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Ansiedade competitiva e desempenho 

em duas modalidades esportivas

Competitive anxiety and performance in two sport modalities

 

*Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC – Ilhéus, Ba

Líder do GPED – Grupo de Pesquisa em Desempenho Humano

**Doutoranda em Psicologia – UFSC - Florianópolis, SC

(Brasil)

Marcos Gimenes Fernandes

gimenes@uesc.br

Sandra Adriana Neves Nunes

psandranunes7@hotmail.com

 

 

 

Resumo

          O desempenho em competições esportivas depende de vários fatores, como por exemplo, a ansiedade pré-competitiva. O objetivo do estudo foi investigar a associação entre ansiedade pré-competitiva, verificada pelo IEAC-2, e o desempenho em duas modalidades esportivas: jiu-jítsu e surfe. O inventário foi administrado uma hora antes das competições e foram classificados como vencedores os atletas que ficaram nas três primeiras posições e perdedores os demais atletas. A associação entre a ansiedade pré-competitiva e o desempenho foi significativa somente nos atletas de surfe. A ansiedade somática foi significativamente diferente nas duas modalidades estudadas. A ansiedade cognitiva demonstrou correlação significativa com o tempo de treino e com o tempo de competição nas duas modalidades estudadas. Conclui-se, com o estudo que existe relação entre ansiedade competitiva e desempenho, mas ressalta-se a importância de estudos futuros com o devido requinte metodológico para o melhor entendimento dessa relação.

          Unitermos: Ansiedade competitiva. Desempenho. CSAI-2.

 

Abstract

          The performance in sport competitions depends on some factors, such as the precompetitive anxiety. This study aimed at investigating the association between precompetitive anxiety, using the IEAC-2 inventory, and performance in two modalities of sports: jiu-jítsu and surf; establishing the relationship between time of training and time of competition and IEAC-2 inventory and, finally, comparing the scores distribution of precompetitive anxiety in the two modalities. The inventory was applied an hour before the competitions. Subjects were categorized into two groups: “winners” and “losers”. The association between precompetitive anxiety and performance was significant only in the group of athletes of surf. The distribution of scores of competitive anxiety was significantly different in the two groups of athletes. Furthermore, there was a significant correlation between competitive anxiety and both time of training and time of competition in the two sport modalities. Finally, the findings suggest that there is a relationship between competitive anxiety and performance, although further research is required for an optimum agreement on this relationship.

          Keywords: Competitive anxiety. Performance. CSAI-2.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 128 - Enero de 2009

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Introdução

    Ansiedade é definida como uma reação do indivíduo diante de uma situação estressante, geralmente entendida como ameaçadora11. Por isso estados ansiogênicos tendem a interferir na conduta do indivíduo de um modo geral e no desempenho de suas atividades. No contexto esportivo a competição é uma situação estressante que exige do atleta um estado emocional que facilite o seu desempenho.

    Vários estudos na área da Psicologia do esporte vêm procurando identificar que níveis e tipos de ansiedades podem ser relacionadas ao bom desempenho do atleta. Em 1990, Martens e colaboradores validaram o Competitive State Anxiety Inventory (CSAI-2)8, um inventário específico para mensurar a ansiedade competitiva em esportes.

    Esse instrumento originou-se de uma perspectiva teórica sobre a ansiedade competitiva: Teoria Multidimensional da Ansiedade Competitiva. Essa teoria integrava, inicialmente, duas dimensões da ansiedade competitiva: a ansiedade cognitiva e a ansiedade somática. A ansiedade cognitiva diz respeito às expectativas negativas, por parte do atleta, acerca de seu desempenho, enquanto a ansiedade somática se refere aos aspectos fisiológicos da experiência de sentir-se ansioso, os quais provocam diretamente alteração da função autonômica (aumento da freqüência cardíaca, sudorese, dilatação da pupila, etc).

    Na formulação do CSAI-2, os autores encontraram uma terceira variável psicológica, a autoconfiança, que demonstrou ser uma importante preditora do desempenho e inversamente correlacionada com as duas outras variáveis: a ansiedade cognitiva e a ansiedade somática. Dessa forma, essa terceira variável foi incorporada no modelo oferecido pela Teoria Multidimensional da Ansiedade e incluída ao CSAI-2 como uma terceira variável.

    Diversos estudos foram publicados nos últimos anos sobre a relação entre ansiedade competitiva e desempenho utilizando o CSAI-25 8,13. Várias modalidades esportivas foram estudadas, como por exemplo, os esportes de combate.

