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Pratica de exercício físico na gestação

 

*Profissional de Educação Física

**Acadêmica do curso de Educação Física da Universidade Federal de Viçosa - UFV

***Professor Ms do curso de Educação Física da

Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES

(Brasil)

Vinícius Dias Rodrigues*

Alisson Gomes Da Silva*

Camila Sarmento Câmara*

Rutênia Jardim Lages**

Waldney Roberto de Matos Ávila***

viniciusdr26@hotmail.com

 

 

 

Resumo

          O estímulo à atividade física é crescente em todo âmbito da saúde, e a cada dia aumenta o número de mulheres que a praticam. A gravidez, embora não seja uma doença, é um período que envolve diversas modificações no organismo materno. A atividade física pode trazer riscos para mãe como: hipoglicemia, hipertermia e lesões músculo esquelética, mas também apresenta benefícios como: melhor sensibilidade à insulina, melhor controle da gordura corporal, interações psicossociais e eventual facilitação do trabalho de parto. Já no feto o exercício pode diminuir o fluxo sanguíneo para a placenta, e também causa hipertermia e hipoglicemia, mas pode oferecer a diminuição dos riscos de parto. Dessa forma o exercício físico deve ser de baixa intensidade e duração média de quarenta minutos para não acarretar riscos para a mãe e o feto. A orientação médica sobre variadas complicações no período gestacional deve ser pautada para a prescrição de exercícios ou para interrupção do mesmo, e somente profissionais habilitados podem atuar na elaboração do programa de exercício físico para a gestante.

          Unitermos: Exercício físico. Feto. Gestante.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 126 - Noviembre de 2008

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Introdução

    Historicamente, as recomendações de exercício físico para gestantes variaram de acordo com os contextos socioculturais vigentes, inclusive existindo períodos em que havia contra-indicações para a atividade física. No início do século XX começaram a ser desenvolvidos os programas de assistência pré-natal com o intuito de romper o ciclo vicioso de medo, tensão e dor. Incluindo a atividade física, porém sem um embasamento científico (LEITÃO et al, 2000).

    Evidências baseadas em estudos epidemiológicos confirmaram o papel decisivo da prática da atividade física na promoção da saúde, na qualidade de vida e na prevenção e/ou controle de diversas doenças (HELMRICH et al, 1994). Assim, diretrizes para a promoção de estilos de vida saudáveis têm sido recomendadas por órgãos envolvidos com a saúde pública, destacando-se a prática de atividade física regular em todo o ciclo vital (BRASIL, 2001).

    Privilégio anteriormente do sexo masculino, as mulheres passaram recentemente a representar importante grupo na prática de atividade física. Embora persistam controvérsias sobre esta prática no período gestacional, a atividade física vem se integrando de forma crescente nesse período. Em décadas passadas, as gestantes eram aconselhadas a reduzirem suas atividades e interromperem, até mesmo, o trabalho ocupacional, especialmente durante os estágios finais da gestação, acreditando-se que o exercício aumentaria o risco de trabalho de parto prematuro (ARTAL et al, 1999). No entanto, em meados da década de 90, o American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) reconheceu que a prática da atividade física regular no período gestacional deveria ser desenvolvida desde que a gestante apresentasse condições apropriadas.

    Tal prática vem sendo cada vez mais discutida e, de modo especial, as suas possíveis repercussões maternas e fetais. Os benefícios foram atribuídos à diminuição dos sintomas de desconforto da gravidez, ao controle da ansiedade e depressão, ao menor tempo de evolução do trabalho de parto e ao menor índice de indicação de parto cesárea (CONTTI et al, 2003). Entretanto, alguns resultados desfavoráveis foram observados na aplicação de exercícios intensos, entre eles a ocorrência de prematuridade e baixo peso (ARTAL et al, 1999).

    Dessa forma, o objetivo do presente artigo é apresentar uma revisão literária sobre as questões que envolvem o exercício físico e a gestante.

Benefícios do exercício físico para a gestante

    O exercício físico ajuda a reduzir o inchaço, melhorar a circulação sanguínea, amplia o equilíbrio muscular, alivio nos desconfortos intestinais (incluindo a obstipação), diminui câimbras nas pernas, fortalece a musculatura abdominal e facilita na recuperação pós-parto (HOLETEIN apud YMCA e HANLON, 1999). Segundo Wilmore e Costill (2001) a execução de exercícios durante a gravidez reduz o estresse cardiovascular, previne algias nas regiões da coluna vertebral, melhora a imagem corporal, além de ajudar a prevenir a diabetes gestacional.

