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Identidade cultural e oralidade histórica do curso de 

Educação Física da Universidade Católica de Brasília, Brasil

 

*Doutor em Ciências da Religião

Professor no Programa de Pós-Graduação (Mestrado) em Gerontologia da

Universidade Católica de Brasília (UCB).

**Mestre em História Política do Brasil.

Professora da Universidade Católica de Brasília – UCBVirtual

Pesquisadora da Memória e História UCB.

***Doutora em Teleinformática e Educação a Distância

Professora nos cursos de Comunicação Social e Letras da

Universidade Católica de Brasília.

****Doutora em História pela Universidade de Brasília (UnB)

Diretora do curso de Relações Internacionais da UCB.

Vicente Paulo Alves

vicente@ucb.br

Maria Carmem Côrtes Magalhães

mcarmem@ucb.br

Sheila da Costa Oliveira

scosta25@gmail.com

Tania Maria Pechir Gomes Manzur

taniam@ucb.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          A história do curso de Educação Física da Universidade Católica de Brasília acompanhou de forma dinâmica o nascimento e a evolução da própria universidade ao longo dos últimos 34 anos de existência. Percebe-se que pela liderança de seus diretores e professores, a Educação Física se firmou no país como uma área de conhecimento científico e de profissionalização, com o reconhecimento da sociedade brasileira do seu pioneirismo e qualidade dos profissionais formados dentro de padrões internacionais.

          Unitermos: História da Educação Física no Brasil. Identidade cultural. História oral.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 129 - Febrero de 2009

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Introdução

    A Universidade Católica de Brasília (UCB) nasceu do sonho e da inspiração de um grupo de pessoas, que movido pelo espírito ecumênico criaram a União Brasiliense de Educação e Cultura (UBEC), entidade civil mantenedora da referida universidade. Diretores de colégios católicos de Brasília, interessados e pertencentes a tradicionais congregações religiosas, reuniam-se para conversar e concretizar seus sonhos. Eles representavam dez províncias religiosas que somavam forças e experiências, realizando uma obra inédita no mundo: a de construir, em Brasília, uma instituição de ensino superior, católica, particular e de qualidade. A primeira unidade de ensino da Universidade Católica de Brasília foi a Faculdade Católica de Ciências Humanas-FCCH que iniciou suas atividades em 1974, com os seus primeiros três cursos – Administração, Economia e Pedagogia. Nesse momento, no Distrito Federal, a história da Educação Física também se organizava e muito se deve à Faculdade Dom Bosco de Educação Física – FDBEF, dos religiosos salesianos, vinculada à Inspetoria São João Bosco, segunda instituição a implantar um Curso de Educação Física na Região. Sua aula inaugural aconteceu no dia 16 de agosto de 1976, no Auditório do Colégio Maria Auxiliadora.

    Considerando que a “história” é a própria realização humana (a vivência, a vida vivida, o cotidiano) e entendendo que é também uma produção de conhecimentos que compreende narração, interpretação, representação e demais construções de saberes sobre a realidade material, a realidade simbólica e a realidade imaginária, a história da UCB e seu Curso de Educação Física conquistaram o seu lugar, geográfica e culturalmente, na capital do Brasil, Brasília. Lembramo-nos de Walter Benjamin, (1993: 233) quando diz que “(...) o cronista que narra os acontecimentos, sem distinguir entre os grandes e os pequenos, leva em conta a verdade de que nada do que um dia aconteceu pode ser considerado perdido para a história (...)”. Na construção dessa história institucional estavam juntos professores, irmãos e padres salesianos que se sustentavam na mentalidade educativa do fundador da Congregação Salesiana, do século XIX, São João Bosco

