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A motivação de crianças e adolescentes 

para a prática do futsal

 

*Acadêmico de Educação Física da Instituição Educacional São Judas Tadeu

**Doutor em Psicologia

Docente da Instituição Educacional São Judas Tadeu e UFRGS

***Doutor em Ciências da Saúde, Docente UFRGS

(Brasil)

Gustavo Bühler Terra*

José Augusto Evangelho Hernandez**

Rogério da Cunha Voser***

hernandz@ portoweb.com.br

 

 

 

Resumo

          Este estudo teve como objetivo verificar a relação entre a motivação para a prática do futsal e a idade em crianças de 7 a 15 anos. Participaram desta pesquisa 142 alunos da Escola Desportiva Rola Bola de Porto Alegre/RS. Na coleta de dados foi utilizado o Inventário de Motivação para a Prática Desportiva de Gaya e Cardoso (1998) adaptado por Hernandez et al. (2008). Esta adaptação reduziu o inventário para 17 itens, que se distribuíram em 4 fatores, denominados de fitness, amizade e lazer, competitividade e aspiração profissional. Os dados foram analisados através do programa estatístico SPSS, versão 11.5, mediante estatísticas descritivas e Coeficiente de Correlação de Pearson. Os resultados mostraram uma correlação negativa estatisticamente significativa entre a idade e os quatro fatores relacionados à motivação para a prática do Futsal. Possivelmente, o processo evolutivo da consciência dos alunos, construído com o trabalho pedagógico do professor de Educação Física, produza uma noção mais realista do papel do aluno dentro da prática desportiva. Desta forma, gradativamente, o mesmo vá se distanciando daqueles motivos vinculados à competição e à participação no âmbito do alto rendimento.

          Unitermos: Motivação no esporte. Futsal. Psicologia do esporte.

 

Abstract

          This study had as an objective to verify the relationship between motivation for the practice of futsal and age in children aged from 7 to 15 years old. The sample for the research comprehended 142 children enlisted at Rola Bola Sport School in Porto Alegre/RS. Data was collected through Gaya and Cardoso’s (1998) Inventory of Motivation for the Practice of Sports (Inventário de Motivação para a Prática Desportiva), adapted by Hernandez et al. (2008). The adaptation reduced the Inventory to 17 items, distributed into 4 factors denominated as fitness, friendship and leisure, competitiveness, and professional aspiration. Data was analyzed by means of descriptive statistics and Pearson’s Correlation Coefficient through the statistical software SPSS, version 11.5. Results showed a significant negative statistical correlation between age and the 4 factors related to motivation for the practice of futsal. Possibly, the evolutionary process of children’s consciousness, built through the pedagogical methodology employed by the physical education teacher, provides a more realistic notion of the apprentice’s role within sport practices. Therefore, the apprentice, gradually, distances him/herself from purposes attached to competition and to participation in high-performance events.

          Keywords: Sport motivation. Futsal. Sports psychology. Psychology of sports.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 128 - Enero de 2009

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    O Brasil é reconhecido no mundo inteiro como uma grande potência no Futsal e, como no futebol, é um dos países exportadores de craques. Detentor de grandes títulos, entre eles: pentacampeão mundial, doze vezes campeão Sul-americano e campeão da última edição dos jogos Pan-Americanos. O Futsal é um dos desportos com o maior numero de praticantes no território brasileiro. Uma parte significativa destes praticantes é composta de crianças e adolescentes (CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL DE SALÃO, 2008).

    Para realizar atividades esportivas com maior autonomia e segurança, deve-se levar em conta os fatores motivacionais que direcionam as crianças para a prática desportiva, considerando que os motivos podem variar conforme a faixa etária do indivíduo. É dever de todos os educadores (acadêmicos e profissionais) envolvidos com a prática desportiva zelarem pelo bom andamento das atividades. A educação deve ser sempre o critério primordial para que tenham um desenvolvimento positivo e auxiliem no crescimento dos alunos. As frustrações e aborrecimentos podem afetar a motivação e culminar com o afastamento da criança do esporte, contribuindo para que esta se torne um adulto sedentário. Como afirmou Vargas Neto (2000, p. 45) “O esporte por si só não é bom nem ruim, dependerá basicamente da forma com que é utilizado e dos processos didáticos e pedagógicos empregados em seu ensino”.

