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Legado de megaeventos: desafio para futuras sedes olímpicas

 

Graduado em Jornalismo (Unisinos) e Educação Física (Ulbra)

Pós-graduando em Administração e Marketing Esportivo (Gama Filho)

(Brasil)

Rodrigo Koch

rodrigokoch@radioguaiba.com.br

 

 

 

Resumo

          O legado que uma possível edição de Jogos Olímpicos trará para o Rio de Janeiro e o Brasil passou a ser tema aprofundado em 2008 por pesquisadores e acadêmicos. Com apoio do Ministério do Esporte, universidades passaram a promover seminários e fóruns com a presença de especialistas estrangeiros, tendo como objetivo o aprofundamento do debate e a construção do conhecimento no país. Apesar da opinião internacional ser favorável a realização dos Jogos Olímpicos no continente sul-americano, em especial no Brasil, os pesquisadores nacionais ainda consideram a nação pouco preparada para receber o evento. Aspectos como transporte, meio ambiente e a falta de um projeto olímpico são apontados como os principais problemas. A população e a sociedade também ainda não tomaram conhecimento do legado que um megaevento poderá proporcionar. Diante deste cenário, estudiosos estão delineando os caminhos a serem seguidos nos próximos anos para a formação de uma candidatura brasileira com solidez perante o Comitê Olímpico Internacional.

          Unitermos: Jogos Olímpicos. Megaeventos. Olimpismo.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 128 - Enero de 2009

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Introdução

    O legado que uma edição dos Jogos Olímpicos poderá deixar para o Rio de Janeiro passou a ser tema de estudo de pesquisadores e acadêmicos brasileiros em 2008. Neste sentido, com apoio do Ministério do Esporte, três eventos – com objetivo de debater e difundir conhecimentos – foram promovidos no período: o Seminário Gestão de Legados de Megaeventos Esportivos (Rio de Janeiro, 1° a 04 de maio); o 1° Fórum de Desenvolvimento do Esporte Olímpico no Brasil – O Brasil nos Jogos Olímpicos de Pequim (São Paulo, 31 de outubro a 1° de novembro); e o 2° Fórum de Desenvolvimento do Esporte Olímpico no Brasil – Jogos Olímpicos Rio de Janeiro 2016 (Porto Alegre, 18 a 20 de novembro). Os três encontros contaram com a presença de especialistas nacionais e internacionais no assunto, que trocaram opiniões sobre os efeitos que os megaeventos, como os Jogos Pan-Americanos – recentemente realizados – e, os Jogos Mundiais Militares (2011), Copa do Mundo (2014) e, possivelmente os Jogos Olímpicos (2016), marcados para os próximos anos, poderão trazer ao Brasil e, em especial ao Rio de Janeiro.

    A preocupação é pertinente já que os Jogos Olímpicos são o evento com maior poder de transformação na paisagem geográfica das cidades e os equipamentos esportivos afetam diretamente a dinâmica urbana (MASCARENHAS, 2004). O país também não recebia grandes eventos esportivos desde 1963, quando São Paulo sediou os Jogos Pan-Americanos e, Porto Alegre foi sede da Universíade (Jogos Mundiais Universitários). Na época nenhum estudo sobre o legado desses megaeventos foi realizado e, ainda hoje não há dados científicos sobre os impactos do Pan e da U-63 sobre as capitais paulista e gaúcha, respectivamente, apesar de ser notável os efeitos sociais e ideológicos causados na população, quando se comenta a realização dos eventos com pessoas que vivenciaram os Jogos. A memória do Pan de São Paulo e da Universíade de Porto Alegre está restrita a matérias de jornais e revistas e, aos aficionados e abnegados, que contribuíram na organização ou assistiram a esses megaeventos. Os documentos relacionados aos números dos eventos – que poderiam nortear e auxiliar em competições futuras – estão em posse de algumas pessoas que trabalharam nos comitês responsáveis pela organização dos mesmos. O Pan deixou para São Paulo a Vila Pan-Americana, única obra que a cidade precisou fazer e, que hoje pertence à Cidade Universitária da Universidade de São Paulo (USP). As demais competições ocorreram no Ibirapuera, em Interlagos, em clubes (Corinthians, Palmeiras, Paulistano e Pinheiros), além do Estádio do Pacaembu, Jockey Club, Hípica Santo Amaro e Sociedade Hípica Paulista. A Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende (RJ), também sediou provas. Já para a Universíade, a maior obra foi o Ginásio U-63, hoje conhecido em Porto Alegre como Ginásio da Brigada. As outras provas também foram realizadas em clubes (Grêmio Náutico União, Sogipa, Leopoldina e Petrópole), além do Estádio Olímpico, do Grêmio Foot-Ball Portoalegrense, e o Armazém D-4, do Cais do Porto.