    Concordamos com Michel de Certau (1982: 119) ao expressar que “(...) escrever história é gerar um passado, circunscrevê-lo, organizar o material heterogêneo dos fatos, para construir, no presente, uma razão (...). É necessário lembrar que uma leitura do passado, por mais controlada que seja pela análise dos documentos, é sempre dirigida por uma leitura do presente (...)”. A “escrita da história”, pois, é o conhecimento se manifestando diante de qualquer realidade vivida pelo homem no tempo e espaço. Ao escrever a história da Universidade Católica de Brasília, dos cursos que a compõem, das pessoas que a instituíram e a fazem crescer nos faz acreditar que estamos preservando suas memórias, a partir do olhar da história como “um campo de possibilidades”. Queremos dizer que “(...) a explicação histórica não revela como a história deveria ter se processado, mas porque se processou dessa maneira, e não de outra; que o processo não é arbitrário, mas tem sua própria regularidade e racionalidade; que certos tipos de acontecimentos (políticos, econômicos, culturais) relacionaram-se, não de qualquer maneira que nos fosse agradável, mas de maneiras particulares e dentro de determinados campos de possibilidades; que certas formações sociais não obedecem a uma “lei”, nem são os “efeitos” de um teorema estrutural estático, mas se caracterizam por determinadas relações e por uma lógica particular de processo (...)”. (Thompson, 1981: 61). Dessa forma, a escrita da história desta Universidade passa pela história de todos os seus cursos, dentre eles, do curso de Educação Física, pois todos estão intimamente unidos, na própria significação do que seja uma Universidade.

    Para garantir que a história dessa instituição agregue, também, as histórias dos sujeitos que as compõem, foi criado o projeto Memória e História UBEC-UCB, que procura investigar as instituições “União Brasiliense de Educação e Cultura” (UBEC) e “Universidade Católica de Brasília” (UCB), como centros culturais criadores de identidades individuais e coletivas, contexto no qual a oralidade desempenha um papel fundamental. Tais organizações são centros de geração, de expressão e de difusão de cultura que possuem bases teóricas na história oral e na história organizacional, e por isso mantêm uma base de pesquisa documental impressa e também de depoimentos orais, os quais se complementam. Escrever essa história é encontrar os vestígios que marcaram o cotidiano e os momentos de ação dos sujeitos que, do plano do ideal, saíram em campo aberto para a concretização do real, já que ideal e real são faces de uma mesma moeda. É também proceder à reconstrução da mentalidade acadêmica inscrita nas mais diferentes expressões de linguagem falada, escrita e através de imagens significadas em áudio, vídeos, fotografias e demais recursos da tecnologia de comunicação. Essa argumentação nos remete também á investigação histórica do Curso de Educação Física na UCB, pois a Faculdade Dom Bosco, antes ligada apenas aos salesianos, passou, mais tarde, a ter ligação com a União Brasiliense de Educação e Cultura-UBEC, uma Instituição Mantenedora criada em 1972 e que os Irmãos Salesianos era um dos sócios fundadores que, logo de início, tinha por objetivo criar uma Universidade Católica, em Brasília. A Educação Física era uma Faculdade que poderia ser vinculada a essa futura Universidade.

Metodologia

    O trabalho inicial consiste numa ampla coleta, compilação e sistematização de informações contidas nos diversos documentos dos vários setores da Universidade e da UBEC, especialmente do curso de Educação Física. Com isso, queremos mostrar a dialética entre a mentalidade dos sujeitos históricos e os registros que se fizeram necessários para a viabilização institucional desses estabelecimentos de ensino. Para melhor reforçar nossa idéia, recorremos a Laville & Dionne (1999) quando tratam das fontes impressas, nas quais se distinguem vários tipos de documentos, desde as publicações de organismos que definem orientações, enunciam políticas, expõem projetos, prestam conta de realizações, até documentos pessoais, diários íntimos, correspondências e outros escritos em que as pessoas contam suas experiências, descrevem suas emoções, expressam as percepções que têm de si mesmas, passando por diversos tipos de dossiês que se apresentam dados sobre a educação, a justiça, as relações de trabalho, as condições de trabalho, as condições econômicas etc., sem esquecer os artigos de jornais e periódicos nem as diversas publicações científicas: revistas, atas de congressos e colóquios.

