter competitivo impostos pela indústria do LAZER e do turismo, em manifestações como o samba e a capoeira, por exemplo” (BRASIL, 1998b, p. 39).

Meio ambiente

    “Na sociedade contemporânea assiste-se ao cultivo de atividades corporais praticadas em ambientes abertos e próximos da natureza. São exemplos dessa valorização o surfe, o alpinismo, o bice-cross, o jet-ski, entre os esportes radicais; e o montanhismo, as caminhadas, o mergulho e a exploração de cavernas, entre as atividades de LAZER ecológico. Se por um lado é possível perceber nessas práticas uma busca de proximidade com o ambiente natural, também é necessário estar atento para as conseqüências da poluição sonora, visual e ambiental que essas atividades podem causar. As características básicas de algumas dessas modalidades, como o individualismo, a busca da emoção violenta (adrenalina), a necessidade de equipamentos sofisticados e caros, devem ser discutidas e compreendidas no contexto da indústria do LAZER. Ou seja, é ingênuo pensar que apenas a prática de atividades junto à natureza, por si só, é suficiente para a compreensão das questões ambientais emergentes. Embora possa existir, entre os adeptos dessas modalidades, o envolvimento com as questões ambientais, o que determinará o nível reflexivo sobre uma ou outra questão ambiental é a reflexão crítica e atenta realizada pelos praticantes de cada atividade” (BRASIL, 1998b, p. 40).

Para quem ensinar?

    “É interessante refletir e considerar a qualidade e a quantidade de experiências de aprendizagem oferecidas pela escola, em relação com o meio sociocultural vivido pelo aluno fora dela, no qual é bombardeado pela indústria de massa da cultura e do LAZER com falsas necessidades de consumo, carregado de mitos de saúde, desempenho e beleza, de informações pseudocientíficas e falácias. Em suma, uma sociedade que promete para muitos e viabiliza para poucos” (BRASIL, 1998b, p. 46).

O exercício de soluções por prazer funcional e de manutenção

    “É fundamental que no cotidiano escolar se garantam as condições para o usufruto dos conhecimentos resultantes dessas vivências, que se dê destino à produção dos alunos. Da valorização dessa utilização de conhecimentos, no plano pessoal e grupal, pode derivar a prática sistemática para a manutenção e a promoção da saúde, e como recurso para o uso do tempo disponível para o LAZER, tanto dentro como fora da escola” (BRASIL, 1998b, p. 51).

Curso noturno

    “A seleção dos conteúdos e a distribuição das atividades desenvolvidas pela área para o curso noturno, em função das características do curso e do grupo, devem receber uma atenção especial. Mais do que qualquer outro contexto, cabe em relação aos cursos noturnos um esforço para a otimização na transmissão dos conteúdos listados como relevantes. Cabe, no momento, uma reflexão sobre o papel social da Educação Física: • validar e instrumentalizar o LAZER, resgatando o prazer enquanto aspecto fundamental para a Saúde e melhoria da qualidade de vida;” (BRASIL, 1998b, p. 57).

Objetivos gerais para o ensino fundamental

    “Espera-se que, ao final do ensino fundamental, os alunos sejam capazes de: • conhecer, organizar e interferir no espaço de forma autônoma, bem como reivindicar locais adequados para promover atividades corporais de LAZER, reconhecendo-as como uma necessidade do ser humano e um direito do cidadão, em busca de uma melhor qualidade de vida” (BRASIL, 1998b, p. 63).

Educação Física para terceiro e quarto ciclos

           Critérios de seleção dos conteúdos

Relevância social

    “Foram selecionadas práticas da cultura corporal de movimento que têm presença marcante na sociedade brasileira, cuja aprendizagem favorece a ampliação das capacidades de interação sociocultural, o usufruto das possibilidades de LAZER, a promoção da saúde pessoal e coletiva” (BRASIL, 1998b, p. 67).

Atitudes: conhecimento sobre o corpo; esportes, jogos, lutas e ginásticas; atividades rítmicas e expressivas

    “Disposição para aplicar os conhecimento adquiridos e os recursos disponíveis na criação e adaptação de jogos, danças e brincadeiras, otimizando o tempo disponível para o LAZER” (BRASIL, 1998b, p. 75).

Diversidade

    “A cultura corporal de movimento se caracteriza, entre outras coisas, pela diversidade de práticas, manifestações e modalidades de cultivo. Trata-se de um espectro tão amplo e complexo, que é quase impossível sistematizá-lo conceitualmente de forma abrangente. De qualquer forma, é esse universo de informações que chega ao jovem e ao adolescente da mídia, de forma sedutora, fragmentada, manipulada por interesses econômicos e por valores ideológicos. Dessa realidade a Educação Física escolar não pode fugir nem alienar-se, pois é impossível negar a força que a indústria da cultura e do LAZER exerce na geração de comportamentos e atitudes” (BRASIL, 1998b, p. 83).

