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Dor nas costas em profissionais que trabalham em pé

 

*Acadêmico do Curso de Educação Física da

Universidade do Vale do Rio dos Sinos – RS (UNISINOS)

** Doutora em Educação Física, Professora do Curso de

Educação Física e Coordenadora do Curso de Fisioterapia da

Universidade do Vale do Rio dos Sinos – RS (UNISINOS)

Daiane Ozório*

Matias Noll*

Priscila Jaques Barbosa*

Josy Pires de Carvalho*

Cláudia Candotti**

daianeozorio@bol.com.br

 

 

 

Resumo

          Nos dias atuais, é difícil não conhecer alguém que sofre de dor nas costas e os desvios posturais tem sido considerados um sério problema, pois atingem uma grande parcela da população economicamente ativa, ocasionando incapacitações temporárias ou definitivas para atividades profissionais. Considerando as alterações posturais de profissionais que trabalham em pé este artigo tem como objetivo verificar as possíveis dores nas costas desses profissionais e relacionar com a sua postura no trabalho. Concluiu-se, que a dor nas costas esta relacionado com a má postura, fraqueza muscular, falta de exercícios físicos e que se manter em pé por períodos prolongados, exerce uma pressão no eixo da coluna vertebral, deixando o núcleo no final de um dia de trabalho menos espesso e hidratado, mais sucessível a lesões. A repetição ou manutenção da postura em pé com passar dos anos esse profissional perderá a propriedade de amortecimento da coluna, devido a aceleração da degeneração discal, pois o núcleo vai perdendo sua capacidade de reter água e o anel fibroso diminui sua elasticidade. Para que esses profissionais não sofram de dor nas costas é necessário uma conscientização corporal, bons hábitos posturais e exercícios físicos para movimentar e nutrir os discos intravertebrais.

          Unitermos: Dor nas costas. Profissionais. Prevenção.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 127 - Diciembre de 2008

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Introdução

    As afecções nas costas não são problemas de hoje, vem aflingindo o homem há milhares de anos. Existem relatos de 5000 anos atrás, dos antigos egípcios. A preocupação com a coluna vertebral e suas patologias vem sendo estudada desde o tempo de Hipócrates (460 A.C). Descobriu-se que as alterações da anatomia da coluna vertebral, provocadas por doenças, traumatismos e processos degenerativos, causavam transtornos mecânicos responsáveis por deformidades e/ ou dores nas costas (SOUZA & KRIGER 2000).

    A dor nas costas esta relacionada com a má postura, fraqueza muscular e falta de exercícios físicos para movimentar e nutrir os discos intervertebrais. Além disso, em sua grande parte, também podem se originar de movimentos executados incorretamente, de impactos sofridos sobre as articulações e de desequilíbrios musculares. Se a dor nas costas não for tratada poderá ocasionar desvios posturais (estruturais) e/ou problemas nas vértebras e discos intervertebrais (SOUZA & KRIGER 2000).

    Durante o trabalho, muitos trabalhadores assumem a postura de pé (principalmente nas linhas de montagem). Essa posição se torna cansativa em longo período, não apenas por causa do esforço muscular, mas também devido ao aumento da pressão hidrostática do sangue nas veias das pernas e ao acúmulo progressivo de líquidos tissulares nas extremidades inferiores. Sendo que a dor nas costas é uma dor comum em pessoas que trabalham em pé.

    O peso do corpo exerce uma pressão importante no eixo da coluna vertebral, fazendo com que a água contida na substância gelatinosa do núcleo saia através dos orifícios do plano vertebral em direção ao centro dos corpos vertebrais. No final do dia, o núcleo estará menos hidratado e espesso. Durante a noite, com o repouso, a pressão exercida sobre o disco diminui consideravelmente, devido ao corpo encontrar-se relaxado. Neste momento, ocorre o inverso, ou seja, o núcleo atrai a água, voltando ao final da noite a ter sua espessura inicial. Para que o disco volte a sua espessura normal é necessário um período de repouso significativo (BRACCIALLI & VILARTA, 2000).

    Segundo Braccialli & Vilarta (2000), para as posturas “em pé”: devido ao acúmulo de sangue na malha venosa das pernas, surge uma sensação de pernas pesadas e o risco de aparecerem varizes. Pode haver aumento da tensão muscular, dificultando os trabalhos de precisão. Apresenta-se também uma maior tensão lombar, podendo provocar um encurtamento sério de íliopsoas, antevertendo a pelve para manter o equilíbrio. Portanto, o objetivo desse artigo de revisão é buscar relacionar a dor e a postura em pé, exigida em muitas profissões.