    Devido a falta de metodologias específicas sobre legado de megaeventos, se faz necessária, no país, a presença de estudiosos estrangeiros no tema, que poderão contribuir de forma essencial para a construção do conhecimento e, orientar os pesquisadores nacionais para quais caminhos seguir, através de erros e acertos do passado, em cidades que receberam os mesmos megaeventos que o Brasil está por sediar.

As experiências e opiniões inglesas

    Porto Alegre foi palco de uma série de debates relacionados ao legado que um megaevento poderá trazer ao Brasil durante o 2° Fórum de Desenvolvimento do Esporte Olímpico no Brasil, último encontro promovido pelo Ministério do Esporte em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A cidade do Rio de Janeiro foi o foco principal do evento, por ter sido sede dos Jogos Pan-Americanos (2007) e já estar credenciada para receber os Jogos Mundiais Militares (2011) e a Copa do Mundo (2014), além de ser cidade candidata aos Jogos Olímpicos de 2016, concorrendo com Chicago (Estados Unidos), Madri (Espanha) e Tóquio (Japão). Os pesquisadores ingleses que estiveram na capital do Rio Grande do Sul receberam atenção especial, pois a Grã-Bretanha será sede da próxima edição dos Jogos Olímpicos.

    Os Jogos de Londres 2012 começaram em 2005, quando a capital britânica foi escolhida pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) para sediar a olimpíada pela terceira vez na Era Moderna (as duas anteriores ocorreram em 1908 e 1948). Desde então, a cidade está se preparando para receber o evento. O legado que os Jogos poderão deixar também está sendo discutido há mais de três anos. Chris Gratton, da Sheffield Hallam University (Grã-Bretanha), destacou que os Jogos Olímpicos já estão acontecendo em Londres desde que a cidade foi escolhida pelo COI. “Existem programas sociais que já estão em andamento em benefício de jovens em situação de risco. Há muitos programas gerados pelos Jogos, mas que não fazem parte do evento”. O britânico ressaltou ainda a regeneração que está sendo feita na área de Stratford, local que abrigará a maior parte das instalações esportivas. “Pequim estava mais preocupada em fazer uma olimpíada espetacular, enquanto que Londres quer inspirar os jovens para o esporte”, destacou Gratton. Iain McCury, da University of East London (Grã-Bretanha), também falou sobre os impactos das obras em Stratford, destacando que apenas um número pequeno de pessoas teve que ser deslocado de suas residências. “A maior mudança em Londres será no sistema de transporte, pois os Jogos vão proporcionar esta necessidade. A capital britânica estará conectada com a Europa”, comemora McCury. “As pessoas estão apoiando os Jogos de Londres, apesar das criticas da mídia. Ainda existe um receio da população por uma característica típica inglesa”, completou Gratton. Os professores ainda revelaram que Londres não está pronta no momento, mas com certeza estará com todas as instalações finalizadas em 2012 apesar da crise mundial. “Pode ser um problema, mas a crise também fará as pessoas pensarem em Jogos mais focados em desenvolvimento de programas sociais e culturais e, menos comerciais”. Deste modo os Jogos de Londres 2012 pretendem se aproximar mais dos princípios da Carta Olímpica, que de forma resumida pregam a construção de um mundo melhor e mais pacífico, educando a juventude por meio do esporte (SANFELICE, 2007).

    Iain McCury acredita que o Brasil está muito próximo de se tornar sede olímpica. “O Rio de Janeiro é um candidato ideal para sediar os Jogos. Nunca a América do Sul recebeu o evento. O potencial de regeneração do Rio de Janeiro é maior do que qualquer outra candidata. A capital tem uma boa chance por ser uma cidade bonita e ter realizado os Jogos Pan-Americanos”.