    Robert e Robergs (2002) afirmam que durante a gestação o exercício oferece para a mãe benefícios como: melhor sensibilidade à insulina, melhor controle da gordura corporal, interações psicossociais, diminuição da probabilidade de riscos durante o parto e eventual facilitação do trabalho de parto. O hábito de praticar atividades físicas possibilita uma gestação mais saudável, com menos problemas como câimbras e dores lombares, assim como favorece o parto via vaginal (MAUAD FILHO et al, 1999).

    O exercício físico torna possível manter um bom controle corporal, ajudando positivamente o estado de humor e prevenção de certas desordens fisiológicas ocorridas na gestação (MAUAD FILHO et al, 1999). McArdle, Katch e Katch (2003) afirmam que o exercício físico é importante na gestação como forma de manter a aptidão cardiorrespiratória, a massa muscular e o aumento de peso recomendado pelo médico.

    Sabe-se que a atividade cardiovascular durante a gestação se eleva comparada ao período não gestacional. No entanto, com a prática regular de exercícios físicos, reduz-se esse estresse cardiovascular, o que se reflete, especialmente, em frequências cardíacas mais baixas, maior volume sanguíneo em circulação, maior capacidade de oxigenação, menor pressão arterial, prevenção de tromboses e varizes e redução do risco de diabetes gestacional (HARTMANN & BUNG, 1999).

    As vantagens da atividade física durante a gestação se estendem ainda aos aspectos emocionais, contribuindo para que a gestante torne-se mais auto-confiante e satisfeita com a aparência, eleve a auto-estima e apresente maior satisfação na prática dos exercícios (HARTMANN & BUNG 1999).

    No entanto, o exercício na gestação pode oferecer para a mãe riscos de hipertermia, hipoglicemia e lesões músculo-esqueléticas (ROBERT & ROBERGS, 2002). Além disso, a ação hormonal através do sistema nervoso simpático durante o exercício extenuante desvia provavelmente algum sangue do útero e dos órgãos viscerais para ser distribuído preferencialmente aos músculos ativos, o que representa um perigo para o fluxo sanguíneo placentário (McARDLE, KATCH & KATCH, 2003).

    Diante dessas possíveis complicações, é importante que se tenha alguns cuidados com a prática do exercício e a sua prescrição, para que a gestante adquira os benefícios proporcionados por tal prática de maneira segura.

Cuidados especiais com a prática de exercício para gestante

    Todas as gestantes devem fazer um exame obstétrico e clínico no início da gestação e antes de participar de programas de exercícios, sendo que as suas orientações devem ser seguras e considerar as respostas fisiológicas normais da gestante à vários tipos de atividades (ARTAL et al, 1999). O tipo de atividade física deverá ser adequado a cada paciente (MAUAD FILHO et al, 1999).

    Todo cuidado deve ser tomado para evitar a hipertermia materna, pois essa condição pode ocasionar má formação do feto, prematuridade e aumento na incidência de sangramentos em gestantes (RAMOS, 1999). Ainda de acordo com Ramos, o resfriamento corporal possui maior eficiência quando a umidade relativa do ar é mais baixa. Portanto, o treinamento em gestante deve ocorrer preferencialmente nos momentos mais frescos do dia, utilizando roupas leves e ingerindo bastante água para diminuir o risco de desidratação. Já os exercícios intensos, prolongados e executados em ambientes quentes e úmidos são demasiado perigosos e requerem hidratação adequada, da mesma forma que os realizados em grandes altitudes (GHORAYEB e BARROS, 1999).

    De acordo com Cossenza e Carvalho (1999), os sinais e sintomas para interrupção do exercício são: dor, sangramento, falta de ar, tontura, batimento cardíaco irregular, fraqueza, taquicardia, dor na coluna ou região púbica e dificuldade para andar.