    Em relação ao trabalho de iniciação com crianças, Voser (1999) alertou para os cuidados que se deve ter, pois o que acontecer nesta fase poderá ficar marcado na vida das crianças para sempre, consciente ou inconscientemente. É importante que haja uma estimulação para que as crianças participem da criação e organização de atividades. As atividades desportivas e corporais que fazem parte da Educação Física e da prática desportiva desenvolvem os domínios cognitivos e psicomotores nas crianças. Nada mais adequado do que utilizar o movimento para estimular a expressão e a criatividade da criança (FERREIRA, 1994).

    A criação do Futsal ainda com o nome de Futebol de Salão tem duas versões, uma delas acredita que o esporte foi criado em São Paulo por volta 1940, pelos freqüentadores da Associação Cristã de Moços (ACM). A segunda versão, considerada como a mais provável, sustenta que o Futebol de Salão teria sido criado no ano de 1934, na Associação Cristã de Moços de Montevidéu, Uruguai, pelo professor Juan Carlos Ceriani, que chamou este novo esporte de ''INDOOR-FOOT-BALL''. (CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL DE SALÃO, 2007). Teixeira (1999) concordou com esta última versão, mas acreditou que a modalidade acabou se desenvolvendo no Brasil através da criação de novas regras.

    Desde sua criação, comentaram Voser e Giusti (2002), o Futebol de Salão sofreu inúmeras influências. No ano de 1933 foram redigidas a primeiras regras oficiais que traziam os seus fundamentos em diversos aspectos, como a essência do jogo (influência do futebol), tamanho da quadra (influência do basquete), a trave e a área (influência do handebol) e a regulamentação do goleiro, que não podia sair do limite da área (influência do pólo aquático).

    No Brasil, surge no ano de 1954, a primeira Federação de Futebol de Salão, a Federação Carioca que teve como seu primeiro presidente Ammy de Moraes, após aparecem às federações de Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul (VOSER, 1999). No dia 15 de Julho de 1979, foi criada a Confederação Brasileira de Futebol de Salão (CBFS) com sede na cidade de Fortaleza, tendo como primeiro presidente Aécio de Borba Vasconcelos (TEIXEIRA, 1996).

    Na década de 90 ocorre a grande uma mudança no futebol de salão como nos relata Voser (p.16, 1999), “da fusão do futebol de cinco (praticado pela FIFA) e do futebol de salão (praticado pela FIFUSA) surgiu o futsal”. A partir daí, é extinta a Federação Internacional de Futebol de Salão (FIFUSA) e a Federação Internacional da Associação de Futebol provindo do francês: Fédération Internationale de Football Association (FIFA) passa a ser a entidade máxima também do futsal (JORNAL DO FUTSAL, 2007).

    A motivação é um termo que denota fatores e processos que levam as pessoas a fazer ou não fazer algo, independente do que seja. Segundo Murray (1983), os teóricos têm diferentes concepções sobre a motivação, mas todos concordam que se trata de um fator interno que tem início, dirige e integra o comportamento do ser humano. Não se trata de uma ação diretamente observada, mas sim algo que se pode deduzir a partir do comportamento deste ser. Cratty (1983) comentou que, de modo específico, o estudo dos motivos implica no exame das razões pelas quais se escolhe fazer algo ou executar algumas tarefas, com maior empenho do que outras ou, ainda, persistir numa atividade por longo período de tempo.

    Weinberg e Gould (2008) definiram a motivação como a direção e a intensidade de um esforço. A direção do esforço refere-se a um indivíduo buscar, aproximar-se ou ser atraído a certas situações. A intensidade do esforço refere-se à intensidade do esforço que o indivíduo aplica em uma determinada situação. Os autores ainda categorizaram o conceito de motivação como percebido pela sociedade em geral. Para estes autores, são três as orientações como a maior parte dos indivíduos conceitua a motivação. A visão centrada no traço, a visão centrada na situação e a visão interacional. A visão centrada no traço, também pode ser chamada de visão centrada no participante, acredita que o comportamento motivado se dá basicamente em função de características individuais. A visão centrada na situação acredita que o nível de motivação esteja intimamente ligado à atividade (situação). E por último a visão interacional sustenta que a motivação é a interação entre os dois fatores anteriores.

