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Deficiência mental e lazer: um relato de experiência

 

Docente do curso de Educação Física da ULBRA Carazinho

(Brasil)

Suzana Nemecek Loss

zisuce@terra.com.br

 

 

 

Resumo

          Este trabalho sugere o lazer em grupos como um meio privilegiado de socialização estabelecendo relações diretas com outras pessoas e, partindo do pressuposto de que as pessoas com deficiência mental podem e devem dispor de mais tempo para viver em sociedade, utilizando-se de várias atividades como passeios, praças, parques, festividades, ginásios, universidades, cinemas, lanchonetes etc... as quais, possam contribuir para seu desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo-social. O trabalho compreende a prática com grupo de deficientes mentais, o qual, vem contribuindo para melhoria de suas vidas com seus familiares e nas suas comunidades promovendo qualidade de vida e realização pessoal dos integrantes. Participam ativamente do grupo dez (10) pessoas entre 17 e 38 anos de idade sendo cinco do sexo feminino e cinco do sexo masculino, embasado no direito e respeito as individualidades de cada um com o apoio e aceitação efetiva dos familiares.

          Unitermos: Deficiência Mental. Lazer. Socialização.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 127 - Diciembre de 2008

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Introdução

    Este capítulo aborda a importância do lazer como fator de socialização da pessoa deficiente mental, que ainda sofre uma série de preconceitos em nossa sociedade, bem como apresenta uma sugestão de projeto realizado como forma de lazer para pessoas com deficiência mental.

    Em muitos grupos, escolas ou instituições os deficientes mentais acabam sendo sufocados de atividades mais individuais com o objetivo de melhorar suas condutas nos aspectos psicomotores e de aprendizagens acadêmicas, restando pouco ou nenhum tempo de sobra para brincar, criar, relaxar e interagir com outras pessoas.

    Através de uma revisão de literatura para a elaboração deste capítulo ,buscamos obter elementos significativos com a finalidade de abordar a importância de atividades que ofereçam um divertimento e prazer aos jovens deficientes mentais, já que, muitas vezes são colocados na condição de incapazes ou impotentes.

    Desta forma, o profissional de Educação Física, especialista em atividades físicas, recreativas e desportivas têm um importante papel social se tratando do trabalho com grupos especiais. Muitas vezes, no contexto social atual, pode parecer um trabalho estressante e deprimente para este profissional mas, estes sentimentos caem por terra no momento em que passa a conhecer estas pessoas, suas possibilidades, potencialidades, expectativas e necessidades percebendo, as diferentes maneiras de olhar as diferenças que se manifestam no ambiente em relação a elas.

    O isolamento do deficiente é segundo D’ANGELO (1998) nitidamente percebido quando ocorre negligências por parte da família ou de profissionais, justamente por não detectarem seu potencial ou desconhecer suas necessidades num momento mais precoce possível a fim de que possam intervir adequadamente evitando estes transtornos.

    Porém hoje, de acordo com DIEHL (2006) já podemos nos munir de ferramentas adequadas para proporcionar às pessoas deficientes condições de desenvolver suas habilidades dando-lhes a chance para que possam participar mais ativamente dos espaços de lazer num âmbito social.

    De acordo com os estudos de WERNECK (2000) antes de alguns movimentos internacionais e nacionais adotarem oficialmente a idéia de uma sociedade inclusiva ou socializadora, profissionais espalhados pelo mundo se articulavam em busca de estratégias que dessem às pessoas deficientes uma vida mais digna na busca de um novo olhar para esta população

