Proposta de tratamento fisioterapêutico no ganho de amplitude de movimento no pós operatório de reconstrução do músculo supra espinhoso. Relato de caso |
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Fisioterapeuta pela Fisioterapia Pós graduanda em Saúde da Família pela Universidade Federal de Santa Catarina |
Janeisa Franck Virtuoso (Brasil) |
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Resumo O objetivo deste artigo é demonstrar um plano de tratamento fisioterapêutico para ganho de amplitude de movimento, proposto a um paciente no pós-operatório de reconstrução do músculo supra espinhoso do ombro direito. Durante as sessões, foram realizadas mobilizações escapulares, exercícios ativos e ativo-assistido da articulação glenoumeral, além de fortalecimento para os músculos abdutores, rotadores internos e externo e flexores e extensores do ombro. No fim da sessão, era utilizado TENS como modalidade terapêutica a fim de diminuir a dor da região escapular. Ao final das sessões, o paciente apresentou discreta melhora na adução (30º para 31º), rotação interna (50º para 52º) e rotação externa (44º para 48º). Uma maior amplitude de movimento foi atingida na flexão (40º para 96º), extensão (25º para 46º) e abdução (38º para 52º). Pode-se concluir que a conduta proposta leva a um aumento considerável da amplitude de movimento mas pode ser necessário um maior número de sessões para se atingir a amplitude ideal em todos os planos de movimento. Unitermos: Tratamento fisioterapêutico. Ganho de amplitude de movimento. Reconstrução do músculo supra espinhoso. |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 127 - Diciembre de 2008 |
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Introdução
O supra espinhoso é um músculo da cintura escapular que nasce nos dois terços mediais da fossa supra-espinhal e da fáscia suprajacente, cujo tendão de inserção está intimamente associado à cápsula da articulação do ombro e superiormente se fixa a mais alta das três facetas do tubérculo maior do úmero. Este músculo, juntamente com o deltóide, é responsável pela abdução do braço (GARDNER, GRAY & O’RAHILLY, 1988). O músculo supra espinhoso juntamente com os músculos subescapular, infra espinhoso e redondo menor formam o manguito rotador.
As roturas do manguito rotador do ombro apresentam, a partir dos 40 anos de idade, um nítido aumento de sua incidência, devido às alterações degenerativas dos tendões, que ocorrem com o envelhecimento (OESTERN et al, 1993).
O local mais vulnerável a estas lesões é o das fibras de Sharpey, onde os tendões inserem-se no osso; principalmente durante o movimento de abdução do ombro, em que ocorre considerável aumento de pressão sobre o local de inserção tendinosa. A compressão do tendão nesse ponto origina alterações da vascularização tendinosa, propiciando degeneração dos tenócitos, que seria a alteração estrutural básica da estrutura tendinosa. A expressão máxima desses fenômenos que ocorrem no interior dos tendões seria a necrose das fibras, com conseqüente rotura do tendão (OESTERN et al, 1993).
As duas abordagens mais comuns para reparar um manguito rompido são os reparos abertos e artroscópico. As rupturas completas pequenas, na presença de um tecido saudável do manguito, têm resultados clínicos favoráveis com a técnica artroscópica. As rupturas grandes e volumosas são reparadas mais prontamente com um procedimento aberto. Os reparos artroscópicos e abertos começam com visualização da ruptura do manguito, descompressão subacromial e acromioplastia (BOYCE & BROSKY, 2004).
O presente estudo tem como objetivo demonstrar um plano de tratamento fisioterapêutico para ganho de amplitude de movimento, proposto a um paciente encaminhado à Clínica de Prevenção e Reabilitação Física da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) no pós-operatório de reconstrução do músculo supra espinhoso do ombro direito.
Paciente e métodos
Segundo GIL (2002), este estudo é classificado como uma pesquisa do tipo estudo de caso, cujo sujeito é do sexo masculino, com idade de 59 anos no pós operatório de reconstrução do músculo supra espinhoso.
Durante a avaliação, foram coletados dados referentes a situação atual do paciente e realizada a avaliação fisioterapêutica motora e respiratória. A partir desses dados, foi traçado o plano de assistência fisioterapêutica para este paciente. Foram realizadas 6 sessões de aproximadamente 50 minutos cada.
Como instrumento de coleta dos dados, utilizou-se uma Ficha de Avaliação de Ortopedia e Traumatologia disponível na Clínica de Prevenção e Reabilitação Física do CEFID/UDESC, goniômetro para mensuração da amplitude articular, fita métrica durante a perimetria, estetoscópio para ausculta pulmonar e esfignomanômetro para medir a pressão arterial sistêmica.
