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A dança na escola: educação do corpo expressivo

 

Doutora em Ciências do Movimento Humano (UFRGS)

Professora da Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre

Pesquisadora do GRECCO - Grupo de Pesquisa

sobre Corpo e Cultura da ESEF/ UFRGS.

Dra. Márcia Luiza Machado Figueira

marfig@terra.com.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          Este artigo analisa a importância da dança como um conteúdo a ser trabalhado no contexto escolar. Parte do pressuposto de que a expressão corporal é uma linguagem, uma forma de diálogo do indivíduo com os outros, as coisas e o mundo. Ou seja, integra a própria constituição do sujeito. Considerando que a escola atua sobre a educação dos corpos, a dança se constitui em um espaço privilegiado para a educação da sensibilidade, da criatividade e da expressividade, entendida aqui, não como algo inerente aos sujeitos mas como gestualidade construída.

          Unitermos: Dança. Escola. Expressão corporal.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 127 - Diciembre de 2008

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    Pensar a educação dos corpos no espaço escolar pressupõe, primeiramente entender que o corpo não é apenas um dado material resultante da ação da natureza. O corpo é um território de ação da natureza e da cultura, ou melhor, é produto da intrínseca relação que se estabelece entre essas duas dimensões. Em outras palavras, o corpo é uma construção cultural sobre a qual são conferidas diferentes marcas em diferentes tempos, espaços, conjunturas econômicas, grupos sociais, étnicos, etc. Por essa razão é possível afirmar que o corpo é construído no contexto cultural e social onde vive, sendo produzido nas relações que ali se estabelecem na medida em que os significados culturais que cada grupo social estabelece para si, se inscrevem no corpo possibilitando definir o que é considerado, por exemplo, bonito ou feio, magro ou gordo, atlético ou raquítico, apto ou inapto.

    Na instituição escolar a aula de Educação Física pode ser identificada como um espaço privilegiado para a construção de representações de corpos e dos valores que a eles se atribuem. Ali circulam discursos e práticas que educam os sujeitos tanto para a inclusão como para exclusão, para a competição e para a colaboração ou ainda para serem expressivos ou embotar sua expressividade. Através dos conteúdos que lhe são constituintes, ou seja, da ginástica, da dança, do esporte, das lutas, das acrobacias, entre outros, produzem-se e reproduzem-se valores que reafirmam ou questionam estas representações corporais.

    Razão pela qual, é necessário pensar que este espaço pedagógico deve ser planejado de forma a contemplar experiências significativas de inclusão, de respeito às diferenças, de educação da sensibilidade, da construção de valores capazes de questionar situações de exclusão e de inferiorizarão de uns em detrimento de outros, inclusive no que respeita a suas potencialidades expressivas.

    Nesse sentido identifico a dança como uma forma de conhecimento que possibilita uma intervenção direcionada para a ampliação da expressividade dos sujeitos dado que ela permite ler a gestualidade humana como uma linguagem. Essa compreensão aproxima-se da concepção de movimento humano trazida por autores como Buytendijk (1977) e Tamboer para quem o movimento traduz-se num diálogo do indivíduo com os outros, com as coisas e com o mundo. Movimentar é, então, conceituado como um comportamento pleno de sentido, como algo que acontece no interior de uma interdependência relacionada ao sentido (Buytendijk apud TAMBOER, 1994, p.12). É, ao lado do pensar e do falar, uma das muitas formas nas quais a relação entre o indivíduo e o mundo se manifesta.

    Vale destacar que o movimentar-se não acontece no abstrato. Acontece através de seres que imaginam, criam se movimentam e que vivem em contextos históricos diferenciados. Diante dessa percepção torna-se necessário analisarmos a simbologia do movimento, isto é, que o movimento enquanto linguagem está carregado de significados que traduzem determinados símbolos sendo, por conseguinte, considerado um elemento constitutivo da cultura.

    No contexto escolar, a dança pode se configurar como um conteúdo que, ao ser trabalhado, visibiliza o caráter culturalmente construído dos nossos gestos e da forma através das quais nos expressamos. Ao buscar potencializar a expressão corporal indica que esta é um forma de “linguagem, um conhecimento universal, um patrimônio da humanidade que igualmente precisa ser transmitido e assimilado pelos alunos" (COLETIVO DE AUTORES, 1992:62). E a esse conhecimento universal o indivíduo impõe sua intencionalidade para o lúdico, o artístico, o agonístico, o estético, entre outros que são representações, idéias e conceitos em face dos quais desenvolve um sentido pessoal que exprime a sua subjetividade.

    Por certo que a dança não é algo homogêneo. Dentro do seu campo de atuação há infinitas escolas, técnicas, perspectivas: do jazz ao hip hop, da dança folclórica ao ballet clássico, da dança de salão ao tango... No entanto, ainda que sejam múltiplas essas especificidades o trabalho com a expressividade se faz constante e esse deve ser o centro da sua intervenção. Afinal, a expressividade não é algo que está dado, que é natural e inerente ao ser humano. É gestualidade educada consoante os valores de cada tempo e de cada grupo social. Educada na escola e fora dela: na mídia, na família, na religião, na medicina, no aparato jurídico, enfim, nas várias instâncias que compõem a cultura cujas intervenções produzem corpos mais ou menos expressivos, mais ou menos criativos, mais ou menos sensíveis.

    Considerando o potencial criativo da dança, constitui-se como um desafio para os professores e professoras considerá-la como um espaço de educação para a sensibilidade, para a criatividade, para a expressividade forjando condições para que alunos e alunas expressem não aquela gestualidade massificada pelo campo midiático mas, uma expressividade que diga de si, das suas marcas identitárias sejam elas de gênero, raça, classe social, geração, sexualidade... que faça de seu corpo expressão em movimento.

Referências

  • BUYTENDIJK, F.J.J. O jogo humano. In: GADAMER, H.G.; VOGLER, P., eds. Antropologia cultural. São Paulo, EDUSP, 1977.

  • COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino de educação física. São Paulo: Cortez, 1992.

  • TAMBOER, J. ‘Se-Movimentar’: um diálogo entre o homem e o mundo. Revista Pedagogia do Esporte. Hamburgo, v. 3, n. 2, p.14-29, março 1979. (Tradução do Grupo de Trabalho Pedagógico UFSM/UFPE, durante o curso de mestrado em Educação Física na UFSM, no período 1985-1988).

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