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Treinamento de força como influente na auto-estima 

de idosas pertencentes ao grupo ‘Juventude Acumulada’ 

na cidade de Caratinga, MG

 

*Especialista em Treinamento Desportivo e Fisiologia do Exercício

**Mestre em Ciência da Nutrição e Docente

da Universidade Vale do Rio Doce

(Brasil)

Israel Araújo Duarte*

Amanda Christina Gonçalves do Carmo*

Fabrícia Geralda Ferreira**

fafege@yahoo.com.br

 

 

 

Resumo

          A sociedade vive um período de grandes mudanças e cada vez mais pessoas buscam praticar alguma atividade física. O idoso se evidencia nesse contexto, sendo um público novo dentro das academias. O presente estudo teve como objetivo verificar a aplicação de um programa de treinamento voltado para o ganho de força e ainda sua relação com alterações no estado de ânimo dos idosos. Para obter essas respostas, foi utilizado um questionário de auto-estima (DEUTSCH, 1997). Os dados obtidos foram analisados e verificou-se que um treinamento de força bem estruturado e elaborado pode resultar em melhoras significativas na vida do idoso, possibilitando a aquisição ou aprimoramento de habilidades como: subir escadas, realizar faxinas, dormir melhor, entre outros. Assim, contribuindo para o suprimento de diversas carências do idoso e, consequentemente, uma melhora do moral/auto-estima dos mesmos.

          Unitermos: Treinamento de força. Idoso. Auto-estima.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 128 - Enero de 2009

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Introdução

    Percebe-se o constante crescimento e desenvolvimento que vive a sociedade, principalmente, em termos tecnológicos. E hoje as tarefas que antes eram realizadas pelo homem passaram a ser feitas por máquinas. Portanto, a comodidade e a facilidade de obter as coisas passaram a ser maior. Em conseqüência disso, o sedentarismo aumentou significativamente e, com ele, a pertinente preocupação com relação à pratica de atividade física, uma vez que esta tem relação direta com a saúde e o bem-estar do ser humano. Santarem e cols (2000) afirmam que o exercício físico e a força adquirida com ele são extremamente importantes na relação aptidão-saúde, pois é requerida em várias atividades diárias, assim como em emergências ocasionais, enfatizando também que os níveis mínimos de força são essenciais a todos os indivíduos.

    Neste contexto, percebe-se a manifestação e orientação dos órgãos de saúde em alertar as pessoas à prática de uma atividade física. Percebe-se ainda que, na maioria das vezes, as pessoas que adotam um estilo de vida com uma prática regular de atividades físicas atingem mais facilmente à 3ª idade. Segundo Machado e cols (2002), a prática regular de atividade física e uma maior aptidão física promovem menores taxas de mortalidade e melhor qualidade de vida na fase adulta.

    As academias, nos dias atuais, recebem um público bastante variado e, dentre os indivíduos deste ambiente, estão os idosos que se preocupam bastante com a saúde e com uma velhice mais prazerosa e independente. Machado e cols (2002) afirmam que o envelhecimento é um complexo processo que envolve variáveis como hábitos de vida, genética e doenças crônicas. E é comprometido por alterações fisiológicas que explicam a discriminação social e cultural que o idoso sofre ao ser excluído da vida pública, enquanto os jovens vão conduzindo o mundo.

    A terceira idade no Brasil representa um número significativo da população, sendo 55,1% mulheres e 54,9% homens, o que corresponde a mais de 14 milhões de pessoas idosas (IBGE, 2000). É visível a grande população de idosos praticantes de exercícios físicos, visto que nesta etapa da vida há uma maior preocupação com relação ao aparecimento de doenças relacionadas ao envelhecimento. De acordo com Rennó (2001), a terceira idade é uma das faixas etárias mais susceptíveis a doenças que, muitas vezes, impõem limitações em atividades do cotidiano.

