Espaços de turismo, desporte e lazer destinados a visitantes e residentes |
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Curso de Turismo Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento Regional Centro Universitário Feevale, RS |
Profª. Drª. Mary Sandra Guerra Ashton (Brasil) |
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Resumo Esse artigo busca uma reflexão a cerca da utilização dos espaços urbanos de lazer e da necessidade do planejamento dos mesmos, com o objetivo de revelar a importância desses ambientes para visitantes e residentes. Para tanto, a sustentação teórica será fundamentada nas noções turismo, esporte, lazer e planejamento de parques urbanos. Por meio desse estudo, foi possível observar os parques urbanos como espaços destinados à prática de atividades turísticas, desportivas e de lazer importante para a comunidade local, para os moradores de cidades vizinhas, bem como para os turistas. Observou-se, ainda, a necessidade de um planejamento para adequar e intensificar a utilização desses espaços em benefício os residentes e turistas. Unitermos: Turismo. Lazer. Planejamento. Parques Urbanos.
Abstract This article seeks a discussion about the use of urban spaces for leisure and the necessity of planning it, aiming to highlight the importance of these environments for visitors and residents. To that end, the support will be based on the theoretical concepts of tourism, sport, leisure and planning of urban parks. Through this study, it was possible to observe the urban parks and spaces for the practice of tourist activities, sports and leisure important to the local community for the residents of neighboring towns as well as for tourists. There was also the need for a plan to adjust and intensify the use of those spaces in benefit of residents and tourists. Keywords: Tourism. Leisure. Planning. Urban Parks. |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 128 - Enero de 2009 |
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Introdução
O espaço urbano contemporâneo pode ser lido como um palco de inúmeras estórias da vida cotidiana. Os rituais diários fazem parte da cultura de cada região ou cidade e assumem características próprias revelando modos de vestir, de agir e de ser que as transformam em grandes lares, passando, desse modo a despertar o sentimento de pertença, de cidadania, de amor pelo local onde se vive. Esse sentimento, por sua vez, pode ser percebido por pessoas de outras localidades vizinhas ou distantes e, assim, passando a atrair grandes fluxos de visitantes, que se deslocam, em busca de coisas para ver, para fazer e para sentir.
Nesse cenário, se destacam os parques, praças e locais urbanos de uso público, como pontos de encontro de residentes e visitantes para a realização de atividades prazerosas, transformando esses locais em ambientes singulares de representação social. As práticas que podem ser desenvolvidas em tais espaços promovem a interação social em todos os níveis de sua abrangência. Perde-se a individualidade e passa-se a viver no coletivo, nas múltiplas identidades possíveis e características da Pós-modernidade. O ambiente festivo, alegre, esportivo pode atender as mais diversas expectativas e necessidades tanto de visitantes quanto de residentes.
Inseridos nesse contexto, esse artigo apresenta como objetivo principal refletir a cerca da necessidade do planejamento para a ótima utilização dos espaços urbanos públicos revelando a importância dos mesmos como ambiente destinado a visitantes e residentes para a realização de práticas sociais como o turismo, o esporte e o lazer. Para tanto, parte de uma contextualização sobre planejamento, políticas públicas e espaços públicos de lazer para, em seguida, apresentar os resultados preliminares e demais comentários do estudo proposto.
1. O planejamento dos espaços urbanos de convivência
O planejamento turístico municipal está condicionado ao estabelecimento de políticas públicas para o setor e se ocupa em estabelecer as diretrizes de ordenação, planificação, promoção e controle das atividades em uma região ou país. No planejamento devem-se considerar as características econômicas, sociais e culturais da sociedade local, bem como as estruturas formais do governo e do sistema político municipal, regional ou nacional (GOELDNER; RITCHIE; MCINTOSH, 2002). A política é necessária para considerar quais seriam as alternativas e os benefícios do desenvolvimento de determinado setor em relação ao de outro (LICKORISH; JENKINS, 1997), estabelecendo parâmetros ou diretrizes que governarão o planejamento do desenvolvimento no futuro.
Conforme Montejano, “a política é a ciência do Estado que trata da atividade relacionada com o bem público da sociedade baseada no conjunto de operações realizadas por indivíduos, grupos ou poderes estatais” (MONTEJANO, 1999: 33), sendo que “o principal objetivo de uma política é elevar o bem estar de seus cidadãos” (KADT, 1991: 52). Questões como segurança, limpeza, infra-estrutura, entre outras, referentes à melhoria da qualidade de vida nos espaços públicos, devem estar, diretamente, ligadas as prioridades governamentais em vigor.
