efdeportes.com

Influência do alongamento estático em diferentes 

fases do aquecimento para jovens futebolistas

Influence of static stretching on different stages of warm-up for young football players

 

Juiz de Fora, Mg

(Brasil)


Luizir Alberto de Souza Lima Júnior
Marcelo de Oliveira Matta | Hebert Soares Bernardino
Carlos Magno Amaral Costa | Jorge Roberto Perrout de Lima

ljuniorfaefid@hotmail.com

 

 

 

Resumo

          Objetivo: O estudo verificou a influência do alongamento estático em fases distintas do aquecimento, no desempenho de ações de potência muscular de membros inferiores, avaliada por um protocolo de saltos horizontais. Amostra: A amostra estudada foi composta por 21 jovens futebolistas da categoria juvenil na cidade de Juiz de Fora. Métodos: A amostra estudada foi submetida a quatro situações experimentais distintas de aquecimento em semanas diferentes: I) exercícios aeróbios (EA) com 10 minutos de aquecimento; II) cinco minutos de alongamentos estáticos (AE), seguidos de cinco minutos de EA; III) ordem de execução inversa em relação ao grupo II; IV) AE a cada dois minutos de EA, intercalando as duas atividades. As situações que utilizaram AE compreendiam uma mesma seqüência de execução com uma série de 10 segundos de tensão. Após cada método de aquecimento, foi executado um teste de potência muscular de membros inferiores através de um protocolo de salto horizontal - Long Jump (Johnson e Nelson, 1979). Para análise dos dados foi utilizada uma análise de variância (ANOVA). Resultados: a amostra estudada tinha 16 ± 0,7 anos; peso: 67,2 ± 5,3 kg e altura: 1,71 ± 0,06 m. As médias e desvios-padrão dos saltos foram: I) 224,6 ± 17,3 cm. II) 225,8 ± 18,9 cm. III) 228,7 ± 18,5 cm. IV) 229 ± 17 cm. Conclusão: De acordo com os resultados, pode-se concluir que não houve diferença entre os saltos nas diferentes situações experimentais de alongamento nesta população estudada. Portanto, o AE de baixo volume e curta duração, em qualquer fase do aquecimento, não interfere no desempenho de ações de potência muscular.

          Unitermos: Alongamento estático. Potência muscular. Saltos horizontais.

 

Abstract

          Objective: This study verified the influence of static stretching in distinct phases of warm-up, on the performance of lower limbs muscle power actions. Sample: The studied sample was composed of young football players in the Juvenile category. Methods: There were four experimental warm-up situations. I) aerobic exercises (AE) with a warm-up period of 10 minutes. II) static stretching (SS) for five minutes, followed by AE for 5 minutes. III) inverted the order of performing the second method. IV) SS after every 2 minute period of AE, interspersing the two activities. The situations in which SS was used were performed in a series with each static stretch held for 10 seconds. After each warm-up method a lower limb muscle power test was performed by means of a Long Jump protocol (Johnson e Nelson, 1979). An analysis of variance (ANOVA) was used for data analysis. Results: The studied sample were 16 ± 0.7 years old; weight: 67.2 ± 5.3 kg and height: 1.71 ± 0.06 m. The means and standard deviation of the jumps were as follows: I) 224.6 ± 17.3 cm. II) 225.8 ± 18.9 cm. III) 228.7 ± 18.5 cm. IV) 229 ± 17 cm. Conclusion: According to the results it could be concluded that there is no difference among the jumps under the different experimental situations. Therefore low volume and short duration SS in any stage of warm-up does not interfere in the performance of muscle power actions.

          Keywords: Static stretching. Muscle power. Horizontal jumps.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 128 - Enero de 2009

1 / 1

Introdução

    No futebol o aquecimento é parte integrante e fundamental de uma sessão de treinamento ou na preliminar de uma partida. O aquecimento é um conjunto de atividades físicas que mediante um volume e uma intensidade de trabalho adequado visa preparar o indivíduo para o desempenho de performances máximas sendo classificado em quatro maneiras: ativo, passivo, mental e combinado, o primeiro tende a ser o principal e o mais utilizado, tanto em competições como em treinamentos. Este aquecimento ativo consiste em atividades de predominância cardiorrespiratória de intensidade leve ou moderada e atividades de predominância neuro-musculares (AN). Essas AN geralmente são compostas por alongamentos e visam uma preparação geral da musculatura, articulações e do sistema nervoso central1.

