Apontamentos sobre o basquete na cidade de Porto Alegre na década de 1950 |
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Licenciatura plena em Educação Física Mestrando em Ciências do Movimento Humano Universidade Federal do Rio Grande do Sul Professor de Educação Física e técnico das equipes de basquete |
Daniel Brauner (Brasil) |
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Resumo O presente artigo se caracteriza por trazer apontamentos de uma investigação historiográfica que objetivou reconstruir a história do basquete na cidade de Porto Alegre na década de 1950. A identificação dos personagens, assim como os locais onde o basquete se fazia presente, passando por reflexões sobre o papel da imprensa na expansão do esporte e sobre as condições em que este era praticado na cidade aparecem no trabalho. O eixo teórico-metodológico empregado foi o da História Oral, através de entrevistas e consultas a fontes documentais. O resgate dos chamados “anos dourados” do basquete em Porto Alegre, ergue-se como uma ferramenta para a compreensão da história recente do esporte na cidade. Unitermos: História do basquete. História do esporte. História Oral. Basquete.
Resumen El presente artículo se caracteriza por presentar apuntes de una investigación historiográfica que intenta reconstruir la historia del baloncesto en la ciudad de Porto Alegre en la década de 1950. Aparecen en el estudio la identificación de los personajes, así como los espacios donde el baloncesto se hacía presente, pasando por reflexiones sobre el papel de la prensa en la expansión del deporte y sobre las condiciones en que este era practicado en la ciudad. El eje teórico-metodológico que fue utilizado ha sido el de la Historia Oral, a través de entrevistas y consultas a fuentes documentales. El rescate de los llamados “años dorados” del baloncesto en Porto Alegre, surge como un instrumento para la comprensión de la historia reciente del deporte en la ciudad. Palabras clave: Historia del baloncesto. Historia del deporte. Historia Oral. Baloncesto. |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 128 - Enero de 2009 |
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Atualmente o esporte pode ser considerado um dos maiores fenômenos contemporâneos. As competições esportivas movimentam altas cifras, os atletas ocupam um lugar de destaque no âmbito social, com sua popularidade transcendendo os limites das quadras e estádios. Ditam a moda, são recebidos por autoridades políticas e tem suas imagens vinculadas a campanhas institucionais e comerciais. Em torno desses homens e mulheres giram inúmeros discursos de saúde, beleza e comportamento.
Partida entre Sogipa e Petrópole, clubes sociais
Fonte: Folha Esportiva, 20/05/1955
Por isso, o esporte representa mais do que o simples movimento do corpo, dos gestos agrupados em busca da otimização da performance. O esporte na sociedade atual entendido como uma construção histórica, realizada ao longo dos anos, reflete a atuação de muitos personagens do passado. Estes, com sua participação transformaram, estruturaram e construíram as condições para o sucesso do esporte hoje.
A história é sempre rica e de grande importância para se estudar a estruturação de um esporte em uma determinada cultura (MELO, 1999). O presente estudo se caracteriza por ser uma investigação historiográfica que objetiva reconstruir a história do basquete na cidade de Porto Alegre na década de 50.
Identificar os personagens, assim como os locais onde o basquete se fazia presente são objetivos deste estudo. Além disso, reflexões sobre o papel da imprensa na expansão do esporte e sobre as condições em que este era praticado na cidade aparecem no trabalho.
O eixo teórico-metodológico a ser empregado consiste na História Oral, pois como campo metodológico, proporciona um diálogo entre a história oficial, os grandes acontecimentos e personagens, e o modo como foram percebidos e vivenciados no cotidiano de sujeitos que co-habitaram o mesmo tempo histórico (ALBERTI, 1989).
Disputa pela bola em um clássico Gre-Nal
Fonte: Última Hora, 28/09/1959
Nas entrevistas, todas semi-estruturadas, foram reconstruídas memórias de personagens que participaram da estruturação e ápice do esporte na cidade na década de 50. Tais depoimentos constituíram-se em fontes históricas primárias e, junto com a análise de jornais, periódicos e fotografias da época, foram fundamentais na construção da narrativa. Ao todo, foram realizadas 7 entrevistas com pessoas que tiveram, de alguma forma, sua vida ligada ao basquete no período tratado no estudo.
