efdeportes.com

Fatores psicológicos e a influência 

no rendimento de voleibolistas

 

* Licenciado Plenamente em Educação Física pela

Universidade do Vale do Rio dos Sinos

** Acadêmico de Educação Física da Universidade do Vale do Rio dos Sinos

***Professor de Educação Física da

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

****Professor de Educação Física da

Universidade do Vale do Rio dos Sinos

(Brasil)

Rudiard Anderson Dörr Vogt*

Prof. Esp. Ivan Fonseca de Gallo****

Prof. Ms. Christiano Guedes***

Prof. Ms. Rosemary Oppermann*** | Matias Noll**

Adriano Jorge Schneider*| Andrews Barcellos Ramos*

kiguirdv@yahoo.com.br

 

 

 

Resumo

          Atualmente, percebe-se que o rendimento está diretamente ligado à preparação psicológica em que os atletas e a equipe se encontram. Este estudo qualitativo do tipo descritivo-exploratório teve como objetivo identificar os fatores psicológicos que interferem no rendimento do atleta no final da partida. A amostra foi composta por 59 atletas masculinos, registrados na Federação Gaúcha de Voleibol, com idade entre 16 e 17 anos. Para a coleta dos dados foi aplicado um questionário com 7 perguntas fechadas. Os dados foram analisados no SPSS 13.0. Na análise descritiva foram utilizados os valores absolutos e percentuais das repostas e na análise inferencial o teste do qui-quadrado. Obteve-se como resultados relevantes a afirmativa de que os fatores psicológicos influenciam no rendimento nos finais da partida, sendo os mais significativos a concentração (89,9%), a autoconfiança (84,7%) e a atenção (76,3%). Este estudo permite dar continuidade junto as equipes e seus treinadores sinalizando intervenções e aprimoramento do próprio estudo em melhoria do rendimento e performance dos atletas e da comissão técnica.

          Unitermos: Psicologia do esporte. Voleibol. Desempenho.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 128 - Enero de 2009

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Introdução

    O voleibol pelas regras atuais tornou-se um jogo bastante disputado e cheio de emoções. Alguns jogos chegam a ter duração de mais de duas horas, de esforço máximo, necessitando de bom preparo físico e emocional do atleta, principalmente quando o jogo está no seu momento final ou decisivo. No voleibol de hoje um jogo de alto nível é disputado num sistema de melhor de cinco sets, conforme a regra 6.3 da (FIVB), sendo a partida definida pela equipe que vencer três sets, com diferença mínima de dois pontos ao final do set decisivo da partida, podendo ser este o terceiro (3x0), o quarto (3x1) ou o quinto set (3x2) do jogo. Portanto, os momentos decisivos da partida neste estudo são aqueles em que uma equipe está preste a vencer o jogo, necessitando apenas a diferença mínima de dois pontos, no set necessário para que esta vença o seu terceiro set, decretando assim o fim da partida.

    O voleibol de competição atual em sua prática tem como objetivo enviar a bola sobre a rede para fazê-la tocar a quadra do adversário, sendo disputado por duas equipes numa quadra dividida por uma rede, composta de 6 jogadores mais o líbero, responsável pelo aprimoramento do passe e defesa de uma equipe e a comissão técnica (FIVB, 2005-2008), seguindo as regras do jogo conforme estabelecidas pela FIVB, entidade máxima do esporte.

    O voleibol atual conforme Frascino (1989, p. 15) “é um esporte que disputa preferência internacional entre os mais praticados que existem. É esporte competitivo de altíssimo gabarito e continua a se prestar como recreação das melhores”. O voleibol como recreação, proporciona a quem o pratica alegria, diversão, desintoxicação, além de ser ótimo para ser praticado ao ar livre ou em quadras fechadas e de reunir jovens, adultos, de ambos os sexos, sendo necessário um breve conhecimento de regras e um básico domínio técnico (FRASCINO, 1989). Porém como esporte de competição exige muito mais de seus praticantes, como conhecimento de regras, agilidade, velocidade, técnica, tornando-se um dos esportes mais completos e com maiores dificuldades de realização entre os competitivos.

