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Análise das condutas criativas e expressivas 

nas habilidades essenciais ao ballet clássico

 

*Especialista em Treinamento e Condicionamento Físico em Academias

** Livre Docente e Coordenadora do LEL - Laboratório de Estudos do Lazer

Membros Pesquisadores do LEL – Laboratório de Estudo do Lazer

IB/DEF/UNESP – Campus de Rio Claro

(Brasil)

Priscila Raquel Tedesco da Costa Trevisan*

priscila@lancernet.com.br

Dra. Gisele Maria Schwartz**

schwartz@rc.unesp.br

 

 

 

Resumo

          Este estudo de natureza qualitativa, busca analisar e propor reflexões acerca do uso criativo e expressivo das habilidades motoras essenciais à prática do ballet clássico, por considerar a criatividade e a expressividade como elementos que favorecem, além do desenvolvimento cognitivo e emocional, o uso mais eficiente do corpo para além das qualidades técnicas da performance. O Ballet clássico é caracterizado pela busca de padrões estéticos de movimento e seu treinamento exige o aprendizado de gestos, posições, movimentos e passos de acordo com uma técnica específica. Para tanto, os esforços exigidos englobam diversas habilidades motoras e capacidades físicas, utilizados de forma a diversificar espaços, ritmos, dinâmicas, direções, alinhamentos corporais, entre outros, o que evidencia a importância de se primar pela segurança e qualidade do movimento corporal. Para esta pesquisa exploratória, foi utilizado como instrumento a observação participante, desenvolvida ao longo de 2 meses consecutivos, durante aulas de ballet clássico, do Conservatório Municipal de Música “Cacilda Becker” de Pirassununga, São Paulo. A amostra intencional que fez parte do estudo constou de estudantes de dança clássica do sexo feminino com faixa etária de 7 a 12 anos. Com base nos resultados do estudo, evidencia-se a necessidade de se criar um ambiente onde se valorize a experimentação diversificada de elementos que envolvem o dançar, criando vínculos entre aspectos cognitivos e emocionais, o que pode vir a favorecer, além de um maior controle motor, a capacidade de expressão e criação. No sentido de subsidiar a literatura específica, novas reflexões são necessárias para o aprimoramento dos conhecimentos que permeiam esta prática.

          Unitermos: Expressão. Habilidades motoras. Corpo.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 127 - Diciembre de 2008

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Introdução

    A dança vem sendo considerada uma das formas mais harmônicas de se desenvolver o corpo, não só pelo fator fisiológico, mas também, por ativar diversas reações orgânicas que colaboram com o funcionamento adequado do corpo.

    O ballet clássico, especificamente evidenciado neste estudo, é caracterizado por exercícios que incluem saltos, pontas, equilíbrios e baterias (movimentos em que as pernas batem umas às outras, no ar) exigindo esforços particularmente grandes, fazendo trabalhar os músculos em capacidade máxima, na busca constante de padrões estéticos de movimentos. Este fato requer uma preparação física que contribua com o desenvolvimento adequado para a apresentação de uma técnica de dança segura, evitando danos ao corpo do bailarino.

    Em processos eficazes de ensino-aprendizagem da dança permite-se desenvolver e enriquecer competências motoras que podem acarretar benefícios à qualidade de vida de seus praticantes, como por exemplo, maior controle do sistema neuromuscular, desencadeando trocas energéticas e ativando reações orgânicas importantes para a preservação e implementação da saúde dos praticantes desta atividade. Porém, para que isto se processe de forma adequada, alguns aspectos importantes devem ser levados em consideração, como a maneira pela qual essas competências são ativadas.