Resultados
Anamnese
Durante a anamnese, foram identificados aspectos que dizem respeito ao estado geral do paciente. Os sinais vitais eram: pressão arterial igual a 130/70mmHg, freqüência respiratória de 19 respirações por minuto e freqüência cardíaca de 73 batimentos por minuto.
A queixa principal era: dor e dificuldade de abrir o braço direito. Durante a avaliação apresentava índice 7 na escala visual de dor (que varia de 0 – sem dor a 10 – dor máxima) e ao gesticular, o braço direito mantinha-se junto ao corpo. .
Inspeção
Aparentemente não havia presença de edema na região de ombro direito. Para tanto, realizou-se perimetria, tomando como ponto de referência o acrômio, 10, 20 e 30 centímetros abaixo. A tabela 1 apresenta o valores obtidos:
Ombro |
Linha do Acrômio |
10 cm |
20 cm |
30 cm |
Esquerdo |
40,4 cm |
27,5 cm |
27,0 cm |
24,5 cm |
Direito |
41,0 cm |
27,5 cm |
26,4 cm |
24,4 cm |
Tabela 1. Perimetria de braços direito e esquerdo a partir do acrômio.
Fonte: Dados da pesquisadora
Avaliação motora e sensitiva
Durante a avaliação motora do ombro direito, apenas a força de rotadores internos estavam preservadas, enquanto a força de flexores, adutores, abdutores e extensores apresentavam grau 3 e rotadores externos que apresentavam grau 4. A força muscular de flexores e extensores de cotovelo e punho estava preservada.
Também foi realizada a mensuração da amplitude de movimento de flexão, extensão, abdução, adução, rotação interna e externa do ombro direito conforme a tabela 2.
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Amplitude de Movimento |
Flexão |
40º |
Extensão |
25º |
Abdução |
38º |
Adução |
30º |
Rotação Interna |
50º |
Rotação Externa |
44º |
Tabela 2. Amplitudes da Articulação Glenoumeral
Fonte: Dados da pesquisadora
A amplitude de movimento desse paciente foi mensurada de acordo com seu limiar de dor. O teste de coçar de Apley foi positivo no membro superior direito e a sensibilidade do mesmo membro estava preservada.
Avaliação Respiratória
No dia da avaliação, este paciente apresentava padrão respiratório costo-diafragmático, com uso de musculatura acessória da respiração apenas no final do movimento inspiratório. Na ausculta pulmonar, o murmúrio vesicular estava presente e ausência de ruídos adventícios.
Diagnóstico Fisioterapêutico
Finalizada a avaliação, chegou-se ao seguinte diagnóstico fisioterapêutico:
Diminuição da amplitude de movimento do ombro direito;
Diminuição da força muscular de flexão, extensão, abdução, adução e rotação externa do ombro direito e;
Postura antálgica a fim de evitar a dor provocada ao abduzir o braço.
Conduta Fisioterapêutica
As sessões iniciaram-se com movimentação ativa da cintura escapular, conforme Figuras 1, 2 e 3.
Figura 1. Movimentos Circulares da Escápula
Fonte: Camargo & Marx (2000)
Figura 2. Elevação dos Ombros
Fonte: Camargo & Marx (2000)
Figura 3. Elevação Alternada dos Ombros
Fonte: Camargo & Marx (2000)
Posteriormente, iniciava-se a mobilização passiva da articulação glenoumeral em todos os planos de movimento: flexão, extensão, abdução, adução, rotação interna e rotação externa.
Em seguida, eram realizados movimentos ativos assistidos, ativos com auxílio de um bastão e pendulares, conforme Figuras 4, 5 e 6. Também eram realizadas outras variações desses movimentos, visando não só flexão e extensão, mas também abdução, adução, rotação interna e externa.
Figura 4. Elevação Ativo Assistida
Fonte: Greve & Amatuzzi (1999)
Figura 5. Exercícios Ativos com o Bastão
Fonte: Greve & Amatuzzi (1999)
Figura 6. Exercícios Pendulares
Fonte: Greve & Amatuzzi (1999)
Durante os exercícios para ganho de amplitude de movimento, eram realizados exercícios isométricos por 10 segundos na angulação máxima atingida tanto em flexão, extensão, abdução, adução, rotação interna e externa.
Os exercícios com resistência leve começaram a ser impostos na quarta sessão quando o paciente referiu diminuição na dor segundo a Escala Visual Analógica (EVA), como mostra o Gráfico 1.