    Com o crescimento científico relacionado ao exercício físico e seus benefícios, nota-se que o treinamento de força traz inúmeros ganhos para os seus praticantes, inclusive era tido como um tipo de treinamento não indicado para os idosos e hoje é utilizado pela maioria das academias como um meio eficaz na melhora da qualidade de vida de seus praticantes. Brill & Macera (1999), citado por Lima e Vasconcelos (2003), explanam que a falta de exercícios físicos e o conseqüente declínio da força muscular podem limitar a capacidade para efetivação de várias atividades diárias.

    A auto-estima e a independência são qualidades preciosas que preocupam a maioria dos idosos. “Estudos mostram que as magnitudes dos declínios da idade são preocupantes e ocorre uma gradativa diminuição da força máxima e relatam a importância de se prescrever um treinamento de força muscular para o idoso” (MACHADO, 2002).

    O grupo Juventude Acumulada de Caratinga-MG foi criado no ano de 1997 e é composto por aproximadamente 120 idosas. O trabalho realizado neste grupo visa a suprir carências biofísicas, biopsicoemocionais e biosóciohistóricas, a fim de proporcionar uma melhorar na qualidade e na história de vida das idosas. Entretanto, percebe-se que o grupo não é submetido a um treinamento de força e, de acordo com Mendes e cols (2003), este tipo de treinamento oferece ganho de força muscular, fortalecimento ósseo, prolongamento de vida, tornando o idoso mais ativo e em progresso, facilitando o desempenho de diversas atividades cotidianas. Neste contexto, este estudo visa a analisar a influência do treinamento de força no moral de idosas pertencentes ao grupo “Juventude Acumulada” da cidade de Caratinga – MG.

Metodologia

População e amostra

    O Grupo “Juventude Acumulada” é composto atualmente por aproximadamente 120 idosas. Para o presente estudo, foram selecionadas 12, pertencentes ao grupo e freqüentes no programa, escolhidas de forma aleatória, conforme preenchimento de ordem de inscrições.

Instrumentos utilizados

  • Questionário contendo anamnese e o termo de consentimento livre esclarecido. (NOVAES & VIANNA, 2003).

  • Questionário contendo perguntas acerca da auto-estima (DEUTSCH, 1997) conforme.

Procedimentos e coleta de dados

    Inicialmente, foi enviado ao coordenador do núcleo de extensão para 3ª idade do Centro Universitário de Caratinga, Clube Juventude Acumulada, uma solicitação para autorização da realização do projeto. Em seguida, as idosas foram submetidas a uma avaliação física inicial, para identificação de possíveis empecilhos para a efetivação do treinamento. Foi aplicado um questionário contendo anamnese no dia 23/02/2006.

    Após minuciosa avaliação das respostas obtidas, foi iniciado o programa de treinamento no dia 02/03/2006. O treinamento, após autorização prévia, foi realizado na academia Forma Fitness, localizada na cidade de Caratinga-MG. A periodização de oito semanas foi dividida da seguinte maneira:

Quadro 1. Periodização do treinamento de força (8 semanas)

Meses

I

II

Semanas

1

2

3

4

5

6

7

8

Macrociclo

FASE BÁSICA

Mesociclo

BASICO I

BASICO II

Microciclo

Adp.

Adp.

Evol.

Est.

Evol.

Est.

Evol.

Rec.

Fonte: (Adaptado de NOVAES & VIANNA, 2003)

Legenda:

Adp – ADAPTAÇÂO

Evol – EVOLUÇÂO

Est – ESTABILIZAÇÂO

Rec – RECUPERAÇÂO

    As sessões de treinamentos foram realizados com uma freqüência de 3 vezes semanais, uma vez que Fleck & Kraemer (1999) afirmam que o mínimo de 3 sessões de treinos semanais são suficientes para a obtenção de resultados satisfatórios no treinamento de ganho de força.

