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A ordem dos exercícios físicos não interfere nos níveis 

de força de preensão manual de mulheres idosas

 

*Acadêmico da Escola Superior de Educação Física

**Docente da Escola Superior de Educação Física

Universidade Federal de Pelotas

(Brasil)

Anderson Leandro Peres Campos*

Marcelo Cozzensa da Silva** | Airton José Rombaldi**

Mariângela da Rosa Afonso**

alemaoatleta@yahoo.com.br

 

 

 

Resumo

          Estima-se que em 2025, 15% da população brasileira (34 milhões) estará com mais de 60 anos. Sabe-se que muitas alterações fisiológicas atribuídas ao envelhecimento são semelhantes àquelas induzidas pelo sedentarismo e, provavelmente, podem ser atenuadas ou até mesmo revertidas pelo exercício físico. Aos 65 anos de idade um idoso já perdeu, aproximadamente, 25% de força muscular. Nesse sentido, o Núcleo de Atividades da Terceira Idade (NATI), e o Laboratório de Bioquímica e Fisiologia do Exercício (LABFEX) objetivaram pesquisar o efeito da ordem de exercícios físicos nos níveis de força de preensão manual de mulheres idosas durante 12 semanas. Para isso utilizou-se uma combinação de exercícios físicos aeróbios e resistidos ministrados em três sessões semanais de uma hora e dez minutos cada. Vinte e seis sujeitos do sexo feminino compuseram a amostra e foram divididos em dois grupos de forma aleatória; o grupo A1 realizou exercícios aeróbios em primeiro lugar, seguido de exercícios resistidos e o grupo M1 recebeu as cargas na ordem contrária. Para a análise estatística utilizou-se os testes t pareado e não-pareado e foi aceito, como diferença estatística, valor de p<0,05. Após o termino do estudo não foram encontradas diferenças significativas entre pré- e pós-testes e entre os grupos, Nesse sentido, os resultados sugerem que não existe diferença significativa na ordem de realização das atividades aeróbias e de força em uma mesma sessão.

          Unitermos: Preensão manual. Força. Envelhecimento.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 129 - Febrero de 2009

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Introdução

    A qualidade de vida na terceira idade tem sido motivo de amplas discussões em todo o mundo, pois existe atualmente uma grande preocupação em preservar a saúde e o bem-estar global dessa parcela da população para que tenham um envelhecer com dignidade. Segundo Gonçalves (2001), em 2025, 15% da população brasileira (34 milhões) estará acima de 60 anos, sendo que nesse período haverá um aumento médio de 6,5% de idosos ao ano e, ao mesmo tempo, uma redução nos números absolutos de jovens entre 0 e 14 anos. O conceito de qualidade de vida é bastante complexo e envolve dimensões como bem-estar físico, familiar e emocional, habilidade funcional, espiritualidade, função social, sexualidade e função ocupacional, que quando integradas mantém o indivíduo em equilíbrio consigo mesmo e com o mundo ao seu redor (Chiba, 2002).

    Muitas alterações fisiológicas atribuídas ao envelhecimento são semelhantes àquelas induzidas pela inatividade imposta, e provavelmente podem ser atenuadas ou até mesmo revertidas pelo exercício físico (Guccione, 2002). Atualmente, não há dúvida dos benefícios trazidos pela prática regular de exercícios físicos à saúde dos idosos, bem como da importância da utilização de atividades aeróbias e resistidas em sua composição.

    Segundo Shephard (1998), a diminuição da capacidade vital e a perda das massas muscular e óssea são uma constante na vida dos idosos. Aos 65 anos de idade um idoso já perdeu, aproximadamente, 25% de força muscular. Com base nesta afirmação, verifica-se um aumento significativo no número de acidentes por quedas, por exemplo, sendo esses os responsáveis por grande parte das fraturas nessa faixa etária. Neste sentido a avaliação da força muscular torna-se indispensável. Os testes de força muscular realizados de forma subjetiva devem ser considerados de valor confiável para avaliar a função neural, embora dependam do comprometimento mínimo de 30% de fibras musculares (Duerksen & Virmond, 1997).

    A força muscular é um dos componentes fundamentais para a avaliação da forma física. A preensão manual pode ser considerada como um dos parâmetros do estado de força geral dos indivíduos. De forma geral, os idosos que apresentam força de preensão manual (FPM) reduzida são sedentários e possuem déficits de massa corporal, apresentam problemas de saúde e limitações funcionais em atividades que exigem a participação dos membros superiores e inferiores (Kuh et al., 2005). Há evidência que em idosos valores de FPM iguais ou inferiores a 20 kgf relacionam-se, de forma independente, com risco para dependência futura e baixos níveis de saúde (Jylhä et al., 2001). O teste de FPM tem sido utilizado de maneira sistemática anualmente desde 1964 no Japão (Teraoka,1979) .