Gráfico 1. Evolução da Dor Durante as Sessões
Fonte: Dados da pesquisadora
Para os exercícios ativos resistidos visando a abdução, adução, flexão, extensão, rotação interna e rotação externa foi utilizado o theraband vermelho, conforme as figuras 7, 8 e 9.
Figura 7. Exercícios Ativo Resistido para Abdução
Fonte: Camargo & Marx (2000)
Figura 8. Exercícios Ativo Resistido para Rotação Externa e Interna
Fonte: Camargo & Marx (2000)
Figura 9. Exercícios Ativo Resistido para Flexão e Extensão
Fonte: Camargo & Marx (2000)
Também para aumentar a amplitude de movimento foram realizadas movilizações e trações da articulação glenoumeral.
No fim da sessão, era utilizado TENS (Estimulação Nervosa Elétrica Transcutânea) como modalidade terapêutica a fim de diminuir a dor da região escapular e articulação glenoumeral.
O paciente foi orientado a realizar crioterapia domiciliar por 20 minutos na região posterior do ombro direito.
Reavaliação
Para verificar a eficácia do plano de assistência fisioterapêutica no ganho de amplitude de movimento após cirurgia de reconstrução do músculo supra espinhoso foi realizado novamente a goniometria de flexão, extensão, adução, abdução, rotação interna e rotação externa (Tabela 3).
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Amplitude de Movimento |
Flexão |
96º |
Extensão |
46º |
Abdução |
52º |
Adução |
31º |
Rotação Interna |
52º |
Rotação Externa |
48º |
Tabela 2. Amplitudes da Articulação Glenoumeral – Reavaliação
Fonte: Dados da pesquisadora
Discussão dos resultados
Segundo LECH (1995), várias causas concorrem para a patologia do manguito rotador, entre as quais: trauma, hipovascularização na inserção do músculo supra espinhoso e impacto subacromial primário. No caso do paciente deste estudo, um estiramento abrupto ocorreu enquanto realizava uma atividade com elevação de membros (preparação e transferência da massa de cimento para uma parede). Segundo GOLD (1993), em pacientes idosos, a ruptura completa do supra espinhoso pode ocorrer mesmo com leve trauma.
O músculo supra-espinhoso parece ser mais susceptível às lesões quando a articulação glenoumeral está na posição aduzida, já que nesse caso uma área do seu tendão de inserção, denominada zona crítica, torna-se hipovascularizada (PAKENAS & SERRÃO, 2002). Para NIRSCHL apud ANDRADE et al (2004), 90 a 95% das anormalidades do manguito são secundárias a trauma, sobrecarga em tensão ou excesso de uso.
A rotura do tendão do músculo biceps braquial tem sido observada com certa freqüência em associação com as roturas do tendão do músculo supra-espinhoso. Essa associação de lesões tem sido atribuída à compressão a que o tendão do músculo bíceps braquial fica submetido após a rotura do tendão do supra-espinhoso (OESTERN et al, 1993).
A ultrassonografia realizada após a ruptura do tendão do supra espinhoso do ombro direito apresentou pequeno conteúdo líquido na bainha sinovial do tendão da cabeça longa do bíceps braquial, que pode estar associada a essa compressão que o tendão do bíceps permanece após a ruptura do tendão do supra espinhoso.
O teste de coçar de Apley, mesmo após a cirurgia de reconstrução do músculo supra espinhoso, permaneceu positivos. Este teste é realizado com o paciente sentado, instruí-lo para colocar a mão no lado do ombro afetado atrás da cabeça e tocar no ângulo superior da escápula oposta. A seguir, instruir o paciente para colocar a mão atrás das costas e tentar tocar o ângulo inferior da escápula oposta. O fundamento do teste é: ao tentar ativamente tocar na área superior e inferior da escápula oposta, está sendo posta tensão nos tendões do manguito rotador. Exacerbação da dor do paciente indica tendinite degenerativa de um dos tendões do manguito rotador, usualmente o tendão supra espinhoso (CIPRIANO, 1999).
Segundo ANDRADE et al (2004), a cinesioterapia é a parte mais importante do tratamento não-cirúrgico e é dividida em duas fases: na primeira são instituídos os exercícios de alongamento com o objetivo de obter a recuperação completa das amplitudes do movimento; a segunda fase constitui-se de exercícios de reforço para o manguito rotador e os estabilizadores da escápula e, posteriormente, para o deltóide. Embora alguns pacientes possam reabilitar-se com sucesso apenas com exercícios domiciliares, a orientação e o acompanhamento de um fisioterapeuta parece que os beneficiam em sua grande maioria.
