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O papel da atividade física na saúde e 

qualidade de vida de pessoas idosas

 

Mestrandos em Atividade Física e Saúde

Universidade Federal de Santa Catarina

(Brasil)

Simone Teresinha Meurer

simonemeurer@yahoo.com.br

José Fabian Uriarte de Castro

pepeuriarte@yahoo.com.br

 

 

 

Resumo

          Trata-se de uma revisão de estudos recentes que evidenciaram a importância da atividade física na saúde e qualidade de vida de pessoas idosas em dimensões biopsicosociais. Destaca-se a importância de investir em programas de atividades físicas para a população idosa, uma vez que, os benefícios para a saúde e qualidade de vida estão evidenciados e comprovados.

          Unitermos: Atividade física. Saúde. Qualidade de vida. Idosos.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 129 - Febrero de 2009

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Introdução

    A mudança na pirâmide etária mundial, mostrando o crescimento da população idosa 1, vem chamando atenção em diferentes âmbitos da sociedade. O envelhecimento humano é um fenômeno individual, mas, com a mudança no perfil etário das populações, demanda a atenção dos governos, ao exigir a adoção de medidas políticas efetivas no sentido de promover os direitos humanos e sociais das pessoas idosas.

    No âmbito das ações órgãos governamentais, vem sendo elaborados documentos como Guias práticos (Manual do Cuidador); diretrizes e políticas com vistas a atender e promover os direitos humanos das pessoas idosas, como o projeto Cidade Amiga do Idoso, que vem acontecendo em várias cidades do mundo, priorizando acessibilidade e bem-estar aos idosos das cidades.

    Observa-se que as recomendações para um estilo de vida saudável, estão presentes, nestes documentos, uma vez que, durante a II Assembléia Mundial sobre o Envelhecimento da ONU 2 em 2002, a OMS propôs uma política de saúde vinculada ao envelhecimento ativo, tendo por objetivo aumentar a expectativa de vida saudável e a qualidade de vida para as pessoas que estão envelhecendo.

    Evidências científicas já foram elucidadas em relação à importância da atividade física para a saúde e qualidade de vida dos idosos, sendo que, com o presente estudo, objetivou-se, abordar as tendências recentes em relação a este assunto.

Procedimento metodológico

    A busca foi realizada nas seguintes bases de dados: Portal de periódicos da Capes, Scopus, Web of Science e Science Direct. Foram utilizados os seguintes descritores: Elderly, older, old age, physical activity, quality of life e correspondentes em português.

    Foram selecionados estudos que abordassem a importância da atividade física para idosos contemplando e comprovando esta importância nas diferentes dimensões do ser humano (biopsicosocial), sendo que foram priorizados estudos publicados nos últimos dois anos, a fim de, sintetizar as evidencias mais recentes sobre a temática.

Resultados e discussões

    Benefícios fisiológicos decorrentes da atividade física vêm recebendo significativo destaque, uma vez que questões envolvendo pressão arterial, índices glicêmicos e índices saudáveis de massa corporal, são assuntos em evidência também em relação à população idosa, considerando sua importância devido ao elevado número de idosos obesos e conseqüências negativas desta condição sobre a saúde e qualidade de vida.

    Assim, estudo 3 teve por objetivo identificar o impacto combinado da atividade física e da obesidade sobre a saúde de idosos. O estudo foi realizado com 137 idosos, comparando ativos e inativos. Os resultados mostraram que os idosos ativos tinham índices menores de pressão arterial, da mesma forma, como o grupo com índice de massa corporal normal, apresentou índices menores de pressão arterial que o grupo considerado obeso. Assim, a preocupação com a inserção do público idoso em atividades físicas deve ser tão significativa quanto com a redução da obesidade

    Vários estudos procuram avaliar os efeitos da atividade física em pessoas idosas, porém, são ainda poucas evidências sobre os efeitos do exercício físico de alta intensidade e freqüência.

    O estudo de Carral et al 4, teve por objetivo determinar se idosos são capazes de realizar um programa de exercício físico combinado de alta intensidade e analisar os efeitos no nível de condicionamento, nos aspectos cognitivos e funcional e na qualidade de vida dos pacientes. Participaram 62 mulheres acima de 65 anos de idade. Ao concluir o estudo, os autores destacam que mulheres idosas são capazes de participar de treinamento de alta freqüência e intensidade sem correr risco de saúde e, ao mesmo tempo, melhorar a qualidade de vida, as funções cognitivas e o grau de independência e aptidão física.