    Na atualidade, os esportes vêm sofrendo constante evolução em seu processo de prática. Tanto os esportes coletivos quanto os individuais, sofrem mudanças em relação a preparação física, tática e técnica, considerando também as tecnologias do mundo atual, que exigem o máximo desempenho dos atletas, ocasionando desgastes físicos e, principalmente, psicológicos. Aliado com essas evoluções esportivas, a psicologia do esporte vem explicar e esclarecer certas circunstâncias que ocorrem durante preparação física, técnica, tática e durante os jogos, a fim de aprimorar o desempenho esportivo do atleta.

    Segundo Nitsch apud Samulski (2002, p. 3) “a função da Psicologia do Esporte consiste na descrição, explicação e no prognóstico de ações esportivas, com o fim de desenvolver e aplicar programas, cientificamente fundamentados, de intervenção, levando em consideração os princípios éticos”. A Psicologia do esporte atual faz-se necessária, a partir do momento em que vem se constatando que a preparação psicológica é fundamental, influenciando muitas vezes diretamente no resultado dos eventos esportivos. Weinberg e Gould (2001, p. 28) destacam que as pessoas estudam a psicologia para “(a) entender como os fatores psicológicos afetam o desempenho físico do indivíduo; (b) entender como a participação em esportes [...] afeta o desenvolvimento psicológico, a saúde e o bem-estar de uma pessoa”.

    Os fatores psicológicos estão cada vez mais presentes e participantes quando se fala em rendimento, tanto é que conforme Cruz e Gomes (2001, p. 1) “os fatores psicológicos são uma das razões que mais vezes são apontadas por diferentes agentes desportivos para justificar a obtenção de determinados resultados desportivos”. Os fatores psicológicos precisam ser considerados como parte do treinamento esportivo de qualquer equipe, assim como afirma Kocian, R., Kocian, W., e Machado (2005, p. 1) que “o componente ideal para uma competição esportiva seria a junção de componentes físicos, com componentes mentais e emocionais (psicológicos)”. Ao perceber a importância e a influência dos fatores psicológicos no rendimento e no trabalho esportivo, Deschamps e Junior (2006, p. 1) citam que “os aspectos psicológicos são, sem dúvida, um dos principais componentes da preparação do atleta de alto rendimento, sendo que eles abrangem uma série de fatores que, quando combinados, podem influenciar negativa ou positivamente no seu desempenho.”

    O treinamento psicológico pode ser trabalhado dentro das diversas áreas que o esporte abrange, sendo ela escolar, recreativa, de reabilitação e de rendimento. Porém, neste último, onde é exigido um bom preparo psicológico do atleta, o treinamento psicológico trata “[...] sobretudo, da análise e da modificação dos fatores psíquicos determinantes do rendimento do esporte com a finalidade de melhorar o rendimento e otimizar o processo de recuperação” (SAMULSKI, 2002, p. 14).

    Nada adianta ter um atleta fisicamente bem estruturado e preparado para agüentar as partidas e treinamentos, se o seu psicológico não esta respondendo corretamente, ocasionando a queda no seu rendimento. Para adquirir-se resultados satisfatórios com implantação de um treinamento psicológico com os atletas, alguns passos, devem ser tomados, tais como: fazer com que este trabalho não seja imposto; que parta da iniciativa do aluno; que identifique a finalidade da implantação de um treinamento psicológico; que desenvolva a confiança no trabalho que será executado, não esquecendo que o atleta é um ser individual e deve ser tratado e trabalhado assim (SAMULSKI, 2002). Estes passos priorizados visam uma estabilização psicológica e uma melhoria no rendimento esportivo.

    Para qualquer prática que irá se realizar há sempre algo que impulsiona o atleta a realizar tal atividade. O principal fator propulsor é a motivação que, segundo Samulski, (1992, p. 52) “é caracterizada como um processo ativo, intencional e dirigido a uma meta, o qual depende da interação de fatores pessoais (intrínsecos) e ambientais (extrínsecos)”. O termo motivação dirige o movimento, ativação. A motivação é um fator tão importante dentro do esporte visto que esta fará um desportista desempenhar bem ou mal uma ação (HERNANDEZ; VOSER; LYKAWKA, 2004). Porém, a motivação é um conjunto de varias ações que ocorrem no ser humano ou que ocorrem fora e implicam sobre ele próprio.