    Numa revisão de literatura específica Finkenberg e colaboradores3 conduziram um estudo nos EUA, que teve como objetivo verificar o efeito da ansiedade competitiva no desempenho de atletas de Taekwondo. Um outro estudo objetivou analisar a capacidade preditiva da ansiedade pré-competitiva com relação ao desempenho de atletas em competições de karatê1 e, um terceiro estudo, buscou comparar as médias de escores de ansiedade, obtidas com o CSAI-2 entre grupos de perdedores e ganhadores que competiam num campeonato de Taekwondo12.

    Finkeberg e colaboradores3, numa competição de TaeKwondo, além de investigar a correlação entre ansiedade competitiva e desempenho dos competidores, também investigou os efeitos de outras variáveis que não fazem parte do CSAI-2: gênero, anos de treino e faixa. Os resultados desse estudo (n=58) não demonstraram correlação significativa entre ansiedade competitiva e desempenho em Taekwondo, mas as variáveis relacionadas à experiência do atleta como os anos de treinamento, os anos de competição e a faixa demonstram correlação significativa com desempenho. Além disso, atletas jovens demonstraram escores significativamente mais baixos de ansiedade competitiva em comparação com atletas mais velhos.

    Terry e colaboradores12, tiveram em seu estudo dois propósitos: 

  1. verificar ansiedade competitiva, estado de humor e desempenho entre atletas ganhadores e perdedores de karatê (n=208), 

  2. comparar estado de humor e estado de ansiedade como preditores do desempenho em karatê. Os resultados demonstraram os escores de ansiedade competitiva e humor foram estatisticamente diferentes entre ganhadores e perdedores na competição de karatê.

    Chapman e colaboradores1, numa competição estudantil britânica de Taekwondo, tiveram dois objetivos em seu estudo (n= 142): 

  1. estender predições da Teoria Multidimensional de Ansiedade7

  2. complementar o trabalho de Terry e colaboradores11 em outro esporte de combate. Os resultados encontrados, através da análise de variância multivariada, indicaram que os escores do CSAI-2, de um modo geral, tiveram efeito sobre o desempenho. Ganhadores obtiveram escores significativamente altos de autoconfiança e baixos escores de ansiedade cognitiva e somática, se comparados com os dos perdedores, e o coeficiente de função discriminante indicou que, entre as variáveis estudadas, autoconfiança foi a que contribuiu de forma significativa para esta variação no desempenho. Autoconfiança foi facilitador do desempenho enquanto ansiedade cognitiva foi dificultador do desempenho, e por último ganhadores demonstraram baixa ansiedade somática quando comparados com perdedores.

    Recentemente, em julho de 2006, um periódico de elevado impacto científico internacional “Journal of Sports Science and Medicine”, lançou um numero especial somente de estudos com esportes de combate.

    Levantando a questão da importância de estudos com esses tipos de esporte, os quais, a condição de enfrentar um oponente, independendo a modalidade, exige um vigoroso contato corporal, exigindo do atleta ou praticante uma exigência emocional com relação à superação de um grande desafio. Essa característica singular dos esportes de combate faz dessas modalidades esportivas um ambiente rico para diversos estudos7.

    Com relação ao surfe existe uma carência significativa de estudos com essa modalidade esportiva. É um esporte com características diferentes dos esportes de combate, onde o contato corporal e vigor físico é inexistente. Dessa forma, um esporte com características psicológicas também diferentes e uma comparação entre essas modalidades esportivas distintas em estado emocionais como, por exemplo, ansiedade pré-competitiva, poderia fornecer dados interessantes para o entendimento desse estado emocional.

    O presente estudo tem como propósito quatro objetivos: 

  1. verificar se existe associação entre ansiedade competitiva, verificada pelo CSAI-2 e desempenho de atletas em duas modalidades esportivas: jiu-jitsu e surf; 

  2. verificar a diferença dos escores de ansiedade nas duas modalidades esportivas estudadas 

  3. investigar os níveis de correlação entre variáveis relacionados à experiência do atleta como o tempo (em meses ou anos) de competição e o tempo (em meses ou anos) de treino e ansiedade competitiva, 

  4. correlacionar as variáveis (ansiedade cognitiva, ansiedade somática e autoconfiança) do CSAI-2.

    Com base em estudos similares, realizados com outras modalidades esportivas, partiu-se das seguintes hipóteses:

  1. De que a ansiedade competitiva seria significativamente maior no esporte de combate do que no surf.

  2. De que ansiedade competitiva estaria inversamente correlacionada com tempo (em meses ou anos) de competição e o tempo (em meses ou anos) de treino.

