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Educação ambiental e estudos do meio: o papel do educador

 

Mestre em Educação

Universidade Federal de São Carlos

(Brasil)

Cae Rodrigues

cae_jah@hotmail.com

 

 

 

Resumo

          O presente estudo baseia-se no papel do educador em uma metodologia de Educação Ambiental, que propõe visitas orientadas ao meio natural objetivando uma vivência prática com ênfase nos valores ambientais trabalhados em sala de aula. A escolha desse tema justifica-se pela crescente necessidade de uma orientação mais ativa dos princípios da educação ambiental dentro e fora da escola.

          Unitermos: Educação ambiental. Estudo do meio. Práticas de ensino e aprendizagem.

 

Abstract

          The present study is based on the role of the educator on an Environmental Education methodology, which proposes orientated visits to preserved areas, aiming, through a practical experience, to emphasize the Environmental Education values worked in classroom. The choice of this subject is justified by the growing necessity of a more active approach regarding Environmental Education, inside and outside of school.

          Keywords: Environmental education. Environmental study. Practices of teaching and apprenticeship.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 128 - Enero de 2009

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Introdução

    O presente estudo baseia-se no papel do educador em uma metodologia de Educação Ambiental, que propõe visitas orientadas ao meio natural objetivando uma vivência prática com ênfase nos valores ambientais trabalhados em sala de aula. A escolha desse tema justifica-se pela crescente necessidade de uma orientação mais ativa dos princípios da educação ambiental dentro e fora da escola.

    Sobre a combinação entre atividades desenvolvidas dentro da sala de aula e nos estudos do meio, Ferreira e Coutinho (2000, p. 174) ressaltam que até os dias atuais a escola trabalha com o sistema tradicional de ensino, que repassa em sala de aula experiências distintas vivenciadas por pessoas desconhecidas e, posteriormente, por meio de avaliações, cobram a absorção desse conteúdo pedindo que a criança reproduza-o no papel. Na proposta educacional desenvolvida a partir da compreensão dos conceitos dentro da sala de aula e posteriormente vivenciadas nos estudos do meio, a criança cria suas próprias experiências, o que contribui para uma relação afetiva com o meio, para a construção de uma identidade corporal e para o desenvolvimento da autonomia e criatividade da criança.

    Nesse sentido, o objetivo principal é criar uma afinidade da população com o meio natural, pelo contato direcionado à natureza através de atividades de sensibilização integradas ao meio, buscando uma conseqüente educação à preservação. Por conseqüência, justifica-se o trabalho com crianças desde a idade pré-escolar, pois, criando-se uma afinidade com o meio natural já nessa idade, a aprendizagem dos conteúdos e conceitos da educação ambiental serão facilitados nas seguintes fases do processo educativo.

Relações entre homem e natureza

    Nas últimas décadas, as práticas de contato com a natureza se tornaram bem mais populares, e ainda hoje apresentam um grande crescimento. Isso se torna relevante para a educação ambiental, uma vez que os indivíduos envolvidos nessas práticas progressivamente incorporam uma ética voltada à conservação dos ambientes que gostam de freqüentar (Barros e Dines, 2000, p. 54). Os autores vão além, e destacam que quanto mais as pessoas freqüentam essas áreas naturais, maior seu grau de conscientização ambiental. Isso ocorre pela crescente segurança, conseqüente do crescente bem estar, que o indivíduo sente conforme vivencia o meio natural, crescendo também o interesse em se informar sobre os ambientes que visita (Barros e Dines, 2000, p. 56).

    Mas a simples inclusão do homem no ambiente natural não é o suficiente para justificar uma mudança de comportamento perante as questões ambientais, uma vez que este indivíduo ainda carrega os valores construídos numa sociedade consumista e desenvolvimentista. Serrano (2000, p. 17) adverte que quando visitamos a natureza não devemos esquecer de nosso cotidiano, mas sim refletir sobre ele e sobre a relação homem-natureza, marcada pelas transformações conseqüentes da “tradição judaico-cristã” agravada pela modernidade e o capitalismo, a ponto de não nos reconhecermos como pertencentes ao mundo natural.