    Cada treino foi dividido em 3 etapas, como mostra a quadro a seguir:

Quadro 2. Divisão de uma sessão de treinamento

  

Procedimentos

Duração

Parte inicial

Aferição da pressão arterial e aquecimento

10 minutos

Parte principal

Exercícios resistidos (musculação)

30 minutos

Parte final

Relaxamento/alongamento

10 minutos

Fonte: (Adaptado NOVAES & VIANNA, 2003)

    Para execução do treinamento, o sistema utilizado foi o de Séries Múltiplas, proposto por Fleck & Kraemer (1999). Esse consiste em utilizar qualquer número de séries, repetições e cargas para atingir os objetivos estabelecidos em um programa de treinamento. Tal sistema tem maior aproveitamento relacionado ao ganho de força quando se utiliza três séries de 8 ou 10 RM no mínimo. Durante a semana 1, a semana de adaptação, que corresponde a 3 sessões de treinos, as atividades foram conduzidas de acordo com o que propõe Raso e cols (1997), em que os sujeitos aprendiam a técnica correta de execução de movimento e a realizar a respiração correta para realização dos movimentos, evitando assim a manobra de Valsalva.

Quadro 3. Exercícios utilizados no treinamento

Exercício

Séries

Repetições

Intervalo de recuperação

PECK DECK

3

8

40’’ a 1’

FLEXOR JOELHOS

3

10

40’’ a 1’

ELEV. LATERAL

3

8

40’’ a 1’

ABDUÇÃO JOE.

3

10

40’’ a 1’

  

 

 

 

REM. CURVADA

3

8

40’’ a 1’

EXT. JOELHOS

3

10

40’’ a 1’

ROSCA DIRETA

3

8

40’’ a 1’

ELEV. PÉS

3

10

40’’ a 1’

  

 

 

 

GLUTEO 2 APOIOS

3

10

40’’ a 1’

EXT. PULLEY

3

8

40’’ a 1’

ABD. LATERAL

3

15

40’’ a 1’

MESA ADUTORA

3

10

40’’ a 1’

Fonte: (DELAVIER 2002)

    Após as oito semanas de treinamento, foi aplicado o questionário de auto-estima, proposto por DEUTSCH (1997), com o intuito de verificar as possíveis mudanças no moral das idosas. Este foi aplicado no dia 02/05/06.

Análise dos dados

    Considerando as questões de 1 a 7, as perguntas 1, 2, 3, 4 e 5 tiveram respostas unânimes para a hipótese positiva proposta no trabalho. São as seguintes:

  • Você se sente feliz durante as aulas de musculação (treinamento de força)?

  • Você se sente motivada durante as aulas de musculação (treinamento de força)?

  • As aulas de musculação (treinamento de força) melhoram sua auto-estima?

  • Você não se sente obrigada a participar das aulas de musculação (treinamento de força)?

  • Você se sente tranqüilo (seguro) durante as aulas de musculação (treinamento de força)?

    Com relação à pergunta 6: Escreva com suas palavras o que mudou na sua vida depois de iniciarem as aulas de musculação (treinamento de força)?

    O gráfico abaixo mostra as mudanças mais citadas pelos entrevistados:

Gráfico 1. Mudanças geradas após o treinamento de força

    Com relação à pergunta 7: Cite algumas atividades (se existem), que você se tornou capaz de executar (ou ficaram mais fáceis), após algum tempo de treinamento?

Gráfico 2. Atividades realizáveis após treinamento

Discussão dos resultados

    Após analisar os dados, verificou-se os seguintes resultados, de acordo com cada resposta:

    Em relação à pergunta 1: Você se sente feliz durante as aulas de musculação ( treinamento de força)?

    Foi possível verificar um total de 100% das respostas satisfatórias em relação à felicidade ao praticar a musculação. Mazo e cols (2005) afirmam que “a maioria dos idosos sente-se animados, felizes, acham a vida excitante e estão cheios de vida, enfatizando assim que a atividade física promove bem-estar pelos efeitos fisiológicos, conseqüências como melhora do humor e energia são constadas através de estudos”. Faria e Marinho (2004) complementam ainda que o exercício físico está associado a uma boa qualidade de vida e a prática regular e orientada de atividade física torna-se fundamental. Verificou-se ainda que, durante as aulas, as idosas constantemente mantinham um astral elevado e contagiavam até mesmo as pessoas ao redor (outros alunos da academia). Para Pereira e cols (2002), é importante evidenciar que a prática sistemática de uma atividade física bem orientada eleva a auto-estima, fazendo com que os indivíduos sintam-se ativos e participantes de um grupo social.

