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Força muscular e capacidade funcional em 

idosos asilares do município de Itabuna, Bahia

 

*Mestrando em Saúde Coletiva /UEFS. Bolsista da CAPES

**Bacharel em Educação Física/UNIME-FACSUL

***Faculdade de Tecnologia e Ciências/CEMERF

(Brasil)

Saulo Vasconcelos Rocha*

Marcos Rocha**

Lélia Renata das Virgens Carneiro***

sauloedfisica@yahoo.com.br

 

 

 

Resumo

          O processo de envelhecimento provoca diminuição da massa muscular e na força muscular dos indivíduos ao longo do tempo, ocasionando redução na capacidade funcional. Neste contexto, o objetivo deste estudo foi verificar a associação entre força muscular e capacidade funcional em idosos asilares. Estudo de corte transversal, descritivo-analítico. A população do estudo foi composta de 72 idosos, 52,7% (n=38) sexo feminino e 47,2% (n=34) sexo masculino, com faixa etária de 60 a 103 anos, residentes num asilo do município de Itabuna-BA. Dos 72 idosos, 23,6% (n=17) conseguiram responder todo o questionário e também executar os testes de força. Os dados foram coletados por meio de um questionário: Escala de Auto-percepção do Desempenho em Atividades da Vida Diária (ANDREOTTI & OKUMA, 1999); e os testes de flexão do cotovelo e o teste de sentar e levantar em 30 segundos (RIKLI e JONES, 1999). Na análise dos dados utilizou-se procedimentos da estatística descritiva e medida de associação (teste qui-quadrado) por meio do programa estatístico R 2.6.2. Quando analisada a relação entre força muscular de membros superiores e capacidade funcional não foi encontrada relação estatisticamente significante (c² =0,5622, p=0,453). Essa relação também não foi encontrada quando se analisou a associação entre força muscular de membros inferiores e capacidade funcional (c² =0,0616, p=0,432). Mesmo com baixos níveis de força os investigados apresentaram, em sua maioria, uma condição independente na realização das AVDS, algo não muito comum de acordo com a literatura especializada. Diante dos fatos relatados sugere-se a formulação de novos estudos que possam incluir um maior número de idosos no intuito de estabelecer melhor esta relação.

          Unitermos: Força muscular. Asilos para idosos. Envelhecimento.

 

Abstract

          The aging process causes a decrease in muscle mass and muscle strength of individuals over time causing a reduction in functional capacity. In this sense the purpose of this study was to investigate the association between muscular strength and functional ability in older asylum. A cross-sectional study, descriptive and analytical. The study population was composed of 72 elderly, 52.7% (n = 38) female and 47.2% (n = 34) male, with ages ranging from 60 to 103 years, residing in a asylum of the city of Itabuna -BA. Out of 72 elderly, 23.6% (n = 17) managed to answer all the questions and also perform the tests of strength. Data were collected through a questionnaire: Scale of Self-perception of performance in activities of daily living (ANDREOTTI & OKUMA, 1999) and test the elbow flexion test and to sit and pose in 30 seconds (RIKLI e JONES, 1999) In the analysis of data was used descriptive statistics and procedures of the extent of association (chi-square) using the statistical program R 2.6.2. When analyzed the relationship between muscle strength of upper limb and functional capacity was not found statistically significant relationship (c² =0,5622, p=0,453). This relationship was not found when they examined the association between muscular strength of lower limbs and functional (c² =0,0616, p=0,432) . Even with low levels of capacity the force had investigated, for the most part a condition independent in carrying out AVDS, something not very common according to the literature. Given the facts reported it is suggested the formulation of new studies that might include a larger number of elderly in order to better establish this relationship.

          Keywords: Muscle strength. Homes for the elderly. Aging.


Apoio: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 127 - Diciembre de 2008

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Introdução

    Os avanços da ciência, o aumento da expectativa de vida e a diminuição da taxa de natalidade proveniente das mudanças de hábitos de vida da sociedade atual ocasionaram um aumento significativo do contingente de idosos em todo o mundo. Estima-se que a população idosa aumentará em torno de 100% e a proporção de pessoas com mais de 60 anos passará de 5% em 1960 para 14% em 2025 (RAMOS, COELHO FILHO; 1999).

    No Brasil, atualmente existem cerca de 17 milhões de idosos, e destes, 12,8% possuem mais de 80 anos de idade. Os idosos com 80 anos ou mais somam 1,1% da população brasileira (MINISTÉRIO DA SAÚDE; 2007).

    Durante o processo de envelhecimento são observados declínios significativos nos diferentes componentes da capacidade funcional (CF), em especial, nas expressões da força muscular (força muscular concêntrica, excêntrica e isométrica máxima, resistência de força, potência muscular, entre outras) e na flexibilidade, caracterizada pela capacidade de mover uma articulação através de sua amplitude máxima de movimento (ACSM, 1998).