    O aquecimento pode reduzir a suscetibilidade a lesões músculo esqueléticas por aumentar a extensibilidade do tecido conjuntivo, por aprimorar a amplitude de movimento, a função das articulações e o desempenho muscular2.

    Os alongamentos estáticos (AE), são freqüentemente empregados durante o aquecimento por permitir a execução dos movimentos com mais eficácia e menor gasto energético, além da facilidade de execução, aprendizagem e baixo risco de lesão3. Assim, o AE consiste em movimentos lentos, que são continuados até que uma amplitude articular máxima seja atingida e, quando essa posição articular desejada é alcançada, é mantida estatisticamente, em geral, por cerca de 10 a 30 segundos3 é uma forma de trabalho que visa à manutenção dos níveis de flexibilidade e propicia a realização dos movimentos de amplitude normal com o mínimo de restrição física possível. Fisiologicamente o AE causa deformação dos componentes plásticos e estiramento dos componentes elásticos a nível submáximo5.

    O AE pode ativar o órgão tendinoso de Golgi provocando a liberação do neuromediador inibitório, ácido gama-amino butírico, na medula, provocando diminuição da força e impulsão por mais de uma hora6.

Objetivo

    O objetivo do presente estudo é verificar a influência do AE em diferentes métodos de aquecimento, para o desempenho de saltos horizontais de jovens futebolistas.

Materiais e métodos

    O presente estudo foi submetido a uma avaliação e o protocolo 1347.038.2008 foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Universidade Federal de Juiz de Fora, para participar do estudo os responsáveis dos participantes foram informados dos procedimentos e assinaram termo de consentimento autorizando os voluntários a participarem do mesmo.

    A amostra foi composta por 21 indivíduos do sexo masculino, com idade média de 16 ± 0,7 anos, peso corporal 67,2 ± 5,3 kg e estatura 1,71 ± 0,06 m praticantes de futebol e integrantes da equipe juvenil de um clube da cidade de Juiz de Fora (MG). Os jogadores participantes se dividiam em: três goleiros, quatro zagueiros, quatro laterais, seis meio-campistas e quatro atacantes.

    Para cada indivíduo da amostra, foram realizadas quatro situações experimentais de aquecimento pré-competitivo, em dias e horários iguais, porém em semanas diferentes. No primeiro dia os saltos foram realizados sem a execução de AE, apenas exercícios de predominância aeróbios (EA), com duração de dez minutos, estabelecendo valores de referência para os saltos seguintes. No segundo dia foram realizados cinco minutos de AE, seguidos de cinco minutos de EA. No terceiro dia inverteu-se a ordem de execução do aquecimento, iniciando com cinco minutos de EA seguidos de cinco minutos de AE. Na quarta situação experimental foram realizados AE a cada dois minutos de EA, intercalando as duas atividades. Todas as situações que utilizaram o AE foram realizadas, através de uma seqüência única e padronizada com uma série de 10 segundos de manutenção para cada alongamento. A seqüência de AE utilizada foi a seguinte: Flexão do joelho, flexão de quadril com joelho estendido, abdução de quadril com joelho estendido e flexão dorsal do tornozelo com flexão de tronco.

    Após cada método de aquecimento foi executado um teste de potência muscular de membros inferiores através de um protocolo de salto horizontal - Long Jump7 , cujo protocolo é padronizado através do posicionamento dos pés à largura dos ombros, em cima de uma linha previamente determinada, sendo permitido um movimento de balanceio dos braços e flexão das pernas para auxílio na impulsão. Os saltos foram realizados em superfície lisa e dura sobre uma trena de 5 metros7. O resultado considerado foi o melhor de três tentativas. Os indivíduos testados possuíam experiência na realização do movimento proposto, uma vez que utilizavam tal prática nos treinamentos, porém não com objetivos de avaliação.

