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Epidemiologia da atividade física: análise de comportamentos 

de risco de trabalhadores de uma empresa de transporte urbano

 

*Graduados do Curso de Educação Físca da FTC-Itabuna-BA

**Docente do Curso de Educação Física Da FTC-Itabuna

e da FACSUL/NUCEF-Itabuna-BA

Mestrando em Saúde Coletiva pela UEFS-Feira de Santana-BA

***Mestranda em Actividade Física para a Terceira Idade pela FADEUP-Porto-Portugal

****Graduanda em Licenciatura Plena em Educação Física pela UESB-Jequié-BA.

Saulo Vasconcelos Rocha**

Nelba Reis Souza***

Elmo Fonseca Ribeiro*

Talitha Silva Bastos*

Clarice Alves dos Santos****

nelbaef@yahoo.com.br

 

 

 

Resumo

          Os fatores de risco são elementos aos quais todo ser humano está exposto, seja direta ou indiretamente dependendo do ambiente onde vive, das condições de vida, da forma como se relaciona com os outros e da herança genética, e que podem contribuir na ocorrência de efeitos negativos à saúde.Considerando a relevância desse tema e no intuito de fornecer informações consistentes que fomentem políticas públicas de saúde através da criação de estratégias e ações que contribuam para diminuir os comportamentos de risco dos trabalhadores, o presente estudo teve como objetivo analisar os comportamentos de risco dos trabalhadores de uma empresa de transporte urbano no Município de Ilhéus - BA. Esse estudo caracterizou-se como sendo analítico, de corte transversal e correlacional realizado no período de setembro a outubro de 2007.A amostra foi constituida por 49 trabalhadores com média de idade de 35 anos (DP= 8,7), sendo 26 motoristas e 23 cobradores. Como instrumento para coleta dos dados foram utilizados o questionário construído a partir de outros instrumentos: IPAC (Questionário Interancional de Atividades Físicas) versão longa, questões sobre comportamentos relacionados a saúde (etilismo, tabagismo), nível sócio-econômico além das medidas antropométricas: peso, estatura e circunferências da cintura e do quadril. Os resultados demonstraram haver uma elevada prevalência de inatividade física no trabalho 83,6%, (n=41). Provavelmente em função disso, a obesidade foi o comportamento de risco mais evidenciado entre os trabalhadores 67% (n=33), de acordo com o cálculo do IMC. Os resultados nos permite perceber a necessidade de melhor informar e educar essa população acerca da prática regular da atividade física, como fator de promoção a saúde e prevenção de doenças, visando principalmente reduzir os comportamentos de risco relacionados à saúde principalmente os relativos a falta de atividade, como a obesidade por exemplo, criando para tanto, programas estratégicos de promoção à saúde, com ênfase em atividade física, e com apoio de educadores físicos.

          Unitermos: Atividade física. Comportamento de risco. Trabalhadores.

 

Abstract

          The risk factors are elements in which every human being is exposed, either directly or indirectly depending on the environment where he lives, living conditions, how they relate to genetic and others inheritance and it can contribute to the occurrence of adverse effects to the health. Considering the importance of this issue and in order to provide consistent information policies, that will promote public health through the establishment of strategies and actions in which will help reduce the risk behaviors of employees, this study aims to analyze the behavior of workers at risk of a company of urban transport in the city of Ilhéus - BA. This study is characterized as being analytical, a cross-sectional and correlational carried out from September to October 2007. The sample consisted on 49 employees with average age of 35 years (SD = 8.7), with 26 drivers and 23 collectors. As a tool for collecting data used in the survey were built from other instruments: IPAC (Questionnaire International of Physical Activities) version long, on issues related to health behaviors (drinking, smoking), socio-economic level than the anthropometric measurements: weight, height and circumference of the waist and hip. The results have shown a high prevalence of physical inactivity at work 83.6% (n = 41). Feasible accordingly, obesity was most evident risk behaviors among workers 67% (n = 33), according with the calculation of BMI. The results allow us to understand the need to better inform and educate the population about the practice of regular physical activity, as a factor in the health promotion and disease prevention, targeting mainly reduce the risk behaviors related to health mainly the relative lack of activity, such as obesity, creating for both, strategic programs to promote health, with emphasis on physical activity, and with support from physical educators.

