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Tópicos sobre o Sistema Nervoso e a experiência motora

 

Mestrando do Programa de Mestrado em Ciência da Motricidade Humana 

Universidade Castelo Branco – LABESPORTE

Sócio-Diretor, Coordenador Técnico e Professor 

da Academia da Usina - Rio de Janeiro, RJ.

Ricardo Martins Porto Lussac

ricardolussac@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          O Sistema Nervoso não se encontra pronto quando o Ser Humano nasce, ao contrário de algumas outras estruturas. Ele precisa de condições favoráveis para o seu pleno desenvolvimento e funcionamento: responsável pelo movimento, as ações, a interação e integração do homem às condições do meio ambiente, a coordenação e o controle de todas as atividades do organismo. Neste sentido, o profissional de Educação Física, que atua como interventor primário na área da saúde, pode contribuir muito. Neurologicamente falando, aprender significa usar sinapses normalmente não usadas, portanto, o uso de maior ou menor número de sinapses é o que condiciona uma aprendizagem no sentido neurológico. Deste modo, estímulos motores são essenciais para a aprendizagem e desenvolvimento do Sistema Nervoso do Homem principalmente em seus primeiros anos de vida.

          Unitermos: Educação Física, Motricidade, Sistema Nervoso.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 127 - Diciembre de 2008

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    O Sistema Nervoso é muito especial, dele dependem o movimento, as ações, a interação e integração do homem às condições do meio ambiente. O Sistema Nervoso coordena e controla todas as atividades do organismo, desde as contrações musculares, o funcionamento dos órgãos e até mesmo a velocidade de secreção das glândulas endócrinas. Integra sensações e idéias, opera os fenômenos de consciência, interpreta os estímulos advindos da superfície do corpo, das víceras e de todas as funções orgânicas e é responsável pelas respostas adequadas a cada um destes estímulos. Essas informações são selecionadas, podendo serem eliminadas ou não pelo cérebro que mensura a significância das informações. Sendo uma das funções do Sistema Nervoso selecionar e processar as informações, o mesmo as canaliza para as regiões motoras correspondentes do cérebro para depois emitir respostas adequadas, de acordo com a vivência e experiência de cada indivíduo (OLIVEIRA, 2001).

    Ao nascer o ser humano apresenta algumas estruturas já prontas, definidas, como por exemplo, a cor dos olhos, dos cabelos e o sexo. Outras ainda estão por desenvolver. Neste último caso encontra-se parte do Sistema Nervoso, que precisa de condições favoráveis para o seu pleno funcionamento e desenvolvimento. O córtex cerebral, substância cinzenta que reveste o cérebro e onde estão localizadas as funções superiores, está presente no nascimento de forma ainda muito rudimentar e os anos iniciais de vida são cruciais para o pleno desenvolvimento desta estrutura.

    As células do Sistema Nervoso são chamadas de neurônios. Um indivíduo adulto possui aproximadamente cem bilhões de neurônios. O neurônio é uma célula diferenciada e tem as funções de receber e conduzir os estímulos. O córtex cerebral é o centro onde são avaliadas as informações e são processadas as instruções ao organismo. Para que haja uma transmissão de informações, o córtex cerebral necessita de impulsos que lhe chegam dos receptores exteroceptivos, como: a pele, retina, ouvido interno, olfato, paladar; proprioceptivos como: músculos, tendões e articulações; e interoceptivos: víceras.

    A condução dos implulsos advindos desses recptores aos centros nervosos se faz através das fibras nervosas sensitivas ou aferentes e a transmissão aos músculos do comando dos centros nervosos é efetuada pelas fibras eferentes ou motoras. A velocidade dos impulsos nervosos se faz através do revestimento da bainha de mielina encontrada nas fibras nervosas e que é composta por colesterol, fosfatídeos e açucares. Esta bainha possui a função não só de condução como também isolante (ibidem, 2001).