    Para o tratamento estatístico foi utilizada a análise de variância (Anova), a fim de comparar os resultados dos saltos após cada seqüência de aquecimento e teste post-hoc Tukey para p<0,05 de nível de significância.

Resultados

    O desempenho de ações de potência muscular de membros inferiores, avaliada pela distância na execução de saltos, está demonstrado na tabela 1 através de média e desvio-padrão.

Tabela 1. Média e Desvio Padrão dos saltos (cm) nos diferentes tipos de aquecimento.

 

Aquecimento sem AE

AE pós aquecimento

AE antes aquecimento

AE intercalado aquecimento

Média (cm)

224,6

225,9

228,8

229,1

Desvio Padrão

17,4

18,9

18,5

17,6

    De acordo com a tabela 1, não houve diferença nas distâncias obtidas pelos saltos entre os diferentes métodos de aquecimento. Ademais, as distâncias dos saltos obtidas quando da realização de aquecimento envolvendo AE não apresentou diferença estatística quando comparados com os saltos sem AE. Portanto, a realização e a fase de execução do AE, como realizado no estudo, não influenciou no desempenho dos saltos.

Discussão

    Não foram observadas variações no desempenho de ações de potência muscular de membros inferiores, avaliada por um protocolo de saltos horizontais nesta população estudada. Os resultados dos testes com aquecimento sem AE e aquecimento com AE antes, depois ou intercalado não foi diferente. Apesar da tensão de 10 segundos de AE serem suficientes para ativar os órgãos proprioceptores5., e conseqüentemente relaxar a musculatura, o baixo volume, com apenas uma série, não ocorrendo modificações plásticas, pode ter contribuído para os resultados8. Para Achour4, não seria recomendado preceder uma competição ou treino de força máxima e potência com exercícios de alongamento para desenvolver a flexibilidade. Estes exercícios de alongamento não devem durar muito tempo (10 a 20 segundos) e seria preferível aplicar poucas séries, entre uma e duas durante o aquecimento4.

    Little e William9 testaram diferentes tipos de aquecimento com alongamentos estáticos, dinâmicos e sem alongamentos, em saltos verticais, tiros de 10 e 20 metros e teste de agilidade com jogadores de futebol. Concluíram que o alongamento estático, quando inserido dentro do aquecimento, não influenciou o desempenho dos saltos verticais corroborando com o presente estudo.

    Em estudo proposto por Cardozo8, indivíduos do sexo masculino, praticantes de musculação por pelo menos seis meses, realizaram testes com hand gripp após realização de três séries de AE com 10 segundos. No estudo concluiu-se que até 90 minutos após a realização dos alongamentos, não houve diferença de força nos testes de 1 RM.

    Contrariando as recomendações de poucas séries antes de eventos de força e potência3., porém com achados semelhantes, Alpkaya e Koceja10, avaliaram 15 indivíduos que realizaram cinco minutos de aquecimento em cicloergômetro e três séries de 15 segundos de AE nos músculos sóleo e gastrocnêmios, além de outra situação controle sem AE seguidos por testes de tempo de reação e força. Os autores concluíram que o AE não interferiu no desempenho dos testes, não havendo diferença nos resultados com ou sem alongamentos.

    Entretanto, diversos estudos 11,12,13. obtiveram resultados diferentes em procedimentos semelhantes, em que foi avaliada a ação do AE no desempenho de força e potência.

    Galdino6 utilizando flexionamento passivo, em duas fases, a primeira, de seis segundos de tensão acima do limite máximo articular e na segunda fase mais 10 segundos no limite máximo articular possível, e aquecimento em cicloergômetro, em pessoas fisicamente ativas, concluiu que houve queda do desempenho de saltos verticais até 40 minutos depois da realização do flexionamento. Apesar da diferença de protocolo o autor não recomenda a utilização de flexionamento passivo antes de atividades que requerem força explosiva, devido à ação de mecanismos proprioceptores e conseqüente queda de rendimentos nas mesmas6. Arruda14 e Tricoli15 , apesar de utilizarem grupos musculares e volumes de AE diferentes, obtiveram respostas semelhantes em seus estudos, quando concluíram que o alongamento estático prévio aos exercícios de repetições máximas causava diminuição na força máxima devida a diminuição do recrutamento de fibras, ativação do Órgão Tendinoso de Golgi e inibição do potencial de ação14.. Deve-se levar em consideração que os estudos citados diferem em protocolos, tipos, duração e volume de alongamentos, amostras e métodos utilizados. Portanto tais diferenças podem explicar as divergências nos resultados encontrados.