    Atualmente, além de continuar sendo praticado como forma de lazer, descontração e recreação, o voleibol criou status de ser um esporte de alto rendimento, profissional (BOJIKIAN, 1999 apud PAIM, 2003). A sua prática atual visando rendimento, exige do atleta uma dedicação que, na maioria das vezes, se torna exclusiva. Porém o desgaste físico ainda é reconhecido como fator de desequilíbrio para um excelente rendimento, mas o que muitos desconhecem é que segundo Bizzochi (2000) apud Bueno e Bonifácio (2007, p. 2) “[...] as partidas, principalmente no voleibol de alto nível, têm sido definidas em favor da equipe que apresenta maior equilíbrio psicológico”, ainda mais nos tempos atuais, com as mudanças nas regras que tornaram o jogo muito mais rápido e dinâmico. Isso exige do atleta muito mais do que preparo físico, além da velocidade de pensamento, de ação e reação, já que em um jogo rápido os níveis psicológicos devem estar em equilíbrio para uma melhor performance. Podemos assim perceber que o desempenho está diretamente ligado a preparação psicológica em que os atletas e a equipe se encontram. A partir disto, o objetivo geral deste estudo é identificar os fatores psicológicos que podem interferir no rendimento do atleta no momento decisivo da partida.

Metodologia

    Este estudo é do tipo descritivo-exploratório que, conforme Thomas e Nelson (2002, p. 35), “é um método de pesquisa que envolve [...] registro preciso e detalhado do que acontece em um ambiente, interpretação e análise de dados utilizando descrições, narrativas, citações, gráficos e tabelas” e Mattos, Junior e Blecher (2004) citam que o tipo descritivo-exploratório permite ao pesquisador familiarizar-se com o fenômeno e obter uma nova percepção a seu respeito, descobrindo assim novas idéias em relação ao objeto de estudo e também descrever as características, propriedades ou relações existentes no grupo ou na realidade em que foi realizada a pesquisa.

Amostra

    A amostra constituiu-se de 59 atletas de voleibol do sexo masculino, sendo 39 atletas com 16 anos e 20 atletas com 17 anos.

Instrumentos para coleta

    Para a coleta dos dados elaborou-se um questionário com sete perguntas fechadas, com 5 opções de respostas como: muito importante, importante, razoavelmente importante, pouco importante e sem condições de opinar. O questionário passou pela validação de três professores pesquisadores que atuam com equipes de esporte coletivo, nesta faixa etária.

Procedimentos de coleta de dados

    O questionário foi aplicado com os atletas das equipes participantes, em um campeonato de voleibol organizado pela Federação Gaúcha de Voleibol. Para que todos tivessem a mesma idéia dos conceitos que havia nas perguntas, foi esclarecida a conceitualização de termos. Depois de realizado o questionário com os atletas, foi feito a tabulação das respostas através do programa Microsoft Office Excel 2003, onde passaram por tratamento estatístico.

Tratamento estatístico

    As análises estatísticas foram feitas no Pacote Estatístico SPSS for Windows 13.0. Para a análise descritiva foram utilizados os valores absolutos e percentuais das repostas. Na análise inferencial foi utilizado o teste do qui-quadrado e o nível de significância adotado foi de 5%.

Apresentação e discussão dos resultados

    De acordo com os resultados obtidos, pode-se dizer que os valores percentuais e absolutos quanto a idade dos atletas foram de 39 atletas com 16 anos representando no montante um total de 66,1% da amostra. Já os atletas de 17 anos representavam 33,9% num total de 20.

Tabela 1. Divisão dos atletas avaliados quanto a idade

Idade

v.a.

v.p.

16

17

Total

39

20

59

66,1%

33,9%

100,0%

v.a. = valores absolutos v.p. = valores percentuais

    Segundo Gouvêa e Lopes (2008, p.3) “essa faixa etária se constitui como o inicio de um ciclo de formação de atletas que irão atuar futuramente em alto nível desportivo, e nesse ciclo é preciso trabalhar de forma concisa e criteriosa para que se alcance tal objetivo”, Bueno e Bonifácio (2007) complementam citando que a faixa etária pode afetar o desempenho do atleta na partida.