Desse modo, “as decisões políticas determinarão como o município ou região irá se desenvolver, com que rapidez irá crescer e que benefício irá gerar” (KADT, 1991: 51). Portanto, as políticas públicas devem traduzir as decisões governamentais com relação às necessidades da sociedade civil local. É necessário compreender que os espaços urbanos destinados ao turismo, esporte e lazer dependem das políticas públicas, bem como de um planejamento municipal. O turismo urbano, no ambiente público de lazer, considera como demanda aquelas pessoas que se deslocam em busca das principais características que conformam aquele espaço, considerando como o lugar onde se concentra a maior quantidade de alternativas de lazer que possam atender as suas necessidades, como a oferta cultural, desportiva, gastronômica, comercial, área natural, patrimônio arquitetônico, urbanístico, além de outros equipamentos e serviços (GUTIÉRREZ BRITO, 2007). Nesse quesito, destacam-se os parques urbanos como espaços de convivência, intercâmbio que se constituem em elemento importante para o lazer, além de compor uma vasta rede, que pode estabelecer ligações sociais dos indivíduos entre si. O ambiente público urbano é componente da oferta turística, portanto serve ao visitante (turista) e ao residente.
2. Parque Urbano: lugar de memória e identidade
O patrimônio cultural urbano é fruto de uma vivência social, se desenvolve no âmbito do coletivo, diz respeito a identidade de um grupo de indivíduos que construiu saberes e fazeres formando a memória social daquele local (ASHTON, 2007). A memória é parte integrante do patrimônio, que por sua vez, é portadora da historicidade daquele lugar e, pode retratar a valorização que a sociedade dá ao passado.
Figura 1. Patrimônio Cultural Urbano
O espaço urbano é um lugar de memória, da prática das representações sociais da cultura de determinado lugar. Portanto, a memória une as pessoas na valorização do passado (GONZALEZ VIANA, 2006). Desse modo, os espaços públicos urbanos, podem ser descritos como lugares de memória e identidade. Eles contêm a história do local, revelam o passado dos habitantes, suas peculiaridades como hábitos, costumes, história, vivências, estilo de vida, que podem ser descritos pelo cotidiano.
Conforme consta na Carta da Paisagem Cultural ou Carta de Bagé de 18 de agosto de 2007, no Artigo 1:
A definição de paisagem cultural brasileira fundamenta-se na Constituição da República Federativa do Brasil de 1980, segundo a qual o patrimônio cultural é formado por bens materiais e imateriais, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem as formas de expressão, os modos de criar, fazer e viver, as criações científicas, artísticas e tecnológicas, as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artísticas e culturais, os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.1
Nesse contexto, Kliass define os parques urbanos como “espaços públicos com dimensões significativas e predominância de elementos naturais, principalmente, cobertura vagetal, destinados a recreação” (KLIASS, 1993: 32). Estão ligados a um conjunto de equipamentos públicos de caráter cultural e esportivo como museus, monumentos, fontes, lagos, quadras de esportes, parquinho infantil, entre outros, que se apropriando do aspecto lúdico conferem nível de qualidade de vida aos habitantes e visitantes. Assim, os parques urbanos “surgem com novos contornos culturais e estéticos, desenhando o perfil, entorno e identidade, devendo ser encarados nos seus diferentes tempos, funções e usos” (SCALISE, 2002: 19). Logo, são espaços destinados ao turismo, esporte e lazer. Fazem parte do ambiente urbano descrevendo o cotidiano dos habitantes. Sua utilização está diretamente ligada ao lúdico, assumindo um contorno coletivo de uma vivência social.
