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Exercícios aquáticos: influência da profundidade 

de imersão na função respiratória de gestantes

 

*Graduadas em Fisioterapia pela

Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - UFVJM

**Graduado em Fisioterapia pela

Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – UFVJM

Mestrando em Biologia Celular e Estrutural pela

Universidade Federal de Viçosa - UFV

***Graduado em Fisioterapia e Mestre em Ciências da Reabilitação pela

Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG

Docente do Curso de Fisioterapia e Coordenador do

Laboratório de Estudos em Reabilitação Aquática da

Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - UFVJM.

Aline Silva de Miranda*

Rômulo Dias Novaes**

Eliziária Cardoso dos Santos*

Núbia Carelli Pereira de Avelar*

Wellington Fabiano Gomes***

romuonovaes@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          Na literatura, parece haver consenso na indicação do exercício aquático como atividade ideal para gestantes. Entretanto, o comportamento das variáveis respiratórias durante a imersão ainda é pouco conhecido para essa população. O objetivo desse estudo foi verificar o comportamento da pressão inspiratória e expiratória máximas e do pico de fluxo expiratório de mulheres grávidas em diferentes profundidades de imersão. Trata-se de um estudo experimental de caso único no qual foram avaliadas três grávidas saudáveis no mesmo período gestacional (19 semanas). Foram mensuradas as variáveis respiratórias pico de fluxo expiratório (PFE), pressão inspiratória máxima (PI máx) e pressão expiratória máxima (PE máx) fora e dentro da piscina em diferentes profundidades de imersão. O estudo foi realizado no Laboratório de Estudos em Reabilitação Aquática (LERA) da Clínica Escola de Fisioterapia da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Diamantina – MG. A média de idade, peso e altura encontrada foi 19,33 ± 0,58 anos, 60,17± 10,49 Kg e 1,58 ± 0,05 m respectivamente. Foi verificado que à medida que aumentou-se a profundidade de imersão houve tendência de elevação da PI máx, redução da PE máx e manutenção do PFE em relação aos valores encontrados fora da piscina.

          Unitermos: PI máx. PE máx. Peak Flow. Imersão.

 

Abstract

          In the literature, it seems to be consent in the indication of the aquatic exercise as ideal activity for pregnant. However, the behavior of the breathing variables during the immersion is still not very well-known for that population. The purpose of this study was verify the behavior of the inspiratory and expiratory pressure maximum and of the expiratory peak of flow in pregnant women in different depths of immersion. It is an experimental study of single case in which were evaluated three healthy pregnant in the same gestational period (19 weeks). The respiratory variables expiratory peak of flow (PFE), maximum inspiratory pressure (PI Max) and maximum expiratory pressure (EP max) were measured outside and inside of the pool at different depths of immersion. The study was conducted at the Laboratory of Studies in Aquatic Rehabilitation (LERA) of the Clinical School of Physiotherapy on the Federal University of the Jequitinhonha and Mucuri Valleys (UFVJM), Diamantina - MG. The average age, weight and height found was 19.33 ± 0.58 years, 60.17 ± 10.49 kg and 1.58 ± 0.05 m respectively. It was verify that with rose to the depth of immersion was tendency to elevation the PI Max, reduction of PE Max and maintenance of PFE in relation to the values found outside the pool.

          Keywords: PI máx. PE máx. Peak Flow. Immersion.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 128 - Enero de 2009

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Introdução

    Durante o período gestacional, o corpo da grávida passa por uma série de alterações, que envolve diversos sistemas. O aparelho respiratório sofre modificações tanto morfológicas quanto fisiológicas que levam a um acentuado aumento em sua carga de trabalho.11 A intensidade dessas alterações varia em função do período gestacional e traz diferentes repercussões de acordo com as características de cada gestante. As adaptações sofridas pela gestante ocorrem para manter a homeostasia e favorecer o crescimento fetal, sem um grande comprometimento do bem estar materno. 1-14-17