    O envelhecimento é um processo muito complexo, não se pode definir um único modelo que categorize a grande variabilidade de idosos existente entre esta população. Assim, estudiosos têm utilizado critérios que combinam status funcional com nível de saúde que correspondem a aplicações práticas do dia-a-dia (COTTON, 1998). Para isso têm usado como referência as atividades da vida diária (AVD) para determinar se um idoso é capaz de viver independentemente. As medidas de AVD permitem saber o que um idoso pode realmente fazer (MATSUDO, 2004).

    Neste sentido o objetivo deste estudo é verificar a associação entre o nível de força muscular e capacidade funcional em idosos asilares do município de Itabuna-BA.

Métodos

    Estudo de corte transversal, analítico, realizado no período de Maio a Junho de 2008, em 1 (um) Asilo de idosos no município de Itabuna-Bahia.

    Na coleta de dados foi utilizado um questionário semi-estruturado, aplicado em forma de entrevista individual, além da avaliação da força muscular por meio dos testes de flexão de cotovelo e teste de sentar e levantar.

    O questionário aplicado continha parte de outros instrumentos: (Escala de Auto-percepção do Desempenho em Atividades da Vida Diária, validada por Andreotti & Okuma, 1999) além de questões sobre a renda mensal, nível de escolaridade, informações sociodemográficas, estado de saúde, grau de patologias presentes.

    Foi mensurado o nível de força muscular de membros superiores (teste de flexão de cotovelo em 30 segundos) e membros inferiores (teste de sentar e levantar em 30 segundos), estes testes têm sido utilizados com freqüência em levantamentos realizados com a população idosa (RIKLI e JONES, 1999 apud MATSUDO, 2004).

    A população do estudo foi composta de 72 idosos, onde deste conjunto 52,77% (n=38) sexo feminino e 47,22% (n=34) sexo masculino ambos com faixa etária de 50 a 103 anos, residentes num asilo do município de Itabuna-BA.

    Os dados foram tabulados e analisados através do Programa Epidata versão 3,1 b e o pacote estatístico R 2.6.0. Na análise dos dados foram empregados procedimentos da estatística descritiva (média, desvio-padrão) e o teste Qui-quadrado com p<0,05.

    Para a realização deste estudo foram respeitadas as normas da lei 196/96, que se referem às pesquisas com seres humanos, utilizando o termo de consentimento livre e esclarecido assinado pelos participantes do estudo.

Resultados e discussão

    Da população de 72 idosos apenas 17 conseguiram responder o questionário e executar os testes. Desta forma, a amostra foi constituída de 17 idosos de ambos os sexos com média de idade de 74,24 anos (DP=12,43) para a idade com variação entre 52 e 93 anos; 82,40 % (n=14) tem renda igual ou maior que 1 (um) salário mínimo; 58,80% (n=10) são considerados alfabetizados, enquanto 41,20% (n=7) não são alfabetizados. Outras características estão descritas na (tabela 1).

Tabela 1. Características sócio-demográficas de idosos asilares do município de Itabuna-BA, 2008 (n=17).

Variável

Categorias

n

%

IDADE

50-59

60-69

70-79

80-89

90 ou mais

1

6

4

3

3

5,90 %

35,40 %

23,60 %

17,70 %

17,70 %

RENDA

< 1 salário mínimo

> ou = salário mínimo

3

14

17,60 %

82,40 %

NÍVEL DE ESCOLARIDADE

1- não alfabetizado

2- alfabetizado

7

10

41,20 %

58,80 %

    Ao analisar a força de membros superiores constatou-se que em média, os idosos realizaram 9,18 repetições no teste de flexão de cotovelo, sendo que 52,9% (n=9) realizaram mais de 9 (nove) repetições, e 47,1% (n=8) realizaram menos de 9 (nove) repetições em 30 (trinta segundos).

    Com relação à força dos membros inferiores, à média foi de 7,41 execuções, no teste de sentar e levantar da cadeira, 82,4% (n=14) dos idosos realizaram mais de 6 (seis) repetições e 17,6% (n=3) realizaram menos de 6 (seis) repetições em 30 (trinta segundos).

    Os idosos investigados apresentam uma condição de força muscular muito baixa, sendo o maior percentual de força nos membros superiores, o que pode comprometer algumas atividades, principalmente as atividades de locomoção.

    No presente estudo foram considerados independentes os indivíduos que alcançaram a pontuação entre 65 e 160 pontos (de acordo com a escala proposta por ANDREOTTI e OKUMA; 1999 apud MATSUDO, 2004) e dependentes os que alcançaram a pontuação entre 0 e 64 pontos.