    O método histórico dialético é uma proposição que trabalha com a vertente documental e de oralidade, realizando uma recuperação de registros cartoriais, ofícios, relatórios, pareceres, correspondências, convênios, inquéritos, dossiês, portarias, resoluções, instruções, projetos, propostas de criação de cursos, estatutos, programas, atas, planos de aplicação, circulares, produções em áudio, vídeos, periódicos, eventos, solenidades, visitas internas e externas, etc. e mais todo o seu “devir” no contexto social, político e econômico da realidade brasileira. Concomitante à pesquisa documental, vamos proceder às entrevistas de pessoas-chave para a implantação, estruturação e desenvolvimento da UCB e da UBEC ao longo do tempo. O método da história oral, sustentado em entrevistas e registros de encontros pessoais, pode reforçar a base documental recolhida e estabelecer confrontos. Além desta, pode-se valorizar também a vertente mentalidade/cultura/sociedade ou a percepção da projeção das instituições pesquisadas no cômputo da realidade cultural brasileira.Assim fazendo, existem chances maiores de que “(...) Essas manifestações tornam-se objeto do historiador através de vestígios e registros que aparecem também sob as mais variadas formas como escritos, objetos, palavras música, literatura, pintura, arquitetura, fotografia.” (Khoury et. AL.1999: 12). O que estamos dizendo é que o processo de construção histórica se faz em meio à vida vivida das pessoas. Um complexo de vias e desvios que se conjugam e que se entrecruzam formando encruzilhadas para novos caminhos. O homem faz e desfaz, cabendo ao homem-historiador a arte de garimpar e utilizar todas as preciosidades, mesmo aquelas que parecem nada representar.

    Pode-se ter uma amostra do que é possível fazer a partir da oralidade dos sujeitos, após a coleta, transcrição, consolidação e interpretação das falas pelos historiadores executores do Projeto Memória e História UBEC/UCB. É o exemplo da narração da criação do Curso de Educação Física da UCB. A narrativa que se segue, construída de acordo com a metodologia aqui descrita, foi composta a partir de depoimentos orais dos professores Mileno Tonisse e José Teixeira Costa Nazareth, ambos envolvidos no processo de criação desse curso no contexto das FICB. Suas entrevistas foram realizadas em separado e compiladas em uma única narrativa que agrega os dois olhares, utilizando-se as visões de ambos no desenho de um único cenário.

A história do curso de Educação Física da UCB

    A história da formação superior em Educação Física no Brasil é relativamente recente. Iniciada na década de 1940, conta pouco mais de 60 anos de implantação. Nas quatro primeiras décadas do século XX, a formação dos profissionais de Educação Física ocorreu em colégios e instituições militares. A criação dos primeiros cursos no início dos anos 40, sob a égide da política nacionalista reinante, teve como principal incentivo, mesmo em instituições de natureza civil, a crença nas atividades motoras como meio de aprimoramento da raça, na perspectiva de formação da “juventude brasileira”. Essa motivação, própria do ideário político-ideológico reinante na sociedade da época, refletiu-se, decisivamente, nas Faculdades de Educação Física criada nessa época, e, conseqüentemente, na formação dos profissionais daquele período.

    Nesse contexto, a Educação Física, sob o viés do aprimoramento das condições físicas da juventude, orientou-se na perspectiva da “aptidão física” e do rendimento desportivo, assumidos como paradigmas vigentes para a área, durante o longo período da sua implantação no mundo acadêmico e escolar. Até pouco tempo, como expressão do contexto em que foi criado, o curso manteve como concepção de estrutura curricular o entendimento de que a Educação Física deveria priorizar a dimensão técnico-desportiva e, conseqüentemente, seus profissionais eram conhecidos como técnicos esportivos e limitavam suas atuações profissionais a essas atividades.

    Quem esteve presente na organização da Faculdade Dom Bosco do Distrito Federal foram o Professor Mileno Tonisse e o grupo dos religiosos salesianos, do Colégio Dom Bosco. A mentalidade que permearia a Faculdade era a dos princípios salesianos. O trabalho principal de Dom Bosco na educação foi com jovens e, primeiramente, com os jovens pobres. Devido às características biopsicossociais da juventude, em especial as ligadas à corporalidade e à formação de grupos, é parte das crenças gerais de que essa disciplina, a Educação Física, é a que mais se aproxima dos jovens, que mais tem relação com eles e que permite intervenções melhores junto a eles. Para o educador, os jogos e exercícios físicos seriam uma maneira de se ter ascendência maior sobre o jovem, de influenciar, portanto, de uma maneira positiva, na sua educação. Essa mentalidade era resultado da própria missão Salesiana, e refletiu-se de maneira direta na escolha da implantação desse curso, no início de Brasília. Essa é uma fala manifesta na oralidade do Profº Nazareth que foi Diretor dessa instituição.