    Portanto, através dos tempos, historicamente, não podemos mais segregar as pessoas deficientes mentais por não encontrarem-se dentro dos padrões sociais ditos “normais”. E segundo Gaio, (2006) é neste momento que se torna possível, na trajetória da formação de profissionais de várias áreas, pensar o corpo do deficiente não como uma máquina que possui defeitos mas, interpretar este corpo num contexto de capacidades corporais, sociais e afetivas. Diante disto, acreditamos que a Educação Física preocupa-se em colaborar com o bem estar físico, mental e social do deficiente mental. No entanto, o tema: Deficiência Mental e Lazer: Uma proposta de Trabalho, permite estabelecer metas que ofereçam momentos de prazer, de relacionamentos e trocas interpessoais de modo espontâneo, tanto com grupo de iguais, como grupos inclusivos, melhorando suas condições psicomotoras, cognitivas, afetivo-sociais, educando-os e estimulando-os para que sintam-se mais felizes e aceitos pelas famílias e pela sociedade sendo uma necessidade e um direito dos indivíduos. (ORTIZ, 2005).

    Com base nessas premissas elaboramos um projeto voltado ao lazer para deficientes mentais, objetivando desenvolver atividades voltadas ao lazer e á melhora da qualidade de vida do deficiente mental num grupo da comunidade de Carazinho-RS. No grupo participam ativamente dez (10) deficientes entre 15 e 38 anos de idade sendo cinco do sexo feminino e cinco do sexo masculino. Os encontros são agendados quinzenalmente, nos sábados à tarde, respeitando os interesses do grupo na utilização dos mais diversos espaços da comunidade

As características do projeto

1.     Título: Deficiência Mental e Lazer: Uma Proposta de Trabalho (Fora dos ambientes escolares)

2.     Objetivo

    Proporcionar a jovens e adultos, deficientes mentais atividades de lazer e integração e descontração, através de reuniões, passeios, festas (aniversários), atividades recreativas, esportivas, rítmicas e de interesse do grupo, oportunizando-os maior socialização valorização e realização pessoal.

3.     Justificativa

    A importância da criação de grupos de Lazer- Conviver para deficientes mentais significa uma identificação maior com a sua comunidade e com seus familiares. Considerando a necessidade da Convivência Social em ambientes diversificados e, com atividades também diversificadas, chegaremos a uma certeza concreta de grande valorização pessoal e de melhoria na auto-estima. Sendo os encontros do grupo, a recreação, o esporte, passeios, danças e outras atividades do seu interesse proporcionarão qualidade de vida tanto na família como na comunidade.

    Somos sabedores de que as pessoas afastadas do convívio social, podem, com o tempo apresentar comportamentos agressivos, transtornos mentais, diminuição da auto-estima, sensações de abandono, tristezas, etc... e, participando de encontros com amigos para a prática de atividades variadas, com certeza, a conduta pessoal melhorará proporcionando melhor qualidade de vida.

4.     Metas e procedimentos

  • Estabelecer contato com as famílias para criação do grupo;

  • Explanar aos familiares e Deficientes as formas que ocorrerão os encontros e, o compromisso a ser assumido com todos: grupo, família e profissional;

  • Apresentar aos familiares um cronograma para os encontros;

  • Estabelecer critérios de participação: idade (acima de 15 anos – adolescentes e adultos) , compromisso da família em encaminhar seu filho para os encontros.

  • Respeitar os interesses de atividades estabelecidos pelo grupo respeitando-se mutuamente.

5.     Público alvo

    O projeto será desenvolvido com pessoas deficientes mentais do município de Carazinho/RS não ultrapassando dez pessoas.

6.     Recursos

  • Humanos: Deficientes mentais adolescentes e adultos; professora de Educação Física; Psicopedagoga , que participa voluntariamente acompanhando os trabalhos;

  • Materiais: bolas, arcos, som, CDs, balões, jogos pedagógicos, bastões, TV, vídeo, sucatas, colchões, etc.

  • Físico: salas amplas, locais públicos como: praças, clubes, ginásio, quadras esportivas, shopping, cinema etc...

7.     Solicitação de serviços

    Será necessário um transporte para os deslocamentos dos participantes do grupo até os locais determinados para a realização das atividades estabelecendo uma parceria com os familiares.

