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O ensino de futebol na escola: percepção dos 

estudantes do V semestre de Educação Física da UESB

 

*Acadêmicas do curso de Licenciatura Plena em Educação Física

** Docente do Curso de Licenciatura Plena em Educação Física

Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB

(Brasil)

Clarice Alves dos Santos*

Luana Nascimento*

Daiane Lopes da Silava*

Juraci Reis**

claricealvesef@yahoo.com.br

 

 

 

Resumo

          O futebol é um dos esportes mais difundidos mundialmente, constituindo-se como um fenômeno cultural socialmente inquestionável, difundido em toda sociedade brasileira como símbolo de nacionalidade que espelha toda sua dinâmica, com todas as contradições e todas as riquezas nela presentes. Nesse sentido o objetivo deste estudo foi analisar a percepção dos estudantes de Educação Física do V Semestre da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-campus de Jequié - a respeito do ensino do futebol na escola. Este estudo caracteriza-se como descritivo e parte de uma abordagem quanti-qualitativa. A amostra foi ocasional tendo como universo 18 alunos da turma de Educação Física do V Semestre que cursaram a disciplina Metodologia do Futebol. Como instrumento de coleta de dados foi utilizado um questionário contendo quatro questões abertas, a respeito do futebol enquanto conteúdo da Educação Física Escolar. Na primeira questão procuramos verificar a percepção dos acadêmicos acerca do futebol enquanto conteúdo da Educação Física. Os resultados apontaram que 44,4% dos entrevistados não tiveram uma definição clara a respeito do futebol; 22,2% percebem o futebol como um jogo que enfatiza o lúdico; 5,5% enquanto abordagem sociológica; 11,1% como um meio para alcançar a aptidão física e meritocracia e 5,5% percebe o futebol de forma plural. A segunda questão buscou verificar se os estudantes acreditavam numa pedagogia do futebol e a terceira quanto a possibilidade de ensiná-lo na escola. Em ambas, (100%) responderam que sim. A quarta e última questão procurou averiguar como os estudantes abordariam o futebol na escola.33,3% responderam que abordariam o futebol na escola de forma plural; 33,3% enquanto jogo enfatizando os aspectos lúdicos; 16,6% abordariam teoria e prática a partir de uma concepção sociologica e 5,5% enquanto forma de lazer. Os resultados nos permitem apontar que houve contradição no que diz respeito a percepção do futebol enquanto conteúdo da Educação Física e a maneira pela qual os discentes o abordariam na escola, uma vez que grande parte dos entrevistados, (44,4%) não conseguiram perceber ou definir o futebol enquanto conteúdo da Educação Física Escolar, embora apontassem claramente a abordagem que seguiriam.

          Unitermos: Percepção. Futebol. Ensino. Educação Física Escolar.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 127 - Diciembre de 2008

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Introdução

    Podemos perceber a partir do levantamento bibliográfico que apesar do futebol ter repercussão mundial e constituir-se como um fenômeno cultural socialmente inquestionável, difundido em toda sociedade brasileira como símbolo de nacionalidade, ainda são poucos os achados na literatura abordando esse tema como conteúdo da Educação Física Escolar. Este foi um dos motivos que nos levou a construir este artigo abordando esta temática, cujo objetivo foi analisar a percepção dos estudantes de Educação Física do V Semestre da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-campi de Jequié a respeito do ensino do futebol na escola. Para tanto, foram investigados dezoito estudantes que cursaram a disciplina Metodologia do Futebol.