    Nesse contexto, o objetivo do presente estudo foi analisar a importância da ordem dos exercícios físicos (aeróbicos e resistidos), durante 12 semanas com três sessões semanais de treinamento nos níveis de força de preensão manual de mulheres idosas.

Metodologia

    O estudo foi realizado nas dependências da Escola Superior de Educação Física da Universidade Federal de Pelotas, no período compreendido entre agosto e dezembro de 2007. Para participar do estudo as idosas não podiam ser fumantes ou apresentar qualquer tipo de doenças como artrose, artrite, hipertensão, doenças cardíacas, entre outras, condição que deveria ser comprovada por apresentação de atestado médico. As aulas foram ministradas no período da tarde entre às 14:00h e 16:30min, com um intervalo entre as aulas de no mínimo 24 horas para a recuperação, sempre acompanhadas por estagiários do curso de bacharelado em Educação Física supervisionados por um Professor da Faculdade.

    A amostra inicial foi composta por 30 idosos. Durante o processo ocorreram quatro perdas (uma por desistência e três por terem aderido a outras modalidades), ficando a amostra final com 26 idosos do sexo feminino, divididas aleatoriamente em dois grupos A1 e M1. O grupo A1 realizou 30 minutos de exercício aeróbio em bicicleta estacionária e logo em seguida uma série de musculação composta por oito exercícios (supino sentado, puxada por trás, extensão de joelho, flexão de joelho, rosca bíceps, rosca tríceps, flexão plantar, e abdominais); M1 realizou as atividades na ordem inversa. Para um melhor entendimento das participantes quanto a ordem de realização, foram adotadas fichas de cores diferentes para cada grupo, onde as fichas de cor branca identificavam as componentes do grupo M1 e as fichas rosa as do grupo A1.

    No início da pesquisa todos os componentes da amostra foram convidados a se deslocar até o Laboratório de Bioquímica e Fisiologia do Exercício (LABFex) onde foram realizados testes de força de preensão manual em dinamômetro (marca Jamar) com precisão de 2 Kgf. As idosas avaliadas foram colocadas em posição ortostática, segurando o dinamômetro na linha do antebraço, paralelo ao eixo longitudinal do corpo. A articulação inter-falangeana proximal da mão foi ajustada sob a alça que foi então comprimida entre os dedos e a região tenar. Durante a preensão o braço permaneceu imóvel havendo somente a flexão das articulações inter-falangeanas e metacarpo-falangeanas. Cada indivíduo realizou três tentativas (dois minutos de intervalo entre cada uma delas) assumindo-se a melhor marca alcançada como valor final.

    Foram também mensuradas as variáveis antropométricas: estatura (em cm, obtida pela utilização de um estadiômetro), massa corporal (em Kg, utilizando uma balança do tipo plataforma, da marca Fillizola), índice de massa corporal (IMC, em Kg/m2). Testes de força por repetição foram realizados em módulos de musculação para posterior montagem das séries a serem executadas. Para prescrição da atividade aeróbia foi utilizada a Escala de Esforço Percebido de Borg.

    Após o término das avaliações, foi realizado um período de adaptação com duração de duas semanas para uma melhor familiarização das idosas a ordem e realização dos exercícios. Posteriormente, deu-se início ao programa. A duração das aulas era de uma hora e dez minutos, sendo uma hora destinada aos trabalhos aeróbios e de musculação e os cinco minutos iniciais e finais destinados, respectivamente, ao aquecimento e volta à calma. A atividade em bicicleta estacionária foi realizada com intensidade baseada em Borg (entre os valores 13 e 15 da escala). O trabalho com pesos utilizou, na primeira metade do programa, cargas equivalentes a 50% do teste de carga e, nas últimas seis semanas, 65% da carga. Foram realizadas duas séries de 20 repetições para cada exercício, exceto abdominais (duas séries de 50). Para um melhor acompanhamento dos intervalos, que tinham duração de aproximadamente 60 segundos, as atividades foram realizadas em duplas, de maneira que um realizava o exercício e o outro descansava. A pesquisa teve duração de 12 semanas com três aulas semanais, inclusive nos feriados, onde ficou estabelecido um limite máximo de três faltas para permanência no programa. Ao término das 12 semanas de estudo os indivíduos foram chamados novamente ao LABFex para a realização dos mesmos testes realizados inicialmente.

    A caracterização das variáveis envolvidas no estudo foi realizada através de estatística descritiva, utilizando as medidas de média com seus respectivos desvios padrão (dp). Para a verificação do desfecho em relação as variáveis independentes, utilizou-se teste T pareado e não pareado. Foi aceito como diferença estatística valores p<0,05.

Resultados

    Foram analisados 26 indivíduos idosos do sexo feminino (11 no grupo A1 e 15 no grupo M1), com idade mínima de 50 anos. Não houve diferença estatística entre os grupos nas variáveis idade (p = 0,8), peso (p = 0,1), estatura (p = 0,6) e índice de massa corporal (IMC) (p = 0,08) [Tabela 1].