    A dança é apontada uma forma de atividade que desenvolve a sensibilidade, a musicalidade, a percepção, condutas psicomotoras como equilíbrio, coordenação, lateralidade, noção espacial e temporal, ritmo, entre outros (SANTOS; LUCAREVSKI; SILVA, 2005; MARTINELLI.; BARBATO; MITJÁNS, 2004)

    Para o bailarino, a expressão também é um fator importante, pois pode transformar o corpo humano em meio de comunicação, por intermédio dos movimentos e gestos que traduzem estados emocionais e sentimentos. A associação de elementos básicos como corpo, espaço, força e tempo de forma criativa e diversificada, em um processo de ensino e aprendizagem que favoreça a descoberta de uma linguagem especial de comunicação com o mundo em benefício do crescimento pessoal e artístico, pode vir a minimizar as dificuldades encontradas na realização dos movimentos mais complexos.

    Para tanto, não basta uma atenção especial apenas a aspectos técnicos e estéticos do movimento, é necessário recorrer-se a estratégias que proporcionem a eficácia no uso das capacidades físicas, cognitivas e emocionais também necessárias às habilidades motoras exigidas.

    Estes fatores requerem um campo vasto de conhecimentos, não só referentes às ciências da motricidade e à psicologia da aprendizagem, mas, inclusive, à área didático-pedagógica. É por intermédio da qualidade das intervenções, dos relacionamentos e dos planos de atividades que o profissional de dança será capaz de associar a técnica a elementos como espontaneidade, prazer, sensibilidade, musicalidade, imaginação, criatividade e expressividade, que são alguns dos pressupostos importantes para a qualidade da dança, motivando o interesse desse estudo, no sentido de aprofundar as reflexões acerca destes elementos.

Revisão de literatura

Compreendendo as habilidades motoras no ballet clássico

    Habilidade motora refere-se ao nível de proficiência demonstrada por um indivíduo que executa uma tarefa motora, podendo ser classificadas de acordo com características proeminentes, com base em dimensões que incluem resultados de performance com máxima perfeição, mínimo de energia em tempo mínimo, desenvolvida como resultado da prática da tarefa ou atividade em questão, segundo salientam Schmidt e Wrisberg (2001).

    Para Freire (2001), a aquisição e o domínio de habilidades são essenciais para capacitar a aprendizagem de movimentos com facilidade e precisão, proporcionando a melhoria do equilíbrio, do controle, coordenação e postura.

    Entre as habilidades motoras utilizadas na prática do ballet clássico, encontram-se alguns movimentos definidos por Noverre, em 1766, os quais, para Achcar (1998), quando associados de forma diversificada, compõem os passos específicos de dança, em termos de qualidade da performance dos passos dos bailarinos:

  • Plier – dobrar.

  • Étendre – esticar, estender.

  • Relever ou Élever – elevar, levantar, subir.

  • Sauter – saltar, pular.

  • Élancer – lançar, arremessar.

  • Glisser – escorregar, deslizar / Chasser – caçar.

  • Tourner – girar.

    Achcar (1998) também menciona sete movimentos, os quais, quando combinados com alguns exercícios e posições básicas, contribuem para a aquisição das habilidades motoras mais exploradas, formando todos os passos da dança acadêmica e demais seqüências da dança. Estes movimentos e seus significados são evidenciados nos estudos desta autora:

  • Tendu – esticado. Significa que a perna está estendida.

  • Demi Plié – meia ou pequena flexão em duas pernas. É o princípio básico da técnica perfeita e bonita, sendo fator primordial na correta execução de saltos.

  • Fondu – fundido, desmanchado. Demi plié sobre uma perna, sendo usado na ligação de passos em seqüências de allegros, que é uma palavra italiana que significa vivaz e é utilizada para combinações de passos feitas para uma música de tempo rápido, com uso de saltos, ou quando se estiver fazendo uso de sapatilhas de ponta, no trabalho sobre pontas.

  • Pas - passo.

  • Élever – levantado. Subir na meia ponta ou ponta dos pés, sem flexão dos joelhos, isto é, sem fazer os movimentos de demi plié ou fondu.

  • Relever – elevado. Elevar-se na meia ponta ou ponta, com auxílio do demi plié ou fondu, partindo-se de um pequeno impulso e elevando-se na meia ponta ou ponta, voltando-se ao lugar onde anteriormente se encontrava a parte mediana do pé.

  • Sauter – saltado, pulado.