O Brasil condenado a sediar os Jogos Olímpicos

    Para os especialistas brasileiros, o país ainda não está devidamente preparado para receber uma edição dos Jogos Olímpicos. No entanto a maioria concorda que este é um processo inevitável. O Dr. Lamartine Pereira DaCosta, professor da Universidade Gama Filho (RJ), destaca que há inúmeros aspectos que devem ser levados em consideração, como transporte, saúde, infraestrutura e comunicação. “Qualquer evento é muito bom para sua cidade e país, mas precisa ser bem gerenciado para não trazer prejuízos sociais”, explica DaCosta. A secretária nacional de Desenvolvimento de Esporte e de Lazer, Rejane Penna Rodrigues, disse que todas as obras deverão ser projetadas pensando na utilização das mesmas no futuro, principalmente projetos viários. “Estamos trabalhando para 2016”. Lamartine DaCosta aposta no Brasil como futura sede olímpica, citando exemplos semelhantes de países emergentes em décadas passadas como Japão, Itália, Coréia do Sul e, atualmente a China. “Estamos condenados a ser sede dos Jogos Olímpicos. O evento serve como lançamento de nações, para uma visão internacionalista. O Brasil está entre os cinco maiores potenciais para sediar megaeventos, juntamente com Rússia e Índia. Se não for em 2016, será posteriormente e, em breve. É uma situação geopolítica. O problema é que ainda somos um pouco imaturos e ansiosos”.

    Mas ainda faltam muitas etapas para o Rio de Janeiro se tornar sede olímpica. A cidade já foi candidata em outras duas oportunidades não passando da primeira fase de seleção por problemas em seu projeto. Neste ponto, o Rio de Janeiro já avançou, pois conseguiu se classificar entre as finalistas no processo de escolha da sede para 2016. De acordo com Alberto Reinaldo Reppold Filho, do Centro de Estudos Olímpicos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a capital fluminense precisa resolver problemas nas áreas do transporte, dos projetos sociais, do meio ambiente e do legado. “Não estamos conseguindo analisar o legado que o Pan nos deixou e, isso coloca dúvidas sobre nossa capacidade de planejamento”, destaca o professor. Mascarenhas (2004) classifica o Rio de Janeiro como “uma grande cidade com graves problemas sociais e ambientais, típicos do subdesenvolvimento”. Seul (Coréia do Sul), sede dos Jogos em 1988, e Barcelona (Espanha), que abrigou a maior competição esportiva em 1992, são modelos urbanísticos a serem seguidos e observados devido ao êxito que obtiveram, principalmente o exemplo coreano, de um país – na época – emergente, caso do Rio de Janeiro e do Brasil no cenário mundial.

    Alguns pesquisadores rejeitam o rótulo de futura sede olímpica, para o Brasil. Kátia Rubio, da Universidade de São Paulo (USP), revela um grave problema do país: ainda não existe a cultura olímpica entre os brasileiros. “O Brasil não tem um projeto olímpico; temos apenas ações olímpicas. Há uma preocupação com o tema nos anos que antecedem os eventos, mas não existe de fato um projeto”. A professora também reclama da falta de visão ao aspecto humano dos megaeventos, que é pouco debatido. Há uma inversão de valores e, o atleta é colocado em segundo plano. “Sem atleta não há Jogos e, sem Jogos não há investimento”, lembra Rubio. A socióloga defende ainda que por meio do esporte – que deveria estar presente em todos os ambientes de aprendizado – se ensina regras, solidariedade, competição e vivências. “Não sei se em 2020 ou 2024 isso acontecerá. Defendo que haja um projeto para que tenhamos uma candidatura com solidez; para um dia podermos sonhar com uma olimpíada”. Apesar de concordar com as afirmações da professora, DaCosta ressalta que a consciência sobre estas questões também não existe em outros países. “Olimpismo é uma postura filosófica. A população não precisa entender o que é olimpismo, apenas deve ser educada para o esporte”. Para Sanfelice (2007), na visão atual, “o olimpismo é mais uma fonte de pesquisa e referência histórica, do que uma aplicação prática dos princípios dos Jogos Olímpicos”. O pesquisador também defende que diante do contexto do esporte no novo milênio é necessário separar os caminhos da Educação Olímpica e dos Jogos Olímpicos por terem objetivos diferentes, propondo reestruturação da Carta Olímpica.

O papel da mídia na construção do conhecimento

    Dentro da proposta de educação olímpica que o governo e as universidades pretendem desenvolver no Brasil nos próximos anos, a mídia (tevês, rádios, jornais, revistas e sites) terá papel fundamental na construção do novo conhecimento. Estudo publicado por Sanfelice (2007), aponta registros relativos a individualidades, inerentes ao esporte e, a equipes, como os mais difundidos pela mídia durante a realização dos Jogos Olímpicos. Para o quadro mudar, será necessário que outros aspectos – como a exaltação do espírito olímpico, participação nos Jogos e, união e família – recebam maior espaço nos veículos de comunicação. Os Jogos Olímpicos, na era moderna, a partir da cobertura da imprensa, são a profissionalização do esporte com a vitória a qualquer preço. Através de manifestações midiáticas o Comitê Olímpico Brasileiro, com apoio do Ministério do Esporte, pretende difundir cada vez mais os ideais do movimento olímpico, provocando e convocando as crianças e os jovens à prática esportiva, para o desenvolvimento de uma nova geração.