    Samulski (2002) escreveu que a motivação tem por característica ser um processo ativo, intencional dirigido a um objetivo, que depende da interação de fatores intrínsecos e extrínsecos. Motivação intrínseca caracteriza-se pelas recompensas que a própria atividade pode gerar para o indivíduo. Deci e Ryan (2000) sustentam que a motivação intrínseca é a base para o crescimento, integridade psicológica e coesão social. É também uma tendência natural para a busca de novidades, desafios e uma forma de adquirir e testar as próprias capacidades. A motivação extrínseca se da quando a recompensa não é obtida através da atividade, mas em conseqüência dela.

    Da motivação para a realização, Weinberg e Gould (2008) citaram quatro teorias que surgiram dos estudos nesta área. São elas a teoria da necessidade de realização, a teoria da atribuição, a teoria das metas de realização e a teoria da motivação para competência. A teoria da necessidade de realização é constituída por cinco componentes: aspectos da personalidade e motivos, fatores situacionais, tendências resultantes, reações emocionais e comportamentos relacionados à realização. Trata-se de uma visão interacional. Já a teoria da atribuição de causalidade está centrada na forma que os indivíduos explicam seus sucessos e fracassos. A teoria das metas de realização sustenta que para determinar a motivação de uma pessoa é necessário haver uma interação entre as metas de realização, a percepção de capacidade e o comportamento frente á realização. A teoria da motivação para competência defende que o principal fator da motivação é fazer com que as pessoas se sintam competentes e capazes.

    Gould e Horn1 (1984) apud Weinberg e Gould (2008) identificaram que os principais motivos que as crianças possuem para praticar esportes são de natureza intrínseca, tais como, divertir-se, aprender novas habilidades, fazer algo que considerem bom, estar com os amigos, fazer novas amizades, condicionamento, exercícios e experimentar sucesso. Os autores relatam ainda, que vencer, não é uma razão que sozinha motive as crianças para a prática desportiva. Pesquisadores brasileiros têm relatado que os motivos pelos quais as crianças se envolvem em programas esportivos são ter alegria, aperfeiçoar e aprender novas habilidades, praticar com os amigos e fazer novas amizades, adquirir forma física e sentir emoções (BECKER JR., 2000; SAMULSKI, 2002; SCALON, 2004).

    O modelo teórico de motivação utilizado por Gaya e Cardoso (1998) foi construído de uma síntese dos principais resultados obtidos através de uma revisão bibliográfica sobre os fatores motivacionais. A partir disso, os pesquisadores agruparam os motivos, conforme a afinidade dos mesmos, em três dimensões gerais: Competência Desportiva, Amizade/Lazer e Saúde.

    Competência desportiva é a capacidade de aprender as técnicas desportivas e de aplicá-las no contexto esportivo, como relatam Fonseca e Fox (2002). Em relação à teoria da motivação para a competência Weiss e Chaumeton2 (1992) apud Samulski (2002) fazem referencia como sendo o processo explicativo da reciprocidade entre percepção de competência e controle de uma pessoa e estado de motivação atual.

    Marcelino (2003) comentou que o significado de lazer apresenta muitas divergências entre os estudiosos do assunto, embora a tendência atual caminhe para um consenso. Por exemplo, Camargo (1993, p. 09) expôs as seguintes idéias:

    Um bate-bola entre amigos numa rua ou numa praia é uma atividade de lazer. Uma caminhada a pé ou de carro, sem rumo, também é. Da mesma forma, lazer é assistir a uma palestra de um escritor ou sobre um tema que se aprecia. Ou cuidar, em casa, de plantas, animais ou pequenos concertos. Ou assistir à novela, ao noticiário de tevê. Ler jornais. Freqüentar um grupo informal ou formal, sob pretextos sérios ou banais. Ir ao cinema, ao teatro ou a um estádio de futebol. Viajar, em férias ou nos fins de semana.

    Acrescentando, Camargo (1993) explicou que o lazer é a existência de um tempo importante onde se devem exercitar com criatividade as alternativas de ação e participação. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a definição de saúde seria o estado de bem-estar físico mental e social de um indivíduo.

Método

Participantes

    Participaram desta pesquisa cento e quarenta e duas crianças, praticantes de Futsal com idade entre 07 e 15 anos, média de 10,2 e desvio padrão de 2,09, da Escolinha Desportiva Rola Bola, escola particular da cidade de Porto Alegre. Estavam divididos em categorias de acordo com a idade, conforme pode ser visto na Tabela 1.

Tabela 1. Freqüência e percentuais de Idade e Categoria.

