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O treino aquático e os desportos colectivos

 

Treinador do Sport Lisboa e Benfica

(Portugal)

Bruno Baptista

brnob@sapo.pt

 

 

 

Resumo

          A água apresenta propriedades que permitem aliviar o stress das articulações que sustentam o peso do corpo, auxiliando no equilíbrio estático e dinâmico, propiciando dessa forma maior facilidade de execução de movimentos que, em terra seriam muito difíceis de serem executados.

          Unitermos: Treino aquático. Desportos colectivos.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 126 - Noviembre de 2008

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1.     Introdução

    Nos últimos anos, muito se tem falado, muito se tem escrito sobre os efeitos benéficos das actividades na água como complemento do treino desportivo, mas na realidade, a utilização da água como elemento, não é novo, pois de acordo com Harris (1978), Moran (1979) e Lépore et al (1998), já desde o tempo de Hipócrates, que a água era utilizada no auxílio à reabilitação; por exemplo, os gregos e romanos já utilizavam a água corrente para a cura de doenças.

    A água apresenta propriedades que facilitam o indivíduo na sua locomoção sem grande esforço, pois a sua propriedade de sustentação e eliminação quase que total da força da gravidade, podem segundo Campion (2000), aliviar o stress sobre as articulações que sustentam o peso do corpo, auxiliando no equilíbrio estático e dinâmico, propiciando dessa forma maior facilidade de execução de movimentos que, em terra seriam muito difíceis ou impossíveis de serem executados.

    Silva (2000)  refere  que um longo período de inactividade pode provocar um acentuado processo de perda de performance das capacidades físicas. Conforme Powers & Howley (2000) o ditado “use-o ou perca-o” é válido para atletas em caso de interrupção prolongada de treino.

    Os exercícios na água oferecem uma grande oportunidade de superar o desempenho ao mesmo tempo que diminuem o risco de desgaste.

    O objectivo é melhorar a performance através de movimentos semelhantes aos da modalidade, desenvolvendo a cadeia muscular específica, facilitando e melhorando a amplitude do movimento, além do metabolismo ser o mesmo solicitado da modalidade.
Muitos atletas de alto rendimento, em todos os desportos, participam naquilo que é conhecido como o treino na água ou hidrotreino como meio de recuperar ou de evitar as lesões.

    Treinar na água pode ajudar a aumentar a aptidão dos atletas no movimento, devido a nenhum impacto, o atleta lesionado pode treinar na água, é uma maneira ideal de recuperar de lesões tais como fracturas de stress, joelho, tornozelo ou dores musculares. O atleta lesionado pode também beneficiar-se deste formulário de treinar executando o trabalho da resistência e da técnica sem medo de ferimento. Em relação à aptidão cardiovascular, um corredor pode conseguir o mesmo trabalho na água que nos recintos excepto sem o problema de treinar em superfícies duras.

    Falar sobre as propriedades físicas da água é um pré-requisito primordial para a fundamentação e a aplicação de qualquer actividade dentro do meio aquático, sendo afirmado por Krasevec & Nogueira (2000).

2.     Propriedades físicas da água

2.1. Pressão hidrostática

    É uma pressão que os líquidos e os gases produzem por si próprios, sobre todas as partes do corpo que estiverem imersas na água. A pressão vai aumentar quando a densidade e a profundidade aumentarem;

2.2. Viscosidade

    Em conjunto com a pressão hidrostática vai causar uma maior resistência ao movimento, aumentando a sobrecarga sobre o músculo em acção, ao mesmo tempo causa um efeito de massagem sobre o músculo que reduz a acumulação de lactato.

2.3. Condutibilidade térmica

    Estima-se que a perda de calor durante 15 minutos de contacto com a água a 20 ºC, seja correspondente à igual perda ocorrida na exposição ao ar, à mesma temperatura, mas no período de uma hora.

    A exposição a temperaturas mais altas (28º e 30º) aumenta a elasticidade, ajudando a aumentar o ângulo do movimento e a prevenção de lesões (Aborrage, 1997).

3.     Momentos de aplicação do treino na água

    O treino na água deve ser realizado no início e durante a época, vejamos porquê:

3.1. No início da época

    O trabalho incide sobre o trabalho de força, resistência e velocidade.

    Silva (1998) refere cerca de 100 lesões musculares, ocorridas no período preparatório da época 1997/98 entre as 18 equipas do campeonato nacional da 1ª divisão. No início da pré-época 2006/2007 Sokota sofreu outra lesão grave tendo voltado a jogar apenas em 4 de Fevereiro de 2007.

    As sucessivas lesões de Carlos Martins e Edson podiam servir de exemplo para o "inexplicável surto" de lesões musculares (e não só), logo no início da época.

    In DN online (2005)

    O trabalho na água oferece condições para trabalhar acções específicas de cada modalidade, sendo utilizado como complemento, não olvidamos o trabalho específico do campo.

3.2. Como recuperação do esforço

    Segundo o fisioterapeuta Abs (2006), o treino na piscina é fundamental para uma rápida recuperação da forma física dos jogadores.