    “No entanto, a Educação Física e a escola de maneira geral não precisam confinar-se em seus muros. O diálogo permanente com a comunidade próxima pode ser cultivado franqueando espaço para o desenvolvimento de produções relativas ao LAZER, à expressão e à promoção da saúde, assim como ultrapassando os muros escolares na busca de informações e produções desta natureza. A escola pode buscar na comunidade pessoas e instituições que dominem conhecimentos relativos a práticas da cultura corporal e trazê-las para o seu interior. Academias de capoeira, escolas de samba, grupos de danças populares, sindicatos e associações de classe que cultivem práticas esportivas são freqüentados pelos próprios alunos e podem estabelecer um diálogo permanente com a instituição escolar” (BRASIL, 1998b, p. 84).

    “Ensinar e aprender a cultura corporal de movimento envolve a discussão permanente dos direitos e deveres do cidadão em relação às possibilidades de exercício do LAZER, da interação social e da promoção da saúde. Envolve, portanto, também o ensino de formas de organização para a reivindicação junto aos poderes públicos de equipamentos, espaços e infra-estrutura para a prática de atividades” (BRASIL, 1998b, p. 84).

Aprendizagem específica

    “Nos ciclos finais do ensino fundamental, vão se consolidando possibilidades e necessidades de aprendizagem cada vez mais específicas, em função de as condições cognitivas, afetivas e motoras dos alunos permitirem cada vez mais um distanciamento do próprio objeto de ensino. Ou seja, percebe-se com nitidez que, embora se trate de instrumentos para o LAZER e a recreação, as práticas da cultura corporal de movimento podem constituir-se em objetos de estudo e pesquisa sobre o homem e sua produção cultural. A aula de Educação Física, além de ser um momento de fruição corporal, pode se configurar num momento de reflexão sobre o corpo, a sociedade, a ética, a estética e as relações inter e intrapessoais” (BRASIL, 1998b, p. 86).

Objetivos para terceiro e quarto ciclos

    “Espera-se que ao final do quarto ciclo os alunos sejam capazes de: • conhecer, organizar e interferir no espaço de forma autônoma, bem como reivindicar locais adequados para promoção de atividades corporais e de LAZER, reconhecendo-as como uma necessidade do ser humano e um direito do cidadão em busca de uma melhor qualidade de vida” (BRASIL, 1998b, p. 90).

Atitudes: Conhecimento sobre o corpo; Esportes, jogos, lutas e ginásticas; Atividades rítmicas e expressivas

    “Valorização dos jogos recreativos e das danças populares como forma de LAZER e integração social. • Predisposição para aplicar os fundamentos adquiridos e os recursos disponíveis na criação e adaptação de jogos, danças e brincadeiras (mímicas e representações), otimizando o tempo de LAZER” (BRASIL, 1998b, p. 92).

Critérios de avaliação

    “Valorizar a cultura corporal de movimento. Pretende-se avaliar se o aluno conhece, aprecia e desfruta de algumas das diferentes manifestações da cultura corporal de movimento de seu ambiente e de outros, relacionando-as com o contexto em que são produzidas, e percebendo-as como recurso para a integração entre pessoas e entre diferentes grupos sociais. Se reconhece nas atividades corporais e de LAZER, uma necessidade do ser humano e um direito do cidadão” (BRASIL, 1998b, p. 102).

Orientações didáticas

Mídia, apreciação e crítica

    “É possível que uma pessoa goste de praticar um ou outro esporte, fazer uma ou outra atividade corporal. Entretanto, apreciar é algo que todos podem fazer e que amplia as possibilidades de LAZER e diversão” (BRASIL, 1998b, p. 104).

IV.     O lazer nas Orientações curriculares para o ensino médio: volume 1 – Linguagens, códigos e suas tecnologias, da Secretaria de Educação Básica (Ministério da Educação – Brasil).

1.     Sobre o aspecto legal

    “I - a Estética da Sensibilidade, que deverá substituir a da repetição e padronização, estimulando a criatividade, o espírito inventivo, a curiosidade pelo inusitado, e a afetividade, bem como facilitar a constituição de identidades capazes de suportar a inquietação, conviver com o incerto e o imprevisível, acolher e conviver com a diversidade, valorizar a qualidade, a delicadeza, a sutileza, as formas lúdicas e alegóricas de conhecer o mundo e fazer do LAZER, da sexualidade e da imaginação um exercício de liberdade responsável” (BRASIL, 2006, p. 215).