    Outro assunto em evidencia, é a importância da atividade física para a redução de quedas em idosos, uma vez que estas são apontadas como as principais razões de lesões, medo de novas quedas, diminuição da qualidade de vida e, em alguns casos, a morte.

    Assim, o estudo de revisão 5 objetivou fornecer um inventário dos fatores de risco e conseqüências de quedas nos idosos, bem como identificar estratégias de prevenção e minimização dos seus efeitos. Foi identificado que o exercício pode desempenhar um papel importante na prevenção e diminuição das conseqüências de quedas em idosos, apesar de outras estratégias multidisciplinares serem necessárias (ex. nutrição adequada e programas que trabalhem cognição/inteligência).

    Os autores 5 citam 12 outros estudos que evidenciam a importância da atividade física na prevenção de quedas, realizados em intensidade moderadas e com freqüência diária, enfocando as capacidades funcionais, tais como a coordenação, agilidade, equilíbrio, mobilidade, força muscular e flexibilidade, capacidades necessárias na prevenção de quedas e minimização dos seus efeitos.

    O estudo dos efeitos psicológicos da atividade física sobre pessoas idosas também vem recebendo enfoque, a exemplo, recente investigação 6, teve como objetivo analisar a importância da atividade física sobre o bem-estar de idosos espanhóis e identificar se o nível de dependência é um moderador na relação do bem-estar, atividade física e aptidão física.

    Participaram do estudo 6 151 pessoas idosas com idade entre 60 a 98 anos. Todos os componentes da aptidão física foram inferiores nos indivíduos dependentes em relação aos independentes. Foram observadas diferenças significativas positivas no bem-estar entre sujeitos mais ativos em relação aos menos ativos, sejam dependentes ou independentes. Assim, os autores concluem sobre a importância da atividade física sobre a sensação do bem estar, pois os resultados apontam seu efeito positivo também em sujeitos dependentes.

    Ao abordar saúde e qualidade de vida de idosos, identifica-se que dentre os diversos transtornos que afetam os idosos, a saúde mental merece especial atenção, recebendo também destaques nas investigações científicas. A exemplo, tem-se um estudo 7 realizado em Florianópolis que teve como objetivo avaliar a associação entre nível de atividade física e o estado de saúde mental de pessoas idosas, verificando relação significante entre os níveis de atividade física e o estado de saúde mental, ou seja, a associação evidencia menor prevalência de indicadores de depressão e demência para os idosos não sedentários.

    Reafirmou-se a importância de manter-se ativo e que a atividade física influencia o enfrentamento de síndrome depressiva, ampliando o convívio social e a estimulação corporal. Os autores 7 destacam que atividade física tem conseguido reduzir e/ou atrasar os riscos de demência, embora não se possa afirmar que esta evita a demência.

    Durante o envelhecimento, a diminuição e/ou perda da memória é um fator que prejudica consideravelmente a qualidade de vida dos idosos. Já há evidências que a atividade física está associada com o bom desempenho das funções cognitivas, todavia, ainda são necessárias maiores investigações.

    Investigação 8 recente verificou a relação entre idade, atividades físicas e falhas da memória. Os participantes foram divididos de acordo com a idade, sexo e escolaridade sendo, 28 pessoas do sexo masculino e 31 pessoas do sexo feminino. 19 participantes eram jovens (22 a 39 anos); 19 pessoas de meia idade (entre 40 e 59 anos) e 21 pessoas idosas (60 a 85 anos). Foi aplicado um questionário de memória diária para avaliar as falhas da memória. O relatório de falhas da memória e freqüência nas atividades físicas não mostrou diferença na idade dos grupos, sugerindo que jovens e idosos engajados numa mesma atividade, parecem experimentar os mesmos problemas de memória, ou seja, as atividades físicas diárias e de lazer podem trazer benefícios para o funcionamento da memória diária dos idosos, produzindo ganhos derivados da atividade física.

    Também em evidência e merecedor de investigações científicas, são os idosos residentes em ILPs (Instituições de Longa Permanência), uma vez que o número destas vem crescendo.