    A Faculdade funcionava no horário noturno, um modo de atender trabalhadores que tinham seus empregos e ocupações o dia inteiro e que à noite estudavam, fazendo o curso de Educação Física. Semestralmente, eram oferecidas cem vagas com mensalidade razoavelmente barata, porque os custos não eram (e nem poderiam ser) elevados, para atender os alunos de todas as classes sociais.

    A projeção do Curso de Educação Física Dom Bosco no contexto dos cursos superiores, em Brasília, adquiriu um excelente nome. Não se pode falar em Educação Física, nesta cidade, sem falar da Faculdade Dom Bosco, porque muitos professores que, hoje, atuam no mercado, nas academias, nas escolas e consultórios ou como personal trainners tiveram suas bases ou foram formados pela Faculdade Bom Bosco de Educação Física. Se hoje a Educação Física compõe a área de saúde com os outros cursos da UCB e tem um nome garantido nacional e internacionalmente, é porque trouxe todo um patrimônio, toda uma cultura, adquirida antes da expansão da Universidade. Essa faculdade foi e é, realmente, um nome representativo na história educacional de Brasília.

    Dessa forma, em 1994, a FBDEF mudou-se para o Campus da Católica, em Taguatinga, incorporando-se às Faculdades Integradas Católica de Brasília - FICB que, para se transformarem em Universidade, teriam que oferecer cursos na Área de Saúde. Portanto, o Curso de Educação Física, como primeiro nessa área, contribuiu decisivamente para o reconhecimento da Universidade Católica de Brasília - UCB. Quando o interesse de incorporação se efetivou, um complexo físico próprio e moderno foi construído para que os alunos e professores, que atuavam no Plano Piloto de Brasília, passassem a estudar e pesquisar no Campus da nova Universidade.

    A princípio, os diretores do Colégio Dom Bosco eram os mesmos diretores da FBDEF porque a Faculdade e o Colégio faziam parte do mesmo prédio. Mais tarde, essas direções separaram-se e o primeiro diretor foi o Padre Raimundo, Diretor do Colégio; depois, o Padre Gervásio; logo após, o Padre Cabral, o antecessor do Padre José Teixeira da Costa Nazareth, hoje Profº Nazareth, cuja diretoria começou em 1989 e terminou no início de 1995, quando ele assumiu a Secretaria Geral da UCB. E o professor Mileno Tonisse, que estava junto com o Profº Nazareth, durante toda a sua gestão, de 1989 a 1995, foi o indicado para ser o diretor imediato, trabalhando muito, com quase todas as implicações do “corpo” do Colégio Dom Bosco. Seu histórico de eficiente coordenador, naturalmente, levou a sua indicação para a Direção da Faculdade de Educação Física, agora ligada á UCB.

    A transferência da Faculdade Dom Bosco para o campus de Taguatinga foi (...)(um processo um pouco delicado, já que os alunos que estavam matriculados na Asa Sul de Brasília tinham o direito de fazer o curso no mesmo local porque prestaram o vestibular para lá. E, quando aconteceu a transferência, a UCB, então, colocou à disposição dos alunos, ônibus gratuitos, para transportá-los da Asa Sul até Taguatinga e vice-versa, quando as aulas terminavam. A diferença para eles era somente a viagem: 30 km de um local ao outro, e, mesmo que, aparentemente, constituísse um incômodo, o número de alunos não caiu e não houve desistências por conta desse motivo. Esse deslocamento funcionou por três anos, até que os vestibulares começassem a se realizar com a Faculdade em seu novo endereço, em Taguatinga Sul, e já com um novo currículo.1 A mudança acabou ocorrendo de forma natural, visto que a resistência inicial, apresentada pelos alunos, foi eliminada assim que os mesmos conheceram a excelência das novas instalações, bem como tomaram ciência da criação da Universidade Católica de Brasília - UCB.