    Fonseca e Mendes, estudando a mielinização das fibras nervosas, afirmam que a criança nasce e chega ao mundo com a sua mielinização por fazer, isto é, com o seu Sistema Nervoso por e para acabar. Melhor ainda, com o seu Sistema Nervoso por e para aprender. Fonseca e Mendes criticam a posição de alguns educadores que ignoram a função dos gestos e dos movimentos como meios de mielinização das fibras nervosas. (FONSECA e MENDES apud OLIVEIRA, 2001). A bainha de mielina desempenha um papel importante na transmissão de informações. Existe maior velocidade nas fibras mielínicas do que nas amielínicas. O período mais crítico para a mielinização e o desenvolvimento neuronal se dá entre o 6º mês de gestação até mais ou menos os seis anos de idade da criança (OLIVEIRA, 2001). Deste modo, deve-se ter uma preocupação com a alimentação da gestante e da criança em seus primeiros anos de vida, uma nutrição que necessita ser apropriada e se necessário prescrita por especialista. Entende-se, portanto, que o profissional de Educação Física, já que atua como interventor primário na área da saúde, deve se ocupar em orientar esta futura mãe ou, no caso, a mãe e a criança. Podemos dizer até, que deste modo, ele estará se ocupando em iniciar uma preparação para um futuro atleta, ou mesmo, um saudável cidadão comum.

    Na fase da gestação as células nervosas vão se desenvolver bastante e para que isto ocorra necessitam de energia, que são os açúcares e gorduras, e de proteínas. Das proteínas que vêm pelo sangue da mãe para alimentar o feto, 80% vão para o cérebro. Uma gestante com condições nutricionais baixas vai influir bastante nos neurônios da criança. Uma desnutrição ocorrida nesta fase leva a criança, portanto, a ter prejuízo enorme em seus neurônios, conseqüentemente, ela terá menos neurônios e não chegará mais a ter este número adequado de células nervosas, mesmo que depois seja bem alimentada, o que também é essencial. Mas não só a alimentação é fundamental à criança, a estimulação do meio ambiente também, pois, quanto mais estimularmos uma criança, mais provocamos nela reações e respostas que se traduzem em um número maior de sinapses.

    A sinapse é uma conexão entre os neurônios na qual um neurônio estimula o seguinte através da liberação de uma substância chamada neurotransmissor, propagando-se assim os impulsos nervosos e transmitindo informações. Aprender, neurologicamente falando, significa usar sinapses normalmente não usadas. O uso, portanto, de maior ou menor número de sinapses é o que condiciona uma aprendizagem no sentido neurológico (ibidem, 2001).

    Brandão ressalta a importância da maturidade para o desenvolvimento da aprendizagem:

    A aprendizagem não poderá proporcionar um desenvolvimento superior à capacidade de organização das estruturas do sistema nervoso do indivíduo; uma criança não poderá aprender das experiências vividas, conhecimentos para os quais não tenha adquirido, ainda, uma suficiente maturidade. A maturidade é, no entanto, dependente, em parte, do que foi herdado, e, em parte, do que foi adquirido pelas experiências vividas. (BRANDÂO apud OLIVEIRA, 2001, p. 21).

    Portanto, as experiências vividas funcionam como uma “escada da maturidade” baseada em um “alicerce da maturidade herdada”. Deste modo, maturidade e experiências de vida andam de mãos dadas.

    Este conceito de maturidade pode ser aplicado não só à criança, mas também a vários momentos da vida, quando é preciso maturidade, vivência e experiência para a pessoa poder entrar numa nova fase de sua vida, com plenitude, para vivenciar plenamente e satisfatóriamente esta fase, sem “queimar etapas”. Um bom exemplo pode ser encontrado em esportes de luta, como na capoeira, onde um praticante, para receber uma graduação numa hierarquia superior, é necessário ter experiência e vivência, estar preparado para obter esta graduação e responder pelas necessidades atribuídas a tal grau, inclusive as motoras. Deste modo, podemos concluir que as experiências motoras são também experiências de vida, são essenciais para a maturidade e o desenvolvimento do ser humano e de seu Sistema Nervoso.

Referências bibliográficas

  • ALVES, Fátima. Psicomotricidade: corpo, ação e emoção. Rio de Janeiro: Wak, 2003.

  • FONSECA, Vítor da. Psicomotricidade: filogênese, ontogênese e retrogênese. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

  • LUSSAC, Ricardo Martins Porto (Mestre Teco). Desenvolvimento psicomotor fundamentado na prática da capoeira e baseado na experiência e vivência de um mestre da capoeiragem graduado em educação física. Universidade Cândido Mendes, Pós-Graduação “Lato Sensu”, Projeto A vez do Mestre. Rio de Janeiro: 2004.

  • OLIVEIRA, Gislene de Campos. Psicomotricidade: Educação e Reeducação num enfoque Psicopedagógico. 5ª edição. Petrópolis: Editora Vozes, 2001.

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