Conclusão

    O presente estudo, através dos resultados obtidos e pesquisa na literatura conclui que os AE quando inseridos dentro do aquecimento, independentemente da fase do mesmo e realizado com baixo volume e curta duração, não influencia a performance em eventos de explosão muscular, para a amostra estudada.

    Entretanto, faz se necessário à realização de novos estudos que utilizem outros métodos e populações para novas conclusões sobre o tema, para que se possa evoluir cada vez mais na prescrição e orientação do treinamento do futebol e desportivo em geral.

Referências bibliográficas

  1. Dantas, E. H. M. A Prática da Preparação Física. 5th ed. Rio de Janeiro: Shape; 2003.

  2. American College of Sports Medicine. Diretrizes do ACSM para os testes de esforço e sua prescrição. 6th ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2003.

  3. Bertolini GRF, Filippin TR, Onishi CM, Ariza D, Nakayama GK, Loth EA. Avaliação dos métodos de alongamento estático e alongamento estático combinado ao ultra-som na extensibilidade do gastrocnêmio. Fisioter. Mov. 2008; 21(1):115-22

  4. Achour Jr A. Exercícios de alongamentos anatomia e fisiologia. 1st ed. São Paulo: Manole; 2002.

  5. Dantas, E. H. M. Flexibilidade, Alongamento e Flexionamento.. 5th ed. Rio de Janeiro: Shape; 2005.

  6. Galdino LAS, Nogueira CJ, César EP, Fortes MEP, Perrout JR, Dantas EHM. Comparação entre os níveis de força explosiva de membros inferiores antes e após o flexionamento passivo. Fitness Performance J 2005; 4: 11-5.

  7. Marins JCB, Giannichi RS. Avaliação e Prescrição de Atividade Física - Guia Prático. 2nd ed. Rio de Janeiro: Shape; 1998.

  8. Cardozo G, Torres JB, Dantas EHM, Simão R. Comportamento da Força Muscular após o Alongamento Estático. Rev Trein Desportivo 2006; 7: 73-6.

  9. Little T, Williams AG. Effects of differential stretching protocols during warm-ups on high-speed motor capacities in professional soccer players. J Strength Cond Res. 2006; 20: 203-7.

  10. Alpkaya U, Koceja D. The effects of acute static stretching on reaction time and force. J Sports Med Phys Fitness. 2007; 47: 147-50.

  11. Behm DG, Bambury A, Cahill F, Power K. Effect of acute static stretching on force, balance, reaction time, and movement time. Med Sci Sports Exerc. 2004; 36: 1397-402.

  12. Cramer JT, Housh TJ, Johnson GO, Miller JM, Coburn JW, Beck TW. Acute effects of static stretching on peak torque in women. J Strength Cond Res. 2004; 18: 236-41

  13. Young B, Behm DG. Effects of running, static stretching and practice jumps on explosive force production and jumping performance. J Sports Med Phys Fitness. 2003; 43: 21-7.

  14. Arruda FLB, Faria LB, Silva V, Senna GW, Simão R, Novaes J, Maior AS. A Influência do Alongamento no Rendimento do Treinamento de força. Rev Trein Desportivo 2006; 7: 1-5.

  15. Tricoli V, Paulo AC. Efeito agudo dos exercícios de alongamento sobre o desempenho de força máxima. Rev Atividade Física Saúde 2002; 7: 6-13.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/

revista digital · Año 13 · N° 128 | Buenos Aires, Enero de 2009  
© 1997-2009 Derechos reservados