8.     Avaliaçâo

    A avaliação será constante envolvendo o profissional de Educação Física e o profissional Psicopedagogo , como também conta com a participação dos familiares e dos participantes do grupo , objetivando a melhora de cada encontro e das atividades e orientações que estão sendo desenvolvidas. Também realiza-se mensalmente uma avaliação buscando oferecer momentos de abertura para reorganização e planejamento das atividades, respeitando os interesses dos participantes e sua satisfação pessoal.

Definindo a deficiência mental

    A definição de Deficiência Mental adotada pela Associação Americana de Deficiência Mental e/ou Retardo mental (AAMR), refere-se ao “funcionamento intelectual significativamente inferior à média, associada a limitações em pelo menos dois (02) dos aspectos do funcionamento adaptativo tais como: comunicação, cuidados pessoais, competências domésticas, habilidades sociais, utilização dos recursos comunitários, autonomia, saúde e segurança, aptidões escolares, lazer e trabalho” manifestando-se dos zero aos dezoito anos de idade. (WINNICK, 2004))

    Almeida (2004) esclarece o significado de cada um dos aspectos acima citados: comunicação inclui habilidades para compreender e expressar informações por meio de comportamentos simbólicos ou não simbólicos; cuidados pessoais referem-se as habilidades que assegurem higiene pessoal, alimentação, vestuário e uso do sanitário: competências domésticas às habilidades necessárias para uma adequada funcionalidade no lar.

    As habilidades sociais compreendem as trocas sociais com outros indivíduos; utilização dos recursos comunitários habilidades relacionadas ao uso apropriado dos recursos da comunidade; autonomia refere-se às habilidades de fazer escolhas, cumprir planejamentos e tomar iniciativas de acordo com as demandas do ambiente; saúde e segurança, às habilidades para cuidar da saúde em termos de alimentação, identificação de tratamento e prevenção de doenças (cuidar da própria segurança).

    As aptidões escolares compreendem as habilidades cognitivas relacionadas à aprendizagem dos conteúdos curriculares propostos pela escola que têm relação com a qualidade de vida da pessoa ; lazer, às habilidades para desenvolver interesses e participar de atividades de entretenimento individual e coletivo ( reflete as preferências e escolhas pessoais de acordo com a idade e com o ambiente cultural e comunitário); o trabalho compreende em dispor de habilidades para manter um trabalho em tempo parcial ou total ou, ainda, na comunidade em termos de atividades específicas.

    Pelo exposto na definição acima, para a pessoa ser classificada como deficiente mental deve apresentar tanto uma capacidade cognitiva significativamente baixa quanto uma dificuldade adaptativa relativa à sua comunicação ou o seu cuidado pessoal.

    A Organização Mundial da Saúde, até 1992 definia a classificação para diagnóstico de deficiência mental somente por testes psicométricos que correspondiam a seguinte denominação:

  • Profundo: pessoas com uma incapacidade total de autonomia, alguns vivem em nível vegetativo.

  • Grave ou severa: fundamentalmente necessitam trabalhos para instaurar hábitos de autonomia. Apresentam comunicação primária e necessitam de acompanhamento constante.

  • Moderado: pessoas capazes de adquirir hábitos de autonomia. Podem beneficiar-se de programas para aquisição de habilidades. Normalmente o vocabulário é limitado, mas consegue realizar, em determinadas ocasiões, formulações verbais coerentes.

  • Leve: pessoas perfeitamente educáveis. Podem chegar a realizar tarefas mais complexas e obter maiores progressos escolares. (WINNICK, 2004).

    Contudo, as terminologias de deficiência mental leve, moderada, grave ou severa e profunda deixam de ser utilizadas, exclusivamente, ficando associadas ao novo sistema de classificação referente aos aspectos funcionais adaptativos e exigindo, ainda,mais três critérios para seu diagnóstico:

  1. função intelectual – encontrar-se acentuadamente abaixo da média;

  2. apresentar duas ou mais limitações nas áreas de habilidades adaptativas;

  3. manifestar-se antes dos 18 anos de idade.