    A Educação Física Escolar como disciplina deverá apresentar-se como uma atividade continua, articulada, consciente, comprometida com o aluno e com os fundamentos educacionais, onde o professor se posicione como indivíduos hábeis intelectualmente, capazes de compreender, analisar e criticar os fenômenos que norteiam a sua prática e a sua realidade objetivando através do desempenho de suas atividades o desenvolvimento, e a formação integral dos seus alunos, onde corpo e mente seja visto como uma unidade, pois, o homem não é só corpo e muito menos só intelecto, ele deve ser considerado como um todo, perfeito e abrangente, que pensa, sente e executa. Segundo Melo (2007), a Educação Física é uma disciplina que possibilita, talvez mais do que as outras, espaços onde se pode dar início a mudanças significativas na maneira de se implementar o processo de ensino/aprendizagem, tendo em vista as diversas situações em que os dados do cotidiano associados à cultura de movimentos podem ser utilizados como objetos para reflexão. Atualmente é possível perceber que ainda falta muito a ser feito na direção de alguma mudança na maneira de educar para a vida. Ainda predominam o tecnicismo e o fazer por fazer.

    O ensino corresponde as variadas mudanças que acontece no decorrer dessas atividades e que segundo Netto (1987) "requer planejamento, instrução, mediação do progresso individual na aprendizagem e avaliação geral". Ele acrescenta dizendo que o ato de ensinar corresponde à promoção da aprendizagem nos alunos, fazendo-se necessário que o professor tenha uma ação, uma postura consciente e condizente com a sua área de trabalho e que tenha domínio metodológico sobre os recursos adequados que se encontram disponíveis. Além da extrema necessidade deste, reconhecer a aprendizagem em sua totalidade, com suas deficiências e potencialidades e a maneira como esta ocorre dentro do aprendiz, visto que a aprendizagem poderá ser significativa ou não a depender da maneira pela qual o indivíduo aprende. Em consequência disso alguns estudiosos do processo de ensino e aprendizagem têm demonstrado atualmente uma grande preocupação com as necessidades de determinações claras e precisas dos objetivos educacionais.

    Segundo Basei (2007), as práticas pedagógicas da Educação Física na escola vem se constituindo para professores e pesquisadores da área num amplo campo de estudos e reflexões, tanto no que se refere à metodologia das aulas, avaliação do processo ensino-aprendizagem e organização dos conteúdos, quanto na homogeneização das práticas pedagógicas em torno do conteúdo esporte. Assim, as manifestações da cultura de movimento e o objetivo da Educação Física de tratar pedagogicamente dessas manifestações estão cada vez mais, sendo subsumidas pela hegemonia do esporte. E o futebol é o maior representante dessa hegemonia, uma vez que é amplamente praticado no contexto escolar, mas os sentidos atribuídos a sua prática estão restritos a racionalidade instrumental, limitando significativamente o seu valor pedagógico e, portanto, as possibilidades de contribuir com a formação dos sujeitos.

    O futebol é um dos esportes mais difundidos mundialmente. No Brasil, é considerado uma paixão nacional, constituído segundo Daolio (2005), ao mesmo tempo, em expressão da sociedade brasileira e em um modelo para ela, espelhando toda a sua dinâmica, com todas as contradições e todas as riquezas nela presentes. Sem dúvida, o futebol constitui-se numa das principais manifestações culturais brasileiras, constantemente atualizadas e ressignificada pelos seus autores.

    Como conteúdo da Educação Física a ser trabalhado na escola, o futebol tal como é concebido hoje deverá se apresentar como uma prática comprometida que leve o aluno a pensar a sua ação de maneira crítica, autônoma, reflexiva e condizente com sua realidade, uma vez que o movimento que a criança realiza num jogo tem repercussões sobre várias dimensões do seu comportamento. Sendo assim, a prática do futebol na escola deve segundo Freire (1998), no mínimo aproximar-se do nível de competência pedagógica da rua. Tarefa que exige, segundo o autor, trazer a cultura futebolística brasileira para dentro da escola. E como a escola não é a rua, é claro que isso só pode ser feito com diversas adaptações. Ainda de acordo com o mesmo autor, a pedagogia da rua é suscetível tanto às coisas boas quanto às coisas ruins; sendo assim, as coisas ruins não deveriam ser repetidas na escola.

Metodologia

    Este estudo caracteriza-se como descritivo pois, tem como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno (Gil, 1991) e parte de uma abordagem quanti-qualitativa.