    Serve para descansar os grupos musculares e dar um estímulo físico que deixa o atleta pronto para treinar com intensidade no dia seguinte.

    O treino complementar tem sido utilizado para se treinar as 5 componentes da aptidão física, que são: condição cardiorespiratória, flexibilidade, composição corporal, resistência e força muscular.

4.     Benefícios do treino na água

    Segundo Blasco (1994) os exercícios na água trazem benefícios ao corpo:

4.1. Melhora a circulação sanguínea: Graças aos principais fenómenos, a acção térmica da água sobre o corpo que produz uma activação do sistema circulatório e a pressão da água exercida sobre o organismo que estimula o retorno sanguíneo.

4.2. Melhora as funções cardíacas: Devido à estimulação e melhora da circulação sanguínea e activação da musculatura produzida pelo movimento facilitado dentro da água.

4.3. Melhora as funções pulmonares: Para além dos fenómenos referidos, que também contribuem para activação pulmonar positiva, aquelas actividades encaminhadas pela aprendizagem ou prática da apneia e dos mecanismos respiratórios são bons elementos para a melhoria das funções pulmonares.

4.4. Aumento da resistência: A adaptação progressiva ao exercício e realização, sobretudo, de treinos de media e baixa intensidade e de curta duração, proporcionam ao organismo a adaptação da qualidade mais qualificada para a melhora do metabolismo e das suas consequências positivas, para o aumento da resistência.

4.5. Estimulação do metabolismo: referindo a uma melhoria para o bom funcionamento dos sistemas inseridos na fisiologia corporal, e incluindo o óptimo equilíbrio e psicológico.

4.6. Participação de grandes grupos musculares: A actividade trabalhada na água propõe activação de todos os músculos esqueléticos, assim como a sua adaptação e fortalecimento progressivo.

4.7. Tonificação muscular: Só a resistência oferecida pela água será uma carga uniforme e equilibrada mas adequada para o trabalho muscular. Com a prática continuada de actividades aquáticas notam-se, provavelmente, mais melhorias de todos aqueles problemas ocasionados pelas tensões musculares e posturais.

4.8. Relação muscular: Não somente o trabalho realizado na água incide notavelmente sobre a relação muscular, sem que sobre todo, a flutuação produzida pela imersão é a principal causa positiva sobre a relação dos músculos que se transmite, inevitavelmente, na sociabilização e no seu estado de ânimo.

4.9. Melhora a mobilidade articular: a actividade realizada na água melhora também, a mobilidade articular. A amplitude do recorrido articular melhora devido sobre tudo à flutuação, assim como a pressão constante e uniforme exercida pela água. Muitas das lesões articulares recuperam-se com um trabalho adequado na água.

4.10. Fortalecimento muscular: A tonificação adequada de toda a musculatura, permitirá um maior equilíbrio corporal, e uma utilização mais eficaz de cada músculo em benefício do equilíbrio postural, evitando possíveis deformações do raquis por culpa de vícios posturais motores.

4.11. Menor pressão da coluna vertebral: as posições horizontais tão comuns no meio aquático, assim como o fenómeno de falta gravidade, promovem uma descarga extraordinária da coluna vertebral.

4.12. Relação: uma boa relação muscular permitirá á musculatura dispor de um tónus adequado para a execução de possíveis trabalhos motores. A utilização da musculatura protagonista em cada acção, permitirá uma eficácia óptima do movimento.

4.13. Coordenação de movimentos: A maior parte dos trabalhos realizados no meio aquático vão melhorar, a coordenação. A melhoria das conexões nervosas, a harmonia dos movimentos e a correcta correlação de ordens nervosas e respostas musculares, serão consequência do trabalho físico que iniciará notavelmente a eficiência o movimento.

4.14. Aquisição de novas experiências com movimentos sem gravidade: A experiência de acções em situações na ausência gravidade as que normalmente estamos acostumados, enriquecerão a nossa capacidade de movimento e melhoram, ao mesmo tempo, os nossos padrões motores tornando-nos capazes de experimentar novas situações motoras.

5.     Conclusão

    O treino na água é um bom método para recuperar ou evitar lesões, sem perder a forma física impedindo ou reduzindo o impacto;

    É ideal para recuperar de lesões como fracturas de stress, joelho, tornozelo ou dores musculares.

Referências bibliográficas

  • Barata, T. (1997) Actividade Física e Medicina Moderna, Europress, Odivelas, Portugal.

  • Carvalhal, C. (2002) No treino de futebol de rendimento superior. A recuperação é muitíssimo mais que “recuperar”.

  • Mota, J. Sallis J.F. (2002) Actividade Física e Saúde, Campo de Letras, Porto, Portugal.

  • Silva, L. (1998) Rendimento superior no futebol, “sem lesões”, quais as razões?

  • Trabalho realizado no âmbito da disciplina de seminário opção de Futebol. F.C.D.E.F.

  • Treino de Jovens (2000), Pensar no futuro apostar na qualidade, Instituto Nacional de Formação e Estudos do Desporto, CEFD, Lisboa, Portugal.

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