    Rosay (1980) também relaciona sete movimentos na dança, com algumas diferenciações daqueles anteriormente citados:

  • Balancer – balançar.

  • Étendre – esticar, estender.

  • Glisser – deslizar.

  • Plier – dobrar, flexionar.

  • Élever – levantar, elevar.

  • Sauter – pular, saltar.

  • Tourner – girar.

    As habilidades motoras de saltar, girar, caminhar, correr, equilibrar, flexionar, estender, levantar ou elevar, deslizar, bem como, os exercícios e posições básicas, no vocabulário ou na terminologia utilizada no ballet clássico, constituem a essência dos movimentos, posturas, passos, gestos, exercícios e posições característicos ao ensino e regras deste estilo de dança criado e estabelecido há muitos séculos.

    O equilibrar, o caminhar e o correr são movimentos que abrangem gestualidades importantes do ballet clássico, podendo ser considerados como habilidades que devem ter suas qualidades exploradas de forma significativa.

    O termo aplomb, que significa aprumo, também possui um significado importante para a qualidade estética dos passos e movimentos executados. A palavra aplomb é utilizada como sinônimo de elegância e controle perfeito conseguido pelo bailarino ao executar passos e movimentos (ACHCAR, 1998). Promenades (passeio, volta lenta sobre um pé executado sobre ponta ou com pé inteiro no chão, enquanto a outra perna está em uma dada posição) são passos que requerem o entendimento perfeito da expressão aplomb.

    Por séculos, os bailarinos clássicos têm iniciado seu treinamento pelo aprendizado das 5 posições dos pés, as quais foram codificadas por Pierre Beauchamps, na antiga França do século XVII, em que cada posição era executada com as pernas viradas para fora (en dehors ou turn-out). Para se apresentar uma visão mais atraente foi necessário manter-se uma base mais larga para suporte do corpo, dando grande estabilidade para as ações laterais.

    As posições dos braços servem para complementar as posições dos pés e das pernas e estes são mantidos em longas linhas curvas, com as mãos e os dedos alinhados. Apesar da variedade dos movimentos dos braços foram codificadas 7 posições básicas na dança clássica.

Quando o bailarino se move, a perna que fica liberada do suporte do peso do corpo é chamada de perna de trabalho e a que está sustentando o peso, de perna de suporte. Cada posição básica dos pés, braços e perna de trabalho pode formar diversas seqüências de movimentos, as quais podem ser executadas de acordo com os princípios básicos que definem o ballet clássico (WALLIS; RYMAN, 1996).

    Diversas definições explicam essas variações, pois pernas e braços são estendidos nos seus posicionamentos principais. Para adicionar orientação espacial e diversidade, existem as linhas dos braços e das pernas que se estendem em alinhamentos diagonais. Para aumentar a variedade dinâmica de deslocamento, as seqüências são feitas de um canto ao outro, com elementos e dimensões, que podem seguir linhas retas, diagonais, em zigue-zague, curvas ou circulares.

    Para simplificar os nomes das direções foram definidas 8 direções básicas, em que as paredes e cantos são numerados de 1 a 8, a partir da frente para a audiência. Assim, cada pose apresenta uma linha única e um desenho espacial que inter-relacionam membros, cabeça e tronco (WALLIS; RYMAN, 1996).

    Para Bussell e Linton (1994), é vital compreender e executar bem as 5 posições dos pés e sentir nelas confiança, usando-as no início e no final dos movimentos e na passagem de um movimento para outro, pois, o início e a conclusão inseguros de um movimento o tornam esteticamente pobre e desagradável, tanto para o bailarino, como para o público.

    Byrne Handcock e McCormack (1993), ainda ressaltam princípios formulados pelos mestres da dança ao longo da História como: postura, turn-out, alinhamento do corpo, equilíbrio, regras básicas da técnica clássica, transferência de peso, coordenação, entre outros.

    Para o desenvolvimento destas práticas, tornam-se necessárias diversas capacidades físicas, as quais dão suporte aos movimentos envolvidos com as habilidades anteriormente apontadas.