    A amostra foi ocasional tendo como universo 18 alunos da turma de Educação Física do V Semestre que cursaram a disciplina Metodologia do Futebol.

    Como instrumento de coleta de dados foi utilizado um questionário contendo quatro questões abertas, a respeito do futebol enquanto conteúdo da Educação Física, abordando o aspecto pedagógico, a relação do futebol enquanto cultura corporal de movimento que pode ser ensinado e transmitido de um sujeito para o outro e o aspecto metodológico.

    Para análise dos dados, faremos uma verificação de conteúdo, discutindo a subjetividade de cada resposta dentro dos aspectos sugeridos acima. Sendo que os resultados foram pontuados através da comparação percentual entre as respostas.

Resultados e discussão

    Na primeira questão procuramos verificar a percepção dos acadêmicos acerca do futebol enquanto conteúdo da Educação Física. A maioria dos entrevistados, 44,4% não tiveram uma definição clara a respeito do futebol na escola e não diferenciaram conteúdo de disciplina; 22,2% percebem o futebol como um jogo que enfatiza o lúdico; 5,5% enquanto abordagem sociológica; 11,1% como um meio para alcançar a aptidão física e meritocracia e 5,5% percebe o futebol de forma plural.

    A segunda questão buscou verificar se os estudantes acreditavam numa pedagogia do futebol e a terceira à possibilidade de ensina-lo na escola. Em ambas as perguntas os entrevistados foram unânimes (100%) ao responderem que acreditavam numa pedagogia do futebol .

    A quarta e última questão procurou averiguar como os estudantes abordariam o futebol na escola. Mediante a analise ficou evidenciado que 33,3% abordaria o futebol na escola de forma plural; 33,3% enquanto jogo enfatizando os aspectos lúdicos; 16,6% abordaria teoria e prática a partir de uma concepção sociologica e 5,5% enquanto forma de lazer.

Tabela I. Percepção dos estudantes de Educação Física acerca do Futebol

Variáveis

%

Como você percebe o futebol enquanto conteúdo da Educação Física?

Não tem uma definição clara e/ou não distingue conteúdo de disciplina.

08

44,4%

Como um jogo, enfatizando o desenvolvimento motor e o lúdico.

04

22,2%

Como uma forma plural.

05

5,5%

Como meio para alcançar aptidão física e meritocracia.

02

11,1%

Abordagem sociológica.

01

5,5%

Você acredita numa pedagogia do futebol?

Sim.

18

100%

É possível ensinar Futebol?

Sim.

18

100%

Como você abordaria o futebol na escola?

Como teoria e prática a partir de uma abordagem sociológica.

03

16,6%

Enquanto lazer.

01

5,5%

Enquanto jogo, enfatizando o lúdico.

06

33,3%

De forma plural.

06

33,3%

    Os resultados nos permitem apontar que houve contradição no que diz respeito a percepção do futebol enquanto conteúdo da Educação Física e a maneira pela qual os discentes o abordariam na escola, uma vez que grande parte dos entrevistados, (44,4%) não conseguiram perceber ou definir o futebol enquanto conteúdo da Educação Física Escolar. Entretanto, ao serem questionados sobre sua prática enquanto professores, eles demonstraram ter uma definição para o que anteriormente não souberam explicar, apontando várias abordagens quanto a forma de trabalhar o futebol na escola. A saber; sociológica, plural, enquanto jogo e lazer.

    As várias formas de abordagem do futebol apontadas pelos entrevistados acima, corrrobora com DAOLIO (2005) quando este diz que o futebol constitui-se, ao mesmo tempo, em expressão da sociedade brasileira e em um modelo para ela, espelhando toda a sua dinâmica, com todas as contradições e todas as riquezas nela presentes. Sem dúvida, o futebol é uma das principais manifestações culturais brasileiras, constantemente atualizadas e ressignificada pelos seus autores.