Idade

Freqüência

Percentual

Categoria

Percentual

7

13

9.2

Mamadeira

9.2

8

21

14.8

Fraldinha

 

9

22

15.5

 

30.3

10

33

23.2

Pré-Mirim

 

11

17

12.0

 

35.2

12

13

9.2

Mirim

 

13

13

9.2

 

18.3

14

4

2.8

Infantil

 

15

6

4.2

 

7.0

Total

142

100.0

 

100.0

Instrumento

    Para a coleta dos dados foi utilizado o instrumento elaborado por Gaya e Cardoso (1998) denominado Inventário de Motivação para a Prática Desportiva. O inventário é composto por 19 itens que procuram abordar três fatores: Competência esportiva, amizade lazer e saúde.

    No andamento da pesquisa, foi conhecido o trabalho de Hernandez et al. (2008) que verificaram que os 19 itens constituintes deste inventario se agrupam melhor em 5 fatores e sob rótulos diferentes dos originais. Para melhor entendimento dessa alteração leia o estudo citado.

    A divisão dos itens ficou da seguinte forma: Fitness, Amizade e Lazer, Competitividade, Aspiração Profissional. A análise de conteúdo dos itens do quinto fator revelou falta de relação entre os mesmos, o que impossibilitou identificar um constructo subjacente. Esses itens (dois) foram desprezados no presente estudo, passando o instrumento a contar com 17 itens e quatro fatores. Os participantes para responder ao inventário utilizaram uma escala tipo Likert de três pontos (nada importante, pouco importante e muito importante).

Procedimentos

Coleta de dados

    Após a autorização do Coordenador da escolinha e dos professores, foi entregue para as crianças ao final da aula o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Após o retorno do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido devidamente assinado pelos pais, foi aplicado o Inventário de Motivação Para a Prática Desportiva. O tempo médio que os alunos levaram para responder ao inventário foi de 8 minutos. A coleta se deu em cada uma das três sedes da Escola Desportiva Rola Bola.

Análise dos dados

    Os dados foram analisados através do SPSS, versão 11.5, mediante estatísticas descritivas e Coeficiente de Correlação de Pearson.

Resultados

    O Coeficiente de Correlação de Pearson revelou relações estatísticas significativas entre a idade dos sujeitos e as médias dos escores obtidos nas quatro dimensões da motivação para a prática desportiva investigadas: Amizade e Lazer, r (142) = - 0,21; p = 0,012; Fitness, r(142) = - 0,22; p = 0,007; Competitividade, r (142) = - 0,23; p = 0,006; Aspiração Profissional, r (141) = - 0,22; p = 0,007.

Tabela 2. Médias das variáveis da motivação para a prática desportiva.

 

N

Média

Desvio Padrão

Amizade e lazer

142

2,4

0,41

Fitness

142

2,6

0,34

Competição

142

2,5

0,51

Aspiração profissional

141

2,6

0,52

Idade

142

10,2

2,09

Discussão

    Os resultados mostraram uma correlação negativa entre a idade e os quatro fatores relacionados à motivação das crianças para a prática do Futsal, (competição, aspiração profissional, fitness e amizade e lazer).

    Weinberg e Gould (2008) mostraram que a competição é um processo que sempre envolve comparação direta entre os indivíduos envolvidos. Coakley3 (1994) apud Weinberg e Gould (2008, p. 120) escreveu sobre a competição: “um processo social que ocorre quando recompensas são dadas a pessoas com base em seu desempenho comparado com os desempenhos de outros indivíduos que estejam realizando a mesma tarefa ou participando do mesmo evento”.

    Considerando que a amostra da pesquisa é de alunos de uma “escolinha” que visa à educação, deixando a competição em segundo plano, poderia ser que, com o aumento da idade, haveria uma queda da motivação neste aspecto. Martens et al.4 (1981) apud Weinberg e Gould (2008) ressaltaram a importância de fazer com que as crianças não façam comparações entre os seus desempenhos e o de seus colegas. Fazendo com que elas focalizem na melhoria dos seus próprios padrões, vindo a estabelecer metas individuais. Enfatizando o caráter educacional do ensino, poderia, com o passar dos anos, a percepção do próprio indivíduo mostrar que, dificilmente este viria a ser um atleta profissional e a motivação para a competição tenderia a diminuir. Da mesma forma, diminuiria a motivação para a aspiração profissional.