  3. De que haveria uma correlação positiva entre tempo de competição (em meses ou anos) e o tempo de treino (em meses ou anos) e autoconfiança.

  4. E, finalmente, de que autoconfiança estaria inversamente correlacionada com os dois tipos de ansiedade competitiva (cognitiva e somática).

Materiais e métodos

Sujeitos

    Os sujeitos do estudo foram atletas masculinos amadores de jiu-jitsu (n= 62) e surf (n= 48), totalizando 110 sujeitos. A idade média dos atletas de jiu-jitsu foi de 23,79 anos (SD=5,67). Foram vinte e seis atletas de faixa branca, nove de faixa azul, nove de faixa roxa, seis de faixa marrom e doze de faixa preta. A idade média dos atletas de surf foi de 18,96 anos (SD= 5,86). Todos os sujeitos assinaram um termo de livre consentimento e foram informados de que poderiam desistir de colaborar com o estudo a qualquer momento. O critério de inclusão foi a livre disponibilidade de participar do estudo. Todos os atletas inscritos nas competições participaram do estudo como sujeitos após preencher o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Procedimento

    O acesso psicométrico da AC será realizado pelo CSAI-2 (Martens et. al.,1990) na sua versão portuguesa, Inventário de Estado de Ansiedade Competitiva (IEAC-2)2. O instrumento é composto de três sub-escalas: ansiedade cognitiva, ansiedade somática e autoconfiança, cada uma delas contendo8, 6 e 8 perguntas respectivamente, totalizando 22 questões. As respostas variam de 1 a 4 pontos (nada, um pouco, bastante e completamente), somando uma pontuação por sub-escalas que pode variar entre 9 a 36. Será informado aos sujeitos que eles deverão preencher um instrumento de como eles estariam se sentindo naquele momento, como recomendado por Martens et. al. (1990).

    O inventário foi administrado uma hora antes das competições, juntamente com uma ficha para a coleta das seguintes variáveis: idade, peso, faixa (no caso do jiu-jitsu), anos de treinamento e anos de competição.

    A coleta de dados for realizada em duas competições: Campeonato estadual de Jiu-jitsu (Bahia, novembro/2006) e Campeonato Estadual de Surfe (Bahia-novembro de 2006),

    O critério para discriminar o desempenho dos atletas foi adotado de acordo com duas classes de resultados: atletas que subiram ao podium (primeiro, segundo e terceiro lugar) foram classificados como os vencedores e os demais colocados (quarto, quinto, etc) como perdedores.

Análise dos dados

    Em função da distribuição não-normal dos dados, obtida através do teste de normalidade, foram empregados testes não-paramétricos para investigar as hipóteses do estudo.

    A associação entre as variáveis do IEAC-2 (ansiedade cognitiva, ansiedade somática e autoconfiança) e o desempenho foi verificada pelo teste Qui-quadrado. Para tal análise os escores do IEAC-2 do foram categorizados em: muito baixo (9 a 15), baixo (16 a 22), alto (23 a 29) e muito alto (30 a 36). E o desempenho foi dicotomizado em dois grupos: ganhadores e perdedores.

    Pelo mesmo motivo, para comparar a distribuição dos escores do IEAC-2 entre as duas modalidades esportivas estudadas foi usado o teste Mann-Whitney para amostras independentes. E, finalmente, a correlação entre tempo de treino, tempo de competição e as variáveis do IEAC-2 foram analisados pelo teste de Spearmann2.

Resultados

    A tabela II demonstra a média dos escores das sub-escalas do CSAI-2.

Modalidade esportiva

Média dos escores sub-escalas do CSAI-2

Ansiedade cognitiva

Ansiedade somática

Autoconfiança

Surfe (n=48)

15,18

15,13

27,50

Jiu-jítsu (n=62)

13,97

18,26

27,08

    Os dados da modalidade esportiva jiu-jitsu não demonstram associação significativa entre as três variáveis do IEAC-2: ansiedade cognitiva (p=0,706), ansiedade somática (p=0,377) e autoconfiança (p=0,391) com o desempenho.

    Na comparação da distribuição dos escores das variáveis do IEAC-2 (ansiedade cognitiva, ansiedade somática e autoconfiança) entre as duas modalidades, surfe e jiu-jitsu, existe diferença significativa (p<0,001) entre os níveis de ansiedade somática das duas modalidades (gráfico 1), mas não há diferença significativa entre os níveis de ansiedade cognitiva (p=0,142) e de autoconfiança (p=0,156).