    Sendo assim, o ambiente social da criança, a bagagem sócio-cultural, influenciada por fatores de educação, motivação e oportunidades são extremamente consideráveis no momento do diagnóstico da deficiência mental. WINNICK (2004). Aborda, ainda, um novo sistema de classificação apresentado em quatro níveis de apoio necessários ao deficiente:

  • Intermitente: apoio de curto prazo, se faz necessário durante transições em determinado ciclo da vida; ex: perda de um emprego, fase aguda de uma doença.

  • Limitado: apoio regular durante um período curto de tempo; ex: treinamento para um trabalho com comprometimento regular, sem limite de tempo; ex: apoio no trabalho ou na vida familiar.

  • Extensivo: apoio constante, com comprometimento regular, sem limite de tempo; ex: apoio no trabalho e na vida familiar.

  • Generalizado: apoio constante e de alta intensidade, necessidade de apoio para manutenção da vida.

Lazer e socialização

    A recreação segundo GUERRA (1991), teve sua origem na pré-história, quando o homem primitivo se divertia festejando o início da temporada de caça ou a habitação de uma nova caverna. Caracterizavam-se por festas de adoração, celebrações fúnebres, invocação de Deuses, com alegria, assinalando um dos principais intuitos da recreação moderna, e também, o vencimento de um obstáculo.

    Segundo Guerra (1991), o movimento da recreação iniciou-se na Alemanha no ano de 1774 com a criação do Philantropinum por J. B Basedow, professor de escolas nobres da Dinamarca. Lá as atividades intelectuais ficavam lado a lado das atividades físicas de equitação, lutas, corridas, etc. Nos Estados Unidos o movimento teve inicio em 1885 com a criação de jardins de areia para as crianças se recrearem e, com o tempo, devido a uma maior adesão pelos espaços foram criados os playgrounds principalmente nos pátios escolares.

    O autor ainda relata que em 1906 foi criado um órgão responsável pela recreação o “Playground of America” que hoje é mundialmente conhecido como o National Recreation Association, sendo que o termo playground foi mudado para recreação devido a necessidade de ampliação de espaço e público e da importância que estava gerando.

    No Brasil a criação de praças públicas iniciou-se em 1927, no Rio Grande do Sul com iniciativas do Professor Frederico Guilherme Gaelzer que, por meio de aparelhagens rudimentares construiu espaços mais específicos para a recreação.de acordo com Guerra (1991) já, em 1929, aparecem as praças para a prática da Educação Física, orientadas por instrutores surgindo, para esta prática, os Centros Comunitários Municipais e, em 1972, foi criado o “Projeto RECOM” (Recreação – Educação – Comunicação) sendo uma iniciativa do prefeito Telmo Flores juntamente com o professor Frederico com o objetivo de realizar atividades recreativas e físicas promovendo o aproveitamento sadio das horas de lazer e a integração com sua comunidade, considerado, também, um projeto pioneiro, desta natureza, no município de Porto Alegre.

    Guerra (1991) enfatiza que a Alemanha merece destaque pela implantação de atividades recreativas em escolas e na criação de parques infantis equipados nas comunidades, bem como, os Estados Unidos com a criação de playgrounds.

    No dicionário, encontramos o sinônimo de lazer expressado por atividade que satisfaz, pelo gosto, pelo prazer, para o descanso, para a distração, divertimento, folga, entretenimento podendo ser individual, em pequenos grupos ou grandes grupos.(LUFT, 2000)

    Para CAMARGO (1989) lazer é “um conjunto de atividades gratuitas, prazerosas, voluntárias e liberatórias centradas em interesses culturais, físicos, manuais, intelectuais e associativos, realizadas num tempo livre, “roubado” ou conquistado, historicamente, sobre a jornada de trabalho que interferem no desenvolvimento pessoal e social dos indivíduos”.

    Marcellino (2002), aborda o tempo e a atitude como aspectos importantes para o lazer. Estando a atitude caracterizada pelo tipo de relação entre os sujeitos e as experiências provocadas pelas atividades. Já, para este autor, as atividades do lazer compõe o trabalho do cotidiano.