    As principais modificações respiratórias da gestação se devem a três fatores: o efeito mecânico do crescimento uterino, o aumento total do consumo de O2 pelo corpo e os efeitos estimulantes da progesterona sobre a respiração. 2-5-7-14-17 Durante a gravidez, ocorre aumento do consumo de O2 em 20 a 30 % devido às necessidades fetais, placentárias e metabólicas da gestante. 1-6-14 Essa demanda extra de O2 é alcançada devido acréscimo de 40 a 50% no volume minuto respiratório, de 7,5 L/min para 10,5 L/min, resultado mais do aumento do volume corrente do que de alterações na freqüência respiratória. 2-3-6-11 Outro achado bastante característico é a dispnéia que afeta 60 a 70% das grávidas. 1

    Durante a gestação, geralmente observa-se as seguintes alterações da função pulmonar: aumento da capacidade vital, da capacidade inspiratória em fases mais tardias, redução do volume de reserva expiratório, redução da capacidade funcional, aumento do volume corrente e manutenção do volume expiratório forçado em um segundo. As alterações acima descritas relacionadas à fisiologia respiratória acabam por influenciar a mecânica ventilatória da gestante. 1-5-10-14

    Na literatura, parece haver consenso na indicação do exercício aquático como atividade ideal para a gestante, entretanto, o comportamento das variáveis respiratórias durante a imersão ainda é pouco conhecido. 9-10-17 É de extrema importância compreender essas alterações que acontecem na fisiologia e mecânica ventilatória da mulher durante o período gestacional, visto que isso pode contribuir para fundamentar as atividades aquáticas desenvolvidas com gestantes. Isso permite elaborar atividades mais seguras que melhorem o bem estar e a qualidade de vida dessas mulheres. A avaliação da pressão expiratória (PE máx) e inspiratória (PImáx) máxima e do pico de fluxo expiratório pode contribuir para o melhor conhecimento das alterações respiratórias de grávidas em diferentes profundidades de imersão.

    Pensando nas alterações da função respiratória durante o período gestacional, esse estudo teve como objetivo verificar o comportamento da pressão inspiratória e expiratória máximas e do pico de fluxo expiratório de mulheres grávidas no mesmo período gestacional em diferentes profundidades de imersão.

Metodologia

    Trata-se de um estudo experimental de caso único do tipo A-B-A no qual foi incluído para avaliação três mulheres grávidas, primigestas, saudáveis com idade entre 18 e 30 anos, 19 semanas de gestação, sedentárias (não participantes de programas regulares de exercícios ou que não satisfaçam as recomendações de acúmulo de 30 minutos ou mais de atividade física moderada na maioria dos dias da semana) selecionadas aleatoriamente em uma unidade do Programa Saúde da Família – PSF do município de Diamantina/MG. Os critérios de exclusão foram ausência de acompanhamento pré-natal, gravidez de risco identificadas no pré-natal, anormalidades fetais encontradas em registros ultra-sonográficos, doenças pulmonares e cardiovasculares, incontinência urinária ou fecal, presença de infecções cutâneas, uso de medicamentos que alterem as variáveis respiratórias investigadas e prática de hidroterapia. Os fatores de risco e a presença de doenças do trato respiratório para adultos foram avaliados através de um questionário, que incluiu variáveis como tabagismo, tosse, alergia, chieira no peito, prática de atividades físicas e ambiente de trabalho. Mensurações de peso, altura, índice de massa corporal (IMC), perimetria abdominal, freqüência respiratória e cardíaca também foram realizadas. 13-18

    Os dados de pressão expiratória máxima (PE máx), pressão inspiratória máxima (PI máx) e pico de fluxo expiratório (PFE) foram coletados na piscina do Laboratório de Estudos em Reabilitação Aquática (LERA) da Clínica Escola de Fisioterapia da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. A temperatura local foi monitorada, aceitando-se uma temperatura ambiente com variação de 24 a 27º C e da água entre 32ºC e 34ºC (termoneutra).