2.     Identidade: Educação Física como componente curricular

    “Os alunos, por sua vez, não deixaram de utilizar o tempo/espaço desse componente curricular de diversas maneiras, tais como: relaxamento das tarefas demandadas por outras disciplinas; tempo e espaço de encontro com os amigos; possibilidade de realização de suas práticas de LAZER; momento de ócio, etc.” (BRASIL, 2006, p. 217).

5.     O lugar da Educação Física nas escolas de ensino médio

    “Dessa forma, a Educação Física no currículo escolar do ensino médio deve garantir aos alunos: • participação efetiva no mundo do trabalho no que se refere à compreensão do papel do corpo no mundo da produção, no que tange ao controle sobre o próprio esforço e do direito ao repouso e ao LAZER;” (BRASIL, 2006, p. 225).

6.2.     Alguns temas para práticas corporais nas escolas de ensino médio

    “Temas específicos da Educação Física: Possibilidades de vivência crítica e emancipada do LAZER” (BRASIL, 2006, p. 228).

    “Os conteúdos Ginástica, Esporte, Jogos, Lutas e Dança como saberes construídos pela humanidade podem ser palco de abordagem dos mais diferentes temas: gênero, práticas corporais em espaços públicos, entre outros. Além disso, cada um desses conteúdos possui uma vinculação social com a realidade atual, tal como a vinculação do esporte à indústria cultural e à produção do espetáculo televisivo e venda de produtos. A dança, por sua vez, também possui vinculações étnicas, culturais e históricas, bem como relações de gênero a serem discutidas na escola” (BRASIL, 2006, p. 229).

V.     O lazer na Proposta curricular do Estado de São Paulo: Educação Física, da Secretaria de Educação (Estado de São Paulo – Brasil).

  • Proposta Curricular do Estado de São Paulo para a disciplina de Educação Física

  • Ensino Fundamental – Ciclo II e Ensino Médio

  • Concepção da disciplina: Educação Física – uma perspectiva cultural

    “A despeito disso, pequena proporção da população pratica esportes e exercícios físicos de modo sistemático. O estilo de vida gerado pelas novas condições socioeconômicas (urbanização descontrolada, consumismo, desemprego, informatização e automatização do trabalho, deterioração dos espaços públicos de LAZER, violência, poluição) favorece o sedentarismo e o recolhimento aos espaços privados (doméstico, por exemplo) ou semiprivados (shopping centers, por exemplo)” (SÃO PAULO, 2008, p. 41).

  • O trato com os conteúdos do Ensino Médio

    “LAZER e Trabalho: os conteúdos da Educação Física devem ser incorporados pelos alunos como possibilidades de LAZER em seu tempo escolar e posterior a ele, de modo autônomo e crítico; além disso, a Educação Física deve propiciar a compreensão da importância do controle sobre o próprio esforço físico e o direito ao repouso e LAZER no mundo do trabalho. Esses eixos temáticos permitem, por exemplo, o tratamento dos seguintes temas: preconceito racial nos esportes, discriminação contra pessoas com deficiências em atividades esportivas, o papel das mídias na construção de padrões de beleza corporal, os vários significados atribuídos ao corpo, relações entre exercício físico e saúde, o LAZER na vida cotidiana e muitos outros” (SÃO PAULO, 2008, p. 47).

  • 3a Série

  • 3º Bimestre

  • LAZER e trabalho

    “O LAZER como direito do cidadão e dever do Estado: – Possibilidades de LAZER na cultura de movimento; – O esporte como prática de LAZER nas dimensões estética (presencial e televisiva), comunitária e de entretenimento; – Fatores limitadores de acesso ao LAZER. – LAZER e ginástica nas empresas: benefícios e controvérsias” (SÃO PAULO, 2008, p. 59).

  • 3a Série

  • 4º Bimestre

  • LAZER e trabalho

    “Espaços, equipamentos e políticas públicas de LAZER: O LAZER na comunidade escolar e em seu entorno: espaços, tempos, interesses, necessidades e estratégias de intervenção” (SÃO PAULO, 2008, p. 60).

Referências

  • BRASIL. Presidência da República. Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 5 de outubro de 1988.

  • BRASIL. Presidência da República. Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial, Brasília, 23 dez. 1996.

  • BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Educação Física – ensino de primeira à quarta série. Brasília: MEC/SEF, 1997.

  • BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil – volume 3: conhecimento de mundo. Brasília: MEC/SEF, 1998a.

  • BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Educação Física – ensino de quinta a oitava séries. Brasília: MEC/SEF, 1998b.

  • BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Orientações curriculares para o ensino médio: volume 1 – Linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília: ME/SEB, 2006.

  • MARCELLINO, N.C. Lazer e educação. 12. ed. Campinas: Papirus, 2007.

  • SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Educação. Proposta curricular do Estado de São Paulo: Educação Física. São Paulo: SEE, 2008.

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revista digital · Año 13 · N° 129 | Buenos Aires, Febrero de 2009  
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