    Em relação à pergunta 2: Você se sente motivada durante as aulas de musculação ( treinamento de força)?

    Ao serem instigadas sobre a motivação durante as aulas, foi obtida uma resposta positiva unânime. Para Gobbi (1997), a atividade física se torna motivador a partir do momento em que esta é prazerosa e estimula a satisfação de seus praticantes. Este autor demonstra ainda alguns fatores motivacionais que devem estar presentes durante a prática de atividade física para que se obtenham resultados satisfatórios, como alegria, companheirismo, aumento do controle da própria vida e melhores condições de saúde. A inclusão da motivação durante a prática de atividades físicas é de fundamental importância para manter o praticante sempre satisfeito com o que faz. Para Novaes & Vianna (2003), qualquer atividade física só terá um significado oportuno se esta estiver comprometida com as relações motivacionais do praticante. Sendo assim, fica notória a importância da estimulação motivacional durante a prática de atividades físicas.

    Em relação à pergunta 3: As aulas de musculação (treinamento de força) melhoram sua auto-estima?

    Com relação à auto-estima 100% das respostas também foram positivas, afirmando, assim, que a mesma foi elevada durante a prática dos exercícios. Essa alteração tem relação direta com a capacidade adquirida durante os treinos para realização de atividades diárias. Para Ueno (1999), quando um indivíduo se torna capaz de realizar as atividades diárias, esse se sente capaz e independente, melhorando a auto-estima e contribuindo para uma melhor qualidade de vida. Foi possível perceber ainda um intenso brilho nos olhos das alunas quando realizavam um movimento e se olhavam no espelho. Andrade (2001) complementa que a auto-estima é definida como uma visão favorável a respeito de si mesmo, podendo ser vista no sentido global e multidimensional e faz com que a atividade física tenha um efeito direto na melhoria da aceitação do corpo. Nota-se a indispensável participação do profissional de Educação Física como oportunizador nesse processo. Oliveira e cols (2002) explanam que o profissional de Educação Física se torna imprescindível no desenvolvimento de estratégias que contribuam para a melhora da auto-estima dos idosos, uma vez que, através de sua atuação, ele participa do processo de promoção da saúde do idoso.

    Em relação à pergunta 4: Você se sente obrigada a participar das aulas de musculação (treinamento de força)?

    Quando instigadas quanto à obrigação de estar presente nas aulas (treinamentos), 100% das respostas foram negativas, confirmando que a presença naquele momento era de livre e espontânea vontade. Ao final de cada aula, na maioria das vezes, as alunas reclamavam do treino estar chegando ao fim, fato que demonstrava a vontade de estar participando do treino. Para Deschamps & Domingues Filho (2005), o motivo de realização está relacionado aos esforços de um indivíduo em dominar uma tarefa, atingir seus limites, superar obstáculos e ter orgulho de seu talento. Percebe-se assim que a vontade de estar inserido em um ambiente é motivada pela conquista de novos objetivos durante todo o tempo. Para Faria & Marinho (2004), um dos aspectos mais importantes que leva o idoso a participar de programas de atividades físicas é a promoção do alargamento das relações sociais, a realização de novas amizades. Contudo, o ambiente, as pessoas e o desafio de realizar um movimento fazem com que os idosos pratiquem qualquer atividade com prazer e satisfação.

    Em relação à pergunta 5: Você se sente tranqüilo (seguro) durante as aulas de musculação (treinamento de força)?