    Estudo 9 teve como objetivo investigar a relação entre fatores sócio-demográficos, comportamento relacionado a saúde, satisfação dos residentes em relação ao asilo e nível de desabilidade funcional de residentes asilados. Participaram 107 idosos (32 mulheres e 75 homens, idade: 55-90) moradores em asilos. O grupo de estudo era constituído por residentes independentes nas Atividades de Vida Diária (AVD) e sem significante desabilidade funcional. Foi utilizado o WHOQOL-BREF e a análise indicou que os escores deste foram 5,96 vezes maiores para pessoas que executam atividades físicas regularmente; 7,94 vezes maiores em residentes satisfeitos com o asilo onde residem e 13,7 vezes maiores em participantes independentes para realizar atividades pessoais. Assim, evidencia-se a importância de inserção da atividade física também nos espaços como asilos e/ou ILPs.

    Assim, diante de todas essas evidências, torna-se indiscutível a importância da atividade física para a saúde e qualidade de vida de idosos, todavia, um dos maiores desafios hoje, é trazer os idosos para uma vida ativa. Desta forma, evidencia-se a importância dos estudos em relação à motivação, barreiras e facilitadores para a prática de atividades físicas pela população idosa.

    Com o objetivo identificar os fatores que motivavam e dificultavam a inserção dos idosos em atividades físicas, bem como determinar o quanto esses fatores se modificam em função do gênero, da idade e do nível de atividades físicas, foi realizado estudo 10 com idosos Australianos. Participaram 217 idosos (63 a 83 anos), divididos em dois grupos, idosos jovens (63-75) e idosos velhos (acima de 75). Preocupações com a saúde foi o principal motivo de prática de atividades físicas, sendo a principal barreira os problemas físicos, assim, os idosos apresentam motivação, mas identificam muitas barreiras.

    Foram encontradas diferenças em relação ao gênero, idade e nível de atividade física, sendo que os idosos velhos, apontaram a sociabilidade como principal razão e fatores médicos como barreiras; ainda, os idosos do sexo masculino mostraram-se mais motivados para as atividades físicas bem como aqueles com maior nível de atividades físicas. Os autores 10 sugerem que estes fatores devem ser levados em consideração ao elaborarmos os programas de atividade física a fim de assegurar que os idosos sintam-se bem, garantindo a permanência e, conseqüentes benefícios da atividade física.

Considerações finais

    Diante dos resultados identificados, evidência a importância de investir em programas de atividades físicas para a população idosa, uma vez que, os benefícios para a saúde e qualidade de vida, estão evidenciados e comprovados.

Referências bibliográficas

  1. IBGE. Diretoria de Pesquisa. Coordenação de população e indicadores sociais. Gerência de estudo e análise dinâmica demográfica. Projeção da população do Brasil por sexo e idade para o período de 1980-2050. Revisão. Rio de Janeiro: IBGE; 2004.

  2. OMS. Envelhecimento ativo: um Projeto de Saúde Pública. In: Encontro Mundial das Nações Unidas sobre Envelhecimento. Anais. Madri: OMS, 2002.

  3. Swartz, AN, Strath, SJ; Parker, SJ; Miller NE. The Impact of Body-Mass Index and Steps per Day on Blood Pressure and Fasting Glucose in Older Adults. Journal of Aging and Physical Activity. v.16, n.2, p. 188-200, 2008.

  4. Carral, JMC & Pérez, CA. Effects of High-Intensity Combined Training on Women over 65. Gerontology. v. 53, p. 340-346, 2007.

  5. Pereira, CLN; Vogelaere P.; Baptista, F. Role of physical activity in the prevention of falls and their consequences in the elderly. European Review of Aging and Physical Activity. v.5, n.1, p. 51 – 58, 2008.

  6. Garatachea, N., et al. Feelings of well being in elderly people: Relationship to physical activity and physical function. Archives of Gerontology and Geriatrics, 2008. (no prelo).

  7. Benedetti, T.R.B. et. al. Atividade física e saúde mental de idosos. Revista de Saúde Pública. v. 42, n.2, p.302-307, 2008.

  8. Whitbourne, SB; Neupert, SD; Lachman, ME. Daily Physical Activity: Relation to Everyday Memory in Adulthood. Journal of Applied Gerontology. v. 27, p. 331, 2008.

  9. Luleci, E; Hey, W; Subasi, F. Assessing selected quality of life factors of nursing home residents in Turkey. Archives of Gerontology and Geriatrics. v. 46, p. 57-66, 2008.

  10. Newson, RS; Kemps, EB. Factors That Promote and Prevent Exercise Engagement in Older Adults. Journal of Aging and Health. v.19, n.3, p. 470-481, 2007.

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