Dor nas costas

    O ciclo vicioso da dor está vinculado a má postura, que pode gerar desequilíbrios musculares, ocasionar contraturas musculares e novas dores. Se pudermos quantificar a dor nos permitiria a compreensão da situação clínica, e possibilitaria tornar mais satisfatório o resultado final de algum tratamento. Dentro dessa perspectiva, seria bom utilizar algum instrumento para essa análise, como um inventário formulado por Souza (1996), que objetiva saber a intensidade, a freqüência da dor em diferentes regiões das costas e saber o quanto essa dor causa incômodo e o local onde a pessoa sente mais dor.

    O homem, na tentativa de manter-se ereto, submete os músculos da postura estática a um estado de tensão constante, já os músculos da dinâmica, após a contração inicial, retornam completamente a um estado de relaxamento, sendo responsáveis pelos movimentos de grande amplitude.

    A alta incidência de alterações posturais em adultos relaciona-se com sua tendência para um padrão de atividade especializado ou repetitivo. As condições dolorosas associadas com mecânica corporal defeituosa são comuns em adultos, as lombalgias têm sido as queixas mais freqüentes.

    Um conceito básico para a compreensão da dor em relação à má postura é definido como os efeitos cumulativos de sobrecargas pequenas constantes ou repetidas, que durante um longo período de tempo podem dar origem ao mesmo tipo de dificuldades causadas por sobrecargas intensas súbitas (KENDALL, 1995).

    As condições abordadas nessa categoria incluem distenção lombossacral, deslizamento facetário e coccialgia. A distensão lombossacral pode ser de origem postural. As outras três não são consideradas primariamente problemas posturais, mas há geralmente problemas associados de alinhamento e de desequilíbrio muscular que afetam essas condições.

    Distenção lombossacra: é o tipo mais comum de problema lombar. A palavra “distensão”, que denota uma tensão que causa lesão, não cobre, contudo, os defeitos mecânicos que estão presentes. Esses são essencialmente dois problemas: compressão indevida sobre estruturas ósseas, presentes essencialmente durante sustentação de peso (em pé ou sentado); tensão indevida sobre os músculos e ligamentos durante a sustentação de peso e durante movimentos (KENDALL, 1995).

    Uma coluna pode ter bom alinhamento na sustentação de peso, mas se os músculos lombares forem tensos eles serão sujeitos à tensão indevida em uma tentativa súbita ou descuidada de inclinar-se para frente. Pode ocorrer distensão muscular aguda.

    Uma coluna pode ter um alinhamento defeituoso acentuado, como uma lordose sem retração dos músculos lombares. O movimento pode não causar uma distensão, mas ficar em pé por certo período de tempo pode dar origem à dor. A sobrecarga compressiva que resulta do mau alinhamento, quando acentuada ou constante, pode provocar sintomas dolorosos. Esse tipo de postura é mais comum entre mulheres que entre homens. O defeito é geralmente associado com fraqueza dos músculos abdominais. O surgimento dos sintomas é geralmente gradual em vez de agudo, e os sintomas geralmente permanecem mais ou menos crônicos. A dor é menor se a pessoa está ativa do que se a pessoa está em pé parada e aliviada pela posição recumbente e deitada (KENDALL, 1995).

    Com a repetição ou a manutenção por tempo prolongado de uma pressão ou a ausência de carga estática nos discos são suficientes para alterarem a sua nutrição, provocando aceleração da degeneração discal (BRACCIALLI & VILARTA, 2000). Com o envelhecimento, este mecanismo começa a deteriorar, pois o núcleo vai perdendo sua capacidade de reter água e o anel fibroso diminui sua elasticidade, levando à perda da propriedade de amortecimento.

Má postura nas AVDS

    Grandes são os esforços da área da saúde, para promover a melhoria da qualidade de vida, através de alterações positivas no decurso das ações diárias relacionadas à atividade físicas.

    Atos comuns da vida cotidiana no trabalho, como torcer o corpo, fletir, levantar pesos ou mesmo ficar sentado muito tempo, ou ficar de pé por horas, aumentam a carga axial, normalmente exercida sobre a coluna lombar pela força gravitacional.

    As escolas posturais têm por finalidade incentivar os participantes a executarem corretamente as Atividades de Vida Diárias (AVDs). O professor de uma escola postural deve motivar os participantes a praticarem atividades aeróbicas e outros esportes apropriados que servirão para dar complemento ao treinamento correto das suas atividades diárias.

    No ambiente de trabalho, o corpo dos trabalhadores assume duas posturas básicas: em pé ou sentado (principalmente nas linhas de montagem). Lembrando ainda que dentro da postura temos o trabalho estático e dinâmico. A postura estática exige uma imobilização dos membros inferiores (articulações dos pés, joelhos e cintura pélvica).

    Essa posição se torna cansativa em longo período, não apenas por causa do esforço muscular, mas também devido ao aumento da pressão hidrostática do sangue nas veias das pernas e ao acúmulo progressivo de líquidos tissulares nas extremidades inferiores.