Análise da amostra por posição em quadra

    A tabela 2 apresenta-nos valores absolutos e percentuais dos atletas divididos por posição na quadra, da qual 8 atletas eram levantadores, representando 13,6%, 16 atletas eram Meio/central representando 27,1%, 17 atletas eram Ponta/entrada representando 28,8%, 12 atletas eram Saída/oposto representando 20,3% e 6 atletas eram Líbero representando 10,2% do montante. Para este estudo foi de extrema importância contarmos com a participação de atletas da posição de levantador, pois estes dentro dos jogos são os atletas com maior influência no jogo, muitas vezes sendo designados os capitães de suas equipe, conforme Ramos et. al (2004, p. 2)

    [...], responsável pela criação das principais ações ofensivas [...], que possibilite um levantamento seguro e preciso, necessita aliar a velocidade de reação com suas capacidades táticas e mentais Ele assume a função de estrategista, desenhando táticas e avaliando os momentos e reações dos seus atacantes. De fato, dentro da dinâmica e mesmo da agitação de uma partida, o levantador precisa de lucidez e serenidade para decidir adequadamente.

Tabela 2. Número de atletas avaliados divididos por posição

Posição

v.a.

v.p.

Levantador

Meio/central

Ponta/entrada

Saída/oposto

Líbero

Total

8

16

17

12

6

59

13,6%

27,1%

28,8%

20,3%

10,2%

100,0%

v.a. = valores absolutos v.p. = valores percentuais

    Ao analisar-se a tabela 2 percebemos que a presença de jogadores da posição de ataque (meio/central, ponta/entrada e saída/oposto) é a grande maioria, num total de 45 atletas representando 76,2% dos participantes. Esse número maior de jogadores atacantes ocorre pois “a predileção pelo ataque perante a defesa é considerada uma espécie de característica da cultura esportiva em nosso país” (GOUVÊA; LOPES, 2008, p. 2). O mesmo autor afirma que dentro de quadra a importância de um atacante qualificado é primordial, já que o ataque é visto como um fator determinante no desempenho de uma equipe de voleibol, sendo o principal responsável pela conquista de grande parte dos pontos disputados em uma partida. Não menos importante e extremamente necessário, percebemos na tabela em menor escala quanto ao número de atletas desta posição, já que sua função foi iniciada apenas a partir de 1998 com a mudança da regra, o libero criado a fim de suprir carências defensivas, além de aprimorar o setor de defesa e passe de uma equipe, fundamentos necessários para um bom rendimento esportivo (JOÃO et al, 2006).

Análise da amostra por tempo de prática no voleibol

    Na tabela 3 pode-se verificar a distribuição dos atletas quanto ao tempo de prática em valores absolutos e percentuais. Para que houvesse uma melhor avaliação e discussão dos resultados, o grupo de estudo foi dividido quanto ao seu tempo de prática, até 3 anos e mais de 3 anos de prática, conforme a tabela abaixo.

Tabela 3. Distribuição dos atletas quanto ao tempo de prática

Tempo de prática

v.a.

v.p.

até 3 anos

mais de 3 anos

Total

26

33

59

44,1%

55,9%

100,0%

v.a. = valores absolutos v.p. = valores percentuais

Análise da percepção dos níveis de importância dos fatores psicológicos que interferem no rendimento nos momentos decisivos da partida de voleibol

    Depois de feita a divisão do grupo por tempo de prática, os resultados do estudo apresentado, conforme análise das respostas do questionário está representada na tabela 4.

Tabela 4. Percentual dos níveis de resposta para cada índice de percepção

Índices de percepção

Níveis de resposta

Muito Importante

Importante

Razoavelmente Importante

Pouco Importante

SCO*

Trein. Psicológico

Auto-estima

Ansiedade

Atenção

Cont. Estresse

Autoconfiança

Concentração

57,6%

57,6%

16,9%

76,3%

30,5%

84,7%

89,8%

33,9%

40,7%

37,3%

20,3%

54,2%

13,6%

10,2%

8,5%

1,7%

25,4%

3,4%

8,5%

1,7%

0,0%

0,0%

0,0%

20,3%

0,0%

5,1%

0,0%

0,0%

0,0%

0,0%

0,0%

0,0%

1,7%

0,0%

0,0%

*SCO = Sem condições de opinar

Análise dos níveis de importância do treinamento psicológico

    Ao analisarmos os dados referentes ao Treinamento Psicológico da tabela 4, podemos constatar que a maioria dos atletas, um total de 57,6%, percebe que este se torna muito importante para o rendimento. Para Deschamps e Junior (2006, p. 1)