    Conforme o esperado nos atletas de jiu-jitsu existe correlação positiva entre tempo de treino e tempo de competição (p<0,001), tempo de treino e autoconfiança (p<0,001) e correlação negativa entre tempo de treino e ansiedade cognitiva (p= 0,001).

    Ainda com relação aos dados do jiu-jitsu, o tempo de competição (p<0,001) e o tempo de treino (p<0,001) estão positivamente correlacionados com autoconfiança, enquanto a ansiedade cognitiva está negativamente correlacionada com: autoconfiança (p<0,001), tempo de treino (p=0,001) e tempo de competição (p=0,001). Finalmente, conforme esperado, com relação aos dados do jiu-jitsu, a variável autoconfiança, demonstrou estar inversamente correlacionada com ansiedade cognitiva (p<0,001).

    Com relação aos dados do surfe houve associação significativa entre desempenho e ansiedade cognitiva (p= 0,036) e desempenho e autoconfiança (p=0,019).

    Conforme o esperado, nos atletas de surfe, há correlação positiva entre tempo de treino e tempo de competição (p<0,001), tempo de treino e autoconfiança (p=0,030) e correlação negativa entre tempo de treino e ansiedade cognitiva (p= 0,013).

    Quando as relações entre variáveis relacionadas com a experiência do atleta e as variáveis do IEAC-2 foram testadas, constatou-se que o tempo de competição (p<0,001) e o tempo de treino (p<0,001) estão positivamente correlacionados com autoconfiança e ansiedade cognitiva está negativamente correlacionada com autoconfiança (p=0,002) e tempo de treino (p=0,013).

    Finalmente, conforme esperado, com relação aos dados do surfe, a variável autoconfiança, demonstrou estar inversamente correlacionada com ansiedade cognitiva (p=0,002).

Gráfico 1. Comparação entre as medianas dos níveis de ansiedade somática nas duas modalidades esportivas

Discussão

    A associação significativa da ansiedade cognitiva e da autoconfiança com o desempenho no surfe suportam a primeira hipótese do estudo, corroborando com as conclusões dos estudos que investigaram a relação entre ansiedade competitiva e desempenho em outras modalidades esportivas5 8 13.

    Por outro lado, contrariando os resultados obtidos em estudos com outras modalidades esportivas, as três variáveis do IEAC-2 não demonstraram associação significativa com o desempenho nos atletas de jiu-jitsu. Vale ressaltar que não foram encontrados, em periódicos, jornais ou revistas nacionais ou internacionais nenhum estudo correlacional ou comparativo que tenha buscado investigar as possíveis associações ou relações entre ansiedade competitiva e desempenho com esse esporte.

    Em revisão bibliográfica de estudos que utilizaram outros esportes de combate, pôde-se encontrar resultados bastante inconsistentes entre ansiedade competitiva e desempenho, como foi mencionado na introdução desse artigo. Por exemplo, um estudo não encontrou correlação entre ansiedade competitiva e desempenho em atletas de TaeKwondo3, enquanto outro estudo encontrou somente escores diferentes do CSAI-2 entre ganhadores e perdedores numa competição de karatê12 e um terceiro demonstrou que os escores do CSAI-2 tiveram um efeito importante sobre o desempenho, numa competição britânica de TaeKwondo1.

    Nesse sentido, num primeiro momento de análise, poderia ser possível concluir que os resultados dessa pesquisa vêm fortalecer as evidências de que ansiedade competitiva parece não ser uma forte candidata a preditora de desempenho. Entretanto, algumas limitações concernentes às características da amostra dos atletas de jiu-jitsu, mais especificamente, a heterogeneidade da amostra no que diz respeito ao nível técnico dos atletas (faixas branca, azul, roxa, marrom e preta) pode ter tido algum efeito nesses resultados. Futuros estudos que utilizem amostras mais homogêneas em habilidades, ou que lance mão de amostragens mais sofisticadas permitirão realizar uma análise mais criteriosa e a chegar no entendimento da relação entre ansiedade competitiva e desempenho esportivo em atletas de jiu-jitsu.

    Seguindo essa linha, alguns estudos4 10 12 sugerem amostras homogêneas em habilidade, as medidas de estado de ansiedade aparecem como preditivas do desempenho, quando este é verificado tanto para resultados absolutos (ganhar ou perder) como para medidas de desempenho subjetivo, ou seja, verificado por treinadores ou pelos próprios atletas.