Segundo BLASCOVI (1997) o lazer caracteriza-se como área de estudos multidisciplinares abordados por profissionais de: Filosofia, Educação Física, Psicologia, Pedagogia, Ciências Sociais, Artes, Terapia Ocupacional. Todas dão relevância às atividades de lazer, considerando como meio de desenvolvimento e, como necessidade e direito de todas as pessoas. A esfera do direito ao divertimento não diz respeito apenas a aspectos legais, pois o direito à socialização implica em mudanças sociais, culturais, devendo tornar-se hábito da sociedade, independentemente de sua condição como pessoa, oportunizando o contato com outros para fazer o que gosta e o que dá prazer.

    Assim, a importância das mais diversas práticas de atividades que caracterizam o lazer, significa considerá-lo como tempo privilegiado para vivência de valores que venham contribuir nas mudanças sociais necessárias à todas as comunidades. (Marcellino, 2002)

    No entanto, não podemos esquecer que certos tabus e preconceitos existem e que levam a negação do deficiente mental e do direito de viver como qualquer pessoa. Por outras palavras, é importante afirmar o direito de ir ao cinema, por exemplo, mas igualmente importante, dar condições para as pessoas com deficiência mental, que gostam de ir ao cinema pois, o ser humano é um ser social e depende de relações e interações para bem viver. À medida que a formação de grupos de convivência que buscam a prática do lazer como ações culturais, morais e sociais forem entendidos, os preconceitos e as barreiras impostas pela sociedade irão, aos poucos e, como se quer, sendo eliminadas.(MARCELLINO,2002).

    O desafio dos profissionais das diversas áreas, principalmente ao da área de Educação Física, está em unir esforços e iniciativas capazes de promover tais situações melhorando suas condições gerais de vida: orgânica, física e social, sendo capaz de transformar valores estagnados solidificando as relações e interações sociais.

    A Declaração dos Direitos Humanos (Artigo 24º) reconhece o direito de toda a pessoa ao lazer ou ao tempo livre. É importante salientar que existem, até o momento, poucas iniciativas quanto ao planejamento de Programas Escolares e Comunitários de atividades de lazer para pessoas com deficiência mental, como vimos, na declaração está claro o compromisso e envolvimento de toda a sociedade na mobilização da concretização destas práticas (MARCELLINO, 2002).

    A prática do lazer como meio de socialização teve início, muito informalmente, na década de 50 e 60 coordenada por voluntários em hospitais e centros de reabilitações, sendo muito bem aceita pelas pessoas e/ou pacientes, passando a não abandonar mais estas práticas. Com estas evoluções podemos constatar que através de programas orientados é possível envolver os mais diversos grupos em espaços, como escolas, instituições, clubes, comunidades momentos de práticas prazerosas com o objetivo de respostas sociáveis às interações que venham a ocorrer neste tempo, melhorando assim as condições de vida destes cidadãos. (BLASCOVI,1997)

    O lazer deve ser encarado como uma atividade séria buscando a satisfação pessoal e grupal,e segundo Blascovi (1997), provocada por diversas atividades como: caminhadas, trilhas, jogos com bolas, cordas, jogos cooperativos e competitivos, jogos de amarelinha, imitações, dramatizações, atividades rítmicas, danças folclóricas, passeios diversos, respeitando o interesse do grupo.

    Com o objetivo de desenvolver aspectos motores e psicomotores como orientação espacial, equilíbrio, percepções melhoradas, capacidades físicas, com a finalidade de conservar o prazer de movimentar-se, melhorando suas qualidades de motricidade, estimulando o crescimento, reduzindo distúrbios de coordenação e aumentando a auto-confiança. Porém, desenvolver estas atividades como proposta no tempo de lazer com pessoas deficientes mentais implica em enriquecer as experiências internas e externas destas pessoas, bem como, proporcionar maior familiarização para melhorar comportamentos sociais. De fato, as atividades de lazer são de caráter inclusivo, as quais necessitam de diversão, desenvolvimento, alegria e prazer, atendendo as necessidades de desenvolvimento psicomotor e global desta população. Constituindo, porém, um espaço de oportunidades para a generalização de conceitos e derrubada de preconceitos.