Tabela 1. Características da amostra

 

Peso (Kg)

Estatura (cm)

Idade (anos)

IMC (Kg/m2)

M1 (n = 15)

71,2±10,0

155,0±0,0

64,2±5,7

29,8±3,7

A1 (n = 11)

65,2±10,9

157,0±0,1

64,9±8,1

26,7±4,8

    Em relação as medidas de força de preensão manual foram obtidos os resultados indicados na Tabela 2, os quais demonstraram não haver diferença estatística entre o pré-teste e o pós-teste de cada grupo, assim como entre os resultados obtidos no pós-teste dos grupo M1 e A1.

Tabela 2. Média da força de preensão manual de idosas

Grupos

Pré-teste (Kgf)

Pós-teste (Kgf)

M1 (n = 15)

23,9± 6,2

26,1± 5,9 #

A1 (n = 11)

25,8± 6,8

28,9±10,8* #

* valor p = 0,4 - diferença entre o pós-teste de cada grupo

# valor p = 0,4 - diferença entre pré- e pós-testes nos grupos M1 e A1.

Discussão

    A dinamometria manual é uma medida de realização simples, facilmente administrada em idosos, de custo acessível, sendo um bom preditor da função músculo-esquelética corporal e de riscos de incapacidade futura (Vaz et al., 2002; Giampaoli et al., 1999). O mecanismo pelo qual a medida de força muscular provê informação sobre incapacidade em idosos ainda é incerta. Uma redução progressiva na massa e na força muscular é observada com o aumento da idade, fenômeno chamado sarcopenia, o qual pode explicar a deteriorização da função física com a idade (Dutta & Hadley, 1995).

    O teste de preensão manual não é uma medida pura de força corporal. Indivíduos com desordens articulares nas mãos podem sentir dor durante o teste e, em conseqüência, parar de pressionar o dinamômetro. Problemas cognitivos e neuropatia diabética também podem reduzir a força de preensão. Apesar disso, Giampaoli et al. (1999), não encontraram associação entre essas variáveis e as medidas de preensão.

    Estudo realizado por Rebelato et al. (2007), com 61 idosos institucionalizados, avaliados quanto a FPM e entrevistados quanto a eventos de queda, verificou que 54,1% haviam sofrido pelo menos uma queda no último ano, sendo que, a maioria desses, apresentaram um escore de FPM entre 11 e 20 Kgf contra um escore de 21 a 30 Kgf dos que não sofreram quedas. Os indivíduos que sofreram quedas tiveram índices de força significativamente menores quando comparados àqueles que não caíram. A deficiência de força muscular, então, parece ser o maior determinante para a incidência de quedas (Rebelato et al., 2007).

    Em nosso estudo, ao compararmos os resultados obtidos para FPM, levando em consideração somente a mão dominante, verificamos que não houve diferença entre os grupos, apesar de ambos terem obtido ganhos na mesma. Godoy et al. (2004) e Moreira et al. (2004), mencionam que a FPM fornece um índice objetivo de integridade funcional dos membros superiores e que está se tornando uma prática bastante comum na medicina e na reabilitação. Alguns autores que vêm utilizando a FPM para inferir sobre a força corporal total, também identificaram sua correlação com o índice de quedas (Rekeneire et al., 2003, Ueno et al., 2006).

    Shechtman et al. (2004), analisaram a FPM de 832 indivíduos com mais de 60 anos e observaram que a idade e sexo não são os únicos determinantes em idosos com dificuldade de realização de pelo menos uma das atividades da vida diária - AVD. Fatores como dificuldades motoras, cognitivas e incapacidades leves podem levar, também, a incapacidade para a realização de atividades diárias. Onder et al. (2005), citam que a força muscular, bem como as limitações funcionais dos membros superiores e inferiores, sofrem declínios diferenciados com o passar do tempo.

    Morais et al. (2004), ao estudarem mulheres idosas submetidas a um programa de treinamento de força com intensidade progressiva, encontraram aumentos significativos na FPM quando comparados os momentos de pré- (55,7 ± 11,7 Kg) e pós-teste (61,4 ± 11,7 Kg). O trabalho de treinamento com pesos pode retardar e até inverter a perda de força relacionada ao aumento da idade, permitindo que esses indivíduos consigam realizar suas atividades de trabalho e lazer com independência.

Conclusão

    Os resultados sugerem que a ordem de realização dos exercícios físicos (aeróbio e de força), em uma mesma sessão, não interferem nos níveis de força de preensão manual de mulheres idosas. Ressaltamos que os resultados devem ser interpretados com cautela, levando em consideração a prescrição de volume e intensidade empregada no treinamento e a faixa etária a qual foi avaliada.

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