    A partir dos resultados, surgiram alguns questionamentos a respeito da formação acadêmica em Educação Física. Tais como: porque os estudantes entrevistados - que cursaram a disciplina Metodologia do Futebol - em sua maioria ( 44,4%) não percebem claramente o futebol enquanto conteúdo da Educação Física Escolar? Será que isso se deve ao fato de que a formação em Educação Física não está dando subsídio suficientes para que os discentes possam dar conta da diversidade de conteúdo existente no curso? Ou será que a abordagem metodológica da disciplina não está contemplando todos os aspectos referentes ao futebol na escola? Ou se ainda, isso se dá à falta de interesse dos estudantes no que tange ao futebol enquanto fenômeno social e disciplina do curso de Educação Física? Uma vez que apenas 5,5% dos entrevistados conseguem perceber o futebol enquanto abordagem sociológica, apesar deste ser um fenômeno social inquestionável.

Conclusão

    No futebol não basta a repetição de gestos estereotipados, com vistas a automatizá-los e reproduzi-los. É necessário que o aluno se aproprie do processo de construção de conhecimentos relativos ao corpo e ao movimento e construa uma possibilidade autônoma de utilização de seu potencial gestual. Isso significa dizer que o processo de ensino e aprendizagem do futebol na Educação Física Escolar, não se restringe ao simples exercício de certas habilidades e destrezas, mas sim de capacitar o indivíduo a refletir sobre suas possibilidades corporais e, com autonomia, exercê-las de maneira social e culturalmente significativa e adequada.

    Trata-se de compreender como o indivíduo utiliza suas habilidades e estilos pessoais dentro de linguagens e contextos sociais, pois um mesmo gesto adquire significados diferentes conforme a intenção de quem o realiza e a situação em que isso ocorre. Para tanto é necessário que o indivíduo conheça a natureza e as características de cada situação referente ao futebol, como são socialmente construídas e valorizadas, para que possa organizar e utilizar sua motricidade na expressão de sentimentos e emoções adequadamente.

    Vale ressaltar que o futebol enquanto conteúdo da Educação Física Escolar deverá ser trabalhado de maneira crítica e consciente, levando os alunos a discernir o caráter mais competitivo ou recreativo de cada situação, conhecer o seu histórico, compreender minimamente regras e estratégias e saber adaptá-las. Por isso, é fundamental a participação do aluno em atividades de caráter recreativo, cooperativo, competitivo, entre outros, para que estes aprendam a diferenciá-las.

Referências bibliográficas

  • BASEI, A. P.; BOSCATTO, J. D.; VIEIRA, M. A. Possibilidades de emancipação humana nas aulas de educação física. in: 2° Congresso Sulbrasileiro de Ciências do Esporte. Criciúma/SC, 2004.

  • BRACHT, V. Sociologia Crítica do esporte: uma introdução. Vitória: UFES, 1997

  • DAOLIO, J. A superstição no futebol brasileiro. In: DAOLIO, J. (Org). Futebol, Cultura e sociedade. Campinas: Autores Associados, 2005.

  • FREIRE, João Batista. Educação de Corpo Inteiro: teoria e pratica da Educação Física. São Paulo: Scipione, 1997. (Pensamento e ação no magistério)

  • GIL, Antônio Carlos: Como Elaborar Projetos de Pesquisa. São Paulo: Atlas, 1991.

  • MELO Joeuda Sandra Magalhães. A importância do esporte na percepção de discentes da rdede pública de ensino na cidade de Juazeiro do Norte – Ceará – Brasil. Livro de Memórias do III Congresso Científico Norte – Nordeste – CONAFF, 2007.

  • NETO, Samuel Pfromm. Psicologia da aprendizagem e do ensino. São Paulo: Editora E.P.U., 1987.

  • OLIVEIRA, Vitor marinho (org.). JÚNIOR, Alfredo Gomes de Faria (coord.). Fundamentos Pedagógicos de Educação Física. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1987.

  • SOARES, Carmen Lúcia. Educação Física Escolar: conhecimento e especificidade. Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, supl.2, p.6-12, 1996

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