    Nas viagens ao meio natural observa-se um consenso em torno do caráter de preservação e da busca de uma consciência ambientalista. Serrano (2000, p. 8) destaca, por uma perspectiva conceitual, o caráter intrinsecamente educativo e o compromisso com a modificação de comportamentos e com a construção de uma consciência ambientalista nas atividades em contato com a natureza. Essas características, juntamente com a grande popularidade dessas práticas junto à natureza, tornam-se fortes aliadas do movimento ambientalista. Barros (2000, p. 91) argumenta que as atividades na natureza se tornaram tão populares que hoje são consideradas, por muitos conservacionistas, como uma solução para os problemas ambientais e uma boa oportunidade para o desenvolvimento de educação ambiental, principalmente por razões econômicas.

    Mas assim como o movimento ambientalista necessita de um instrumento para propor a reflexão de seus valores à população (a educação ambiental), o mesmo pode ser dito das atividades em contato com a natureza, uma vez que a simples inclusão do homem ao meio natural não é, na maioria das vezes, suficiente para a solidificação da consciência ambientalista. O homem "urbano" há muito tempo perdeu o contato íntimo com seus sentidos, e até mesmo com o "sentir". A rapidez com que tudo acontece em nosso cotidiano não nos permite refletir sobre os acontecimentos vivenciados, restringindo-nos também a capacidade de sentir. Segundo Bruhns (2000, p. 31), falta "às pessoas, nas sociedades urbanas atuais, o envolvimento suave, inconsciente com o mundo físico, num ritmo mais lento, do qual as crianças desfrutam".

    Cornell (1996) afirma que quando o homem se protege das intempéries da natureza ele perde a vitalidade e a sensação de bem estar que provém do fato de estar em harmonia com o meio natural. Cornell (citado por Mendonça, 2000, p. 136) também ressalta que as visitas à natureza podem estar impregnadas de valores dominadores e consumidores vindos da cultura urbana, o que dificulta a potencialização dos sentidos e sentimentos. Dessa forma, o primeiro passo a ser dado é colocar o indivíduo em contato com o meio natural.

    O homem tem uma importante função dentro do mundo natural, porém essa identificação com esse mundo há tempos foi perdida. Weber (citado por Alves, 1993) alertava que "O destino dos tempos de hoje é marcado pela racionalização e, principalmente, pelo desencantamento do mundo". DeMoor, citado por Barros (2000, p. 92) ressalta que abusamos do mundo natural por que perdemos nossa identificação com ele. Se a aproximação com a natureza for restabelecida, juntamente com uma orientação pedagógica que promova uma reconciliação transformadora, pode-se reverter esse processo de destruição no qual se encontra o planeta atualmente.

    Ao incentivar a aproximação do homem com o meio natural, surge a necessidade de educá-lo a se portar em tal ambiente, ou seja, as condutas devem tornar-se valorizadas pela ética ambiental. Mais do que isso surge uma excelente oportunidade para uma proposta diferenciada de educação: a educação ambiental em contato direto com a natureza. Ferreira e Coutinho (2000, p.187) destacam a importância da valorização da educação ambiental nas práticas em contato com a natureza, uma vez que o visitante bem orientado para compreender o ambiente a ser visitado provavelmente respeitará a cultura, a organização social local e a capacidade de suporte desses locais.

    É importante ressaltar que, ao mesmo tempo que as práticas integradas ao meio natural podem ser um importante instrumento para a educação ambiental, também podem reforçar uma visão dicotômica e preservacionista sobre as relações do ser humano com o meio ambiente. Para que isso não ocorra, é importante que essas práticas sejam parte de um projeto maior, que considere as relações do cotidiano urbano também como educação ambiental. Neste sentido, as práticas integradas ao meio natural não se constituirão em fugas da realidade cotidiana, mas sim em atividades de sensibilização associadas a valores que deverão fazer parte do viver cotidiano, seja no meio urbano ou no meio natural.