    A preparação psicológica é um instrumental eficiente para trabalhar o atleta, em nível psíquico, para o enfrentamento de situações estressantes do ambiente esportivo e utilizar dessa estrutura pessoal para a obtenção de seu potencial máximo na competição. Ela pode incluir modificação de processos e estados psíquicos como pensamento, motivação, emoção, percepção e estados de humor, componentes das bases psíquicas da regulação do movimento.

    Porém ao defrontar-se com a realidade dos clubes, percebe-se que este treinamento não é muito difundido, principalmente com jovens entre 16 e 17 anos. Muitos atletas possivelmente, ao analisar, perceber e responder esta questão basearam-se em fatos ouvidos ou simplesmente comentados em meios de comunicação. Este dado se traduz quando se analisa a tabela e percebe-se que 8,5% desses jovens consideraram o treinamento psicológico apenas razoavelmente importante para o seu rendimento. Porém a maioria dos jovens atletas consegue perceber a importância e os benefícios que o treinamento psicológico pode trazer nos momentos decisivos da partida. Segundo Deschamps e Rose (2006, p. 1)

    O tipo de treinamento psicológico que é utilizado no esporte varia muito e as habilidades mentais e atributos psicológicos que geralmente são trabalhados com atletas de alto rendimento são: aumento de autoconfiança, atenção e concentração, organização de objetivos, autocontrole da ativação e relaxamento, utilização de visualização e imagem, estratégias de rotinas e competitividade, elevação de motivação e comprometimento.

    Os fatores citados pelos autores são extremamente importantes quando se fala em rendimento, podendo ser trabalhados através do treinamento psicológico, que deve estar inserido no contexto de treinamento das equipes de esporte que visa o rendimento, a fim de aprimorar o mesmo.

Análise dos níveis de importância da auto-estima

    Quanto a percepção dos atletas diante da auto-estima pode-se perceber que esta também se mostra com valores maiores, de 57,6%, no índice de muito importante. Segundo Dürrwächter (1982) apud Osaki, Keller e Coelho (2005) é significante que o atleta tenha sua auto-estima elevada, pois o modo como ele se vê ou o modo como ele acha que os outros o vêem, interferem para uma boa performance.

    A maioria dos atletas deste estudo referendou como muito importante a auto-estima, para a sua performance e rendimento.

    Os dados que a tabela 4 nos traz, permite fazer uma reflexão sobre a percepção de importância do treinamento psicológico e a auto-estima. Estes dois fatores tiveram nos valores de percepção muito importante o percentual de 57,6%. Quando se analisa com maior cuidado nota-se que os valores da percepção de razoavelmente importante, respondido pelos atletas, são maiores no treinamento psicológico em relação à auto-estima. Esse fato nos permite refletir, de que auto-estima é um termo mais conhecido, não se fala de auto-estima somente dentro de esporte, mas em vários outros aspectos da vida, auxiliando na percepção dos atletas no momento de responder esta questão.

    Osaki, Keller e Coelho (2005, p. 3), realizaram um estudo relacionando a auto-estima com voleibol feminino, mais exatamente no nível técnico e chegaram a conclusão de “que outros fatores além da auto-estima interferem no nível técnico das atletas, mas que existe uma tendência das atletas com maior auto-estima também possuírem um maior nível técnico”. Em relação ainda sobre a auto-estima do atleta, Ribeiro (1992) e Lopes (1963) apud Osaki, Keller e Coelho (2005, p.2) citam que “na conquista do sucesso a auto-estima é de grande importância, se você se gosta convence os outros a gostarem de você”.

    Os atletas não perceberam diferenças entre auto-estima e treinamento psicológico, por ser mais conhecido o termo auto-estima pode ter sido referendado pelos alunos no mesmo nível do treinamento psicológico. E ainda, neste estudo percebe-se que alguns atletas ainda não identificam a total importância de um treinamento psicológico para um enfrentamento dos problemas psíquicos que venham a acontecer durante as partidas, principalmente nos momentos finais e decisivos dos jogos.