          Keywords: Physical activity. Behavior risk. Workers.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 127 - Diciembre de 2008

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Introdução

    Os fatores de risco são elementos aos quais todo ser humano está exposto, seja direta ou indiretamente dependendo do ambiente onde vive, das condições de vida, da forma como se relaciona com os outros, da herança genética, ou seja, são fatores que exercem influência em diferentes graus para cada indivíduo.

    São chamados de “fatores de risco” as circunstâncias do ambiente ou as características das pessoas, herdadas ou adquiridas, que lhes conferem uma maior probabilidade de acometimento, imediato ou futuro, por um dano a saúde (PEREIRA, 2002).

    Os fatores de risco podem tomar a forma de risco direto ou ativo sendo classificados como fatores de risco de 1º ordem ou primários, onde cada um pode causar sozinho graves danos á saúde como, por exemplo, o uso de tabaco e o abuso de bebidas alcoólicas, no caso dos fatores de risco que tomam a forma de risco indireto ou passivo são classificados como fatores de 2º ordem, que somente em combinação com outro ou outros fatores de risco provocam doenças como é o caso da inatividade física e o estresse excessivo. (WEINECK, 2000).

    Sob o aspecto da sua influência, os fatores de risco podem ser divididos em não influenciáveis, que não podem ser modificados, e influenciáveis, que podem ser modificados (WEINECK, 2000).

    Dentre os fatores de risco modificáveis estão: A dieta, níveis sanguíneos de lipídios, hipertensão, padrões de personalidade e comportamento, fumo, altos níveis séricos de ácido úrico, estilo de vida sedentário, anormalidades da função pulmonar, gordura corporal excessiva, diabetes mellitus, anormalidades eletrocardiográficas, tensão e estresse excessivo, educação deficiente e níveis elevados de homocisteína. Entre os principais fatores de risco não-modificáveis, ou seja, aqueles sobre os quais não se tem poder de influência estão: a idade, o sexo, antecedentes étnicos e história familial. (MCARDLE, 2003).

    Trabalhadores de transportes urbanos têm tarefas baseadas tanto em repetição excessiva de movimentos quanto à falta de movimentação de determinados grupos musculares. "Estudos realizados com trabalhadores de transportes urbanos, têm mostrado que as atividades laborais de motoristas e cobradores envolve grande número de fatores de risco para acometimentos músculo- esqueléticos (CARNEIRO et al, 2007).

    Durante o expediente de trabalho motoristas e cobradores de transportes urbanos estão expostos a fatores como ruídos, vibração, radiação, iluminação, agentes químicos e forças de deslocamento que podem contribuir na ocorrência de efeitos negativos à saúde como patologias de origem mecânica (traumatismos), vícios ou desvios de postura, distúrbios psicológicos e problemas do aparelho respiratório (MEDRONHO, 2005).

    Com relação à natureza da relação com o trabalho o tipo de conseqüência e o nível de gravidade os agravos à saúde podem ser resumidos em: agravos específicos do trabalho: agravos fatais (intoxicações exógenas fatais de origem ocupacional, acidentes de trabalho fatais); agravos com incapacidade permanente (acidentes do trabalho altamente incapacitantes, intoxicações profissionais graves, com seqüela incapacitante); agravos com incapacidade temporária longa (> 15 dias) (intoxicações profissionais graves sem seqüelas); agravos com incapacidade temporária curta (< 15 dias) (acidentes de trabalho leves); agravos sem incapacidade para o trabalho (incidentes no trabalho, sem produção de incapacidade) (ROUQUAYROL, 1999).

    Segundo a Política Nacional de Segurança e Saúde do Trabalhador, (2004) a escassez e inconsistência das informações sobre a real situação de saúde dos trabalhadores dificultam a definição de prioridades para as políticas públicas, o planejamento e implementação das ações de saúde do trabalhador, além de privar a sociedade de instrumentos importantes para a melhoria das condições de vida e trabalho.

    Diante deste contexto, o objetivo deste trabalho foi o de analisar os comportamentos de risco de trabalhadores de uma empresa de transporte urbano.

Metodologia (amostras, protocolos utilizados)

    Estudo analítico, de corte transversal e correlacional realizado no período de setembro a outubro de 2007 numa empresa de transporte urbano do município de Ilhéus-BA

    A amostra foi constituída por 49 (quarenta e nove) trabalhadores com média de idade de 35 anos (DP= 8,7), sendo 26 motoristas e 23 cobradores de uma empresa de transportes urbanos do Município de Ilhéus – BA.