Conforme Carta da Paisagem Cultural, Artigo 2:
A paisagem cultural é o meio natural ao qual o ser humano imprimiu as marcas de suas ações e formas de expressão. É a soma de todos os testemunhos resultantes da interação do homem com a natureza e, reciprocamente, da natureza com o homem, passíveis de leituras espaciais e temporais.2
Deve-se, ainda acrescentar que não apenas a verbalização tem estatuto de laço social, mas as situações silenciosas, não verbais devem ser incluídas como ativos da comunicação nas relações que podem ser estabelecidas entre residentes, turistas e espaço físico (ASHTON, 2007). O grupo pode ser atraído pela linguagem corporal, pelas cores, pelo contato com o ambiente natural e cultural, tudo pode servir de elemento de ligação entre as pessoas, constituindo um amplo espectro de elementos verbais e não verbais presentes nos parques urbanos. Assim, se é conduzido a uma ética enfatizando as práticas de relações sociais e de interação numa humanização que pode ser observada por meio das trocas que se manifestam numa tríade composta pelos visitantes, residentes e elementos locais. Entre os aspectos relevantes de um parque podem-se destacar as cores por se “constituírem de estímulos para a sensibilidade humana, influindo no indivíduo, para gostar ou não de algo, para negar ou afirmar, para se abster ou agir” (FARINA, 2000: 112). As cores assumem um papel relevante na condução das imagens, associadas à experiência, vivida pelo residente ou visitante. Elas são elementos complementares à forma, dão consistência à mensagem compartilhada e facilitam a continuidade da correspondência por se constituírem em elemento comum aos que interagem em seu processo, tanto no plano físico, quanto no imaginário (CHEVALIER e GHEERBRANT, 1997). Desse modo, destaca-se a importância em estudar os parques urbanos como um lugar de encontro social e cultural realimentado pela interação entre os visitantes, visitados e elementos constituintes dos parques.
Considerações finais
De acordo com o observado no decorrer desse trabalho, o planejamento é destacado como fator fundamental do desenvolvimento e está condicionado às políticas públicas estabelecidas para o município ou região, devendo estar em sintonia com as necessidades da sociedade civil local. Os deslocamentos das pessoas para determinado espaço exigem a organização do mesmo. A urgência da sociedade em busca de coisas para ver e fazer, diferentes daquelas encontradas no seu dia-a-dia, demanda uma oferta de atrativos que considerem alternativas de lazer como oferta cultural, comercial, gastronômica, área natural para passeios e prática de esportes, patrimônio arquitetônico, urbanístico, entre outros. Tanto os residentes, quanto os visitantes necessitam de espaços urbanos diferenciados que retratam a questão sociocultural, que fazem parte da história do lugar, que ofereçam a oferta de esporte, da diversão, do encontro e do consumo, enfim, da sociabilidade. Para tanto, os espaços urbanos de lazer devem ser planejados para organizar a oferta e a recepção dos visitantes, como meio de contribuir para o bem estar e para a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. Os parques urbanos, são espaços destinados a um grande público em busca de recreação e lazer, podem atrair visitantes de municípios vizinhos e de lugares distantes, mas a sua ótima utilização está condicionada ao planejamento e a organização do mesmo.
Notas
CARTA DE BAGÉ, 2007. Disponível em http://www.patrimoniocultural.org.br/publica.html, acesso em 28/05/08. Disponível em http://portal.iphan.gov.br, acesso em 28/05/08.
IDEM: Artigo 2.
Referências bibliográficas
ASHTON, Mary Sandra Guerra. Comunicação e Turismo: possibilidades de conhecimento. (p.99) in Conexão: comunicação e Cultura. Vol. 6, N.11, Jan.Jun.2007. Caxias do Sul: EDUCS, 2007.
Chevalier, Jean e Gheerbrant, Alain. Dicionário de símbolos. Rio de Janeiro: José Olympio, 1997.
Farina, Modesto. Psicodinâmica das cores em comunicação. São Paulo: Edgard Blücher, 2000.
GOELDNER, C. R.; RITCHIE, J.B.; MCINTOSH, R.W. Turismo: princípios, práticas e filosofias. Porto Alegre: Bookman, 2002.
GONZALEZ VIANA, Maria del Carmen. Turismo y ciudad: nuevas tendencias. Buenos Aires: Turísticas, 2006.
GUTIÉRREZ BRITO, Jesús. La Investigación Social del Turismo. Madrid:Thomson, 2007.
KADT, Emanuel de. Turismo: passaporte al desarrollo. Madrid: Endymion, 1991.
KLIASS, Rosa G. Os Parques Urbanos de São Paulo. São Paulo: Pini, 1993.
LICKORISH, Leonard J.; JENKINS, Carson L. Una introducción al Turismo. Madrid: Síntesis, 1997.
MONTEJANO, Jordi Montaner. Estructura del Mercado Turístico: gestión turística. Madrid: Síntesis, 1999.
SCALISE, Walnyce. Parques Urbanos – evolução, funções e usos. Revista da Faculdade de Engenharia, arquitetura e tecnologia – Universidade de Marília - UNIMAR. Vol 4, n° 1, outubro, 2002.
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