    Segundo Artal et al (1999) são contra indicações absolutas: miocardiopatia ativa, insuficiência cardíaca congestiva, cardiopatia reumática (classe II ou mais), tromboflebite, embolia pulmonar recente, doença infecciosa aguda, risco de trabalho de parto prematuro, incompetência cervical, gestações múltiplas, hemorragia uterina, bolsa rota, crescimento intra-uterino retardado ou macrossomia, isoimunização grave, doença hipertensiva grave, sem assistência pré-natal e suspeita de sofrimento fetal. Também cita as contra indicações relativas (podem ser incluídas em programas sob supervisão médica): hipertensão arterial, anemia e outra hematopatias, doença de tireóide, diabetes mellitos, apresentações pélvicas no último trimestre, obesidade excessiva ou baixo peso extremo e história de estilo de vida sedentário.

Prescrição de exercícios para a gestante

    Um grande número de gestantes tem procurado diversos meios para obtenção de uma gravidez mais segura e tranqüila, visando o bem-estar próprio e o do bebê (CENTOFANI et al, 2003).

    Ainda não existem recomendações padronizadas de atividade física durante a gestação. No entanto, frente à ausência de complicações obstétricas, o American College of Obstetricians and Gynecologists recomendou que a atividade física desenvolvida durante a gestação tenha por características exercícios de intensidade regular e moderada, com o programa voltado para o período gestacional em que se encontra a mulher, com as atividades centradas nas condições de saúde da gestante, na experiência em praticar exercícios físicos, na demonstração de interesse e necessidade da mesma (BATISTA et al, 2003).

    As modalidades como natação, jogging e o ciclismo são apropriados para grávidas. Mas a cada mês da gravidez a carga deve ser adaptada à capacidade fisiológica da gestante (WEINECK, 1991). No mesmo sentido, A YMCA e Hanlon (1999) sugerem a mudança de intensidade de acordo com a capacidade física da gestante, mas nunca em intensidades consideradas altas. Dessa forma, exercícios cujo metabolismo seja predominantemente anaeróbico devem ser evitados (BATISTA, 1999). De acordo com McArdle, Katch e katch (2003) a intensidade do exercício pode ser estabelecida pela taxa de esforço percebido (TEP).

    A preocupação com a intensidade reside no fato de que a prática de exercícios com intensidade muito alta acarreta riscos potenciais para o feto, o que pode criar um estado de hipóxia para o mesmo, além de situações em que haja risco de trauma abdominal e de hipertermia da gestante. Esses fatores podem gerar estresse fetal, restrição de crescimento intra-uterino e prematuridade (BENNELL apud LIMA & OLIVEIRA, 2005). Mas há algumas evidências de que a participação em exercícios de intensidade moderada ao longo da gravidez possa aumentar o peso do bebê ao nascer, enquanto que exercícios mais intensos e com grande freqüência, mantidos por longos períodos da gravidez, possam resultar em crianças com baixo peso (BENNELL apud LIMA e OLIVEIRA, 2005).

    No período gestacional a freqüência cardíaca não deve ultrapassar 140 bpm (ROBERT & ROBERGS, 2002). Assim Cossenza e Carvalho (1999) sugerem a formatação básica da aula para a gestante com duração máxima de 60 minutos e intensidade de 55% com base na freqüência cardíaca máxima. Também lembram da freqüência semanal, que deve ser de três vezes para iniciantes e de quatro a cinco para alunas com passado de atividade física. Além disso, Sharkeg (1998) recomenda a eliminação de exercício aeróbio de alto impacto. Assim os exercícios aquáticos são adequados a gestante porque produz menos impacto e reduz o risco de traumas (GHORAYEB, LOPES & BAPTISTA, 1999). Mauad Filho et al (1999) lembram que exercícios aquáticos são beneficentes durante todo o período gestacional pois não apresentam incômodos para a paciente, principalmente no último trimestre.

    Gestantes que realmente participem de exercícios ou programas de atividades físicas extenuantes devem ser cuidadosamente monitorizadas em relação ao desenvolvimento de complicações e se exercitar apenas sob supervisão médica (ARTAL & POSNER, 1999). Leitão et al (2000) destaca que, os objetivos da prática de atividade física em gestantes são a manutenção da aptidão física e da saúde, a diminuição de sintomas gravídicos, o melhor controle ponderal, a diminuição da tensão no parto, e uma recuperação no pós parto imediato mais rápida.

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