Análise dos níveis de importância da ansiedade

    Os resultados, quanto à resposta de percepção sobre a ansiedade, podemos perceber que esta não se caracteriza, conforme opinião dos atletas que responderam o questionário como sendo um fator muito importante a ponto de ter influência no rendimento. Podemos visualizar que o nível com maior percentagem de repostas foi o de importante com 37,3% do total dos entrevistados. Em segundo e terceiro aparecem razoavelmente importante e pouco importante com 25,4% e 20,3% respectivamente. Muito importante aparece com apenas 16,9%,

    Os atletas em sua maioria não conseguiram perceber a ansiedade como muito importante, apesar de esta ser um grande responsável por níveis altos ou baixos de rendimento.

    Esse fato nos direciona a questão anterior quanto a auto-estima no qual representou 57,6% de muito importante. Pode-se então sugerir que, a maioria dos atletas estava com sua auto-estima elevada podendo ter influenciando diretamente na avaliação da sua ansiedade. Segundo Wallhead e Ntoumanis (2004) e Weiss (1991) apud Bertuol e Valentini (2006, p. 2) “[...] crianças e adolescentes que evidenciam níveis baixos de auto-estima, [...] tendem a experienciar maior ansiedade pré-competitiva e, em conseqüência, carência de prazer pessoal na competição”, influenciando em seu rendimento.

    Diferente dos níveis de percepção apresentados, pelos atletas diante das respostas sobre ansiedade, dos quais o nível de percentagem muito importante ficou baixo, Weinberg e Gould (2001) discordam da percepção dos atletas quando citam que, a ansiedade além de influenciar o desempenho, induz também mudanças em outros fatores psicológicos como na atenção e na concentração além de gerar um aumento na tensão muscular.

Análise dos níveis de importância do estresse

    Quanto a percepção do estresse nas respostas, percebe-se que este tem o seu maior percentual no nível importante, no total de 54,2%. Porém quando associamos os níveis de resposta com o tempo de prática dos jogadores, identificamos associação estatisticamente significativa entre ter um tempo de prática menor do que 3 anos e responder importante no índice de percepção controle do estresse (p= 0,009; ajuste residual= 3,1). Keller et al. (2005) realizaram um estudo da relação de tempo de prática com o estresse em atletas femininas de voleibol e pode concluir através destes, que o tempo de prática teve uma relação direta com os níveis de estresse, pois as atletas mais experientes apresentaram menores níveis de estresse. O atleta ao enfrentar o volume de exigências de seu meio social, cada qual de acordo com sua experiência, reage com maior ou menor nível de estresse. Os autores ainda citam “que as atletas mais experientes apresentam níveis menores de estresse, em quanto que as atletas com menos tempo de prática se encontram nos níveis mais avançados de estresse” (KELLER et al., 2005, p.2 )

    Podemos perceber assim que os atletas com menos tempo de prática, menos experientes, possuem maiores dificuldades em controlarem o estresse, quando se deparam com essa situação antes e/ou durante a competição.

Análise dos níveis de importância da autoconfiança

    Quanto aos níveis de importância da autoconfiança, os resultados do estudo mostraram que 84,7% da amostra, se encontravam no índice de muito importante. Segundo Roffé (1999) apud Lavoura, Mello e Machado (2008, p. 10) “[...] afirma que quanto maior a autoconfiança, menor a insegurança, menor a ansiedade, menor a hostilidade, maior decisão, maior capacidade de arriscar e maior controle dos medos” além de Weinberg e Gould (2001) apud Ferreira (2008, p. 1) “A autoconfiança pode ser definida como a crença de que o atleta pode realizar com sucesso um comportamento desejado, despertando emoções positivas, auxiliando na concentração e afetando o estabelecimento de metas desafiantes”.

    Conforme os resultados analisados permite-se afirmar que os atletas sentem-se seguros, para enfrentar os momentos decisivos da partida, demonstrando menor ansiedade.

    Estes atletas podem estar demonstrando tais comportamentos devido a sua participação nos campeonatos.