O controle da dor e a prevenção da atrofia muscular são abordados no primeiro estágio de reabilitação pós cirurgia (PRENTICE & VOIGHT, 2003). Os exercícios de encolher os ombros, os isométricos e as mobilizações articulares para o controle da dor podem ser realizados. Mais adiante nesse estágio, os exercícios ativos assistidos e os exercícios isométricos multiarticulares podem ser realizados na amplitude de movimento indolor. Os exercícios de amplitude de movimento ativo são acrescentados, progredindo do modo sem resistência para resistência com o tubo de borracha.
Segundo WILK & ANDREES in BROTZMAN (1996), na primeira fase de 0 a 4 semanas do protocolo de reabilitação para ruptura completa do manguito rotador, deve-se realizar exercícios pendulares, mobilização passiva e ativo assistido para amplitude de movimento de flexão e rotação interna e externa com abdução de 45º.
Na fase intermediária, 8 a 14 semanas, os exercícios de amplitude de movimento ativo assistido devem continuar e iniciar-se o fortalecimento isotônico leve de músculos escapulares e da articulação glenoumeral (WILK & ANDREES in BROTZMAN, 1996).
O mesmo autor afirma que, para o controle da dor, pode ser utilizada a crioterapia ou outras modalidades anestésicas.
A crioterapia foi realizada após as sessões no domicílio de paciente, dessa forma, optou-se por realizar a estimulação nervosa elétrica transcutânea (TENS). Esta modalidade terapêutica consiste na aplicação de eletrodos sobre a pele intacta com o objetivo de estimular as fibras nervosas grossas A-alfa mielinizadas de condução rápida. Esta ativação desencadeia a nível central, os sistemas analgésicos descendentes de caráter inibitório sobre a transmissão nociceptiva conduzida pelas fibras não mielinizadas de pequeno calibre, gerando dessa forma a redução da dor (AGNE, 2005).
Conclusão
Dependendo a extensão da lesão do tendão do supra espinhoso, o tratamento conservador pode ser indicado. No presente relato de caso, por tratar-se de uma lesão completa como mostrou a ultrassonografia, a indicação cirúrgica foi primordial.
A abordagem fisioterapêutica para este paciente alcançou o objetivo proposto: ganhar amplitude de movimento de ombro após cirurgia de reconstrução do músculo supra espinhoso, mesmo o paciente chegando ao serviço de fisioterapia apenas um mês e meio após a intervenção cirurgica.
Bibliografia
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BROTZMAN, S. Brent. Clinical orthopaedic rehabilitation. St. Louis: Mosby, c1996. 402 p.
CAMARGO, Marcia C; MARX, Angela G. Reabilitação física no câncer de mama. São Paulo: Roca, 2000. 173 p.
CIPRIANO, Joseph J; JAHN, Warren T; WHITE, Marke E. Manual fotográfico de testes ortopédicos e neurológicos. 1. ed. São Paulo: Manole, 1999. 446p
GARDNER, Ernest Dean; GRAY, Donald J; O'RAHILLY, Roman. Anatomia: estudo regional do corpo humano . 4. ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1988. 815 p.
GOULD, James A. Fisioterapia na ortopedia e na medicina do esporte. São Paulo: Manole, 1993. 691 p.
GREVE, Júlia Maria D' Andréa; AMATUZZI, Marco Martins. Medicina de reabilitação aplicada à ortopedia e traumatologia. São Paulo: Roca, 1999. 444 p.
LECH, Osvandré. Fundamentos em Cirurgia do Ombro. São Paulo: CREMS, 1995.
OESTERN, H. J., VON BLANKENBURG, P., DELFINO, H. A. Estudo morfológico e biomecânico dos tendões do músculo supra-espinhoso e porção longa do bíceps braquial. Rev Bras Ortop — Vol. 28, N°s 11/12 — Nov/Dez, 1993.
PAKENAS, A. SERRÃO, J. Relação entre atividade física e sobrecarga mecânica na articulação gleno-umeral. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 2002, vol. 2, nº 5 [91–97].
PLACZEK, Jeffrey D.,; BOYCE, David A.. Segredos em fisioterapia ortopédica: respostas necessárias ao dia-a-dia em rounds, na clínica, em exames orais e escritos. Porto Alegre: Artmed, 2004. 600 p.
PRENTICE W. E. & VOIGHT, M. L. Técnicas em Reabilitação Músculoesquelética. Ed. Artmed. Porto Alegre, 2003.
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