    Um resultado que merece ser discutido com mais atenção foi o obtido através da comparação das somas dos postos que os valores de ansiedade pré-competitiva ocupam nas duas modalidades esportivas: o jiu-jítsu e o surfe. Enquanto entre os atletas de jiu-jitsu há uma maior proporção de indivíduos classificados com um alto nível de ansiedade somática, em comparação com os atletas de surfe (gráfico 1), a distribuição dos escores de ansiedade cognitiva e de autoconfiança não foi significativamente diferente nos dois grupos. É provável que fatores relacionados ao maior vigor físico e ao excesso de contato corporal, na modalidade jiu-jitsu, ative mais a função autonômica levando os escores de ansiedade somática dos atletas de jiu-jitsu a serem em torno de 40% maiores do que nos atletas do surfe. Esses resultados suportam os dados do estudo9 que sugere que o tipo de esporte influencia o modo como o atleta interpreta sua experiência de ansiedade em situações de competição. Dito de outra forma, parece possível inferir que atletas que competem em esportes de combate avaliem que alterações periféricas do organismo, como aumento no ritmo cardíaco, aumento do tônus, etc, sejam esperadas e mesmo desejáveis, já que esse tipo de ansiedade pré-competitiva (ansiedade somática) os preparem para um estado de alerta ideal para a luta. Portanto, alterações de nível de ansiedade somática não estariam relacionadas diretamente com alterações na percepção da ansiedade (ansiedade cognitiva) e da autoconfiança em atletas de jiu-jitsu. Por outro lado, no surfe, altos níveis de ansiedade somática poderiam comprometer o desempenho geral do atleta na competição.

    O tempo de treino e competição, variáveis que propiciam o desenvolvimento de habilidades técnicas e com a experiência de enfrentar situações de competição parecem interferir na percepção de autoconfiança e de ansiedade nos atletas de jiu-jitsu. Quanto maior é o tempo de treino e de competição, maior é autoconfiança e menor e a ansiedade cognitiva. Assim, os resultados confirmam as expectativas de que atletas experientes diferem significativamente de atletas novatos no que diz respeito a essas variáveis psicológicas.

    A correlação negativa entre autoconfiança e ansiedade cognitiva, encontrada no presente estudo, parece evidente já que foi suportada pelo estudo8 da própria validação do CSAI-2.

    Para concluir, os resultados desse estudo são importantes para a pesquisa em ansiedade pré-competitiva, na medida em que fornecem contribuições inéditas relativas às modalidades esportivas pesquisadas. Entretanto, esses resultados estão limitados aos seus objetivos, que nessa etapa da pesquisa, foram apenas de medir os níveis de associação e as possíveis correlações entre as variáveis do CSAI-2 e desempenho. A continuidade do programa de pesquisa permitirá aos pesquisadores desenvolver desenhos mais requintados e verificar a capacidade preditiva dessas variáveis para explicar a variação no desempenho de atletas.

    Estudos dessa natureza foram realizados no contexto do vôlei de praia6, que concluíram, por meio de análise de regressão múltipla, que ansiedade cognitiva, ansiedade somática e autoconfiança foram bons preditores de desempenho, explicando cerca de 42% da variação no desempenho.

    Para se conseguir empregar testes estatísticos mais arrojados como é o caso da análise de regressão múltipla nos esportes de combate, um dos grandes desafios e o desenvolvimento de uma escala para mensurar o desempenho dos atletas. Os estudos encontrados na literatura e todos os citados pelo presente estudo utilizaram medidas de desempenho diferentes: resultado absoluto (perder ou ganhar), pontos ou colocação no ranking do esporte, colocações em vários campeonatos, medalhistas como ganhadores. Dessa forma uma padronização dessas medidas de desempenho em várias modalidades esportivas possibilitaria conclusões mais avançadas e, conseqüentemente, um maior entendimento a respeito do desempenho esportivo em competições.

    Finalmente, levando em consideração a definição de ansiedade somática dada por Martens e colaboradores8, como uma ativação na função autonômica do sistema nervoso e o tipo de instrumento utilizado (IEAC-2) nesse estudo, que é de autorelato, poderia se sugerir que a medição da ansiedade somática seria mais fidedigna se fosse adicionada uma medida fisiológica, como o cortisol salivar, o que poderia sanar essas possíveis limitações de um instrumento de autorelato.

    Assim, pode ser que a ciência consiga entender com maior profundidade a relação entre ansiedade competitiva e desempenho esportivo para que psicólogos do esporte, técnicos e profissionais da área possam auxiliar aos atletas a maximizar seu desempenho.

Referências bibliográficas

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