    A resposta obtida foi de 100% com relação à tranqüilidade e segurança das idosas durante os treinamentos. Foi possível verificar que o fato de praticar os exercícios com o auxilio de um profissional as deixa mais seguras e tranqüilas. Para Nóbrega e cols (2003), um programa de treinamento de força planejado adequadamente por profissionais pode resultar em aumentos significativos na massa muscular, melhorando a qualidade de vida. Outro fator significativo que aumentou a tranqüilidade das alunas foi a consciência adquirida sobre os benefícios do treinamento. Severo (1997) complementa que, por meio da praticidade das atividades físicas, o interesse dos idosos pode ser despertado, bem como a segurança e autonomia.

    Em relação à pergunta 6: Escreva com suas palavras o que mudou na sua vida depois de iniciarem as aulas de musculação (treinamento de força)?

    O gráfico referente à questão 6 ilustrou as mudanças na vida das idosas após o início dos treinamentos. Com relação à auto-estima, 58,33% das idosas apresentam melhora. Para Tojal e cols (2004), o moral refere-se ao estado de ânimo ou auto-estima de um indivíduo. Percebe-se que os resultados apresentados demonstram uma relação direta com a prática do treinamento de força e a melhora da auto-estima. Segundo Machado e cols (2002), diversos estudos provam que a prática regular de exercícios físicos promove menores taxas de mortalidade e melhor qualidade de vida na terceira idade. Nota-se ainda que o treinamento foi uma eficaz ferramenta para melhora da auto-estima e melhor qualidade de vida. Complementa Mendes e cols (2003) que o mesmo, direcionado para a terceira idade, é um fator que contribui para o prolongamento do tempo de vida, fazendo com que o idoso que estava em repouso não permaneça sedentário, inerte, mas sim uma pessoa ativa e com a auto-estima melhorada.

    Com relação à diminuição de dores e disposição para tarefas diárias, foi possível verificar que ambos os aspectos obtiveram 50% dos relatos dos entrevistados. Segundo Rocha, citado por Pereira e cols (2002), o treinamento de força contribui para a diminuição das dores e fortalecimento da musculatura para realização das atividades diárias. De acordo com Centurião Filho (1998), a proposta do treinamento de força consiste em beneficiar o idoso, proporcionando a este a energia necessária para desempenhar perfeita funcionalidade psicofisiológica. Com isso, ressalta-se a ligação direta do treinamento de força e a aquisição da mesma, conseqüentemente levando a uma execução mais facilitada de movimentos, minimizando o aparecimento de dores e facilitando a execução de atividades diárias. Raso (2000), em seu estudo, comprovou que programas de treinamento com pesos podem, além de aumentar a força muscular, contribuir para uma maior qualidade de vida.

    Com relação ao prazer, o gráfico mostra que 50% das idosas faziam as aulas com satisfação. Géis (1994), citado por Faria & Marinho (2004), explanam que o ser humano deve estar em constante busca da felicidade e prazer, pois este vive em uma sociedade à qual deve se sentir unido por diferentes vínculos e razões, o que pode ser propiciado pela atividade física. Nos treinamentos, percebeu-se com clareza a intensa procura das alunas por algo que fosse prazeroso e gerasse satisfação. Para Goobi (1997), o treinamento de força, alivia o estresse, melhora o humor e o prazer a seus praticantes. Farinatti (1995), citado por Faria & Marinho (2004), confirma a idéia de que as pessoas são mais felizes enquanto membros ativos de uma sociedade e que o exercício físico contribui para essa busca.