    Os dados foram coletados através da aplicação de questionário contruído a partir de outros instrumentos: IPAC (Questionário Internacional de Atividades Físicas) versão longa (PARDINI, 2001), questões sobre comportamentos relacionados a saúde (etilismo, tabagismo), nível sócio-econômico além das medidas antropométricas: peso, estatura e circunferências da cintura e do quadril.

    A classificação do Nível de Atividade Física seguiu as recomendações da Organização Mundial de Saúde (WHO,1998): Ativos (indivíduos que acumulam mais de 150 minutos de atividades físicas leves, moderadas ou intensas por semana) e Inativos (indivíduos que não acumulam mais de 150 minutos de atividades físicas leves, moderadas ou intensas por semana).

    Para a avaliação do nível socioeconômico dos entrevistados, optou-se pelo Critério de Classificação Econômica Brasil (ANEP, 2008). Foram coletadas informações referentes à quantidade de alguns objetos na casa (televisão em cores, banheiro, empregada doméstica, máquina de lavar, geladeira, máquina de secar roupa, rádio, automóvel, freezer, aspirador de pó, videocassete, DVD e lavadora de louça) dos entrevistados e o nível de escolaridade.

    As medidas antropometricas do peso e da estatura foram utilizadas para o cálculo do Indíce de Massa Corporal (IMC) e as circunferencias de cintura e do quadril para o cálculo da Razão Cintura Quadril (RCQ).

    Os dados foram tabulados e analisados através de ferramentas de informática (Programa Excel) na criação do banco de dados. Na análise dos dados, empregaram-se procedimentos da estatística descritiva (média, desvio-padrão)

    A pesquisa seguiu as normas da resolução 196/96 (Conselho Nacional de Saúde), que requer autorização de cada participante do estudo, devidamente assinada.

Resultados

    Os resultados encontrados indicam que a maioria da população investigada encontra-se na faixa etária de 30-39 anos, são do sexo masculino (86%n=42) possuem um nível de escolaridade baixo (54% n=26) cursaram no máximo o primeiro grau) e encontram-se com um nível sócio-econômico intermediário (70% n=34) são da classe C. (Tabela I )

Tabela I. Características sócio demográficas de trabalhadores de uma empresa de transporte de ônibus urbano (n=49)

Variável

Categorias

n

%

Idade (anos)

20-29

13

27%

30-39

19

39%

40-49

12

24%

50-59

5

10%

60 ou mais

0

0%

Nível de escolaridade

Ginasial incompleto

13

27%

Ginasial completo e colegial incompleto

13

27%

Colegial completo e superior incompleto

23

46%

Superior

0

0%

Nível sócio-econômico

A

1

2%

B

5

10%

C

34

70%

D

8

16%

E

1

2%

Sexo

Homens

42

86%

Mulheres

7

14%

    Com relação aos comportamentos de risco detectou-se que entre os entrevistados 96% (n=47) não usam cigarros,52%(n=12) consomem bebidas alcóolicas regularmente. O comportamento de risco mais evidente é a obesidade,67% (n=33) são obesos de acordo com o cálculo do Indíce de Massa Coporea (IMC) (tabela II).

Tabela II. Comportamentos de risco de trabalhadores de uma empresa de transporte de ônibus urbano (n=49)

Variável

Categoria

n

%

Tabagismo 

Fumantes

2

4%

Não-fumantes

47

96%

Etilismo 

Consomem

12

52%

Não consomem

11

48%

IMC

Baixo

1

2%

Recomendável

15

31%

Obesidade Leve

24

49%

Obesidade Moderada

8

16%

Obesidade Severa

1

2%

    Outro comportamento analisado foi com relação ao nível de atividade física dos entrevistados em diversos tipos de atividades (trabalho, meio de transporte, em casa e no lazer. Identificou-se que 83,6% (n=41) são inativos no trabalho, 65,4%(n=17) são ativos nas atividades físicas como meio de transporte,59,18% (n=29) são ativos nas atividades físicas realizadas em casa e 53%(n=26) são ativos nas atividades físicas realizadas nos momentos de lazer.(tabela III).