    Esse fato nos faz voltar a questão da percepção quanto a ansiedade, porque Lavoura, Machado (2006), Ferreira et al.(2008) afirmam em seus estudos, que a autoconfiança pode influenciar nos níveis de ansiedade, mais especificamente, quanto mais alto os índices de autoconfiança mais baixos serão os níveis de ansiedade ou quanto menor o índice de autoconfiança, maior será o de ansiedade. Na tabela 4 temos este retorno, pois quando analisamos as respostas dos atletas, encontramos maior percentagem no índice de percepção muito importante no fator psicológico autoconfiança do que na ansiedade.

    Os resultados analisados nos remetem a percebermos que os atletas sentem a autoconfiança muito mais importante para o seu rendimento nos momentos decisivos da partida, do que a ansiedade.

Análise dos níveis de importância da atenção e da concentração

    Concentração e atenção obtiveram um alto índice de percepção em muito importante com 89,1% e 76,3% respectivamente. Segundo Gould, Eklund, Jackson (1992), Mccaffrey, Orlick, (1988), Mahoney, e Perkins (1987) apud Stefanello (2007, p. 5) em sua publicação, cita que

    Alguns estudos sugerem que altos níveis de concentração estão associados com a ocorrência de picos de desempenho e têm contribuído para a diferenciação entre atletas bem e mal sucedidos ou entre atletas de elite e outros menos proficientes. As alterações no estado emocional e/ou de ânimo pareceram ser as principais conseqüências da perda de concentração de ambos os atletas.

    Percebe-se assim que os atletas que responderam este questionário conseguem perceber que atenção e principalmente concentração são fatores importantíssimos no rendimento dos mesmos, principalmente nos momentos decisivos, finais das partidas. A atenção está ligada diretamente com a concentração, assim como constatou Nideffer (1991) e Samulski (2002) apud Stefanello (2007) que performance e a excelência esportiva não dependem apenas da habilidade dos atletas em desenvolver altos níveis de concentração, mas de sua capacidade em alternar o seu foco da atenção em função das exigências e dos contextos esportivos. Podemos constatar na Tabela 4 que os percentuais de muito importante de concentração e atenção estão elevados, nos mostrando assim uma relação direta entre ambos, como destacou Stefanello (2007, p. 5) em seu estudo com atletas de vôlei de praia que “a perda do foco atencional também foi um fator considerado pelos campeões olímpicos do vôlei de praia como decorrente da sua perda de concentração”.

    Altos níveis de concentração e atenção interferem na performance e na excelência esportiva, neste estudo revelado também para os momentos decisivos da partida.

Considerações finais

    Os atletas deste estudo percebem que os fatores psicológicos influenciam em seu rendimento. Alguns fatores psicológicos se mostraram importantes, enquanto outros não se mostraram tão significativos. Porém, mesmo com graus de percepção maior ou menor, tem influência sobre seu rendimento.

    Os fatores psicológicos que influenciaram no rendimento dos atletas deste estudo foram: quanto aos níveis de importância na percepção do atleta sobre o treinamento psicológico e a auto-estima, mais da metade dos atletas consideraram como muito importante. A definição do termo auto-estima por ser melhor compreendida, pode ter interferido na percepção de fator importante para o desempenho e rendimento no momentos decisivos da partida; a ansiedade para os atletas se mostrou como importante. Acredita-se que atletas que experienciam baixos níveis de auto-estima evidenciam uma alta ansiedade, que pode afetar os níveis de atenção e concentração, além de gerar maior tensão muscular; o estresse se mostrou como importante, porém este teve uma relação direta aos atletas que responderam ser importante e ter menos de 3 anos de prática. Estudos sobre este fato confirmam que ter uma menor experiência faz o atleta sofrer mais com o estresse durante as competições e, conseqüentemente, nos momentos decisivos.

    Concentração, autoconfiança e atenção mostraram-se neste estudo, como fatores de maior relevância para o rendimento, pois interferem na performance e na excelência esportiva. Vivenciar níveis altos de autoconfiança faz com que os atletas sintam-se seguros para enfrentar os momentos decisivos da partida.

    O conhecimento desta área deve ser difundido e expandido junto aos cursos de educação física, fomentando a ação interdisciplinar cabível na proposta da psicologia do esporte entre os profissionais da área da saúde.

Referências

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revista digital · Año 13 · N° 128 | Buenos Aires, Enero de 2009  
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