Prevenção da dor

    A compreensão do bom funcionamento do corpo é crucial para o bom conhecimento de si próprio. Quando a articulação é mal usada, a informação cinestésica que chega ao cérebro é inadequada e levará a um mau desenvolvimento do corpo. A maioria das pessoas sabe localizar suas articulações, porém as usam de modo errado.

    Imagem corporal é formada, principalmente, a partir de estímulos sensoriais enviados ao cérebro especialmente os táteis, dolorosos, cinestésicos, de pressão e térmicos. Portanto, é preciso tomar consciência e experimentar novas sensações. Pode-se desta forma obter informações importantes de nós mesmos, por intermédio das superfícies que tocamos, conscientizando-nos de todos os pontos de contato do corpo com as superfícies tocadas (LIMA, 2005).

    A educação postural tem como finalidade possibilitar à pessoa ser capaz de proteger ativamente seus segmentos móveis de lesões dentro das condições de vida diária e profissional, seja pelo plano estático ou dinâmico.

    Considerando ser importante a conscientização corporal é fundamental o papel do educador, principalmente o professor de Educação Física, que deveria aproveitar suas aulas para inserir e transmitir conhecimento tanto teórico quanto prático, que possa a vir proporcionar ao indivíduo consciência postural correta; conhecimento este que parte de atividades mais simples (sentar de forma correta) até mais complexas (prática de atividades bilaterais, visando o desenvolvimento estrutural harmonioso) (LIMA, 2005).

    Nesse contexto, as escolas posturais vêm a ser um tratamento alternativo capaz de corrigir ou melhorar a postura dos indivíduos nas suas atividades de Vida Diárias. De acordo com (BRACCIALLI & VILARTA, 2000), por meio de programas de alongamentos, em que a flexibilidade da coluna vertebral é priorizada, consegue-se um melhor desempenho e um menor risco de lesão.

    Já a Ginástica Laboral, deverá prever exercícios que estimulem a circulação sangüínea dos membros inferiores, compensando a pressão hidrostática do sistema venoso e minimizando o surgimento de doenças originárias da má circulação, como varizes e edema dos tecidos nos pés e nas pernas.

    Sempre temos que considerar para qualquer programa preventivo a biomecânica da coluna vertebral e as influências que o meio ambiente exerce nas atitudes e hábitos desenvolvidos e adotados pelos indivíduos.

    Nesta perspectiva, os profissionais da educação, cumprem um importante papel no processo de desenvolvimento e crescimento da criança e do adolescente contribuindo para a formação do indivíduo como um ser integral, desde a idade mais tenra. Esses profissionais poderiam também colaborar em atividades de cunho preventivo e de detecção precoce de possíveis alterações posturais, juntamente com profissionais da saúde. A preocupação com a educação postural poderia fazer parte dos objetivos de aula de todo profissional da educação, independente da população com que trabalha (LIMA, 2005).

    Concomitantemente, seria necessário conscientizar os profissionais da educação sobre a importância da detecção precoce de afecções posturais, principalmente se considerarmos o enorme potencial adaptativo das estruturas relacionadas à postura durante o período de crescimento.

Considerações finais

    Considerando que o propósito deste artigo de revisão é verificar a relação da dor nas costas e profissionais que trabalham em pé, tendo em vista os resultados deste estudo, traçamos as seguintes conclusões:

    Existe correlação entre a dor nas costas e profissionais que trabalham em pé. Isso se deve a má postura, fraqueza muscular e falta de exercícios físicos.

    Para que esses profissionais não sofram de dor nas costas seriam necessárias uma orientação e conscientização corporal, bons hábitos posturais e exercícios físicos para movimentar e nutrir os discos intravertebrais.

Referências bibliográficas

  • BRACCIALLI, Ligia Maria Presumido; VILARTA Roberto. Aspectos a serem considerados na elaboração de programas de prevenção e orientação de problemas posturais. Paul.Educação Física, São Paulo, p.159-171, Julho/dezembro.2000.

  • KENDALL, Florence Peterson. Músculos: Provas e Funções. 4ª edição. São Paulo: Manole, 1995.

  • LIMA, Valquíria de. Ginástica laboral : atividade física no ambiente de trabalho. 2ª ed. São Paulo: Phorte, 2005.

  • SANTOS, Saray et al. Educação postural mediante um trabalho teórico. Atividade Física e Saúde, Londrina ,v.3,p.32-42.1998.

  • SOUZA, Jorge Luiz; KRIEGER, Carla Mariza de Lima. Instrumento de Avaliação da dor nas costas. Kineses, Santa Maria, n.22, p.139-150. 2000.

  • SOUZA, Jorge Luiz. Efeitos de uma Escola Postural para indivíduos com dores nas costas. Movimento, Ano III, n.5, p.56-69. 1996/2.

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