    Picon, Lobo da Costa, Souza, Sacco e Amadio (2002) salientam que um índice alto de lesões decorrentes do treinamento do ballet clássico vem sendo documentado em literaturas especializadas na temática, apontando pés, tornozelos, joelhos e coluna como os alvos principais.

    Para Byrne, Handcock e McCormack (1993), como também para Wallis e Ryman (1996), o físico do bailarino clássico precisa refletir a sofisticação do ensino corporal. Os músculos das pernas devem ser longos, resistentes e a força da técnica desenvolvida por intermédio do uso correto do en dehors, posição que exige um re-alinhamento da coluna, costelas e pélvis, que foram colocadas fora de alinhamento, devido a esta nova posição e, depois, ajustar o posicionamento do peso, para que não fique para trás. Se estas correções não forem feitas de forma adequada, serão desenvolvidos erros na postura, causando desequilíbrios musculares.

    Leal (1998) cita, em suas pesquisas sobre preparação física para bailarinos, qualidades físicas, as quais, para a autora, são intervenientes na dança. Flexibilidade; resistências aeróbia, anaeróbia e muscular localizada (RML); forças dinâmica, estática e explosiva, são as qualidades relacionadas como essenciais à forma física. Já agilidade; velocidade de membros; equilíbrios dinâmico, estático e recuperado; coordenação; descontração total e diferencial, além do ritmo, foram apontados como primordiais e como suporte para as habilidades motoras exigidas pelo ballet clássico.

Uma análise do processo ensino-aprendizagem, frente às habilidades criativas e expressivas

    De acordo com Martinelli, Barbato e Mitjáns (2004), percebe-se a tendência de o ensino da dança estar permeado pelo estímulo apenas do aprimoramento de técnicas e habilidades específicas, separado da criação e da expressão artística. Desta forma, ainda persistem métodos e conteúdos originados na Europa, no século XV e que, talvez, por serem frutos de uma formação em dança extremamente rígida, professores tendem a repetir as formas como aprenderam, o que ocorre, muitas vezes, sem qualquer reflexão crítica sobre as implicações corporais e psicológicas desta prática.

    Por outro lado, as referidas autoras ressaltam correntes da dança contemporânea que trabalham com técnicas de consciência corporal e laboratórios de improvisação, buscando formar intérpretes com corpos aptos à expressão artística, por meio de diferentes formas de treinar, ensinar e valorizar criações. No entanto, parecem encontrar dificuldades evidentes em relação à preparação técnica, pois, pretende-se que estes corpos, não sejam marcados por técnicas específicas. Além disso, os temas a serem trabalhados, tanto em aula, quanto em produtos coreográficos, são trazidos pelos professores, de forma que, os alunos não têm autonomia sobre o pensar e criar idéias.

    Fleith e Alencar (2008) ressaltam, em seus estudos, a influência de fatores ambientais e características individuais na promoção do potencial criativo, destacando a importância de se acolher as idéias dos alunos, além de um currículo criativo, desafiador, contextualizado e significativo. Esses autores afirmam que existe uma relação entre criatividade e várias dimensões do autoconceito, o que favorece o desenvolvimento de uma auto-imagem positiva, podendo vir a estimular o aluno a usar sua imaginação com coragem, compromisso, dedicação e entusiasmo, prerrogativas importantes à iniciativa e à autoconfiança. Porém, eles ainda salientam que o envolvimento com atividades extracurriculares como as artes, esfera em que a dança está inserida em suas pesquisas, não está relacionado com melhor desempenho em medidas de criatividade e acabam por questionar os objetivos estabelecidos, estratégias de ensino e características do clima de sala de aula, implementados nestas atividades, sugerindo novos estudos acerca desta temática.

    Com base nesses pressupostos e nos enfoques apresentados, este estudo tem como objetivo analisar as formas com as quais o ensino do ballet clássico conduz ou pode conduzir ao uso criativo e expressivo das habilidades motoras essenciais a esta prática, visando contribuir de forma qualitativa com as reflexões acerca da temática em questão.