O papel do educador no processo educativo

    Colocamos como objetivo principal da proposta metodológica discutida nesse estudo (interação entre atividades na escola e em estudos do meio) a criação de uma afinidade da criança com o meio natural pelo contato direto com esse meio. No entanto, ressaltamos que o simples contato com o meio pode não ser suficiente para cumprir esse objetivo. Nesse sentido, surge a proposta da realização de atividades de sensibilização desenvolvidas no meio natural por educadores que devem conduzi-las objetivando uma integração orientada para o desenvolvimento de uma conscientização dos valores ambientais.

    Mas, para instruir, os educadores têm que ser bem instruídos. Bruhns (2000, p. 32) destaca que "a criança, por não preocupar-se com códigos de regras definidas sobre beleza, recebe as sensações da natureza diretamente, sem censuras”. Essa característica da criança, juntamente com a curiosidade e a pré-disposição para brincar, são importantes aliados da educação, mas na grande maioria das vezes são considerados como elementos que dificultam a disciplina e o controle e, consequentemente, o processo educacional. No âmbito da educação escolar, os professores muitas vezes ignoram a necessidade da criança de se movimentar e julgam a contenção motora como fator essencial para a disciplina, uma vez que a criança parada é muito mais fácil de ser controlada. O movimento é encorajado apenas em reservados espaços de tempo, no qual a criança é requisitada a se movimentar para gastar energia, prática eficaz para “manter a ordem” e que também limita as possibilidades de expressão e de conduta própria desta criança. Essa visão transforma o movimento em um empecilho à concentração do aluno e à aprendizagem como um todo, visão que contrapõe o consenso que o movimento é essencial para o desenvolvimento da percepção e da construção da identidade da criança.

    Muitas vezes o que ocorre nessas viagens ao meio natural reflete aquilo que ocorre no âmbito da educação escolar. O professor restringe os movimentos das crianças à suas ordens, impondo uma hierarquia que pode comprometer a proposta de um instrumento pedagógico diferenciado. Nessas oportunidades de vivência em contato direto com o meio natural, é de grande importância observar como as crianças recebem os estímulos fornecidos pelas atividades de sensibilização propostas pelo educador ou simplesmente que recebem do meio. Um bom indicativo de que a criança está apta a receber esses estímulos são as perguntas formuladas por elas. Mas, o que acontece freqüentemente, como reflexo do que ocorre em sala de aula, é o educador reprimir essas perguntas, ou pelo fato de estar falando naquele momento (e cada um deve esperar sua vez), ou porque simplesmente não é “hora” de fazer perguntas, ou por qualquer outra razão. A criança fica constrangida de repetir aquela ou outra pergunta, e o estímulo é perdido.

    Outra preocupação centra-se nas condutas desse educador no meio natural. A criança está com seus sentidos em alerta, o que significa que as condutas do educador serão observadas e assimiladas como atitudes corretas. Quando o educador, mesmo imbuído de boas intenções, tira uma semente de uma árvore para colocá-la em seu relatório, ou tira uma flor de um arbusto para presentear um colega, ele indica ao aluno que é correto agir dessa maneira.

    O educador deve ser instruído a trabalhar com os recursos que a natureza lhe oferece. Além de representar um rico e amplo espaço para se trabalhar os objetivos da Educação Física, o meio natural ainda apresenta outros aspectos que podem ser transformados em importantes instrumentos nas atividades em contato com a natureza. O fato de a criança estar em um ambiente desconhecido pode transmitir a impressão de que os elementos que a rodeiam seriam possíveis “ameaças”, como os animais silvestres, a desordem das árvores, a escuridão da noite, a chuva, o vento, o calor, ou o simples espaço aberto. Essa sensação de medo e de insegurança inicial, se trabalhadas corretamente, podem gerar uma boa oportunidade de aprendizagem, uma vez que os sentidos estão todos em alerta, tornando a observação e a percepção muito mais ativas. O que o educador não deve fazer é estimular o medo e ressaltar as ameaças, mas sim direcionar as atividades de maneira a aproveitar as fortes sensações estimuladas pelo meio natural, introduzindo os conceitos que deseja trabalhar e transformando essas sensações em segurança e bem estar em relação ao meio.