    A primeira mudança da estrutura curricular do curso aconteceu em 1995, por meio do parecer nº 95 do Conselho Universitário – CONSUN, para se adequar à Resolução 03/87 do Conselho Federal de Educação que defendia, entre outras, duas características de importância fundamental para a formação do professor: a formação geral (humanística e técnica) e o aprofundamento de conhecimentos. A segunda alteração da matriz curricular do curso ocorreu em 1997 por meio do parecer 22/97 de 13/10/97 do CONSUN, para atender desdobramentos da Lei Nº 9394/96. Em 1998, uma modificação regimental extinguiu as Faculdades e instituiu os cursos de graduação, passando a Faculdade Dom Bosco de Educação Física a ter a denominação de Curso de Educação Física das Faculdades Integradas de Brasília. Pela Resolução CONSUN, nº 06/98, de 27/11/1998 ocorreu a autorização e o Mestrado em Educação Física da UCB veio preencher uma lacuna existente nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste, nas quais a existência de poucos programas de Pós-Graduação enfraquece as possibildades de desenvolvimento científico nessas regiões. Assim, em relação à área de Educação Física, a UCB foi pioneira e no ano de 1999 dava-se início ao que foi denominado como Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu, que se submeteu à avaliação da CAPES e a proposta foi aprovada com Conceito 3, em dezembro de 2002.2 No ano de 2004 foi reavaliado, recebendo Conceito 4.

    Até 2005, a UCB oferecia o curso de licenciatura com formação ampliada que habilitava, em um só curso, profissionais para a área escolar e para não-escolar, ou seja, formando profissionais para as várias atividades humanas, ligadas à saúde. Com o advento das normatizações, decorrentes da Lei 9394/94, notadamente as resoluções CNE 1/2002 e CNE/CES 7/2004 que instituíram Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica e para os Cursos de Graduação em Educação Física, respectivamente, o Curso de Educação Física da UCB, preocupado em manter-se atualizado quanto às determinações legais e exigências sociais, mais uma vez se viu diante da necessidade de se ajustar a essa nova realidade, passando a oferecer duas formações em separado: o curso de licenciatura e o curso de graduação. Nesse sentido, considerando esses aspectos de transformação e ampliação das perspectivas do Curso e para dar seqüência às atividades iniciadas em nível de Mestrado e para completar o ciclo do que se intitulou Programa de Pós-Graduação em Educação Física da Universidade Católica de Brasília tiveram início, também as atividades do Doutorado em Educação Física, de acordo com a Resolução CONSEPE nº 18/2005, de 23/06/2005 . A proposta do Doutorado, após Avaliação da CAPES, no segundo semestre de 2005, recebeu o Conceito 4. O Programa se constituiu em torno da área de concentração Atividade Física e Saúde a (...) coluna dorsal da estrutura curricular em torno de um eixo epistemológico e teórico-metodológico bem definido de onde se origina a investigação de aspectos relacionados à atividade física e saúde, tornando-se a principal fonte na qual são geradas as linhas de pesquisa responsáveis pelo direcionamento de estudos e investigações científicas. Os estudos têm uma diversificação intra e interdisciplinar e, assim, a fonte e o produto são plurais, mas o foco irradiador que os orienta detém sua fundamentação no eixo epistemológico que prioriza estudos sobre os Aspectos biológicos relacionados a atividade física e saúde, sobre os Aspectos socioculturais da atividade física relacionadas a saúde e sobre o Exercício físico, reabilitação e doenças crônico degenerativas.3