Metodologia

    O estudo, baseado em método qualitativo, foi desenvolvido por meio de uma pesquisa exploratória, visando reflexões acerca das possibilidades de se explorar as habilidades motoras básicas, como caminhar, correr, saltar e girar, considerando o potencial criativo, espontâneo e imaginativo das participantes e o repertório de gestos, movimentos, passos e posições recorrentes do conhecimento técnico, no âmbito da prática do ballet clássico.

    Para tanto, durante o período de 2 meses, em aulas de 30 minutos, foram propostas atividades práticas, em que foi solicitada ao grupo, a execução das caminhadas clássicas, marchas, corridas sobre meias pontas, pequenos saltos e giros simples, de acordo com os pressupostos da técnica clássica, porém utilizaram-se diversas direções, variados ritmos, dinâmicas e posições, os quais eram executados por meio das capacidades imaginativas e da percepção musical dos participantes. Posteriormente, foi sugerido o uso de alguns materiais como arcos, tecidos, fitas, entre outros, de acordo com a criatividade, imaginação e fantasia das envolvidos, momento em que foram solicitados movimentos livres de exigências técnicas. Finalmente, foi proposta uma concepção coreográfica com base na improvisação e na espontaneidade, conforme vídeo que acompanha a pesquisa.

    O instrumento para a coleta de dados da pesquisa foi a observação participante e a amostra intencional dos sujeitos da pesquisa foi composta por um grupo de estudantes do sexo feminino, com faixa etária entre sete e doze anos, alunas do curso livre de dança do Conservatório Municipal de Música “Cacilda Becker” de Pirassununga, São Paulo.

    O vídeo foi realizado durante a décima aula, momento em que as próprias estudantes, compuseram a coreografia.

    A pesquisa baseou-se na intenção de explorar o potencial criativo com base na fantasia, imaginação e espontaneidade das participantes.

    Os dados foram analisados descritivamente, a partir de indicadores da observação do comportamento psicológico e motor após atividades práticas aplicadas, com base na gravação de em vídeo, em que se pode observar maior envolvimento das participantes, principalmente com vivências nas quais se oferece oportunidades para a criação, a imaginação e a espontaneidade.

    Pode-se observar que, nos momentos em que a criança é encorajada a não repetir apenas o repertório de passos já aprendidos e sim, explorar suas possibilidades de movimentação envolvendo diferentes partes do corpo, com base no alongar, flexionar, circular, balançar, entre outros, aumenta-se a expressão de prazer e lúdica dos movimentos.

    Além disso, ao se explorar as habilidades motoras básicas como andar, correr, saltar, girar, deslizar, criando novas direções, trajetórias, níveis e formas lúdicas, entre outros, parecem ser criadas maiores expectativas para a realização de movimentos e gestos como um meio de expressão de pensamentos, fantasias, desejos, imaginação e criatividade em forma de linguagem artística.

    Os dados observados vão ao encontro da literatura e corrabora com Martinelli; Barbato e Mitjáns (2004), principalmente, no que tange à necessidade de um processo ensino- aprendizagem em dança, que priorize, não só aspectos técnicos, capacidades físicas e aprimoramento de habilidades motoras, mas que também explore outras competências motoras, inclusive de modo criativo.

    Os aspectos anteriormente citados, também são elementos importantes para a performance, prevenção de lesões e expansão de conhecimentos, mas precisam estar associados a uma educação consciente e global, que envolva aspectos cognitivos, emocionais e criativos, com uma ação psicológica que vise contribuir com os relacionamentos interpessoais, com o desenvolvimento da auto-estima, do senso crítico, de elementos psicomotores, entre outros.

    Santos; Lucarevski e Silva (2005) ressaltam que a dança é uma linguagem simbólica, que utiliza movimentos, tempo e espaço por meio das possibilidades cognitivas, físicas e afetivas, vindo a favorecer a comunicação de pensamentos e emoções, aspectos que ficaram evidenciados nas observações realizadas nesse estudo.