    Foram realizadas quatro medidas, uma fora e três dentro da piscina. Todas as mensurações foram feitas com a gestante sentada com os pés apoiados. 6 Dentro da piscina foram selecionados três pontos de referência para a altura da água (crista ilíaca, processo xifóide e 7ª vértebra cervical). A profundidade de imersão foi determinada através de plataformas modulares que apresentavam em sua extremidade inferior hastes para ajuste da altura. As mensurações foram efetuadas por um avaliador previamente treinado obedecendo aos seguintes critérios: explicação para o paciente sobre a forma correta de sentar e apoiar os pés, segurar os aparelhos de forma a não cobrir os medidores com os dedos, solicitação para a gestante inspirar ou expirar profundamente, fechar os lábios em volta do medidor para evitar escape de ar. Foi realizado um total de 4 medidas para cada aparelho fora da piscina e em cada altura de imersão, sendo que a primeira medida foi desconsiderada em todas as repetições para eliminar o efeito do aprendizado.

    Para a mensuração da força da musculatura respiratória foi utilizado manovacuômetro MV-150/300 fabricante Ger-Ar Comércio e Equipamentos Ltda calibrado e um bucal descartável. As medidas foram realizadas de acordo com as orientações feitas por Black and Hyatt,1969, no qual o paciente permaneceu em posição sentada, com o nariz ocluído por um clipe nasal. Os esforços respiratórios máximos foram sustentados durante pelo menos dois segundo, e as manobras repetidas até um máximo de cinco vezes, com três manobras aceitáveis, sendo usado o valor mais elevado. 20 A Pimáx foi mensurada a partir do volume residual (VR), em que o indivíduo expirou ao máximo através do bucal e ao ser solicitado realizou uma inspiração máxima. A medida da Pemáx foi realizada a partir da capacidade pulmonar total (CPT), em que foi solicitada uma inspiração profunda e em seguida um esforço expiratório máximo contra a via aérea ocluída. Entre cada medida foi estabelecido intervalo mínimo de um minuto para recuperação da gestante. 4

    A medida do PFE foi obtida através do aparelho Asses peak flow meter fabricante Healthscan Product Inc com um bucal descartável inserido em sua extremidade. Para essa medida, o indivíduo permaneceu sentado e o indicador do aparelho foi zerado. O PFE foi mensurado em posição neutra da cabeça, para reduzir a influência da hiperextensão e da flexão cervical na complacência traqueal e nos valores alcançados. Com o aparelho em posição horizontal foi realizada uma inspiração máxima seguida por uma expiração forçada máxima, curta e explosiva, através do dispositivo de medida. Pelo menos três medidas foram executadas e a manobra repetida até que não houvesse diferença maior que 20 L/min entre elas. O maior valor das três leituras foi considerado para análise. 16

    O objetivo do estudo foi informado aos voluntários oralmente e por escrito respeitando os aspectos éticos da pesquisa em seres humanos. Todos que concordaram em participar assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido de acordo com a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.

Resultados e discussão

    Para a população estudada (n=3), a média de idade, peso e altura encontrada foi 19,33 ± 0,58 anos, 60,17± 10,49 quilogramas (Kg) e 1,58 ± 0,05 metros (m) respectivamente. O cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC) mostrou que nenhuma das grávidas era obesa, com valores abaixo de 30 Kg/m2. Esse aspecto é importante uma vez que evita possíveis alterações de origem restritiva das variáveis respiratórias decorrentes do acúmulo de tecido adiposo na região abdominal como redução da complascência pulmonar, paresia diafragmática, redução do volume de reserva expiratório e da capacidade residual funcional. 6-7-9-13 Todas as gestantes eram eupnéicas, o que é condizente com outros estudos que relatam que durante o período gestacional há um aumento do consumo de oxigênio decorrente de um maior volume corrente e não da alteração da freqüência respiratória. 1-2-14-18