Tabela III. Nível de Atividade Física de trabalhadores de uma empresa de transporte de ônibus urbano (n=49)

Tipo de Atividade 

Nível de atividade física

Ativos

Inativos

Atividade física no Trabalho

16,3% (n=8)

83,6% (n=41)

Atividade física como Meio de Transporte

65,4% (n=32)

34,6% (n=17)

Atividade física em casa

59,18% (n=29)

40,8% (n=20)

Atividade física de Lazer

53%

(n=26)

46,9% (n=23)

    A prevalência de sedentarismo no lazer foi de 72,5% em levantamento realizado com indivíduos adultos residentes no município de Salvador-BA sendo que o sedentarismo no lazer mostrou-se mais frequente em mulheres entre 40-59 anos e homens maiores que 60 anos de idade, em pessoas com baixo nível de escolaridade (PITANGA; LESSA, 2005).

    Costa et.al. (2003) ao analisar 4030 funcionários de uma Universidade do estado do Rio de Janeiro encontraram prevalência de sedentarismo no lazer de 47,8% em homens e 59,2% em mulheres.O fato deste estudo ter apresentado um indíce elevado de indivíduos ativos no momentos de lazer pode ser explicado pelas características da amostra predominantemente de homens, com nível de escolaridade intermediário e idade entre 20-49 anos.

Conclusão

    Em relação às atividades físicas com intensidade leve, moderada e vigorosa nos domínios do IPAQ, observou-se que a Atividade Física no trabalho não representa uma influência significativa no dispêndio energético dos trabalhadores, uma vez que, consideradas as limitações desse estudo, os resultados revelam uma elevada prevalência de inatividade física no trabalho entre os colaboradores da empresa de transporte de ônibus urbano estudada. Provavelmente em função do baixo nível de atividade física no trabalho o comportamento de risco mais evidenciado entre os trabalhadores de acordo com o calculo do IMC foi a obesidade detectada em 67% (n= 33) dos trabalhadores.

    A partir desses dados, podemos perceber a necessidade de melhor informar e educar essa população acerca da prática regular da atividade física, como fator de promoção a saúde e prevenção de doenças, visando principalmente reduzir os comportamentos de risco relacionados à saúde principalmente aqueles relativos a falta de atividade, mediante a formulação de programas estrategicos de promoção à saúde, com ênfase em atividade física, e com apoio de educadores físicos.

    Contudo, a promoção de programas de atividade física para esses trabalhadores, deve ser enfatizada a fim de aumentar a prática regular, principalmente durante a semana, já que nos finais de semana os trabalhadores tendem a ser mais ativos.

Referências

  • ANEP. Critérios de Classificação Econômica Brasil. Disponível em: http://www.anep.org.br. Acesso em 10 de jan. de 2008.

  • CARNEIRO et al. Sintomas de Distúrbios Osteomusculares em Motoristas e Cobradores de Ônibus. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano. Florianópolis, 2007.

  • CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE. (1996). Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP). Resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS) 196/96.Disponívem em: http://conselho.saude.gov.br/comissao/conep/resolucao.html. Acesso em:25 de Outubro de 2007.

  • COSTA RS, WERNECK GL, LOPES CS, FAERSTEIN E. Associação entre fatores sócio-demográficos e prática de atividade física de lazer no estudo Pró- Saúde. Cad Saúde Pública 2003; 19:1095 -105.

  • MCARDLE, Willian D; KATCH, Victor L; KATCH Frank I. Fisiologia do Exercício: Energia, Nutrição e Desempenho Humano. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A. 2003.

  • MEDRONHO, Roberto A et al. Epidemiologia. São Paulo: Editora Atheneu, 2005.

  • PARDINI, R. et.al. Validação do questionário internacional de nível de atividade física (IPAQ - versão 6): estudo piloto em adultos jovens brasileiros. Rev. Bras. Ciên. e Mov. Brasília v. 9 n. 3 p.45-51. julho 2001

  • PEREIRA, Maurício G. Epidemiologia: Teoria e Prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A. 2002.

  • POLÍTICA NACIONAL DE SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHADOR. Brasilia: 2004

  • PITANGA FJG, LESSA I. Prevalência e fatores associados ao sedentarismo no lazer em adultos.Cad.Saúde Pública 2005; 21:870-7.

  • ROUQUAYROL, Maria z. Epidemiologia e saúde. Rio de Janeiro: MEDSI, 1999, 5 ed.

  • WEINECK. Jurgen. Biologia do Esporte. São Paulo: Manole Ltda, 2000.

  • WORLD HEALTH ORGANIZATION.The World Report 1998: Life in the 21st Century-A Vision for All. Geneva: World Health Organization, 1998.

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