    Fleith e Alencar (2008) salientam que sentimentos de satisfação e prazer permeiam as atividades criativas, o que é de fundamental importância para o bem-estar emocional, compreendendo tanto a dimensão individual, quanto a ambiental.

    Diante do contexto apresentado, expressões de prazer, percepção de aceitação frente ao grupo, maior liberdade de movimentos, representações das fantasias, maior propensão à imaginação, espontaneidade, criação de idéias e emoções positivas, elementos encontrados nesse estudo, favoreceram um envolvimento significativo com a atividade, constituindo-se em um ambiente mais propício à aprendizagem.

Conclusões

    Ultrapassar os limites da aprendizagem das habilidades pontuais ou do simples exercício de ensinar a mecânica dos passos, combinando maior variedade de estratégias no sentido de contribuir para o desenvolvimento das capacidades motoras, intelectuais e socioafetivas, é um desafio para a arte de aprimorar as qualidades interpretativas, expressivas, criativas e estéticas, possibilidades inerentes à dança.

    A técnica é importante para a prevenção de lesões, qualidade da execução e estética dos movimentos, mas, vale ressaltar que o corpo que dança envolve emoções, sentimentos, desejos, fantasias, experiências, entre outros; que também são importantes ao perfil de um bom bailarino. Além disso, formar indivíduos mais criativos e expressivos significa contribuir com a educação de pessoas mais independentes, autoconfiantes, mais sensíveis, capazes de refletir sobre as condições de implementação de sua própria qualidade existencial.

    Torna-se importante que novos estudos sejam elaborados, no sentido de se aprofundar esses e outros aspectos que envolvem a arte da dança, promovendo maior reflexão sobre esta temática e contribuindo para incrementar a qualidade de sua aplicação como elemento educacional, para além do aspecto puramente motor.

Referências

  • ACHCAR, D. Balé uma Arte. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998.

  • Bussell,D.; Linton, P. Os jovens bailarinos. Porto (Portugal): Civilização; 1994.

  • Byrne, J.; Hancock, S.; McCormack, M. Body basics. London (England): Royal Academy of Dancing, 1993.

  • Freire, I. M. Dança-educação: o corpo e o movimento no espaço do conhecimento. Cadernos Cedes, Campinas, v. 21, n. 53, p. 31-55, 2001.

  • FLEITH, D. S.; ALENCAR, E. M. L. S. Características personológicas e fatores ambientais relacionados à criatividade do aluno do ensino fundamental. Avaliação Psicológica. Itatiba, v. 7, n.1, p. 35-44, 2008

  • Leal, M. R. M. A preparação física na dança. Rio de Janeiro: Sprint; 1998.

  • MARTINELLI, S. S.; BARBATO, S.; MITJÁNS, A. M. No ensino, quem dança? Uma análise crítica sobre criatividade no ensino da dança no Distrito Federal. Estudos e Pesquisas em Psicologia, UERJ, Rio de Janeiro, v. 3, n.2, 2004.

  • PICON, A.P.; LOBO da COSTA,P.H.; SOUSA, F.; SACCO, I.C.N.; AMADIO, A.C. Biomecânica e Ballet Clássico: Uma avaliação de grandezas dinâmicas do “sauté” em primeira posição e da posição “en point” em sapatilhas de pontas. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, v.16, n.1, p. 53-60, jan/jun.2002.

  • Rosay M. Dicionário de ballet. 4 ed. Rio de Janeiro: Nórdica; 1980.

  • SANTOS, J. T.; LUCAREVSKI, J. A.; SILVA, R. M. Dança na Escola: benefícios e contribuições na fase pré-escolar. Centro universitário Filadélfia, 2005. Trabalho de licenciatura. Disponível em: http://www.psicologia.com.pt. Acesso em: 25 nov. 2008.

  • Schmidt, R. A.; Wrisberg, C. A. Aprendizagem e performance motora: uma abordagem da aprendizagem baseada no problema. 2 ed. Porto Alegre: Artmed; 2001.

  • WALLIS, L.; RYMAN, R. Fundamentals of classical ballet technique. London: Royal Academy of Dancing, 1996.

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