    Como aponta MARCELLINO, (2002), no Brasil, são várias as iniciativas existentes nas questões de oportunizar momentos de lazer a pessoas com deficiências, porém, pouco divulgadas e incentivadas pelo poder público, ficando no anonimato de algumas instituições ou iniciativas voluntárias. Muitas atitudes são feitas como os chamados grupos de Convivência para idosos, estendendo esta tendência, também, as pessoas com deficiências . Considerando que, é necessário, uma situação de justiça social que, para isso, é necessário, também, iniciativas de profissionais ou do poder público, facilitações de acessos desta população a uma política de lazer acreditando que são cidadãos capazes de convivência social e solidária.

    A admissão da importância do lazer na vida moderna significa considerá-lo um tempo privilegiado para a vivência de valores que contribuam para mudanças de ordem moral e cultural (MARCELLINO, 1995). O autor destaca, ainda, o lazer como ação cultural em que os educadores podem transformá-lo em elemento de mudança social e humana exigindo políticas públicas na oferta de espaços adequados para sua execução, levando maior informação e conscientização às comunidades de modo a tornar estas ações um processo natural e destemido de preconceitos.

    Para WERNECK, (2000) existe a crença da inclusão de pessoas com deficiências, a qual estabelece o direito a participação de todos na sociedade, contribuindo para o seu desenvolvimento e, como ideologia, vem para quebrar barreiras oportunizando a todos mostrarem seus talentos, pois acredita que a “cidadania se constrói com a liberdade, a aceitação das diferenças e a valorização do que cada um pode dar”.

    Segundo DIEHL, (2006) além da oferta de espaços adequados para realizar atividades livres de esporte e recreação é necessário e urgente providenciar as mudanças de comportamento de profissionais e da sociedade para diminuir as estimativas de inatividade dos deficientes. E, que os profissionais de Educação Física e áreas afins podem propor alternativas para que jovens e adultos deficientes participem e interajam, ativamente na sociedade.

    Neste sentido, faz-se necessário esclarecer, conforme GAIO, (2006) que as pessoas deficientes são capazes de se auto-construir cognitiva, afetiva e socialmente na proporção de que se ofereça oportunidades e contatos com o mundo construindo sua história de vida através das influências de um coletivo social, cultural e educacional.

    Ressalta GAIO, (2006). “Como vimos não podemos negar a existência de corpos com os olhos e ouvidos lesados, com membros incompletos ou inexistentes, com o cérebro em pequena porcentagem de funcionamento, pessoas que têm três cromossomos no lugar de dois, enfim, corpos que no seu aspecto biológico se apresentam diferentes dos considerados normais.”

Considerações finais

    De acordo o exposto, podemos perceber que as atividades de lazer são de responsabilidade multidisciplinar.Com base nessas perspectivas , percebe-se que a Educação Física pode oferecer diversificadas atividades em espaços como escolas, instituições, clubes, comunidades proporcionando momentos de interação social tornando o cotidiano mais rico e prazeroso dentro do seu contexto de vida, melhorando, nesta população, significativamente, a qualidade emocional, mental e motora.

    Observamos que a implantação de propostas de atividades de lazer as pessoas com deficiência mental ainda requer muitos esforços de seus interventores mas, quando se fala em direito ao lazer a todos os cidadãos para fazer o que gosta ou o que lhe dá prazer, não podemos deixar de incluir nos projetos sociais os direitos dos deficientes facilitando sua socialização. E, pelo que percebemos, todas as pessoas independente de sua condição, têm capacidades de serem engajadas nestes projetos, implicando em melhores condições de vida, realização pessoal e felicidade.