    Com relação ao convívio social, 25% dos entrevistados afirmaram que praticar exercícios em grupo fortalece amizades e aumenta o relacionamento pessoal com outros indivíduos. Segundo Gobbi (1997), o treinamento de força propicia a formação de novas amizades e conhecimentos quando realizado em grupos. O mesmo autor defende ainda que o ambiente é muito importante para que essas relações aconteçam. Durante as aulas, foi possível verificar ainda que, à medida que o tempo passava, aumentava a afinidade entre as alunas. Verderi (2004) complementa que um programa de exercícios para idosas tende a aumentar seu estado de saúde, favorecendo a socialização e melhorando a qualidade de vida de seus praticantes. Faria & Marinho (2004) ratificam que o treinamento de força promove o alargamento das relações sociais, a realização de novas amizades e um melhor papel dentro da sociedade. Contudo, torna-se evidente a importância do treinamento de força, não só para obtenção de força muscular, como também para um estreitamento de laços e relações dentro de uma sociedade. Deve-se estimular o idoso a buscar seu espaço na comunidade para favorecer uma existência social produtiva, resgatando a cidadania e abrindo caminhos que favoreçam a re-inserção sócio-cultural do idoso (LENDZION e cols 2002).

    Com relação à melhora da postura e equilíbrio das idosas, ambos os fatores apresentaram um valor de 8,33%, destacando que o treinamento influenciou positivamente nestas questões. Para Fiatarone, citado por Matsudo & Matsudo (2002), o treinamento de força muscular na terceira idade acarreta inúmeros benefícios, entre eles: melhora do equilíbrio, contribuição na manutenção e/ou aumento da densidade óssea, contribui ainda para uma melhor postura. Outro fator importante com a melhora do equilíbrio é a contribuição que este favorece para prevenção e a diminuição de quedas. Spirduso (1995), citado por Matsudo & Matsudo (2002), afirma que o exercício contribui na prevenção de quedas mediantes o fortalecimento da musculatura, melhorando a sinergia motora das reações posturais e a mobilidade. Percebe-se então que aumentando a força muscular, obtém-se possível melhora do equilíbrio. Os exercícios com pesos devem ser priorizados para os resultados citados (RASO e cols, 1997).

    Com relação à diminuição do uso de medicamentos, 8,33% das entrevistadas afirmaram que, após algum tempo de treinamento, passaram a diminuir e até mesmo cessar o uso dos mesmos. A terceira idade é uma das faixas etárias mais susceptíveis a doenças e consequentemente ao uso de medicamentos. Flores & Mengue (2005) afirmam, com o aumento da idade cronológica, podem surgir inúmeras causas de fragilidade ou riscos para os indivíduos, das quais se destacam a presença de múltiplas patologias. Franchi & Montenegro Junior (2005) perceberam em seu estudo, através de depoimentos, relatos sobre as mudanças no bem-estar e diminuição de medicamentos em idosos após terem iniciado a prática de exercícios voltados para o ganho de força.

    Com relação à pergunta 7: Cite algumas atividades (se existem) de que você se tornou capaz (ou ficaram mais fáceis) de realizar depois de algum tempo de musculação?

    No gráfico 2, foi possível verificar que 58,33% dos entrevistados afirmaram que o treinamento de força possibilitou um aumento na força de membros inferiores e uma conseqüente resistência no que diz respeito a manter-se de pé por mais tempo. Matsudo & Matsudo (2000) afirmam que o treinamento de força tem um papel de modificação nas alterações de peso e composição corporal, podendo fazer com que um indivíduo sustente o próprio corpo mais facilmente. A aquisição de novas habilidades, como o refinamento das já existentes, pode ser alcançada com o treinamento, inclusive uma maior força de membros inferiores (GOBBI, 1997). Torna-se evidente no estudo que exercícios de força para os grupos musculares inferiores são indispensáveis para um melhor desempenho com relação às atividades diárias, como ficar por muito tempo em uma fila. Brill & Macera (1999), citado por Lima & Vasconcelos (1998), explanam que a falta de exercícios físicos e o conseqüente declínio da força muscular podem limitar a capacidade para efetivação de várias atividades diárias.