    Pinheiro (1998) sustentou que se não houver uma relação entre a aptidão física e bem estar, a definição de fitness não estará correto. Com isso, entendemos que o resultado encontrado nesta pesquisa poderia ter explicação no fato de que a criança não estaria muito preocupada com a sua aptidão física quando praticaria a atividade esportiva. O que se observa, na experiência prática com as crianças, é que esta preocupação é mais dos pais do que das crianças. Como podemos observar, nos estudos realizados (BECKER JR., 2000; GOULD, HORN,5 1984 apud WEINBERG, GOULD, 2008; SAMULSKI, 2002; SCALON, 2004; WEINBERG, GOULD, 2008) dentre os motivos das crianças que se envolvem com a prática esportiva poucos estão ligados à aptidão física.

    A adolescência ocorre entre os dez e vinte anos, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), na legislação brasileira (ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE) se considera adolescente o individuo entre doze e dezoito anos de idade. Nesta etapa da vida, do jovem, o fitness ganha importância, em conseqüência da preocupação estética. A preocupação com a aparência se dá por diversos motivos, mas o mais evidente é a vinculação na mídia de que a aparência física é responsável por felicidade e sucesso como relataram Thomsen et. al.6 (2002) apud Gomes e Caramaschi (2007). Nesta pesquisa, percebeu-se aos 14 anos de idade um aumento na motivação para o fitness, embora não tenha sido estatisticamente significativo. Contudo, o número de participantes nesta faixa etária foi muito reduzido, uma ampliação da amostra poderia confirmar esse resultado.

    A correlação negativa, ou oposta, entre a idade e a motivação relacionada à amizade e o lazer, encontrada na pesquisa não ficou muito clara para os pesquisadores. Mesmo que essa queda observada tenha sido suave. Pode ser que, com desenvolvimento cognitivo da criança, houvesse uma mudança nos seus interesses dentro da prática desportiva. Isso poderia conduzir a uma readaptação dos motivos, mas que de qualquer forma, não tornaria os voltados a amizade e lazer menos importantes.

    Weinberg e Gould (2008) relataram que a amizade é para as crianças um motivo importante, quando relacionado à prática esportiva. Os autores ainda mostram que as crianças vêm nesta prática à oportunidade de estar com os seus amigos e de criar novas amizades. Na pesquisa realizada por Weiss, Smith e Theeboom (1996), foram identificadas as dimensões positivas e negativas da motivação relacionadas à amizade para a prática esportiva em crianças de oito a dezesseis anos. Foi encontrado um número muito superior de aspectos positivos, tais como, companhia, aumento da auto-estima, ajuda e orientação, comportamento pró-social, intimidade, lealdade, coisas em comum, qualidades pessoais atraentes, apoio emocional, ausência de conflitos e resolução de conflitos. As negativas foram conflito, qualidades pessoais não-atraentes, traição e inacessibilidade.

Conclusão

    Os resultados apresentados no estudo mostraram haver alterações estatisticamente significativas na motivação das crianças em relação à idade. Desta forma, a hipótese nula foi rejeitada. Contudo, deve-se ressaltar que as variações obtidas no resultado são de pequena magnitude.

    No entanto, fica evidente que se o número de participantes na pesquisa fosse aumentado, seria de mais fácil visualização as mudanças. Além disso, não se pode, através destes resultados, generalizar, pois a amostra examinada não é representativa da população.

    Para as próximas pesquisas, um ponto considerado relevante, é o cuidado na escolha do instrumento para coleta de dados. Faz-se necessário com base na literatura, verificar as características psicométricas do instrumento, verificar se tem efetivamente a capacidade de medir o que se propõe.

Notas

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  2. WEISS, M.; CHAUMETON, N. Motivational Orientations in Sport, in HORN, T. (Ed.), Advances in Sport Psychology. Champaign: Human Kinetics, 1992. p. 61 – 99.

  3. COAKLEY, J. Sport in Society: Issues and controversies .4 ed.St. Louis: Times Mirror/ Mosby College. 1994.

  4. MARTENS, R. et al.Coaching young athletes. Champaign: Human Kinetics.1981.

  5. GOULD, D.; HORN, T. Participation motivation in young athletes. In SILVA, J.M.; WEINBERG, R.S. (Ed), Psychological foundations of sport. Champaign: Human Kinetics, 2001. p. 359-370.

  6. THOMSEN, S. R. et al. Motivations for reading beauty and fashion magazines and anorexic risk in college-age women.2. [S.L] Media Psychology, 2002. p. 113-135. 

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