    Contudo, este estudo e esta prática nos levou a pesquisar e fundamentar uma proposta de trabalho com adolescentes e adultos deficientes mentais no que diz respeito ao lazer desta população. O trabalho que realizamos está embasado no direito e respeito às individualidades de cada um para que os objetivos sejam realmente alcançados e, o que percebemos, no decorrer dos encontros e avaliações dos familiares que suas vidas - fora do grupo - estão melhorando cada dia que passa.

    Outro aspecto importante a considerar é de que os familiares estão aprendendo a valorizar e conhecer melhor seus filhos pois, a comunicação entre eles e a disponibilidade para afazeres domésticos e particulares também melhoraram, constituindo, assim, um desejo de que o trabalho continue crescendo cada vez mais, trazendo a estas pessoas vivências ricas no seu cotidiano e melhor qualidade de vida.

    Conclui-se então, que “o homem, é incontestavelmente um ser social. Pois é feito para a relação com outros homens. Dois antropólogos tão distintos como M. Mead e Lévi-Strauss concordam nas constantes relações entre as pessoas: a necessidade de companhia, de compaixão, a capacidade de compreender, a necessidade e o desejo de comunicar, a constituição da vida comunitária”, seja ela estabelecida através de atividades de lazer, físicas , sociais ou culturais. (GÉIS, 2003).

    Este trabalho foi desenvolvido com o propósito do conhecimento e entendimento de seres humanos em suas formas de existência na sociedade e, para que a deficiência não seja uma limitação para o desenvolvimento das pessoas, e que favoreça uma forma de bem viver em seu contexto social.

    O lazer em grupos como um meio privilegiado de socialização estabelecendo relações diretas com outras pessoas e, partindo do pressuposto de que a pessoa com deficiência mental pode e deve dispor de mais tempo para viver em sociedade, sendo que, várias atividades podem contribuir para seu desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo-social.

Referencias

  • ALMEIDA,M.A. Apresentação e analise das definições de deficiência mental proposta pela AAMR - Associação Americana de Retardo mental de 1908 e 2002. Revista de educação. Campinas:PUCCAMP, nº 6, p33 a 48. 2004.

  • BLASCOVI-ASSIS, S. Lazer e Deficiência Mental: Papel da família e escola em uma proposta de educação pelo e para o Lazer. São Paulo, Papirus, 1997.

  • CAMARGO, Luiz Otávio de Lima. O que é Lazer. São Paulo. Brasiliense, 1989.

  • D’ANGELO, C. Crianças Especiais Superando a Diferença. Edusc: São Paulo, 1998.

  • DIEHL, Rosilene Moraes. Jogando com as Diferenças. Editora Phorte.São Paulo,2006.

  • GAIO, Roberta. Para Além do Corpo Deficiente – Uma História de Vida. Ed. Fontoura,Jundiaí, SP, 2006.

  • GEIS, Pilar Pont. Atividade Física e Saúde na Terceira Idade. Ed. Artmed,5ª Ed.Porto Alegre, 2003.

  • GUERRA, Marlene. Recreação e Lazer. Ed. Sagra. 3ª ED. Porto Alegre. 1991.

  • LUFT, Celso Pedro. Minidicionário Luft, Editora Ática. 20ª edição. São Paulo, 2000.

  • MARCELINO Nelson Carvalho. Viva a Diferença. Convivendo Com Nossas Restrições ou Deficiências. Ed. Moderna: São Paulo 1995.

  • __________________________. Lazer e Humanização. Papirus: Campinas, 1983.

  • __________________________. Estudos do Lazer, Uma Introdução. Ed. Autores Associados, SP, 2002.

  • ORTIZ, Márcia, Lazer e Deficiência Mental. Temas em Educação Física Adaptada. www.sobama.rog.br, 2005, acesso em 05 de janeiro de 2008.

  • WERNECK, Claudia. Ninguém vai ser Bonzinho na Sociedade Inclusiva. Ed. WVA, RJ, 2000.

  • WINNICK, Joseph P. Educação Física e Esportes Adaptados. Ed. Manole Ltda São Paulo, 2004.

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