    Com referência a capacidade funcional, 82,4 % (n=14) idosos foram classificados como independentes e 17,6% (n=3) foram classificados como dependentes. Os dados apontados por este estudo expressam uma realidade onde a maioria dos participantes consegue desempenhar com autonomia as atividades da vida diária, apesar do baixo desempenho com relação às condições de força muscular.

    Quando analisada a relação entre força muscular de membros superiores e capacidade funcional não foi encontrada relação estatisticamente significante c² =0,5622, p=0,453 (tabela 2) . Essa relação também não foi encontrada quando se analisou a associação entre força muscular de membro inferiores e capacidade funcional c² =0,0616, p=0,432 (tabela 3).

Tabela 2. Relação da força de membros superiores e capacidade funcional em idosos asilares do município de Itabuna,BA,2008 (n=17)

  

Capacidade funcional

Total

Dependente

Independente

Dependente

FM em MMSS

> 9 FM

1

8

9

< 9 FM

2

6

8

Total

3

14

17

c² =0,5622, p=0,453

Tabela 3. Relação da força de membros superiores e capacidade funcional em idosos asilares do município de Itabuna,BA,2008 (n=17)

 

Capacidade funcional

Total

Dependente

Independente

FM em MMII

≥ 6 FM

2

12

14

< 6 FM

1

2

3

Total

3

14

17

c² =0,0616, p=0,432

    A diminuição da aptidão física (músculo-esquelética e cardiorrespiratória) aumenta a fragilidade dos idosos, podendo torná-los vulneráveis a desenvolver, em longo prazo, mais incapacidades quando confrontados com episódios crônicos e agudos (BARBOSA et al; 2007).

    Porém no presente estudo esta associação não foi encontrada. Os estudos encontrados na literatura, em sua maioria, não investigam idosos asilares o que dificulta a comparação com estes achados, pois a realidade de uma instituição asilar difere consideravelmente de outros contextos como grupos de convivência e idosos que vivem em seu próprio domicílio ou com familiares.

Conclusão

    Verificou-se que os participantes do estudo não possuem um nível de força considerado recomendável, tanto por parte de seus membros superiores quanto membros inferiores, porém constatam-se a necessidade de formulação de programas de intervenção destinados a melhora e aprimoramento da força para idosos, no intuito de preservar sua qualidade de vida.

    Não ficou clara na presente investigação a associação entre o nível de força dos membros superiores e inferiores com a capacidade funcional. Mesmo com baixos níveis de força os investigados apresentaram, em sua maioria, uma condição independente na realização das AVDS, algo não muito comum de acordo com a literatura especializada.

    O fato dos idosos asilares passarem a maior parte do tempo acamados pode influenciar nesta relação, já que os mesmos por viverem nesta condição não necessitam de uma quantidade grande de força para realizarem suas atividades da vida diária.

    Estudos transversais produzem dados momentâneos da situação de saúde, não avaliando adequadamente a causa dos eventos ocorridos. Outro aspecto é que apenas idosos asilares participaram do estudo, esses limites, portanto, não permitem generalizar os resultados encontrados.

    Diante dos fatos relatados sugere-se a formulação de novos estudos que possam incluir um maior número de idosos no intuito de estabelecer melhor esta relação.

Referências

  • AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE. Exercise and physical activity for older adults.Medicine & Science in Sports & Exercise, 1998; 30: 992-1008

  • BARBOSA AR, SOUZA JMP, LEBRÃO ML, MARRUCI MFN. Estado Nutricional e Desempenho Motor de Idosos de São Paulo. Revista Assoc Med Bras 2007; 53(1): 75-9.

  • COTTON R. (ED.). Exercise for older adults. ACE’s guide for fitness professionals. Champaign, Human Kinetics, 1998

  • MATSUDO, Sandra M.M, Avaliação do Idoso: Física & Funcional. 2º edição. Londrina- Paraná: Midiograf, 2004, p 15-23/ 23-31/ 35-55/ 71- 84/ 89-96/ 96-115

  • MINISTÉRIO DA SAÚDE. Política Nacional de Promoção da Saúde. Série Pacto pela Saúde, 2006; vol.07. Acesso em 01/10/07. Disponível em http://www.conselho.saude.gov.br/webpacto/volumes/07.pdf.

  • PEARLIN, L. I.; Mullan, J. T.; Semple, S. J.; Skaff, M. M. (1990). Careging and the stress process. An overview of concepts and their measures. The Gerontologist, 30:583-591.

  • RAMOS LR, COELHO FILHO JM. Epidemiologia do envelhecimento no nordeste do Brasil: resultados de inquérito domiciliar. Revista de Saúde Pública 1999; 33 (5): 445-53.

  • RICE, D. P.; LaPlante, M. P. (1992). Medical expenditures for disability and disabling comorbidity. American Journal of Public Health, 82(5):739-741.1992

  • SPIRDUSO, WANEEN W. Dimensões físicas do envelhecimento. Barueri,São Paulo: Editora Manole, 2005 .

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