    O valor da PI máx foi maior no ambiente aquático do que fora da piscina, com elevação progressiva à medida que a profundidade de imersão aumentava. Isso corresponde ao esperado, uma vez que a força que a água exerce sobre a parede torácica, especialmente abdômen, gera uma maior resistência a ser vencida durante a fase inspiratória o que exige maior desenvolvimento de força muscular do diafragma e intercostais externos. 1-8-12-18-19 Além disso, o posicionamento mais cranial do diafragma imposto pelo crescimento fetal aumenta a zona de aposição e deixa esse músculo em um comprimento ótimo, o que favorece a maior geração de força nos momentos iniciais da inspiração, que se traduz na elevação dos valores da PI máx. 10-12-19 (gráfico 1)

Figura 1. Variação da pressão inspiratória máxima (PI máx) em gestantes (n=3) fora da piscina e em diferentes profundidades de imersão.

    O comportamento inverso foi observado para a PE máx, que sofreu redução nas diferentes profundidades de imersão quando se comparou com a mensuração realizada fora da piscina. Essa diminuição pode ser explicada pela redução da força de retração elástica do tórax ao final da inspiração devido a menor insuflação pulmonar e excursão diafragmática durante essa fase. Outro mecanismo possível para esse evento pode estar relacionado a pressão hidrostática exercida sobre o abdômen em adição a força de contração dos músculos abdominais, que reduz o trabalho dessa musculatura e consequentemente a força desenvolvida na fase expiratória 5-8-12 (gráfico 2). Além dos mecanismos propostos para a redução da PE máx, a literatura descreve uma tendência natural de redução das variáveis expiratórias durante o período gestacional. 1-14

Figura 2. Variação da pressão expiratória máxima (PE máx) em gestantes (n=3) fora da piscina e em diferentes profundidades de imersão.

    Foi observada dentro e fora da piscina a manutenção dos valores do PFE (gráfico 3). Essa manutenção do PFE é observada ao longo da gravidez normal por vários estudos. 3-14-15 Apesar das alterações da força da musculatura inspiratória e expiratória, o fluxo expiratório varia principalmente de acordo com o diâmetro das vias aéreas que não sofre influência de baixas pressões hidrostáticas. Como os níveis de imersão utilizados no presente estudo e nas atividades aquáticas indicadas para gestantes não são suficientes para gerar grandes pressões hidrostáticas, houve tendência dos valores de PFE manterem-se constantes. 5-18-20 Assim, não houve alterações na geração de fluxo influenciada pela profundidade da água mesmo nos níveis mais profundos de imersão.

Figura 3. Variação do pico de fluxo expiratório (PFE) em gestantes (n=3) fora da piscina e em diferentes profundidades de imersão.

Conclusão

    À medida que se aumentou a profundidade de imersão foi encontrada tendência de elevação da pressão inspiratória máxima, redução da pressão expiratória máxima e manutenção do pico de fluxo expiratório, quando comparado com os valores encontrados fora da piscina.

Considerações finais

    A prática de exercícios físicos durante a gestação é estudada por vários autores. Apesar dos esforços para determinar a influência das diferentes modalidades de exercício nesse grupo específico, parece não haver consenso quanto ao risco / benefício da sobrecarga induzida pelo esforço. As atividades aquáticas são frequentemente descritas como ideais, entretanto a influencia sobre os vários sistemas corporais não é bem documentada, assim estudos na área são requeridos para validar e embasar a prescrição dessa modalidade de exercícios.

    O presente estudo não teve como objetivo avaliar quais as características das gestantes estão relacionadas às alterações respiratórias que ocorrem durante a imersão. Entretanto, pode contribuir para uma maior aproximação em relação ao comportamento das variáveis respiratórias investigadas durante a imersão de mulheres grávidas e fornecer informações que podem servir como base teórica e metodológica para pesquisas futuras com essa população específica.

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