    Os próximos eventos olímpicos trazem uma novidade para o país na cobertura dos veículos eletrônicos de comunicação. Pela primeira vez, o monopólio e a hegemonia olímpica da Rede Globo foi quebrada pela Rede Record, que adquiriu os direitos exclusivos dos Jogos de Inverno de Vancouver-2010, dos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara-2011 e dos Jogos Olímpicos de Londres-2012. No entanto, por falta de tecnologia e estrutura, a emissora se viu obrigada a renegociar os direitos para tevê fechada (a cabo) e internet, que acabaram ficando com a Globosat e portal Terra, respectivamente. As transmissões em sinal aberto continuam de forma exclusiva com a Rede Record e, os direitos para rádios e telefonia celular ainda não foram discutidos com os interessados. O diretor de Esportes da Rede Record, Eduardo Zebini, explicou os planos da emissora para o novo ciclo olímpico, no qual pretende se tornar líder no segmento. “Estamos com os principais eventos olímpicos. Isto não é apenas o interesse comercial da empresa, mas sim a visão que temos do esporte como ferramenta de força para mudança da sociedade”. O coordenador de esportes da Record SP, Márcio Moron, destacou que haverá um maior espaço nos veículos da empresa para os Jogos Olímpicos. “Levaremos uma equipe de profissionais qualificados para os três eventos, dando uma cobertura diferenciada para os Jogos de Inverno em Vancouver, pela primeira vez em tv aberta”, completou Moron.

Considerações finais

    A próxima sede olímpica será escolhida em outubro de 2009, na Dinamarca. Até lá, as quatro candidatas ainda passarão por novos processos de avaliação do Comitê Olímpico Internacional. Apesar dos esforços do Rio de Janeiro, os especialistas brasileiros não acreditam que a capital fluminense terá condições para 2016 e, colocam a americana Chicago como favorita na disputa olímpica. Os pesquisadores descartam Madri e Tóquio, porque Europa e Ásia já receberam eventos olímpicos recentemente e, ambas cidades estariam em fusos horários desfavoráveis para a tevê dos Estados Unidos, que é a principal investidora mundial nos direitos de transmissão. A capital japonesa também teria como ponto negativo a poluição e o trânsito, problemas que também são apontados ao Rio de Janeiro. Já a cidade espanhola tem contra si o fato dos Jogos de Londres, em 2012, e Sochi, em 2014, também na Europa; e sua escolha acarretaria em três eventos seguidos do COI no continente europeu. “Tóquio e Madri já estariam quase prontas para receber um megaevento, mas Chicago tem a seu favor o fator político atual”, destaca Rejane Penna Rodrigues. Questões internas do Brasil também são apontadas como problemas da candidatura fluminense. “O Rio de Janeiro precisa ainda convencer o Comitê Olímpico Brasileiro de que isto não será somente uma ação; e o Comitê Olímpico Internacional de que não será feita apenas uma maquiagem e, sim um plano consistente”, lembra Kátia Rubio.

Referências bibliográficas

  • Entrevistas com os pesquisadores Alberto Reinaldo Reppold Filho, Chris Gratton, Eduardo Zebini, Iain McCury, Kátia Rubio, Lamartine Pereira DaCosta, e Rejane Penna Rodrigues, realizadas durante o 2° Fórum de Desenvolvimento do Esporte Olímpico no Brasil, em Porto Alegre; com a colaboração da repórter Mariana Oselame (Rádio Guaíba).

  • KOCH, Rodrigo. Universíade 1963 – História e Resultados dos Jogos Mundiais Universitários de Porto Alegre. Editora Unisinos, 2003, São Leopoldo.

  • MASCARENHAS, Gilmar. A cidade e os grandes eventos olímpicos: uma geografia para quem? Lecturas Educacion: Física y Deportes. Buenos Aires, Ano 10, n° 78, novembro de 2004. http://www.efdeportes.com

  • SANFELICE, Gustavo Roese. Esporte contemporâneo e olimpismo na cobertura dos Jogos Olímpicos. Lecturas: Educacion Física y Deportes. Buenos Aires, Ano 12, n° 108, maio de 2007. http://www.efdeportes.com

  • Revista EF – Órgão Oficial do CONFEF – Ano VIII – n° 28 – Junho 2008.

  • www.crefsp.org.br

  • www.lancenet.com.br

  • www.ufrgs.br/forumpoa

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