    Algumas preocupações surgem também em relação ao desenvolvimento das atividades de sensibilização. É importante que sejam realizadas algumas atividades na escola previamente às visitas ao meio natural para que a criança esteja familiarizada com este tipo de atividade. Essas atividades devem ser dinâmicas (para despertar o interesse do aluno) e devem envolver conceitos que poderão ser trabalhados também nos estudos do meio, criando assim uma relação entre a teoria e a prática com o propósito de aprender tais conceitos dentro da sala de aula. Como destaca o naturalista Cornell (1996, p. 5), "as crianças entendem e gravam mais na memória os conceitos quando aprendem por meio da experiência direta e pessoal". As atividades devem também despertar certa curiosidade e entusiasmo para um encontro com o meio natural, uma vez que "a curiosidade é o ponto de partida para a aprendizagem" (Herman et al., 1992, p. 3).

    Outro fator de vital importância é a reflexão sobre a prática. Neste processo a conduta do educador também é importante, pois este deve fornecer os estímulos para que a reflexão aconteça, mas deve também estimular que a reflexão parta das próprias crianças. Para tanto, o educador deve formular perguntas amplas, que possibilitem às crianças pensarem mais profundamente nas experiências vivenciadas, e não simplesmente responderem “sim” ou “não”. A reflexão deve ser realizada tanto no local da atividade (ainda em contato com a natureza), quanto ao retorno à escola nos dias seguintes à excursão. Barros (2000, p. 99) afirma que o aprendizado experiencial só é efetivo por meio de uma reflexão que integre a nova experiência às experiências vivenciadas no passado, justificando tal afirmativa pela necessidade de “dar um tempo” para que as pessoas reflitam sobre o que viram, sentiram e pensaram durante o evento.

Considerações finais

    Podemos analisar o processo educativo como uma majestosa pirâmide, construída pelos grandes pensadores numa época na qual a sabedoria era super valorizada, e o pensar era a prática dos nobres. O educador forma a base dessa pirâmide, sustentando o peso de intermináveis responsabilidades. Mas também sustenta, no topo dessa pirâmide, a luz de um aprendiz.

    A criança tem como princípios naturais correr, brincar, viajar, sonhar. Para muitas dessas viagens ela precisa de asas, e não é papel do educador cortar essas asas, mas sim ensiná-la a usá-las. O meio natural representa um espaço onde a criança pode expressar seus movimentos com maior liberdade, uma excelente oportunidade de educação corporal e de conscientização ecológica por meio da orientação, e não proibição, do movimento. "O que temos que fazer é instruir e não proibir” recomendava Sócrates (citado por Alves, 1993) a seus pupilos quatrocentos anos antes de Cristo, recomendação que podemos seguir como exemplo até os dias atuais.

Referências bibliográficas

  • ALVES, Jefferson L. Sabedoria, São Paulo: Gaia, 1993.

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  • BRUHNS, Heloisa Turini. Esporte e natureza: o aprendizado da experimentação. In: SERRANO, Célia. A educação pelas pedras: ecoturismo e educação ambiental. São Paulo: Chronos, 2000. p.25-46.

  • CORNELL, Joseph. A Alegria de Aprender com a Natureza, São Paulo: Senac, 1995.

  • CORNELL, Joseph. Brincar e Aprender com a Natureza, 2° ed. São Paulo: Senac,1996.

  • FERREIRA, Luiz Fernando, COUTINHO, Maria do C. B. Educação ambiental em estudos do meio: a experiência da Bioma Educação Ambiental. In: SERRANO, Célia. A educação pelas pedras: ecoturismo e educação ambiental. São Paulo: Chronos, 2000. p.171-188.

  • HERMAN, M. L.; PASSINEAU, J. F.; SCHIMPF, A. L.; TREUER, P. Orientando a Criança para Amar a Terra, São Paulo: Augustus, 1992.

  • MENDONÇA, Rita. A experiência na natureza segundo Joseph Cornell. In: SERRANO, Célia. A educação pelas pedras: ecoturismo e educação ambiental. São Paulo: Chronos, 2000. p.135-154.

  • SERRANO, Célia. A educação pelas pedras: ecoturismo e educação ambiental. São Paulo: Chronos, 2000. p.111-134.

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