    O gráfico apresenta ainda um valor de 50% de melhoras para a caminhada e facilidade de subir escadas. Durante os treinamentos, observou-se uma maior disposição e agilidade por parte das alunas para se locomover na academia. Faria & Marinho (2004) citam que o treinamento de força possibilita a manutenção de um estilo de vida independente, possibilitando a realização de atividades como: caminhar, elevação de objetos e técnicas de auto-movimentação (sentar-se, levantar-se, deslocar-se da cadeira para o chão e vice-versa). Percebe-se que, ao conseguir realizar atividades simples como caminhar e não se cansar com tanta facilidade, interfere diretamente no moral das idosas. Borges (2004) ratifica que as pessoas idosas podem se beneficiar dos exercícios para aquisição e realização de atividades diárias, obtendo assim possíveis melhoras na auto-estima. Contudo, destacam-se os exercícios de membros inferiores, que possibilitam uma maior força e resistência para realização de movimentos como: andar, subir escadas, etc. (FIATARONI-SINGH, citado por MATSUDO & MATSUDO, 2000).

    O gráfico apresentou também 50% de melhoras com relação a dormir melhor. Os treinos mostraram ser uma eficiente ferramenta para obtenção de uma boa noite de sono. Para David (1999), o sono consiste em um estado de inconsciência do qual a pessoa pode ser despertada por estímulos sensoriais ou por outros estímulos. O mesmo destaca ainda que a falta de atividades físicas pode acarretar quadros de insônia. O idoso procura a atividade física, muitas vezes, ciente de que este vai dar mais disposição no seu dia-a-dia, melhorar as dores no corpo e proporcionar noites de sono. (RAUCHBACH, 1990). Torna-se evidente, então, a relação entre treinamento de força e boas noites de sono. David (1999) ratifica ainda que aqueles que se exercitam regularmente adormecem mais rapidamente e dormem mais profundamente do que aqueles que evitam os exercícios.

    Pode-se verificar que 25% dos entrevistados tiveram melhoras quanto à realização de atividades domésticas. Raso (1997) cita que a falta de atividade física, principalmente na terceira idade, contribui negativamente para o desempenho das atividades da vida diária. Tal fato deixa evidente a influência que o treinamento de força tem com relação à pratica dessas atividades. Deschamps (2005) afirma que o treinamento de força propicia uma sensação de saúde e de vitalidade que engloba dimensões físicas, emocionais e sociais, tornando os praticantes mais dispostos para realização das atividades diárias, devido ao adiamento da fadiga. Matsudo & Matsudo (2000) afirma ainda que o ganho de força decorrido do treinamento auxilia o idoso na execução de atividades do dia a dia.

    O treinamento de força contribuiu também para uma melhora na memória dos entrevistados. Santos e cols (1998) definem memória como a retenção e evocação de uma informação aprendida. Muitas alunas durante os treinamentos contavam as repetições que executavam durante as séries, trabalhando, assim, sua memória. Mazo e cols (2005) afirmam que a prática de exercícios físicos contribui para uma melhor capacidade de memorização, elevando assim a auto-estima de seus praticantes. Percebe-se, então, que o treinamento de força, além de contribuir para aquisição de valências físicas, é também uma grande ferramenta para melhora da memória. Deschamps (2005) ratifica que a prática sistêmica da utilização da memória, associada à prática de exercícios, melhora alguns aspectos como: concentração, ativação, confiança, auto-estima, entre outras.

Conclusão e recomendações

    Verificou-se uma relação entre os benefícios do treinamento de força e auto-estima/moral de idosos, uma vez que o programa de treinamento de força aplicado proporcionou benefícios como caminhar melhor, fazer atividades domésticas com mais facilidade, subir escadas entre outros. Ainda por meio do questionário (auto-estima), foi possível verificar que o treinamento de força, de fato, foi um excelente recurso para obtenção da melhora da auto-estima de idosas.

    Recomenda-se utilizar o treinamento de força como viabilizador do processo de autonomia, inclusão e potencialização dos aspectos biopsicosociais do idoso. E ainda, a realização de mais pesquisas referentes ao tema, com utilização de um programa com maior tempo de duração, ou seja, superior a oito semanas, para verificação ou até mesmo comparação das alterações do moral de idosos.

Referências bibliográficas

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