    De acordo com o o contexto social e a própria realidade institucional da UCB, diante da evolução científica e metodológica por que passa a Educação Física, a demanda social e o processo de avaliação, toda uma conjuntura muito complexa indicou a necessidade de nova revisão do Projeto Pedagógico do Curso de Educação Física da UCB, no sentido de adequá-lo às novas exigências, tornando-o mais harmônico, interativo e adequado à realidade de uma Universidade moderna, dinâmica e comprometida com a preparação de um profissional que responda às exigências sociais de uma profissão que, pelo seu dinamismo e amplitude, se confronta com a necessidade de constantes e permanentes adequações. Em 2007, uma nova diretoria assumiu o Curso de Educação Física da UCB e o Diretor Prof. Dr. Francisco Martins da Silva vem reforçando a Educação Física como ciência, possibilitando ao formando estar apto para atuar em escolas de Ensino Fundamental e Médio ou instituições similares – academias, acampamentos, clubes sociais/esportivo-recreativos, condomínios, laboratórios de pesquisa, centros/comunitários, empresas, hotéis, praias e institutos de reabilitação.4

Considerações finais

    É muito importante ressaltar que há uma correlação entre a cultura, a identidade organizacional e as mentalidades dominantes no contexto onde os “fatos históricos acontecem”. Correlação que se manifesta, a um só tempo, como perspectiva, já que identidade,cultura e mentalidade, conquanto tenham bases mais ou menos permanentes, modificam-se constantemente, sob as múltiplas influências internas e externas; e também como desafio, pois encontrar os limites entre elas é lançar-se, por assim dizer, em “zona escura”, já que a história se faz no processo interativo complexo entre causas e efeitos, como geradores e gerados se si mesmos e de uns para os outros (Morin, 2003). Tais desafios fazem parte da experiência de pesquisa multidisciplinar, e a execução desse trabalho, que é o próprio desenrolar do Projeto Memória e História UBEC/UCB, obedecerá a uma postura dinâmica e aberta, de maneira a tornar a sua prática uma realidade viva, à medida que as conquistas se fizerem presentes e o próprio trabalho abrir condições para novos e imediatos comportamentos, pois o resultado se faz, antes de tudo, na própria praxis.

    Ao par desses desafios existe outro, paralelo e diretamente ligado aos sujeitos (atuais e futuros) escreventes dessa história institucional: o de observar e documentar um contexto no qual estão imersos, convivendo sincronamente com muitos dos sujeitos pesquisados e com os fatos por eles gerados, tal como aconteceu com as entrevistas orais feitas com os professores Mileno Tonisse e José Teixeira Costa Nazareth, pessoas de convivência passada e presente dos historiadores envolvidos na coleta e da consolidação do material oral. Ser, a um só tempo, observador e observado, sujeito histórico e relator da história coloca o historiador em confronto permanente com suas próprias crenças, atitudes, contradições, presentes em toda construção humana (Amorim, 2001). Para vencer os impedimentos característicos desse paradoxo, apenas um olhar dialógico e multidisciplinar pode contribuir, pois, pelo cotejamento das diferentes percepções dos profissionais envolvidos na pesquisa, pode-se garantir em níveis aceitáveis a isenção pessoal que possibilita o exame e o registro científico das situações, fatos e personagens que constroem uma instituição. A construção/sustentação da visão de futuro que a pesquisa se propõe a propiciar sofre a influência direta dessas observações implicadas, as quais precisam, por sua vez, sofrer a reflexão constante para serem validadas ao longo do processo de coleta, consolidação e análise dos dados e informações.

    Por fim, os pesquisadores esperam que as ações desenvolvidas durante o período de pesquisa contribuam para criar uma base conceitual e procedimental de reconhecimento e respeito às questões da memória e da história institucionais, de maneira que esse trabalho de preservação documental se torne sistemático, visível a todos os colaboradores de ambas as instituições, e estabelecido como meta permanente para todos os setores. Dessa forma, espera-se que a base documental da memória e história UBEC-UCB se torne cada vez mais sólida e consistente, e que possa ser utilizada em ações reflexivas e redirecionamento de rumos, ou seja, que sirva como uma “história para aprender”, já que ensino e aprendizagem constituem o foco principal de uma universidade.

Notas

  1. Memórias Orais do Profº José Teixeira da Costa Nazareth, em entrevista de 7/06/2001, Brasília, DF.

  2. Resolução Consun nº 06/98 de 27/11/1998.

  3. Catálogo 2007 de Pós-Graduação e Pesquisa UCB. 2007, p. 43.

  4. Catálogo 2006-2007 de Graduação e Extensão.p. 235-236.

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