Ao garimpar memórias, as fontes orais exigiram certa sensibilidade no seu trato. Silêncios podiam significar muito, assim como uma fala entusiasmada poderia não corresponder à verdade. Durante a pesquisa foi dedicada atenção especial às entrelinhas, nas quais determinados fatos importantes ao estudo podem ser sonegados, por serem julgados irrelevantes pelo entrevistado (FERREIRA, 1996). Fotografias e reportagens também tiveram imensa colaboração, ao permitir a visualização de uma realidade de décadas atrás.
A coleta e análise dos depoimentos foram realizadas com base nos procedimentos adotados pelo Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC), instituição vinculada à Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro.
Cleomar executando o “jump”
Fonte: Folha da Tarde, 28/08/1959
Passeando pelo tempo, foi possível conhecer um basquete muito diferente do que é praticado hoje em dia, tanto no que diz respeito a seus atores, quanto na sua estrutura. As evidências levantadas durante a construção da narrativa desta pesquisa, apontam para a Porto Alegre dos anos 50, como um espaço privilegiado para a prática esportiva, em especial da modalidade em questão.
A sociedade porto-alegrense nesta década estava embalada por uma ascendente industrialização, impulsionada pelo fortalecimento do capitalismo (PESAVENTO, 1999). O crescimento da burguesia como classe era visível e os ares de uma urbanização cada vez mais presente, mudaram o ambiente da cidade. Era dentro desse contexto que o esporte conquistava aos poucos maior espaço nos clubes e escolas, com uma crescente visibilidade social.
Equipe do Florida A.C. campeã citadina e estadual de 1953
Fonte: Arquivo pessoal de Paulo Dreyssig
A grande quantidade de clubes participando das competições chamou a atenção, visto que ao mesmo tempo em que eram muitos, os times eram bastante parelhos. Isto prova, que além do esporte estar muito disseminado pela cidade, havia também muita qualidade espalhada pelos nichos onde o basquete era praticado. A forte presença das praças como pólos do esporte amador chegou a surpreender, por não ser há muito tempo uma realidade de nossa sociedade.
Em todos os depoimentos, os entrevistados são unânimes em afirmar o advento da televisão e da indústria do entretenimento, como agentes causadores da “decadência” do basquete na capital gaúcha nas décadas subseqüentes ao período estudado. Todos citam o esporte nesta época como um programa de família, uma tradição, um lazer da população da época, que aos poucos foi sendo substituído.
Internacional x Petrópole no G.N. União
Fonte: Folha Esportiva, 12/08/1960
Este fato se vê refletido na atenção que a imprensa passa a ter com o basquete a partir de então. Como se sabe, as preferências do povo é que vendem os jornais. Se nos “anos dourados” do esporte a cobertura da mídia era total, este fato refletia o gosto da população pelo esporte da “bola ao cesto”.
Finalmente, as histórias contadas nos instigam a repensar nossa compreensão do presente. Por vezes parecem pertencer a um passado distante, embora ao mesmo tempo, se mostrem muito presentes. Quanto a isso, fico com a certeza de que a história é um processo em constante transformação, e que as memórias não nos prendem ao passado, mas nos conduzem a um melhor entendimento das situações atuais.
Referências
ALBERTI, Verena. História Oral: a experiência do CPDOC. Rio de Janeiro: Centro de Pesquisa e Documentação de História. Contemporânea do Brasil, 1989.
BURKE, P. O que é história cultural? Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005.
CHARTIER, R. A história cultural: entre práticas e representações. Lisboa: DIFEL; Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.
FERREIRA, Marieta de M, e AMADO, Janaína. (orgs.) Usos e abusos da História Oral. Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, 1996.
MELO, Victor Andrade de. História da Educação Física e do Esporte no Brasil: panorama e perspectivas. São Paulo: IBRASA, 1999.
PESAVENTO, Sandra. Memória de Porto Alegre: espaços e vivências. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS,1999.
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digital · Año 13 · N° 128 | Buenos Aires,
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